KnoWhy #730 | Maio 17, 2024

Como foi o excesso de zelo de Zênife?

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Scripture Central

 "Contudo, estando eu [Zênife] extremamente zeloso em herdar a terra de nossos pais, reuni todos os que desejavam subir para ocupar a terra" Mosias 9:3

O conhecimento

Alguns anos após o êxodo da terra de Néfi para Zaraenla, "havia muitos" dos nefitas que desejavam retornar e "possuir a terra de sua herança" (Ômni 1:27). Um nefita chamado Zênife era membro dessa expedição e foi designado como espião "entre os lamanitas, a fim de espionar suas forças" (Mosias 9:1). Enquanto estava entre os lamanitas, Zênife viu "o que havia de bom entre eles" e "discuti[u] com [seus] irmãos no deserto" para fazer um "tratado com eles" e não destruí-los (Mosias 9:1-2). Infelizmente, isso não suavizou o coração do comandante do grupo, que ordenou que Zênife fosse morto. 1 Zênife foi "salvo com derramamento de muito sangue" quando membros do exército nefita, se voltaram uns contra os outros e "pai lutou contra pai, e irmão contra irmão" (Mosias 9:2). A maior parte do exército foi destruída; Amaléqui observou que apenas cinquenta sobreviveram e voltaram para a cidade de Zaraenla (Mosias 9:2; Ômni 1:28). Depois de retornar à Zaraenla, Zênife continuou "extremamente zeloso em herdar a terra de [seus] pais", e reuniu "todos os que desejavam subir para ocupar a terra" (Mosias 9:3). Um "número considerável" se juntou ao grupo, incluindo o irmão não identificado de Amaléqui (Ômni 1:29-30). Esta segunda expedição não era puramente militar, mas tinha que incluir mulheres e crianças, pois nenhuma expedição adicional foi feita.2 Essa segunda tentativa de retorno parece ter sido uma jornada difícil, prenunciando as possíveis provações do grupo na terra. Zênife observou que eles vagaram no deserto por muitos dias e foram "atingidos pela fome e por duras aflições" porque eram "vagarosos para [se lembrar] do Senhor [seu] Deus".3 Finalmente, eles chegaram a um lugar perto do local onde o exército nefita original havia sido destruído, que ficava "perto da terra de nossos pais", e acamparam ali (Mosias 9:4). Daquele lugar, Zênife foi com um grupo de quatro homens para "a cidade com quatro de [seus] homens para ver o rei, a fim de conhecer a disposição do rei".4 Embora o texto não comunique os detalhes das negociações, Zênife registra que o rei fez um convênio de "que [ele] ocupasse a terra de Leí-Néfi e a terra de Silom", ordenando que qualquer um de seu povo que estivesse lá "saísse da terra" (Mosias 9:6-7). O neto de Zênife, Lími, se referiria a este acordo como um tratado (Mosias 7:21). Após esse acordo, Zênife e seu povo entraram "[nessa terra] para ocupá-la"(Mosias 9:7). Zênife parece ter assumido boas intenções por parte do rei Lamã. No entanto, muitos anos e guerras depois, tanto Zênife quanto seu neto Lími, se referiam à "astúcia e estratagema" do rei Lamã ao permitir que os nefitas "[habitassem] aquela terra [Leí-Néfi e a cidade de Silom] em paz" e depois os levassem à escravidão.5 Os ataques subsequentes do rei Lamã a Zênife e seu povo — e os ataques subsequentes durante os reinados do rei Noé e do rei Lími — foram tentativas de garantir que todo o povo do reino zenifita se tornasse vassalo lamanita. O excesso de zelo de Zênife pode tê-lo cegado para as verdadeiras intenções do rei lamanita. Desta forma, em vez de possuir a terra em paz, os nefitas o fariam em conflito, criando um trocadilho irônico com o nome da terra Silom e sua semelhança com a raiz hebraica para paz.6 Quando Zênife e seu povo retornaram à terra de Néfi, eles o fizeram sem a orientação de seu profeta.7 Anos antes, quando Mosias e seus seguidores haviam fugido originalmente da terra de Néfi, eles foram levados ao deserto por "muitas prédicas e profecias. E foram continuamente admoestados pela palavra de Deus" (Ômni 1:13). No entanto, quando Zênife e seus seguidores se aventuraram a voltar, eles experimentaram o oposto, pois foram "atingidos pela fome e por duras aflições, porque [eram] vagarosos para [se lembrar] do Senhor [seu] Deus" (Mosias 9:3). Decidiram retomar uma terra da qual o Senhor lhes ordenara que fugissem apenas alguns anos antes, provavelmente nem mesmo uma geração. Ao fazer isso, eles tropeçaram, caíram e cometeram muitos erros. Muitas pessoas morreram e ainda mais sofreram porque Zênife e seus seguidores decidiram que conheciam a vontade do Senhor melhor do que Seus líderes nomeados. Um dos grandes erros cometidos por Zênife e por aqueles que o seguiram, bem como pelos da primeira expedição, foi o desejo de agir de acordo com seu próprio tempo e não com o do Senhor. O Senhor pode ter pretendido que a terra de Néfi fosse recuperada ao longo do tempo, mas os zenifitas decidiram antecipar essa linha do tempo. Além disso, eles aparentemente desejavam retomar a terra de Leí-Néfi por orgulho, e não para glorificar a Deus.

