KnoWhy #156 | Agosto 15, 2020

Como a democracia ajudou os nefitas a resistir a seus inimigos?

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Scripture Central

"E desse modo preparava-se ele para defender sua liberdade, suas terras, suas esposas e seus filhos e sua paz, a fim de viverem para o Senhor seu Deus" Alma 48:10

O conhecimento

Antes de detalhar a história de uma guerra de sete anos entre os lamanitas e os nefitas,1 Mórmon usou um capítulo inteiro (Alma 47) para explicar como Amaliquias, por meio de engano e traição, conseguiu ser reconhecido rei "por todo o povo lamanita" (v. 35). Parece que Mórmon intencionalmente forneceu essa longa digressão sobre as façanhas de Amaliquias para contrastar diretamente a personalidade, os métodos e as ideologias políticas de Amaliquias com as de Morôni. "Ora, aconteceu que enquanto Amaliquias havia assim, por meio de fraude e engano, obtido poder, Morôni, por sua vez, estivera preparando o espírito do povo para ser fiel ao Senhor seu Deus" (Alma 48:7). Mórmon descreveu Morôni como "um homem que não tinha prazer no derramamento de sangue; um homem cuja alma se regozijava com a liberdade e independência de seu país" (v. 11). Essa linguagem, muitas vezes, ressoa com os leitores modernos que abraçaram ideais semelhantes de liberdade, especialmente aqueles princípios democráticos que formam a base de muitas constituições modernas.2 No entanto, embora possa ser tentador imaginar a sociedade nefita como um espelho da república democrática moderna, seus métodos institucionais de preservar a independência e a liberdade eram, na verdade, em alguns aspectos importantes, bastante diferentes das democracias seculares modernas. Richard L. Bushman observou:

Olhando para o Livro de Mórmon na totalidade, parece claro que a maioria dos princípios tradicionalmente associados à Constituição Americana são desprezados ou completamente ignorados. Todos os freios e contrapesos constitucionais estão ausentes. Quando os juízes foram instituídos, Mosias previa que um juiz maior poderia remover juízes menores e vários juízes menores julgariam juízes maiores venais, mas o livro não registra nenhum caso de impeachment. Aparentemente, não era um princípio de funcionamento rotineiro. Todas as outras limitações ao governo estão ausentes.3

[caption id="attachment_5478" align= "alignleft" width="O Reinado dos Juízes" por Jody Livingston "400"] "O reinado dos juízes" por Jody Livingston[/caption] Por outro lado, Ryan W. Davis, um estudioso da política, concluiu que a sociedade nefita ainda pode ser vista como fundamentalmente democrática, devido a sua liberdade de consciência, do potencial de "controles intrainstitucionais" para equilibrar seu domínio e da voz política dada ao seu povo.4 "É nesse sentido limitado, mas importante, que o regime estabelecido por Mosias deve ser considerado uma democracia".5 Além disso, várias forças democratizantes foram acionadas pelo discurso do rei Benjamim, incluindo o estreitamento da distância entre o rei e os súditos (Mosias 2:20-26), a afirmação da liberdade popular por meio da aliança comunitária (Mosias 5:8) e a distribuição de um novo nome à todas as pessoas no momento da coroação de seu filho (Mosias 3:8; 5:9).6 Embora os métodos institucionais dos nefitas, de preservar, a liberdade fossem certamente diferentes dos sistemas de governo mais modernos, vários princípios e propósitos fundamentais parecem ser consideravelmente os mesmos. Por exemplo, os preparativos de Morôni para a guerra tinham a intenção de "defender sua liberdade, suas terras, suas esposas e seus filhos e sua paz" (Alma 48:10). Essa ênfase política na independência e na liberdade fornece um forte contraste com a busca agressiva dos lamanitas pelo controle autocrático (onde um único governante detém o poder concentrado).7

O porquê

Explorar o contexto político das campanhas militares nefitas pode auxiliar os leitores a entenderem melhor seu sucesso sobre os lamanitas. Após estudar inúmeros conflitos ao longo da história militar nefita, Davis concluiu:

A tendência emergente desta análise é que conflitos curtos […] favorecem a autocracia lamanita, mas conflitos prolongados são finalmente vencidos pela democracia nefita. Lembramos que a razão teórica pela qual se espera que as democracias tenham sucesso em conflitos é que elas podem direcionar maiores recursos por um longo período de tempo. Embora as democracias percam no curto prazo, "em todos os conflitos prolongados da história moderna, esses estados prevaleceram sobre seus rivais iliberais".8

