KnoWhy #667 | Abril 20, 2023
O que a parábola do Bom Samaritano ensina sobre o Plano de Salvação?
Postagem contribuída por
Scripture Central
"Porém um certo samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele, e vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; E aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele." Lucas 10:33-34
O conhecimento
Um dia, um "doutor da lei" tentou testar Jesus em Seus ensinamentos, perguntando-Lhe: "Mestre, que farei para herdar a vida eterna?" (Lucas 10:25). A resposta de Jesus foi simples, usando o conhecimento do homem das Escrituras do Velho Testamento para responder à sua própria pergunta: "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento; e ao teu próximo como a ti mesmo" (Lucas 10:27); cf. Deuteronômio 10:12).
Em seguida, na tentativa de "justificar-se", o doutor da lei ainda perguntou: "E quem é o meu próximo?" (Lucas 10:29). As duas perguntas do doutor, sobre os requisitos para a vida eterna e da identidade do próximo, são fundamentais para entender a parábola do Bom Samaritano.
Para responder a estas duas perguntas, Jesus ensina Sua parábola mais famosa: a de um homem que, no caminho de Jerusalém a Jericó, caiu nas mãos de ladrões, deixando-o meio morto. Depois que um sacerdote e um levita passaram de largo sem ajudá-lo, chega ''um samaritano'', que derramou azeite e vinho sobre o homem e enfaixou suas feridas, levou-o para uma pousada e, em seguida, oferecendo-se generosamente para recompensar o hospedeiro, por seu cuidado e hospedagem (Lucas 10:30-35). Ao final da história, Jesus perguntou ao doutor da lei qual desses personagens seria o próximo do viajante ferido. Ao que o doutor da lei respondeu: "O que usou de misericórdia para com ele", isto é, o samaritano (Lucas 10:37).
John e Jeannie Welch sugeriram que, além de identificar as qualidades ideais de um verdadeiro próximo (em resposta à segunda pergunta do homem), essa parábola detalhada oferece "um resumo do plano de salvação, desde o início do homem ferido em um lugar santo até a promessa de recompensa ao hospedeiro, quando o Salvador retornar".1 As primeiras interpretações cristãs desta parábola também veem nela um microcosmo da história da família humana e as bênçãos prometidas aos fiéis através dos poderes de cura de Jesus Cristo e sua Expiação. Assim, os escritos dos primeiros padres da igreja, como Orígenes, Clemente de Alexandria e Irineu, podem oferecer muitas ideias importantes para o público cristão moderno.2 Primeiro, o homem que viajava de Jerusalém a Jericó foi compreendido como representante de Adão (Lucas 10:30). Além de se referir ao próprio Adão, a palavra Adão em hebraico também pode significar "homem" ou "humanidade". Assim, o viajante pode ser visto como uma dupla representação de Adão e da humanidade em geral, uma vez que todos nós, em algum momento, nos encontramos espiritualmente feridos e vulneráveis. "Todos nós descemos como Adão e Eva, sujeitos às mudanças da mortalidade", escreve o Welch.3 É também digno de nota que o homem "descia[...] de Jerusalém para Jericó" (Lucas 10:30; ênfase adicionada). Essa mudança de um lugar elevado de glória (Jerusalém) para a cidade mais baixa da Terra (Jericó) é uma analogia apropriada para a queda de Adão e Eva.4 Com relação à queda semelhante que todos nós sofremos na mortalidade, John Welch observa,
''A linguagem de Lucas 10 implica que o homem desceu intencionalmente, por sua própria vontade, conhecendo os riscos envolvidos na jornada. No relato, ninguém obriga o homem a descer a Jericó; e, por alguma razão, a pessoa parece achar que vale o risco evidente de tal viagem, que era bem conhecido por todas as pessoas da época de Cristo''.5
. O potencial risco dessa jornada tornou-se realidade quando o homem "caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto" (Lucas 10:30). Assim como Adão e Eva não puderam se redimir após sua queda (Mosias 3:16-17; Helamã 5:9), este homem estava em um estado ferido e decaído, incapaz de se curar ou avançar em sua jornada sem ajuda. Portanto, precisava desesperadamente de um Salvador.
