Como Isaías 48-49 pode ser “comparado” à família de Leí?

O conhecimento

Em 1 Néfi 19:23, Néfi explica que uma de suas razões para citar as palavras de Isaías a seus irmãos foi porque ele "apli[cou] todas as escrituras a [eles]". Em seguida, ele passa a citar todo o capítulo 48 e 49 de Isaías.

Ao comparar esses capítulos com a experiência da família de Leí, particularmente com as atitudes de Lamã e Lemuel, podemos refletir sobre por que Néfi os considerou relevantes para sua família e também entender melhor como aplicar essas passagens.

S. Kent Brown, ex-professor de escrita antiga da BYU, escreveu: "Creio que o impacto profundo, às vezes terrível, que a caminhada no deserto causou na alma e na memória de Néfi pode ser visto na escolha das passagens de Isaías que acompanham a narrativa da viagem de sua família à terra prometida".¹

É fácil ver como vários detalhes mencionados em Isaías 48–49 podem ser comparados às circunstâncias da família de Leí. Por exemplo:

Isaías fala sobre pessoas que "toma[m] o nome da cidade santa, mas não se apoia[m] no Deus de Israel" (1 Néfi 20:2; Isaías 48:2). Isso é semelhante à condenação de Jerusalém feita por Leí e outros profetas (1 Néfi 1:13, 18-19).

Isaías diz que as pessoas são "obstinad[as], que a [sua] cerviz é um nervo de ferro, e a [sua] testa, de bronze" (1 Néfi 20:4; Isaías 48:4). Néfi, sem dúvida, esperava que seus irmãos desafiadores reconhecessem sua própria "obstinação" (1 Néfi 2:11) e "dureza de seu coração" (1 Néfi 2:18).

Por meio de Isaías, o Senhor lamenta: "Viste e ouviste tudo isto; e não o anunciarás? E que desde agora te tenho mostrado coisas novas, sim, coisas ocultas; e não as sabias" (1 Néfi 20:6; cf. Isaías 48:6). Isso é um contraste entre Leí e Néfi, de um lado, e Lamã e Lemuel, por outro. Leí e Néfi não apenas viram e ouviram, mas declararam e viram coisas novas e ocultas, e as entenderam (1 Néfi 1:18; 9:1; 14:29-30). Enquanto isso, Lamã e Lemuel lamentavam: "Eis que não podemos compreender as palavras de nosso pai". E disseram: "[O] Senhor não nos dá a conhecer essas coisas" (1 Néfi 15:7, 9).

Como mencionado no KnoWhy 5, Isaías 48:18 parece ser a fonte das palavras usadas por Leí em seu conselho poético a seus dois filhos mais velhos e rebeldes em 1 Néfi 2:9–10.²

Em Isaías 49, diz-se que o servo do Senhor tem a "boca como uma espada afiada" (1 Néfi 21:2; Isaías 49:2). Isso pode ter lembrado Néfi da espada de Labão, que ele usou para cumprir os propósitos do Senhor (ver 1 Néfi 4:9–18).

Isaías disse que o servo do Senhor não deve apenas "levantar as tribos de Jacó e restaurar os preservados de Israel", mas também é "luz aos gentios, para [ser] a minha salvação até os confins da Terra" (1 Néfi 21:6; Isaías 49:6). O Senhor também promete: "[L]evantarei a minha mão para os gentios e levantarei o meu estandarte para o povo" (1 Néfi 21:22; Isaías 49:22).

Essa passagem pode ter lembrado Néfi dos gentios em sua visão panorâmica (1 Néfi 13), que estavam em um "horrível estado de cegueira" devido às verdades perdidas do evangelho (1 Néfi 13:32). A respeito desses gentios, o Cordeiro de Deus prometeu: "[S]erei misericordioso para com os gentios, naquele dia, tanto que lhes trarei pelo meu próprio poder muito do meu evangelho, que será claro e precioso, diz o Cordeiro" (1 Néfi 13:34). O meio pelo qual esses gentios seriam trazidos à luz seria através do registro mantido por Néfi e seus descendentes (1 Néfi 13:35).

O porquê

Ver esses paralelos ajuda a destacar a seleção cuidadosa e muito consciente que Néfi fez das passagens de Isaías. O uso de Isaías 48–49 em 1 Néfi 20–21 não parece ser sem motivo. É improvável que esses capítulos tenham sido inseridos de forma displicente, como um recheio irrelevante. Parecem ser passagens proféticas deliberadamente selecionadas, usadas por alguém intimamente familiarizado com sua relevância, especificamente em relação às experiências pessoais da família de Leí.

Reconhecer essa correspondência também nos permite conhecer a mente de Néfi. Isso nos dá a oportunidade de ver como um grande profeta (Néfi) leu, entendeu, interpretou e comparou a obra de outro grande profeta (Isaías) às suas próprias experiências.

Ao prestarmos grande atenção em como Néfi compara Isaías à sua própria situação, podemos aprender a seguir o exemplo de Néfi melhor e com mais eficácia para "[aplicar] todas as escrituras a nós" (1 Néfi 19:23).

S. Kent Brown ressalta que, embora o "principal motivo" para citar Isaías certamente fosse"trazer conforto e alegria ao seu povo, dirigindo sua atenção para o Santo de Israel", essa não foi a única razão:

O propósito secundário de Néfi se manifesta por meio das conexões perceptíveis entre as profecias de Isaías sobre a futura dispersão e coligação da casa de Israel e as experiências da família de Néfi durante seu êxodo de Jerusalém, viajando para a terra de promissão. Assim, Néfi encontrou consolo reconfortante, bem como prova do cumprimento profético, nas palavras de Isaías, a quem conhecia e amava.³