KnoWhy #569 | Junho 15, 2020

Por que Alma falou sobre plantar uma semente no coração?

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Scripture Central

"E agora, meus irmãos, desejo que planteis esta palavra em vosso coração; e quando ela começar a inchar, cultivai-a com vossa fé. E eis que se tornará em árvore, crescendo em vós para a vida eterna." Alma 33:23

O conhecimento

Enquanto ensinava ''[entre] a classe pobre'' da cidade na colina de Onida (Alma 32:2-4), Alma usou uma metáfora para ajudá-los a aprender como cultivar uma fé forte e duradoura: ele comparou a palavra do Senhor a uma semente plantada em seus corações (Alma 32:28; cf. 33:23; 34:4). Ele explicou que se fosse uma boa semente, ela brotaria e começaria a crescer. E se for devidamente alimentada "cri[ará] raiz, para que cresça e dê frutos." (Alma 32:37) até se tornar uma ''uma árvore que brotará para a vida eterna'' (Alma 32:41; 33:23).

Como observou o pesquisador Santo dos Últimos Dias, John L. Sorenson: ''O período clássico maia [ca. 250–900 d.C.] poderia ter mantido uma conexão visual com esse conceito'', por meio de obras de arte que retratam ''árvores crescendo no peito ou no coração de vítimas sacrificadas''.1 Por exemplo, o Dresden Codex (um dos quatro códices maias pré-colombianos), "mostra uma vítima sacrificada com uma árvore crescendo em seu coração", que o arqueólogo Santo dos Últimos Dias John E. Clark descreveu como "uma representação literal da metáfora pregada em Alma, capítulo 32".2 Da mesma forma, a Estela 11 de Piedras Negras mostra "uma semente crescendo do coração de uma vítima sacrificada".3 Sorenson descreveu isso como uma potencial "versão distorcida da descrição do Livro de Mórmon da semente do evangelho brotando de um coração humano."4

Árvore antropomórfica do Códice Dresden 3. Árvore antropomórfica do Códice Dresden 3.
Estela 11 de Piedras Negras. Desenho de Linda Schele. Piedras Negras Stela 11. Desenho de Linda Schele.

Na tampa da tumba de Pakal em Palenque, Pakal é retratado como o deus do milho sacrificado e "de seu corpo cresce a Árvore do Mundo, o eixo central da terra".5 Joseph L. e Blake J. Allen acreditavam que "a gravura tinha a aparência de uma árvore da vida brotando do coração do rei, uma reminiscência do discurso de Alma sobre plantar a semente da fé em nosso coração e nutri-la para torná-lo uma árvore".6 Além disso, sete dos ancestrais de Pakal são retratados como árvores frutíferas ao longo dos lados da tampa do sarcófago7, reforçando a ideia de que ele, assim como seus ancestrais, ressuscitaria dos mortos como uma "árvore antropomórfica".8

A árvore do mundo emergindo do corpo do deus do milho sacrificado. Tampa do sarcófago do túmulo de Pakal, século VII, Palenque. Imagem via Biblioteca Pública de Nova York, sciencesource.com. A árvore do mundo emergindo do corpo do deus do milho sacrificado. Tampa do sarcófago do túmulo de Pakal, século VII, Palenque. Imagem via Biblioteca Pública de Nova York, sciencesource.com.

Em um códice do centro do México, cada uma das cinco árvores direcionais (dos quatro pontos cardeais, mais uma árvore central) é ilustrada emergindo dos corpos de uma deusa da terra sacrificada.9 Essas imagens parecem estar relacionadas de alguma forma com a encontrada na tumba de Pakal, sugerindo que esse era um conceito pan-mesoamericano.10

Árvore crescendo de uma figura esquelética do Códice Borgia 53. Árvore crescendo de uma figura esquelética do Códice Borgia 53.

O porquê

A metáfora de Alma seria algo natural para os camponeses em uma sociedade predominantemente agrícola, assim como a parábola do semeador do Salvador foi contada a um público de trabalhadores e fazendeiros na Palestina (Mateus 13:1–23; Marcos 4:1–20; Lucas 8:4–15).11 No entanto, as metáforas analisadas aqui sugerem a presença de outros fatores que tornaram essa metáfora significativa dentro do possível contexto cultural dos povos do Livro de Mórmon.12

"Reap Your Reward" (Colha sua recompensa), de Courtney von Savoye, representação dos frutos de Alma 32. Vencedor do primeiro lugar no Concurso de Arte Central do Livro de Mórmon de 2018. "Reap Your Reward" (Colha sua recompensa), de Courtney von Savoye, representação dos frutos de Alma 32. Vencedor do primeiro lugar no Concurso de Arte Central do Livro de Mórmon de 2018.

