KnoWhy #458 | Agosto 20, 2020

Como o nome Zorã se relaciona com o orgulho?

Postagem contribuída por

 

Scripture Central

"Sim, viu também que, por causa de seu orgulho, seu coração estava ensoberbecido e eles vangloriavam-se."

O conhecimento

Para os leitores do Livro de Mórmon, um dos primeiros nomes que eles encontram é Zorã (ver 1 Néfi 4:35). Zorã era um servo importante de Labão, a guarda oficial do tesouro onde os registros sagrados eram mantidos. Mas ele escolheu ser um homem livre, juntando-se à família de Leí e viajando com eles para a terra prometida. Não muito é revelado sobre Zorã, exceto que ele era um "amigo fiel" de Néfi1 e que, apesar de ter sido um forasteiro do grupo de Leí, ele se tornou uma das sete principais tribos do povo de Leí.2 Embora Zorã fosse aparentemente um homem justo, alguns de seus descendentes causaram problemas para os nefitas,3 e parece que Mórmon pode ter usado um jogo de palavras em nome de Zorã para enfatizar esse ponto. Após analisar o nome Zorã conforme a antiga língua semítica, Matthew L. Bowen sugeriu que "poderia […] plausivelmente indicar 'aquele que é elevado/exaltado', ou 'aquele do Exaltado'".4 Embora Zorã provavelmente significava um nome louvável, os autores nefitas associaram-no ao orgulho e à vaidade. A evidência dessa conexão pode ser encontrada em várias passagens do Livro de Mórmon, mas talvez seja mais evidente na história da missão de Alma aos zoramitas. Quando Alma e seus missionários chegaram à terra de Antiônum, descobriram que os zoramitas haviam pervertido as tradições corretas dos nefitas. Isso incluiu oferecer orações vãs em uma plataforma chamada Rameumptom (Alma 31:21). A partir desta plataforma, que "ficava mais alto que a cabeça" (v. 13), os zoramitas, em vestes suntuosas, se gabavam de seu estado supostamente santo e escolhido. Notadamente, o termo ram no início de "Rameumptom" talvez seja o mesmo elemento básico em "Zoram" ["Zorã", traduzido ao português], que significa "alto" ou "exaltado" em hebraico.5 A dupla presença de ram neste contexto possibilita que seja um jogo de palavras intencional. Uma linha adicional de evidência pode ser vista no fato de que Alma, em duas ocasiões diferentes, comparou o orgulho dos zoramitas com temas justos de serem "elevados". Primeiro, Alma comparou o coração dos zoramitas que "por causa de seu orgulho […] estava ensoberbecido e eles vangloriavam-se", à sua própria oração justa, onde ele "elevou a voz ao céu" (Alma 31:25-26). No segundo exemplo, Alma aconselhou seu filho Siblon a "não ser orgulhoso; sim, procura não te vangloriares" e o aconselhou dizendo "[n]ão ores como o fazem os zoramitas" (Alma 38:11,13). Ele contrastou isso com a promessa de que Siblon seria "elevado no último dia" se ele se lembrasse de colocar sua "confiança em Deus" (v. 5).6 Ainda outra evidência para um jogo de palavras intencional vem da maneira como os nomes Cezorã e Seezorã (variantes de Zorã) estão associados a ser orgulhoso e exaltado. Foi no contexto do assassinato do juiz chefe, chamado Cezorã, que o povo procurou "visar a lucros, para elevarem-se uns acima dos outros" (Helamã 6:15-17). Da mesma forma, foi durante o reinado de Seezorã que o povo nefita se "engrandeceu além do que é devido por causa de [suas] enormes riquezas!" (Helamã 7:26). Portanto, durante o mandato desses líderes — cada um com os nomes associados a Zorã — os nefitas começaram a crescer em iniquidade, assim como os orgulhosos zoramitas.7

O porquê

À luz dessas e de outras evidências textuais, parece evidente que os zoramitas passaram a ser associados às conotações "alto" e "exaltado" de seu próprio nome. Entretanto, em vez de serem elevados ou santos de maneira positiva, eles foram "elevados" em direção ao orgulho e à vaidade. Em particular, os zoramitas se tornaram um símbolo do tipo de orgulho que decorre da ganância, do materialismo, do mundo bem-sucedido e de um falso senso de retidão pessoal ou coletiva. Infelizmente, o mesmo orgulho que derrubou os zoramitas acabou infectando a nação nefita em geral. Em uma carta a Morôni, Mórmon declarou: "Eis que o orgulho desta nação, ou seja, do povo nefita, mostrou ser a sua destruição, caso não se arrependam" (Morôni 8:27).8 Os leitores modernos devem se preocupar especialmente com esse tipo de orgulho, porque ele também é comum em nossos dias. Para os leitores modernos, Moroni escreveu:

Eis que eu vos falo como se estivésseis presentes e, contudo, não estais. Mas eis que Jesus Cristo vos mostrou a mim e conheço as vossas obras. E sei que andais segundo o orgulho de vosso coração; e poucos há que não se exaltam no orgulho de seu coração, a ponto de vestirem-se com trajes finos, entregarem-se a inveja e contendas e malícia e perseguições e a toda sorte de iniquidades; e vossas igrejas, sim, todas elas se tornaram corruptas por causa do orgulho de vosso coração. (Mórmon 8:35–36)

