Por que 3 Néfi deveria ser interpretado como o Livro do Sumo Sacerdote Néfi?

O conhecimento

O Livro de Mórmon está repleto de narrativas e ensinamentos sagrados e santos, mas nenhuma outra parte do livro emana maior santidade do que o livro de 3 Néfi, que alguns chamam de "Santo dos Santos" do Livro de Mórmon.¹ "De fato", John W. Welch observou que "tudo em 3 Néfi [...] foi escrito para ecoar e trazer à mente a solenidade da presença do Senhor, que na antiga Israel era tradicionalmente associada à aparição de Jeová no santuário interno do templo, Sua santa casa".²

A santidade da aparição do Senhor ressuscitado em Seu templo, juntamente com Seus ensinamentos posteriores, apresentam várias conexões claras e fortes com o templo, obtidas nessas páginas tão significativas das Escrituras.³ No entanto, desde o início do livro e muito antes da visita de Cristo entre os nefitas na terra de Abundância em 3 Néfi 11, fica evidente que o templo ocupava uma posição central. Welch observou: "O livro de 3 Néfi começa, não com informações sobre a infância e educação do escritor, mas com uma revelação muito sagrada".⁴ Como sucessor na linhagem de sumos sacerdotes iniciada com Alma, o pai, Néfi, o jovem Sumo Sacerdote, poderia muito bem estar no templo enquanto fazia a ''oração fervorosa e urgente de intercessão'' que produziu esta revelação.⁵

A sagrada revelação recebida naquela ocasião foi que o Senhor Jesus Cristo nasceria "amanhã" (3 Néfi 1:13), e de fato os sinais prometidos do nascimento de Cristo apareceram nos céus, poupando a vida dos crentes (3 Néfi 1:13-21). Margaret Barker, argumentou que os primeiros cristãos compreenderam os relatos da natividade de Jesus à luz do templo.⁶ Em particular, Barker observou que alguns dos primeiros cristãos interpretaram o nascimento de Jesus como a passagem do grande Sumo Sacerdote através do véu do Santo dos Santos, descendo do reino celestial, saindo ao reino terreal.⁷ Assim, 3 Néfi inicia com o relato do mundo a ser inundado de luz quando Jesus atravessa o véu do templo celestial.⁸

No entanto, logo após esse evento, as coisas rapidamente pioraram em Zaraenla.⁹ A partir do momento em que o sinal foi dado, "Satanás começou a espalhar mentiras entre o povo, para endurecer-lhe o coração, a fim de que não acreditassem naqueles sinais e maravilhas que tinham visto" (3 Néfi 1:22). Welch observou que após o nascimento de Cristo, "o livro de 3 Néfi dedica seus próximos seis capítulos ao relato de algumas das mais terríveis iniquidades imagináveis (3 Néfi 2-7)".¹⁰

Estes anos testemunharam graves erros, assaltantes, combinações secretas, rituais anti-estabelecimento, zombaria, massacre, medo, sangue, execução, iniquidade, assassinato, conspiração e assassinato, a ponto de apedrejarem os profetas e expulsá-los de seu meio.¹¹

Os ladrões de Gadiânton, que prosperaram em meio a este caos, representavam essencialmente um falso sacerdócio no templo.¹² Por fim, os nefitas foram forçados a deixar seu templo/cidade de Zaraenla e a reunirem-se em um local central por sete anos, com o propósito de matar os ladrões de fome (3 Néfi 3:20-26). "Durante esses anos extremamente miseráveis e sem um templo, Satanás causou grande destruição", observou Welch.¹³ O nome de Satanás aparece com mais frequência nesses capítulos do que em qualquer outra parte do Livro de Mórmon.¹⁴ Assim como a queda de Adão e Eva é parte da teologia da origem e da representação do templo antigo, os nefitas experimentaram um período de queda pouco antes de Jesus Cristo aparecer em sua glória. Estes foram dias de poder para Satanás, que reinou com sangue e horror sobre a Terra.

Contudo, por fim, a iniquidade não durou. Embora a morte de Cristo tenha trazido escuridão e destruição, também expurgou a sociedade nefita de seus elementos mais malignos (ver 3 Néfi 8-10). Logo depois, o mundo foi novamente inundado de luz quando o Grande Sumo Sacerdote mais uma vez atravessou o véu do templo celestial e entrou no reino terreal no templo da terra de Abundância. Nesse local sagrado, Ele foi apresentado pelas palavras de Deus, o Pai: "Eis aqui meu Filho Amado, em quem me comprazo e em quem glorifiquei meu nome — ouvi-o" (3 Néfi 11:7).¹⁵ O restante de 3 Néfi comemora as instruções, ordenações, convênios, revelações doutrinárias e bênçãos recebidas na presença do Senhor pelos justos que sobreviveram às grandes destruições.

O porquê

Somente alguém intimamente familiarizado com as antigas tradições do Templo de Salomão e a experiência nefita do templo poderia trabalhar tão artisticamente sobre o texto de 3 Néfi usando esse tipo de representação e simbolismos. Na verdade, tal pessoa é o autor original deste livro. Néfi foi "o sucessor da primeira linhagem de sumos sacerdotes nefitas, chamados e ordenados segundo a ordem sagrada do Filho de Deus. [...] Conhecia pessoal e intimamente as práticas e bênçãos desse sacerdócio".¹⁶

Não é difícil imaginar Néfi, o Sumo Sacerdote, refletindo sobre a maneira profunda como os eventos ocorreram em sua vida e reconhecendo as semelhanças disso com o templo para, então, elaborar deliberadamente seu registro de maneira a enfatizar a temática do templo em todo seu registro. Qualquer edição que Mórmon tenha feito neste texto¹⁷, não parece ter interferido substancialmente ou alterado o texto original do sumo sacerdote Néfi.¹⁸ Como Welch acertadamente concluiu:

A abundância de santidade em 3 Néfi não deve surpreender os leitores, pois este livro recebeu o nome de Néfi, filho de Néfi, filho de Helamã, filho de Helamã (o líder dos dois mil jovens guerreiros), o filho mais velho de Alma, o filho, que era o sumo sacerdote da Igreja de Deus na cidade de Zaraenla. Este livro foi moldado principalmente pela vida e obra de um sumo sacerdote, e deve ser lido tendo em mente suas experiências e perspectivas.¹⁹

Ao ler todo o livro de 3 Néfi tendo em mente o templo e suas experiências sublimemente sagradas em mente, todos os leitores podem absorver e receber as bênçãos da mais profunda santidade. Aqui, em Sua casa, Deus não está longe. Aqui em Seu templo, Ele está diante de Seu povo. Ele transmite a plena eficácia da Expiação, cuja vitória alcançada permite que a vontade do Pai seja feita em todas as coisas. Ele sabe o nosso nome, e aqui dá a conhecer o Seu nome. Com misericórdia, Ele cura os feridos. Abençoa os pais e seus filhos. Aqui, Ele transmite a plenitude do Sacerdócio. Ele acolhe. Ele abraça. Ele capacita. Ele habilita. Ele promete. Ele lembra. Ele guia. Ele encoraja. Ele ama. Ele vive. Ele dá tudo de si, e experimenta a plenitude da alegria quando retribuímos Seus favores incomparáveis e inesgotáveis.