KnoWhy #90 | Outubro 16, 2019

Abinádi profetizou durante a festa de Pentecostes?

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Scripture Central

"[S]eu rosto resplandecia com extraordinário brilho, como o de Moisés no monte Sinai enquanto falava com o Senhor" Mosias 13:5

O conhecimento

Em Mosias 12, lemos que Abinádi voltou ao povo do rei Noé após sua mensagem ter sido rejeitada dois anos antes. Na ocasião anterior, ele havia profetizado sobre o julgamento que viria do Senhor contra o rei Noé e seu povo. A resposta do rei Noé foi: "Quem é Abinádi, para que eu e meu povo sejamos julgados por ele, ou quem é o Senhor, para trazer sobre o meu povo tão grande aflição? (Mosias 11:27). Noé expediu um mandado de prisão contra Abinádi, acusando-o de incitar à ira e provocar contendas (Mosias 11:28). Sabendo que seria provavelmente preso ao ser visto, Abinádi voltou a pregar, mas desta vez foi disfarçado (Mosias 12:1), na esperança de encontrar novamente um grande público para dar sua nova profecia sobre aflição e destruição. Nessa segunda ocasião, Abinádi considerou que seria preso, inclusive na esperança de conseguir uma audiência com o próprio rei Noé. Abinádi não poderia ter escolhido um momento melhor para esses dois momentos proféticos do que o festival israelita de Pentecostes (grego, pentekoste, "quinquagésimo"; hebraico, Shavuot, "Semanas"), que parece se encaixar perfeitamente à mensagem e situação de Abinádi. O Pentecostes era uma festa de peregrinação que ocorria na primavera, no quinquagésimo dia após a Páscoa, e celebravam a entrega da Lei a Moisés no Monte Sinai (ver Êxodo 34:22; Deuteronômio 16:10). O Pentecostes seria uma época em que todas as pessoas se reuniriam no templo para celebrar a primeira colheita de grãos e comemorar a libertação da escravidão no Egito. Segundo John W. Welch, Gordon C. Thomasson e Robert F. Smith, pesquisadores santos dos últimos dias:

Ambos os discursos de Abinádi tratam de temas do Pentecostes. Ele inverteu as bênçãos e a alegria do festival, transformando-as em maldições e profecias sombrias. Em uma época em que se aproximaria uma farta estação de grãos, Abinádi amaldiçoou as plantações [...] (Mosias 12:6). Durante a tradicional celebração da libertação de Israel da escravidão, Abinádi invocou a terminologia do Êxodo para proclamar que a escravidão e os fardos retornariam ao povo iníquo da cidade de Néfi [...] (Mosias 11:21, 23). 1

Eles seguem apontando as interessantes semelhanças entre a missão profética de Abinádi e o festival de Pentecostes, incluindo os seguintes pontos:

  • A Entrega dos Dez Mandamentos: Numa época em que os sacerdotes do rei Noé estariam celebrando e prometendo fidelidade aos Dez Mandamentos dados a Moisés, Abinádi revisou esses mandamentos e os acusou de não ensiná-los, vivê-los ou mesmo entendê-los corretamente (Mosias 12:27-37).
  • Rosto resplandecente: O "rosto [de Abinádi] resplandecia com extraordinário brilho, como o de Moisés no monte Sinai enquanto falava com o Senhor" (Mosias 13:5, compare Êxodo 34:29-30).
  • Três dias: A festa de Pentecostes aparentemente durou três dias (ver Êxodo 19:11), e talvez seja a razão por trás do adiamento do julgamento de Abinádi, adiado por três dias (Mosias 17:6).
  • Salmos 50 e 81: O professor Moshe Weinfeld, da Universidade Hebraica, argumentou que os Salmos 50 e 81 provavelmente eram cantados no Pentecostes.2 Há vários paralelos entre as palavras de Abinádi e esses salmos.3

    • "Virá o nosso Deus" (Salmo 50:3); "no terceiro dia o Senhor descerá" (Êxodo 19:11); "o próprio Deus descerá" (Mosias 15:1).
    • O Salmo 50:4-7 foi descrito como o julgamento de Deus contra seu povo; as palavras de Abinádi foram chamadas de "julgamento profético". 4
    • Para ensinar a lei, é preciso guardá-la ou ser amaldiçoado (Salmo 50:16, 22); esta é a essência da acusação de Abinádi: "Se ensinais a lei de Moisés, por que não a guardais? (Mosias 12:29).
    • O Salmo 50:15 promete que "no dia da angústia", se o justo invocar a Deus, Ele os "livrar[á]". Abinádi declarou que, se o povo iníquo do Rei Noé invocasse a Deus, Ele "não ouvir[á] suas orações nem os livrar[á] de suas aflições" (Mosias 11:25).5
    • O uso do Salmo 50:6-21 no Pentecostes pode indicar que o dia ficou conhecido como um dia de severa admoestação. Aqueles que rejeitaram a instrução e contribuíram com os transgressores da lei foram repreendidos. Os transgressores foram repreendidos publicamente. Essas tradições se alinham à maneira usada por Abinádi para entregar a mensagem do Senhor ao rei Noé.6
    • "Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão" (Êxodo 20:2). Essas palavras do Senhor a Moisés no Sinai são repetidas em Salmos 81:10 e Mosias 12:34.