O porquê

Tanto o próprio Zênife quanto seu neto Lími, descreveram Zênife como muito entusiasmado em herdar a terra de seus pais (Mosias 7:21; 9:3). Em nossas próprias vidas, também somos excessivamente entusiasmados de muitas maneiras diferentes, incluindo as seguintes:

  • ignorar as impressões de uma resposta de oração em favor de nossos próprios desejos
  • insistir em um chamado de ala ou estaca porque acreditamos que podemos fazer melhor
  • tomar uma decisão espiritualmente arriscada porque nos beneficiará temporariamente
  • supor que sabemos mais ou que podemos fazê-lo melhor do que oficiais da Igreja ou líderes do sacerdócio

É importante lembrar que o excesso de zelo não é igual a maldade. Zênife cometeu erros infelizes, mas esses erros não o tornaram injusto. O escritor, santo dos últimos dias, Val Larsen disse o seguinte sobre a trajetória de Zênife:

Isso não significa que Zênife era um homem mau. Não foi, e essa é uma parte fundamental da mensagem de Mórmon. A importância de seguir os profetas é ainda mais evidente porque Zênife era um homem bom, não mau. E, no entanto, ao rejeitar a liderança profética, ele se colocou em circunstâncias que o tornaram precisamente o tipo de pessoa que ele menos queria ser.8

O Senhor encoraja Seus santos a "ocupar-se zelosamente numa boa causa e fazer muitas coisas de sua livre e espontânea vontade e realizar muita retidão" (D&C 58:27). No entanto, a inclusão de Zênife e seu registro por Mórmon é um aviso aos leitores dos últimos dias para que tomem cuidado com o excesso de zelo e, como resultado, rejeitem o conselho profético.9 Mesmo nos erros do povo do Zênife, Mórmon mostra que o Senhor ainda os protegeu e, da mesma forma, o Senhor não nos abandonará.10 Ao aplicarmos a lição de Mórmon e ouvirmos os ensinamentos dos profetas vivos, podemos ter certeza de que, às vezes, mesmo que as circunstâncias possam ser difíceis, estamos no caminho certo, seremos abençoados e o Senhor nos preservará.

Leitura Complementar

Matthew L. Bowen, "'Possess the Land in Peace': Zeniff's Ironic Wordplay on Shilom", Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 28 (2018): pp. 115–120. Nathan J. Arp, "An Analysis of Mormon’s Narrative Strategies Employed on the Zeniffite Narrative and Their Effect on Limhi", Interpreter: A Journal of Latter-day Saint Faith and Scholarship 59 (2023): pp. 159–190. Val Larsen, "Prophet or Loss: Mosiah1/Zeniff, Benjamin/Noah, Mosiah2/Limhi and the Emergence of the Almas", Interpreter: A Journal of Latter-day Saint Faith and Scholarship 60 (2024): pp. 367–408.