Isso explica, em parte, por que Morôni lutou tão vigorosamente para preservar e proteger seu atual método de governo.9 As reformas políticas do rei Benjamim fortaleceram e preservaram o povo de Mosias e Alma da escravidão e do cativeiro.10 Recusar-se a defender tal instituição ameaçaria diretamente suas liberdades religiosas e pessoais. [caption id="attachment_5479" align= "aligncenter" width= "Batalha no rio Sidon" por James Fullmer "600"] "Batalha no rio Sidon" por James Fullmer[/caption] No entanto, isso não quer dizer que sua segurança dependesse, em última análise, do braço da carne ou do sistema democrático que lutavam para preservar. "A lição mais básica da política do Livro de Mórmon é simples: Deus faz toda a diferença".11 Repetidas vezes, a promessa ao povo era que eles seriam divinamente abençoados e prosperariam de acordo com sua obediência aos mandamentos.12 Referindo-se ao ensinamento de Alma de que Deus muitas vezes opera por meio de "coisas pequenas e simples" (Alma 37:6), Davis propôs que "outra possível interpretação do termo simples é natural ou orgânica. Deus usa processos naturais — que podem ser explicados sem o uso de um apelo à intercessão divina — para cumprir Seus propósitos".13 Essa interpretação pode ajudar a esclarecer uma possível maneira pela qual o Senhor protegeu e preservou os nefitas. Em vez de esperar ociosamente que Deus os livrasse milagrosamente de seus inimigos, Ele esperava que eles lutassem para preservar uma instituição governamental que, por sua própria natureza, garantiria sua segurança e suas liberdades. Como Amaliquias e aqueles que o seguiram, há muitos partidos hoje que igualmente buscam minar os princípios sagrados da liberdade individual, consciência, dever cívico e responsabilidade. Após identificar três coisas que os membros da igreja podem fazer para preservar suas liberdades e direitos sagrados,14 Élder Robert D. Hales ensinou:

A Segunda Vinda de nosso Salvador está se aproximando. Não demoremos em defender esta grande causa. Lembrem-se do capitão Morôni, que ergueu o estandarte da liberdade no qual estavam inscritas as palavras: "Em lembrança de nosso Deus, nossa religião e nossa liberdade e nossa paz, nossas esposas e nossos filhos". Lembremo-nos da reação das pessoas: exercendo seu arbítrio, "o povo se aproximou" com o convênio de agir. Meus amados irmãos e irmãs, não andem! Corram! Corram para receber as bênçãos do arbítrio seguindo o Espírito Santo e exercendo a liberdade que Deus nos concedeu para fazermos Sua vontade.15

Leitura Complementar

Ryan W. Davis, "For the Peace of the People: War and Democracy in the Book of Mormon", Journal of Book of Mormon Studies 16, no. 1 (2007): pp. 42–55, 85–86. Richard L. Bushman, "The Book of Mormon and the American Revolution", Book of Mormon Authorship: New light on Ancient Origins, ed. Noel B. Reynolds (Provo UT: Religious Studies Center, 1982), pp. 201–202. Hugh Nibley, Since Cumorah, em The Collected Works of Hugh Nibley (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book, FARMS, 1981) 7: pp. 137–172.

1. Ver John W. Welch e J. Gregory Welch, Charting the Book of Mormon (Provo, UT: FARMS, 2007), chart 137 (Second Amalickiahite War). 2. A mão do Senhor ao estabelecer as liberdades constitucionais modernas é revelada em D&C 101:77-80. 3. Richard L. Bushman, "The Book of Mormon and the American Revolution", Book of Mormon Authorship: New light on Ancient Origins, ed. Noel B. Reynolds (Provo UT: FARMS, 1982), pp. 201–202. 4. Ryan W. Davis, "For the Peace of the People: War and Democracy in the Book of Mormon", Journal of Book of Mormon Studies 16, no. 1 (2007): pp. 44–45. 5. Davis, "Peace of the People", p. 44. 6. Ver John W. Welch, "Democratizing Forces in King Benjamin’s Speech", em Pressing Forward with the Book of Mormon, ed. John W. Welch e Melvin Thorne (Provo UT: FARMS, 1999), pp. 110–26. 7. Ver Davis, "Peace of the People", p. 45. Para uma análise do reinado lamanita, consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, "O que significava ser 'Rei sobre Toda a Terra'? (Alma 20:8)", KnoWhy 128 (6 de junho de 2017). 8. Davis, "Peace of the People", pp. 50–51. 9. Para uma análise dos pontos de vista de Mórmon sobre os esforços de Morôni para garantir a liberdade, ver Grant Hardy, Understanding the Book of Mormon: A Reader's Guide (New York, NY: Oxford University Press, 2010), pp. 109–110. 10. Ver Mosias 29. 11. Davis, "Peace of the People", p. 54. 12. Néfi aprendeu essa verdade desde o início (1 Néfi 4:14), e sua constante repetição em todo o Livro de Mórmon demonstra seu status preeminente na determinação do sucesso ou fracasso da civilização nefita. 13. Davis, "Peace of the People", pp. 54–55. 14. Ver Robert D. Hales, "Preservar o Arbítrio, Proteger a Liberdade Religiosa", A Liahona, abril de 2015, pp. 111–113, disponível online em lds.org: "Primeiro, precisamos estar informados. Estejam atentos às questões de sua comunidade que possam ter uma repercussão na liberdade religiosa. Em segundo lugar, em sua capacidade individual, unam-se a outros que também estão comprometidos a defender a liberdade religiosa. Esforcem-se lado a lado para proteger a liberdade religiosa. Em terceiro lugar, vivam de modo a ser um bom exemplo daquilo em que acreditam — em palavras e em ações. O modo como vivemos nossa religião é bem mais importante do que dizemos a respeito dela". 15. Robert D. Hales, "How to Preserve the Will", p. 113.