Quanto aos salteadores (na verdade, "bandidos") que atacaram o homem, podem ser facilmente associados "ao diabo, suas forças, espíritos malignos ou falsos mestres".6 E, nesse sentido, todos nós enfrentamos vários tipos de salteadores prejudiciais em nossa jornada mortal. Embora possa parecer que o sacerdote e o levita deviam ter salvado o homem da violência destes salteadores, não o fizeram.7 Somente o samaritano, que pertencia a um grupo de pessoas desprezadas pela maioria dos judeus durante a vida de Jesus, estava disposto e capaz de fazê-lo.
Não é de se admirar que os primeiros cristãos considerassem o Bom Samaritano como uma representação do próprio Jesus Cristo.8 Embora desprezado por muitos dos seus, Ele é o único verdadeiramente capaz de resgatar a humanidade de sua condição decaída. Segundo o Livro de Mórmon, Jesus ofereceu uma expiação pelos pecados do mundo devido a Suas entranhas "cheias de misericórdia, […] cheio de compaixão pelos filhos dos homens" (Mosias 15:9). Quanto ao Bom Samaritano, a ''palavra grega literalmente diz que as entranhas do samaritano foram tocadas com profunda e íntima compaixão. Esta palavra só é usada no Novo Testamento quando os autores desejam descrever as emoções divinas de misericórdia de Deus.''9Como parte de seu serviço ao viajante assaltado, o samaritano derramou "azeite e vinho" sobre suas feridas (Lucas 10:34). Provavelmente refere-se ao óleo de oliva, usado na unção sagrada de reis e sacerdotes, que também está relacionado ao recebimento do Espírito Santo. O vinho "pode representar o sangue de Cristo que lava o pecado e purifica a alma, trazendo paz curativa".10 Por fim, o samaritano levou o homem ferido para uma hospedaria, onde poderia receber mais cuidados. Os primeiros cristãos viram neste último ato de amor a Cristo levando a alma ferida à "Santa Igreja", onde seus discípulos (incluindo o hospedeiro ou líder da Igreja) poderiam continuar a vigiar e cuidar da pessoa.11 Quando o samaritano partiu no dia seguinte, prometeu voltar e pagar o hospedeiro, usando uma palavra algo única no Novo Testamento encontrada apenas aqui e em Lucas 19:15, referindo-se ao tempo "em que o Senhor voltaria para julgar o povo".12 Da mesma forma, algum dia em um futuro próximo, Cristo retornará ao mundo e julgará quão bem Seus seguidores cuidaram das necessidades físicas e espirituais dos outros e os recompensará de acordo.
O porquê
Embora aparentemente simples na superfície, a parábola do Bom Samaritano responde brilhantemente às duas perguntas do doutor da lei, com múltiplas camadas de significado. Cristo mostra que obter a vida eterna não é apenas uma questão de fomentar um sentimento subjetivo de boa vontade para com Deus, nem é simplesmente uma questão de ajudar viajantes feridos em circunstâncias difíceis.
Pelo contrário, trata-se de preencher nossas vidas mortais com a verdadeira caridade cristã, de boa vizinhança, na perspectiva mais ampla do plano de salvação. E, para esse fim, a parábola oferece uma bela síntese de todo o plano - do nosso estado decaído e ferido, do desejo misericordioso de Cristo e da sua capacidade de curar, e do papel da Igreja em nutrir as nossas almas em preparação para o retorno de Cristo.
De acordo com o Élder Neil L. Andersen:
O Salvador é o nosso Bom Samaritano, enviado "para curar os quebrantados de coração". Ele vem até nós enquanto outros nos ignoram. Com compaixão, Ele deposita seu bálsamo de cura sobre nossas feridas e as sara. Ele nos carrega. Ele Se preocupa conosco. Ele nos convida: ''[Vinde] a mim (…) e eu [vos curarei]''. Olhem para frente. Seus problemas e suas tristezas são muito reais, mas não durarão para sempre. Suas noites escuras passarão, pois o Filho realmente ''se levantará com poder de cura em suas asas''.13
. Um dos aspectos mais belos do plano de salvação é nossa capacidade de trabalhar com Cristo para a salvação de outros, assim como Ele trabalha incessantemente por nós. Quando entendemos desta maneira, cada um de nós, como o Bom Samaritano, tem a responsabilidade de cuidar das almas perdidas e feridas que cruzam nosso caminho durante nossa jornada mortal.