Sorenson concluiu razoavelmente: "Quando Alma ensinou aos zoramitas uma lição de fé, referindo-se à árvore da vida que brota do coração (Alma 32:28-43), estava usando metáforas religiosas mesoamericanas".13 Kirk Magleby também comentou: "Alma poderia estar aludindo a uma ideia cultural mesoamericana existente, desenhando uma imagem mental que seus ouvintes zoramitas em Antiônum, teriam entendido."14 E, de fato, essa imagem foi usada nas culturas vizinhas para representar a ascensão de um ser real para a vida eterna glorificada, e Alma queria assegurar a seus ouvintes que a semente da fé no poder da ressurreição por meio do Filho de Deus cresceria em eles, como pessoas comuns, para dar os frutos da vida eterna.

Além disso, na antiga Mesoamérica, a Árvore do Mundo (ou Árvore da Vida) mantinha a ordem do cosmos unida. Por meio de rituais e sacrifícios, os governantes se tornavam a personificação da Árvore do Mundo e realizavam ritos que restauravam e mantinham a ordem e o equilíbrio cósmico.15 Como Elizabeth A. Newsome explicou: "Os reis consideravam o papel desta planta nutritiva em seus ritos de sacrifício, tornando-se assim uma fonte de poder espiritual, abundância e vida eterna."16

Em tal contexto cultural, estar fora dos espaços sagrados de culto (ver Alma 32:5) portanto, ser incapaz de testemunhar e participar de tais ritos, teria constituído uma grande crise espiritual para esses pobres e humildes zoramitas. Alma usou essa circunstância como base, ensinando a seu público que poderiam, de fato, continuar a adorar o verdadeiro Filho de Deus fora de suas sinagogas: poderiam orar em suas próprias casas e em seus próprios corações, e que ao fazer isso, poderiam ter pessoalmente "uma árvore que brotará para a vida eterna" dentro de si (Alma 32:41; 33:23).

Presumindo que Alma baseou-se nesse mundo conceitual, ao fazê-lo, provavelmente maximizou o impacto e a eficácia de seus ensinamentos para esses pobres e humildes zoramitas, abordando diretamente a crise espiritual — premente e urgente, que sentiam ao serem excluídos de suas sinagogas e cultos de adoração (Alma 32:5). Dessa forma, demonstrou sua sensibilidade para com as necessidades de seu público de ouvir o evangelho, ensinando-os "de acordo com sua língua, para que compreendam" ( 2 Néfi 31:3; D&C 1:24), um conceito que vai além da mera linguagem e palavras, e se estende às diversas origens culturais, experiências de vida e cenários históricos dos filhos de Deus, tanto no passado quanto no presente. 17

Leitura Complementar

Kirk Magleby, ''Anthropomorphic Trees'', Book of Mormon Resources (blog), 3 de fevereiro de 2016 (atualizado em 6 de julho de 2020). Allen J. Christenson, ''The World Tree and Maya Theology'', em The Tree of Life: From Eden to Eternity, ed. John W. Welch e Donald W. Parry (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2011), pp. 151–170. John L. Sorenson, Images of Ancient America: Visualizing Book of Mormon Life (Provo, UT: FARMS, 1998), pp. 182–183, 208.

1. John L. Sorenson, Mormon’s Codex: An Ancient American Book (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2013), p. 465. Para uma edição mais recente da fonte que Sorenson cita aqui, ver Robert J. Sharer com Loa P. Traxler, The Ancient Maya, 6a. ed. (Stanford, CA: Stanford University Press, 2006), p. 724. Segundo Patrizia Granziera, ''Concept of the Garden in Pre-Hispanic Mexico'', Garden History 29, no. 2 (2001): 193, a árvore sagrada que brota de uma vítima sacrificada, é uma das quatro representações tradicionais, sendo as outras representações que crescem de uma máscara de monstro, as mandíbulas do monstro da terra e a divindade da terra agachada. 2. John E. Clark, ''Archaeology, Relics, and Book of Mormon Relief'', Journal of Book of Mormon Studies 14, no. 2 (2005): 46. 3. Kirk Magleby, ''Anthropomorphic Trees'', Book of Mormon Resources (blog), 3 de fevereiro de 2016 (atualizado em 6 de julho de 2020). Sharer e Traxler, Ancient Maya, 724 também mostra uma cena semelhante na Estela 14 de Piedras Negras.