1. Em seu registro da expedição, Zênife se referiu ao comandante como "nosso chefe" (em inglês "ruler", ou seja "governante") Mosias 9:2. Isso apresenta a possibilidade de que o comandante fosse de uma linhagem real nefita, o que dá algum sentido ao intenso desejo de "possuir a terra" de sua herança: possivelmente era considerado parte de um direito de primogenitura pessoal. Ômni 1:27. 2. Amaléqui observou, antes de sua morte durante o reinado do rei Benjamim, que depois de sua partida, "e deles não mais ouvi falar". Ômni 1:30 Anos depois, o rei Mosias enviou uma pequena expedição porque seu povo "nada soubera deles desde a época em que haviam deixado a terra de Zaraenla". Mosias 7:1. Portanto, qualquer família teria que sair então, não mais tarde. 3. Mosias 9:3. Essa falta de provisões poderia ter sido agravada pelo tamanho do grupo, no qual havia famílias inteiras, ao contrário da primeira expedição, na qual aparentemente havia apenas homens. Mosias 9:2. 4. Mosias 9:5. Vale ressaltar que o texto não nomeia a cidade em questão como Leí-Néfi. Na verdade, isso parece improvável, dada a descrição inicial de Zênife de Leí-Néfi como dilapidado e escassamente povoado, sem campo plantado (ver Mosias 9:8–9). Isso o torna um lugar improvável para um rei manter a corte. Em vez disso, é possível que Zênife e seus compatriotas tenham ido para uma cidade sem nome da qual o rei Lamã governava. 5. Mosias 7:21; 9:10; 10:1. Não há razão para descartar completamente essa informação, uma vez que a relação que mais tarde existiu entre os lamanitas e os zênifitas durante o reinado do rei Lími era de senhores e vassalos (Mosias 21:3). Além disso, um sistema de reis e reis vassalos é diretamente atestado em Mosias 24:1–3 e pelo exemplo posterior do rei Lamôni e seu pai e outros governantes lamanitas contemporâneos, como Antiono, o rei da terra de Midôni (Alma 20:3–4). 6. Matthew L. Bowen, "'Possess the Land in Peace': Zeniff's Ironic Wordplay on Shilom", Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 28 (2018): pp. 115–120. Como Bowen mostra aqui, o uso da linguagem por Zênife demonstra ironia: "O uso da linguagem paralela por Zênife em Mosias 9:5-6 sugere fortemente sua correlação do nome derivado de šlm Shilom com 'paz'— do hebraico šālôm." Quando os lamanitas foram para a guerra, ele veio para a terra de Silom. Ver Mosias 9:12–14; 10:6. Como Bowen conclui, "a justaposição de Zênife do nome Silom alternadamente com 'paz' (šālôm)e com a terminologia 'guerra' serve à mesma função em toda a sua autobiografia. Para Zênife, o nome Silom serviu como o símbolo agridoce de uma "paz" principalmente tênue com os lamanitas, nos quais ele já vira o "bom" como os "nefitas" (Mosias 9:1) e um lembrete irônico da realidade sempre iminente de guerra e derramamento de sangue na vida de seu povo." 7. Mórmon menciona que Zênife consagrou seus próprios sacerdotes e não menciona nenhum profeta ou sacerdote que viajou com a expedição. Mosias 11:5. 8. Val Larsen, "Prophet or Loss: Mosiah1/Zeniff, Benjamin/Noah, Mosiah2/Limhi and the Emergence of the Almas", Interpreter: A Journal of Latter-day Saint Faith and Scholarship 60 (2024): pp. 371–372. 9. As palavras de Jacó em 2 Néfi 9:28 também merecem ser lembradas aqui: "Oh! Quão astuto é o plano do maligno! Oh! A vaidade e a fraqueza e a insensatez dos homens! Quando são instruídos pensam que são sábios e não dão ouvidos aos conselhos de Deus, pondo-os de lado, supondo que sabem por si mesmos; portanto, a sua sabedoria é insensatez e não lhes traz proveito. E eles perecerão." 10. Nathan J. Arp, "An Analysis of Mormon's Narrative Strategies Employed on the Zeniffite Narrative and Their Effect on Limhi", Interpreter: A Journal of Latter-day Saint Faith and Scholarship 59 (2023): pp. 167.