"Em um nível", escrevem John e Jeannie Welch, "as pessoas podem e devem se ver como bons samaritanos, agindo como salvadores físicos e como salvadores no Monte Sião, ajudando pessoal e diretamente no resgate de almas perdidas e de todas as pessoas necessitadas. [...] Ao agir como o samaritano, nos unimos ao Salvador para ajudar a levar a efeito a salvação e a vida eterna da humanidade.14Assim como podemos ser bons samaritanos para os outros, "os discípulos também querem pensar em si mesmos como hospedeiros que foram comissionados por Jesus Cristo para ministrar aos necessitados e facilitar institucionalmente a recuperação espiritual de longo prazo dos viajantes feridos da vida".15 Nas palavras recentes do Élder Gerrit W. Gong: ''Irmãos e irmãs, que cada um de nós receba calorosamente a todos em Sua Estalagem''16, onde sempre há espaço de sobra.
Leitura Complementar
John W. Welch e Jeannie S. Welch, The Parables of Jesus: Revealing the Plan of Salvation (American Fork, UT: Covenant Communications, 2019), pp. 34–43. Neil L. Anderson, "Feridos", Conferência Geral, outubro de 2018. John W. Welch, "O Bom Samaritano: Símbolos Esquecidos", A Liahona, fevereiro de 2007, pp. 41–47. John W. Welch, "The Good Samaritan: A Type and Shadow of the Plan of Salvation," BYU Studies Quarterly 38, no. 2 (1999): pp. 50–115.1. John W. Welch e Jeanie S. Welch, The Parables of Jesus: Revealing the Plan of Salvation (American Fork, UT: Covenant Communications, 2019), p. 35. 2. Ver Welch e Welch, Parables of Jesus, p. 37. 3. Welch e Welch, Parables of Jesus, p. 37. Ver John W. Welch, "The Good Samaritan: A Type and Shadow of the Plan of Salvation," BYU Studies Quarterly 38, no. 2 (1999): p. 73; John W. Welch, "O Bom Samaritano: Símbolos Esquecidos", Liahona, fevereiro de 2007, p. 43; e ''Ver a nós mesmos na estrada de Jericó'', Liahona, abril de 2023, p. 48. 4. ''A mais de 250 metros abaixo do nível do mar, Jericó é a cidade mais baixa da Terra''. Welch e Welch, Parables of Jesus, p. 38. Ver também Welch, "Type and Shadow", p. 75; Welch, "Símbolos Esquecidos", p. 43. 5. Welch, "Type and Shadow", p. 74. Ver também Welch e Welch, Parables of Jesus, p. 38; Welch, "Símbolos Esquecidos", p. 43. 6. Welch e Welch, Parables of Jesus, p. 38. Ver também Welch, "Type and Shadow", pp. 75–77; Welch, "Símbolos Esquecidos", pp. 43–44. 7. Welch e Welch, Parables of Jesus, p. 38, cita fontes cristãs antigas que sustentam que o sacerdote e o levita representavam a Lei e os Profetas, que não podiam oferecer salvação duradoura. Ver também Welch, "Type and Shadow", p. 77–79; Welch, "Símbolos Esquecidos", p. 44. 8. Ver Welch e Welch, Parables of Jesus, p. 38. Ver também Welch, "Type and Shadow", pp. 79–80; Welch, "Símbolos Esquecidos", p. 44. 9. Welch e Welch, Parables of Jesus, p. 38. Ver também Welch, "Type and Shadow", p. 80–81; Welch, "Símbolos Esquecidos", p. 44–45. 10. Welch e Welch, Parables of Jesus, p. 39. Ver também Welch, "Type and Shadow", 81–82; Welch, "Símbolos Esquecidos", p. 45. 11. Welch, "Type and Shadow", p. 83. Ver também Welch, "Type and Shadow", p. 82–84; Welch, "Símbolos Esquecidos", p. 45–46. 12. Welch e Welch, Parables of Jesus, p. 39. Ver também Welch, "Type and Shadow", p. 84–85; Welch, "Símbolos Esquecidos", p. 46. 13. Neil L. Anderson, "Feridos", Conferência Geral, outubro de 2018. 14. Welch e Welch, Parables of Jesus, p. 39. 15. Welch e Welch, Parables of Jesus, p. 39. 16. Gerrit W. Gong, "Lugar na estalagem", Conferência Geral, abril de 2021.