KnoWhy #668 | Maio 3, 2023

Como João retratou a Jesus como o “Caminho do Templo”?

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Scripture Central

Jesus lhes falou novamente, dizendo: "Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida". João 8:12

O conhecimento

Ao longo do evangelho de João, várias imagens e símbolos apontam os cristãos antigos e modernos para o templo. Significativamente, John S. Thompson comentou que a ordem desses temas do templo no evangelho de João parece delinear um caminho progressivo semelhante ao programa arquitetônico e ritual do templo israelita. Essa visão pode aprofundar nossa apreciação da ideia de que o ministério de Jesus aponta o caminho para que cada um de nós retorne à presença do Pai.

Quando João começa seu Evangelho, registra que Jesus estava na presença do Pai no princípio (ver João 1:1). De acordo com Thompson, "as fontes antigas sobre a teologia do templo do Lugar Santíssimo equiparam-na com a Criação, particularmente com o primeiro dia, quando a Luz entrou no mundo. Consequentemente, o Lugar Santíssimo também pode representar a presença de Deus com suas hostes celestiais ou Seu conselho antes da Criação. Tais temas aparecem nos versículos iniciais do evangelho de João.'' 1

No entanto, Jesus não permaneceu na presença do Pai no Lugar Santíssimo. Como João registra, ''E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós'' (João 1:14). Em outras palavras, pode-se entender que ''o Filho desceu da presença de Deus para o Lugar Santíssimo e saiu do templo para o mundo''.2 Os seguintes eventos do ministério mortal de Cristo parecem refletir Sua jornada de volta ao Lugar Santíssimo, levando Seus discípulos com Ele e abrindo o caminho para que todos os filhos de Deus voltem a entrar em Sua presença.

O Pátio Externo

No pátio do templo, eram realizadas ordenanças preparatórias que permitiam a entrada no próprio templo.3 Essas ordenanças ''centravam-se na fonte de água que os sacerdotes usavam para se purificar antes de entrar no templo e no altar de sacrifícios, onde animais, farinha, óleo, sal, vinho e outras ofertas eram colocadas''.4 Os eventos dos seis primeiros capítulos de João parecem se concentrar em tópicos relacionados à corte, bem como identificar Jesus como o ''novo sacrifício'' do templo.5

Por exemplo, no Evangelho de João, a ordenança do batismo — tanto o próprio batismo de Jesus quanto outros batismos realizados por Ele e Seus discípulos — é mencionada apenas nos primeiros quatro capítulos. 6 Em Caná, Jesus realiza Seu primeiro milagre público convertendo água, usada para o rito de ''purificações dos judeus'', em vinho (João 2:6). Como Thompson aponta, ''essa é a água usada habitualmente pelos judeus para limpar as mãos e os pés antes de entrar em uma casa, não muito diferente do propósito da pia no pátio do templo''.7

Outras referências à purificação e à cura pela água estão presentes nos primeiros capítulos de João. Jesus identifica a necessidade do batismo, uma ordenança de purificação, para entrar no reino dos céus, representado pelo pátio do templo (João 3:5.8) Em João 4, Jesus se identifica como um poço de ''águas vivas'', uma imagem imbuída na tradição do templo. 9 Então, em João 5, Jesus cura um homem no tanque de Betesda, um lugar que ''pode ter sido associado à purificação das ovelhas sacrificadas pelo templo devido a sua proximidade com a casa de Deus''.10 Ao curar um homem nestas águas (que se acreditava terem propriedades curativas), Jesus se identifica ainda mais como as águas vivas e curativas do templo.11

A Páscoa, um importante feriado judaico relacionado aos sacrifícios no altar do templo, é frequentemente apontada por João como pano de fundo para os eventos desses capítulos iniciais. Em João 2, quando Jesus limpa o templo, era época de Páscoa. Diz-se que Jesus ''tirou os sacrifícios'' antes de falar da ''destruição de seu próprio corpo, descrevendo-o como um templo, como se declarasse que Ele é o substituto ou o cumprimento dos sacrifícios do templo''. 12 O Sermão do Pão da Vida, registrado em João 6, também ocorreu durante a Páscoa (João 6:4). Neste sermão, Jesus se identifica não apenas como o maná que desceu do céu, mas também como o cordeiro pascal e o vinho. O cordeiro, pão e vinho eram oferecidos diariamente no altar do templo (Êxodo 29:38-42).13