Deve-se entender que os antigos autores hebraicos não usavam jogo de palavras apenas para diversão. Em vez disso, o uso de trocadilhos foi muitas vezes destinado à ajudar a estabelecer e reforçar temas narrativos importantes. Neste caso, a história dos zoramitas, incluindo o trocadilho inteligente com o nome de Zorã, nos ajuda a lembrar os perigos de nos gabarmos de nossa própria força ou de sermos erguidos no orgulho de nossos corações. Foi esse tipo de orgulho que levou os zoramitas e nefitas à destruição.9 E se não formos cuidadosos, o mesmo orgulho levará as sociedades de nosso próprio tempo ao mesmo destino deprimente. O Presidente Dieter F. Uchtdorf ensinou: "O orgulho é o grande pecado do enaltecimento próprio. É, para muitos, um Rameumptom pessoal, um púlpito sagrado que justifica a inveja, a cobiça e a vaidade".10 Como podemos garantir que não cairemos na mesma condição de orgulho que os zoramitas e nefitas? Uma maneira é desviar o louvor e a glória de nós mesmos e direcioná-la a Deus. Por exemplo, quando um indivíduo chamou Jesus de "Bom mestre", Jesus lhe disse: "Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus" (Mateus 19:17). Da mesma forma, Amon, o missionário nefita, foi avisado de que estava se vangloriando de si, mas Amon explicou que o que estava fazendo era dirigir todos os seus louvores ao "Deus Altíssimo" (Alma 26:14). Quando mantemos nosso foco na bondade do Senhor e longe de nossas próprias realizações, o Senhor nos ajudará a ver nosso verdadeiro valor eterno e o valor de Seus filhos. Nessa condição, não sentiremos que precisamos nos levantar com orgulho. Isso ocorre porque, como Siblon, podemos confiar que o Senhor nos ajudará a ressuscitar — o que significa que Ele gentilmente nos elevará à vida eterna — se guardarmos os mandamentos e fielmente colocarmos nossa "confiança em Deus" (Alma 38:5).

Leitura Complementar

Matthew L. Bowen, "'See That Ye Are Not Lifted Up': The Name Zoram and Its Paronomastic Pejoration", Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 19 (2016): pp. 109–143. Parrish Brady e Shon Hopkin, "The Zoramites and Costly Apparel: Symbolism and Irony", Journal of the Book of Mormon and Other Restoration Scripture 22, no. 1 (2013): pp. 40–53. Sherrie Mills Johnson, "The Zoramite Separation: A Sociological Perspective", Journal of Book of Mormon Studies 14, no. 1 (2005): pp. 74–85, 129–30.

1. Esta descrição de Zorã vem de Leí, que também declarou: "Como tens, portanto, sido fiel, teus descendentes serão abençoados com os dele" (2 Néfi 1:30–31). Em certo nível, parece que Leí pode ter comparado Zorã a Jônatas do Velho Testamento, que "amava [Davi] como à sua própria alma" (1 Samuel 18:3) e ainda disse a Davi: "[A]mbos juramos em nome do Senhor, dizendo: O Senhor seja entre mim e ti, e entre a minha semente e a tua semente seja perpetuamente" (1 Samuel 20:42). Para uma comparação mais extensa entre Néfi e Davi, consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que a espada de Labão era tão importante para os líderes nefitas? (Palavras de Mórmon 1:13)", KnoWhy 411, (20 de agosto de 2018). 2. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que existem sete tribos de Leí? (Jacó 1:13)", KnoWhy 319, (26 de fevereiro de 2018). Essas sete tribos são sempre mencionadas na mesma ordem, com os zoramitas sendo colocados no meio do grupo, afiliados aos nefitas e lamanitas: "nefitas, jacobitas, josefitas, zoramitas, lamanitas, lemuelitas e ismaelitas" (Jacó 1:13). Essa colocação intermediária talvez seja um símbolo do status de forasteiro de Zorã, bem como do fato de que os descendentes de Zorã não estavam totalmente comprometidos nem com os nefitas, nem com os lamanitas ao longo da longa história de seus conflitos. 3. Esses descendentes pelo menos incluíam os dissidentes Amaliquias e Amoron (Alma 54:23), e provavelmente os zoramitas apóstatas cujo nome foi tirado de um homem chamado Zorã (Alma 30:59), que presumia ser um descendente de Zorã que acompanhou Leí em sua jornada para o novo mundo. Ver também, Sherrie Mills Johnson, "The Zoramite Separation: A Sociological Perspective", Journal of Book of Mormon Studies 14, no. 1 (2005): p. 76. Deve-se notar, no entanto, que nem todos os zoramitas ao longo da história do Livro de Mórmon eram ímpios (ver 4 Néfi 1:36-37). 4. Matthew L. Bowen, "'See That You Are Not Lifted Up': The Name Zoram and Its Paronomastic Pejoration", Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 19 (2016): p. 114. 5. Ver Bowen, "'See That You Are Not Lifted Up'", pp. 125–127. 6. Ver Bowen, "'See That You Are Not Lifted Up'", pp. 128–131. 7. Ver Bowen, "'See That You Are Not Lifted Up'", pp. 132–135. 8. Ver Bowen, "'See That You Are Not Lifted Up'", pp. 135–137. 9. Para um exemplo de como o orgulho zoramita ironicamente os levou à derrota na batalha, ver Parrish Brady e Shon Hopkin, "The Zoramites and Costly Apparel: Symbolism and Irony", Journal of the Book of Mormon and Other Restoration Scripture 22, no. 1 (2013): pp. 40–53. 10. Dieter F. Uchtdorf, "O Orgulho e o Sacerdócio", A Liahona, Novembro 2010, 56, disponível em lds.org.