4. John L. Sorenson, Images of Ancient America: Visualizing Book of Mormon Life (Provo, UT: FARMS, 1998), p. 208. 5. Mary Ellen Miller e Megan E. O’Neil, Maya Art and Architecture, 2a. ed. (New York, NY: Thames and Hudson, 2014), p. 137, letras maiúsculas alteradas sem aviso prévio. Diane E. Wirth, Parallels: Mesoamerican and Ancient Middle Eastern Traditions (St. George, UT: Stonecliff Publishing, 2003), 111 disse da mesma forma que "de seu corpo surge a Árvore da Vida: A Árvore do Mundo", descrevendo a mesma cena. Simon Martin, ''Cacao in Ancient Maya Religion: First Fruit from the Maize Tree and other Tales from the Underworld'', em Chocolate in Mesoamerica: A Cultural History of Cacao, ed. Cameron L. McNeil (Gainsville, FL: University Press of Florida, 2006), 160, que descreve a cena como a "transformação [de Pakal] em uma Árvore do Mundo crescente". 6. Joseph L. Allen e Blake J. Allen, Exploring the Lands of the Book of Mormon, ed. revisada (American Fork, UT: Covenant Communications, 2011), 337, fig. 15-1, letras maiúsculas modificadas sem aviso prévio. 7. Ver David Stuart e George Stuart, Palenque: Eternal City of the Maya(Nova York, NY: Thames and Hudson, 2008), pp. 117, 138–139, 145, 149. 8. Stuart e Stuart, Palenque, pp. 173–177 analisa a cena na tampa do sarcófago de Pakal como uma cena de ressurreição que evoca representações solares e de árvore/milho para expressar a novidade da vida. Sobre árvores antropomórficas, ver Magleby, ''Anthropomorphic Trees''; Simon Martin, catalogue entry for plate 9, em Ancient Maya Art at Dumbarton Oaks: Pre-Columbian Art at Dumbarton Oaks, no. 4, ed. Joanne Pillsbury, Miriam Doutriaux, Reiko Ishihara-Brito e Alexander Tokovinine (Washington, D.C.: Dumbarton Oaks Research Library, 2012), pp. 109–119. 9. Ver Gisele Diaz e Alan Rodgers, eds. The Codex Borgia: A Full-Color Restoration of the Ancient Mexican Manuscript (Mineola, NY: Dover Publications, 1993), láminas 49–53. Ver também Granziera, "Concept of the Garden", p. 193. 10. Martin, ''Cacao in Ancient Maya Religion,'' pp. 160–161 destaca as semelhanças entre essas cenas e aquela encontrada na tampa da tumba de Pakal. 11. Ver Brant A. Gardner, Second Witness: Analytical and Contextual Commentary on the Book of Mormon, 6 v. (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2007), 4:457. 12. Como nefitas apóstatas, os zoramitas podem ter sido mais fortemente influenciados pelas antigas culturas americanas circundantes. Ver Mark Alan Wright e Brant A. Gardner, ''The Cultural Context of Nephite Apostasy'', Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 1 (2012): 25–55. 13. John L. Sorenson, An Ancient American Setting for the Book of Mormon (Salt Lake City y Provo, UT: Deseret Book e FARMS, 1985), p. 219. 14. Magleby, ''Anthropomorphic Trees''. 15. Ver Allen J. Christenson, ''The World Tree and Maya Theology'', em The Tree of Life: From Eden to Eternity, ed. John W. Welch e Donald W. Parry (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2011), pp. 151–170.

16. Elizabeth A. Newsome, Trees of Paradise and Pillars of the World (Austin, TX: University of Texas Press, 2001), p. 26. 17. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, ''Por que o Senhor fala aos homens 'de acordo com sua língua'? (2 Néfi 31:3)", KoWhy 258 (6 de janeiro de 2017). Ver também Mark Alan Wright, '''According to Their Language, unto Their Understanding': The Cultural Context of Hierophanies and Theophanies in Latter-day Saint Canon''', Studies in the Bible and Antiquity 3 (2011): 51–65.

Alma o Filho
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