O Lugar Santíssimo

Em João 7-10, João passa da Páscoa para os eventos do ministério de Jesus que ocorreram durante os festivais centrados no próprio templo — ou seja, a Festa dos Tabernáculos e a Festa da Dedicação — chamando assim a atenção dos leitores para o Lugar Santíssimo do antigo templo. Um dos símbolos mais importantes usados nesses capítulos é a luz divina que emana de Deus no templo, simbolizada pela Menorá do lugar santo. Isto é especialmente evidente na Festa dos Tabernáculos, durante a qual candelabros eram colocados no pátio do templo para estender a luz da Menorá para fora.14 Foi durante esta festa que Jesus declarou: ''Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida'' (João 8:12).

A imagem da luz do templo também está relacionada à cura de um homem nascido cego. Jesus cura este homem ungindo seus olhos com lodo e instruindo-o a se lavar na tanque de Siloé (ver João 9:6-7). De acordo com Thompson, ''a maneira ritual em que os olhos dos cegos são abertos refere-se a antigos ritos relacionados ao templo, que consistem em abrir a boca e os olhos de sacerdotes, profetas e outras pessoas antes de seu serviço no templo ou ascensão ao céu. Consequentemente, os olhos se preparam para receber algo além da luz natural; em vez disso, eles se preparam para receber uma 'luz' divina superior.''15

Mais tarde, na Festa da Dedicação, Jesus também se refere à sua própria unção pelo Pai. Quando desafiado pelos fariseus, Jesus declarou: ''A quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis: Blasfemas; porque disse: Sou Filho de Deus?'' No entanto, a palavra grega traduzida na versão [da Bíblia] Almeida 2015 como ''santificado'', neste versículo, ''é usada para aqueles que são consagrados a um trabalho importante ou alto cargo, incluindo sacerdotes''.16 Ao mencionar tal unção, Jesus também teria chamado a atenção de seu público para o templo.

Jesus também demonstrou Seu relacionamento especial com o templo em João 8 e 10. Em João 8:35, Jesus declara que ''o servo não fica para sempre em casa; o Filho fica para sempre.'' A declaração de Jesus no pátio do templo ''faria sentido no contexto da Festa dos Tabernáculos, na qual o Messias, filho de Deus, é celebrado como rei em Seu templo''17 Além disso, em João 10, Jesus se identifica como o Bom Pastor18, que se diz habitar ''entre os querubins'' em Salmos 80:1, uma clara referência à condição entronizada do Senhor em Seu templo. É lógico, então, que a próxima parte do evangelho de João diz respeito aos preparativos para entrar no Lugar Santíssimo e contemplar o entronizado Pastor de Israel.

Entrando no Lugar Santíssimo

João termina seu evangelho concentrando-se na ressurreição e reentrando na presença de Deus. Embora o batismo possa ter sido o pré-requisito para entrar no templo (ver João 3:5), ''A ressurreição pode, sem dúvida, ser situada no umbral ou véu interno do templo, onde se 'nasce' no Lugar Santíssimo''.19 Jesus não apenas ensina sobre sua própria morte e ressurreição iminentes, mas também se declara ''a ressurreição e a vida'', pelas quais podemos entrar na presença de Deus (João 11:25).20

Em João 12, Jesus é ungido por Maria de Betânia como preparação para Sua morte e Ressurreição (ver João 12:7).21 Pouco tempo depois vem Sua entrada triunfal em Jerusalém, na qual se diz que Jesus veio em nome do Senhor e na qual a voz do Pai declara que Seu nome é glorificado (ver João 12:12-15, 23-28).

Nestes últimos eventos da vida de Jesus, João retorna seus leitores para a Páscoa (João 11:55). Da mesma forma, após os eventos que ocorreram no Monte Sinai, a casa de Israel começou sua jornada final para a Terra Prometida com uma segunda Páscoa (ver Números 9). A repetição parece ser uma característica de muitos dos ensinamentos de Jesus nestes últimos capítulos (como no Templo), mas estas últimas repetições parecem ser de uma ordem superior. Por exemplo, nos últimos momentos privados em que Jesus se dedicou a ensinar seus Apóstolos, Ele faz alusão a um lava-pés anterior, porém, mais uma vez, lava os pés de Seus discípulos, ordenança que Ele associa à possibilidade de segui-Lo até o Lugar Santíssimo.22 Por último, Jesus oferece a grande Oração Intercessória, na qual Ele declara que revelou o nome do Pai aos seus discípulos e ora por eles para que possam segui-Lo à presença do Pai (ver João 17).23