O porquê

Compreender o contexto das palavras de Abinádi ao profetizar contra o rei Noé e seu povo ajuda os leitores a apreciar o impacto de sua mensagem. Suas palavras e ações são baseadas nas palavras do Senhor, o legado dos profetas e na compreensão cultural de seu povo. Abinádi planejou ir à cidade de Néfi para pregar em um momento em que muitas pessoas estariam reunidas para ouvir sua mensagem. Um festival teria sido o momento ideal para Abinádi retornar e compartilhar a mensagem de julgamento que o Senhor queria que o povo ouvisse, especialmente o rei Noé. O festival mais apropriado para compartilhar esta mensagem de julgamento teria sido a semana do festival de Pentecostes/Semanas, o dia em que a lei era celebrada. Um estudo atento das palavras atribuídas a Abinádi revela muitas semelhanças com os temas e simbolismos do Pentecostes. Naquela ocasião, quando Abinádi advertiu o povo de que eles teriam "cargas [...] sobre seus lombos" (Mosias 12:5), seu público rapidamente se lembrou das cargas que seus antepassados israelitas haviam carregado no Egito. Enquanto ele recitava os Dez Mandamentos, naquela época do ano, os membros desobedientes de sua plateia seriam tocados em seus corações. Quando o rosto de Abinádi resplandeceu, naquele mesmo contexto e momento, até mesmo Noé e seus sacerdotes enxergaram a conexão, pois não ousaram colocar as mãos sobre ele (Mosias 13:5), permitindo que Abinádi falasse "com o poder e a autoridade de Deus" pelo restante dos capítulos 13, 14, 15 e 16. Naquele dia, para eles, foi como se a figura de Moisés estivesse diante deles a proferir as palavras que Deus havia enviado seu profeta para dizer. Por fim, Abinádi foi injustamente condenado à morte, porém antes lançando contra Noé uma maldição semelhante, profetizando que sua vida "valerá tanto quanto uma vestimenta numa fornalha quente" (Mosias 12:3). No Pentecostes, ninguém poderia ignorar a referência a uma "fornalha", o que os remeteria ao Monte Sinai. O monte estava coberto por relâmpagos, fogo e fumaça "como fumaça de um forno" (Êxodo 19:18), e enquanto Moisés subia a montanha para falar com Deus, o povo indigno permaneceu lá em baixo "para que o Senhor não irrompa sobre eles" (Êxodo 19:22) para consumi-los com fogo. Como o professor de Direito da BYU, John W. Welch, concluiu:

Em conjunto, todos esses detalhes apontam para uma conclusão: nenhum outro dia no calendário dos antigos israelitas se encaixaria na mensagem, palavras e experiências do profeta Abinádi, de forma mais precisa ou mais apropriada, do que o antigo festival israelita de Pentecostes. Portanto, é irônico que, no exato momento em que Noé e seu povo celebravam a lei, ocorresse o resultado judicial mais infeliz da história nefita.7

Leitura Complementar

John W. Welch and J. Gregory Welch, Charting the Book of Mormon (Provo, UT: FARMS, 1999), chart 124. John W. Welch, Gordon C. Thomasson e Robert F. Smith, "Abinádi e Pentecostes", em Reexploring the Book of Mormon, ed. John W. Welch (Salt Lake City, UT: Deseret Book e FARMS, 1992), pp. 135–138. John W. Welch, The Legal Cases in the Book of Mormon (Provo, UT: BYU Press and the Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2008), pp. 188–193.

1. John W. Welch, Gordon C. Thomasson, and Robert F. Smith,"Abinadi and Pentecost", in Reexploring the Book of Mormon, ed. John W. Welch (Salt Lake City: Deseret Book and FARMS, 1992), p. 136.< 2. Moshe Weinfeld, "The Decalogue in Israel's Tradition" in Religion and Law: Biblical/Judaic and Islamic Perspectives, ed. Edwin Firmage, Bernard Weiss e John Welch (Winona Lake, Indiana: Eisenbrauns, 1990), pp. 38–47. 3. Para um estudo completo das semelhanças entre o Salmo 50 e as palavras de Abinádi, ver Welch, et al., "Abinadi and Pentecost", pp. 137–138. Para uma tabela listando as semelhanças entre o Pentecostes e as palavras de Abinádi, ver "Did Abinadi Prophesy against King Noah on Pentecost?", em John W. Welch e J. Gregory Welch, Charting the Book of Mormon (Provo, UT: FARMS, 1999), chart 124. 4. Ver Richard McGuire, "Prophetic Lawsuits in the Hebrew Bible and Book of Mormon" (Provo, UT: FARMS, 1983). 5. John W. Welch, The Legal Cases in the Book of Mormon (Provo, UT: BYU Press and the Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2008), p. 192. 6. Welch, The Legal Cases, p. 192. 7. Welch, The Legal Cases, p. 193.