Estar na presença de Deus

Finalmente, o véu é levantado e os discípulos afinal veem o Filho de Deus ressuscitado. A Ressurreição de Jesus está ligada não apenas a Sua ascensão à presença do Pai (cf. João 20:17), mas também à entrada dos Apóstolos no Lugar Santíssimo e sua saída como representantes sumo sacerdotais do Pai e do Filho, capazes de remir os pecados: ''Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós. [...] Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, lhes são retidos'' (João 20:21-23).24

O porquê

Visto que Jesus é o caminho do templo, Sua vida oferece ao mundo o melhor exemplo de como obter a vida eterna. De fato, Jesus conduz Seus discípulos ao Seu templo em todos os aspectos de Sua vida e ministério. Seguindo Seu exemplo, todos nós podemos nos encontrar de volta no caminho para a presença de Deus Pai e Seu Filho Jesus Cristo.

O rei Benjamim ensinou aos nefitas que ''nenhum outro nome se dará, nenhum outro caminho ou meio pelo qual a salvação seja concedida aos filhos dos homens, a não ser em nome e pelo nome de Cristo, o Senhor Onipotente'' (Mosias 3:17). À medida que os filhos e filhas fiéis de Deus seguem o exemplo de Jesus e fazem convênios com Ele no batismo, participando do sacramento e aceitando as ordenanças do Templo Sagrado, poderão tomar sobre si o Seu nome sagrado. Isto lhes permitirá e capacitará a segui-Lo no caminho do convênio até nosso lar celestial, assim como partilhar de todas as bênçãos prometidas aos Seus discípulos fiéis.

Leitura Complementar

John S. Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus as the Way of the Temple'', em The Temple: Ancient and Restored, ed. Stephen D. Ricks e Donald W. Parry (Orem, UT: Interpreter Foundation; Salt Lake City, UT: Eborn Books, 2016), pp. 309-335. Jackson Abhau, New Testament Minute: John, ed. John W. Welch (Springville, UT: Scripture Central, 2022).

1. John S. Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus as the Way of the Temple'', em The Temple: Ancient and Restored, ed. Stephen D. Ricks y Donald W. Parry (Orem, UT: Interpreter Foundation; Salt Lake City, UT: Eborn Books, 2016), p. 310. 2. Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', pp. 310–311. 3. Ver Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', p. 311–313. 4. Thompson, ''How John 's Gospel Portrays Jesus'', p. 313, citando Êxodo 30:17–21; Levítico 1:2; 2:1, 13; 23:13. 5. Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', p. 313. 6. Ver João 1:29–34; 3:22, 26; 4:1–2. 7. Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', p. 313. 8. Ver Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', p. 314. 9. Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', p. 314. Ver também o artigo da Central do Livro de Mórmon, ''Como Jesus provê "a água viva" a todos? (João 4:14), '' KnoWhy 658 (16 de fevereiro de 2023). 10. Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', p. 314. 11. Ver Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', p. 314. 12. Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', p. 313. 13. Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', p. 315. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, ''Por que Jesus usou símbolos da Páscoa em seu Sermão do Pão da Vida? (João 6:35), '' KnoWhy 664 (10 de abril de 2023). 14. Ver Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', p. 317. 15. Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', pp. 317–318. 16. Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', p. 319. 17. Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', p. 318. 18. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, ''Por que Jesus disse que havia 'outras ovelhas' que ouvirão sua voz? (3 Néfi 15:21; cf. João 10:16), '' KnoWhy 207 (18 de setembro de 2017). 19. Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', p. 320. 20. Ver Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', p. 320. 21. Ver Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', p. 321. Thompson vê uma alusão na casa que é preenchida com o perfume do óleo e a visão de Isaías do templo celestial em que a casa do Senhor foi preenchida com a fumaça do altar de incenso (ver João 12:3; Isaías 6:1–4). 22. Ver Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', pp. 322–323. 23. Ver Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', pp. 324–326. 24. Ver Thompson, ''How John’s Gospel Portrays Jesus'', pp. 326–327.

Templo
Milagres
Festa dos Tabernáculos
Bíblia Sagrada