KnoWhy #580 | Outubro 15, 2020
Como Cristo usou a visão profética nefita do mundo?
Postagem contribuída por
Central das Escrituras
"Então suas sentinelas alçarão a voz e juntamente cantarão; porque verão olho a olho." 3 Néfi 20:32
O conhecimento
À medida que Néfi e seu irmão mais novo, Jacó, estabeleceram os alicerces da tradição profética nefita, parecem ter desenvolvido e usado regularmente um contexto quádruplo (baseado na ampla visão de Néfi em 1 Néfi 11-14) para entender e interpretar seu lugar no plano futuro de Deus e interpretar as Escrituras. John W. Welch se referiu a isso como a "Visão Profética Nefita" e identificou os quatro cenários dessa visão profética como:- A vinda de Cristo (ver 1 Néfi 11);
- Sua rejeição, a dispersão dos judeus infiéis e da casa de Israel (1 Néfi 12);
- O dia dos gentios (1 Néfi 13); e
- A restauração de Israel e a vitória final do bem sobre o mal (1 Néfi 14).1
O dia dos gentios em 3 Néfi 15–16
Em 3 Néfi 15, Jesus começou explicando que, com Sua vinda e por meio de Seu sacrifício, a Lei de Moisés foi cumprida e ''as coisas antigas haviam passado e todas as coisas haviam-se tornado novas'' (3 Néfi 15:1-10). Dessa forma, Ele abordou brevemente o cenário 1, enfatizando o cumprimento e as implicações de Sua vinda para as futuras práticas religiosas nefitas. Jesus explicou que o conhecimento sobre os nefitas e os remanescentes da Israel dispersa fora ocultado daqueles em Jerusalém, devido a sua incredulidade (3 Néfi 15:11-16:3). Jesus também afirmou que os nefitas faziam parte das “outras ovelhas”, mencionadas brevemente no Novo Testamento (João 10:16). Esta alusão ao tema da dispersão no cenário 2 estabelece as bases para o Salvador comentar detalhadamente o futuro "dia dos gentios". Neste dia, Jesus assegurou ao seu público nefita que seu registro, O Livro de Mórmon, alcançaria os gentios, muitos dos quais seriam abençoados por sua crença em Cristo (3 Néfi 16:4-6). No entanto, a iniquidade prevaleceria entre os gentios incrédulos que "pecaram contra [Seu] evangelho". Serão como o sal que perdeu o seu sabor e jogados fora para serem pisados pelos pés. (3 Néfi 16:7-15). Então, o Salvador citou Isaías 52:8-10 (3 Néfi 16:18-20).4A restauração de Israel e a vitória sobre o mal nos últimos dias em 3 Néfi 20–25
No segundo dia do ministério de Cristo entre os nefitas, Ele voltou à visão profética nefita e concentrou-se extensivamente nos eventos finais fundamentais do cenário 4. Como Welch efetivamente resumiu:[O Salvador] citou duas vezes Isaías 52:7-8, que fala sobre os "atalaias" que levantarão a voz em um dia de plenitude e a maneira como Jesus será o principal mensageiro que anunciará a libertação aos israelitas, e saberão quão formosos são seus pés. Ele também citou Isaías 54 completo, que fala sobre o fim dos tempos, em que a mulher estéril ou sem filhos (que simboliza a Igreja durante a grande apostasia) será consolada, será frutífera, expandirá e decorará suntuosamente sua tenda (ou tabernáculo) com a descendência (filhos) que herdará eternamente. São apresentados outros temas da glória e edificação de Sião que pertencem especialmente aos nefitas convertidos. E concluiu citando Malaquias 3-4, sobre a Terra não ser ferida em Sua vinda final.5
O porquê
Assim como o reconhecimento deste padrão elucida a citação e interpretação de Isaías, feita por Néfi e Jacó nos primeiros anos da experiência nefita, também oferece uma visão e uma melhor compreensão dos ensinamentos do Salvador na Terra de Abundância. Isso mostra que, ao instruir os nefitas, o Salvador “ensinou dentro do contexto tradicional dos quatro cenários da cosmovisão profética nefita”.6 Esse padrão foi estabelecido pela primeira vez pelo próprio Senhor, quando Ele revelou o futuro a Néfi, usando quatro fases específicas (1 Néfi 11-14). Como havia se tornado um padrão arquetípico utilizado pelos profetas nefitas, fazia sentido que o Senhor se baseasse novamente nesse padrão para contextualizar Seus ensinamentos de forma familiar a Seu público nefita, aumentando assim sua capacidade de compreender e interpretar corretamente Seus ensinamentos. No entanto, Ele não foi inflexível ao ensinar este padrão. Ele o adaptou conforme as circunstâncias de Seu público e às informações imprescindíveis a comunicar-lhes. Como Welch observou: “Na época de 3 Néfi, os dois primeiros desses quatro cenários já haviam acontecido”.7 Como tal, Ele apenas falou brevemente sobre os cenários 1 e 2, e o fez com o propósito de estabelecer as bases para Seus ensinamentos sobre o cenário 3. Ele também esperou até o segundo dia, quando “falou a um povo melhor preparado espiritualmente” para enfatizar o cenário 4.8 Segundo Welch "aqui fica claro que Jesus ensinou àqueles que precisavam saber somente após estarem espiritualmente preparados para compreender estes temas sublimes".9 Nesse contexto, o Salvador esperaria justificadamente que sua audiência pudesse entender o que ele estava falando, embora percebesse que eles eram "fracos" e não podiam compreender imediatamente todas as palavras que "o Pai [lhe] ordenou que [lhes] dissesse" (3 Néfi 17:2). Assim, após citar Isaías 52, Jesus deu-lhes a tarefa de ''[irem] para [suas] casas, meditai sobre as coisas que [Ele] disse[ra]'' (3 Néfi 17:3). Enquanto ponderavam, provavelmente lembraram de outras ocasiões em sua história em que profetas como Néfi (ver 1 Néfi 13:37 ; 22:10–11); e Abinádi (Mosias 12:21–24; 15:29–31) haviam citado e explicado aquele texto de Isaías. E Jesus lhes assegurou que, ao pedirem ao Pai em nome de Cristo, poderiam "compreender e se preparar" para tudo o que Jesus diria no dia seguinte sobre aquela passagem inspiradora de profecia (ver 3 Néfi 20:34-35, 41-45; 21:29) e além. Assim, compreender como o Salvador usou e adaptou uma referência nefita familiar para a interpretar as escrituras ajuda aos leitores a entenderem melhor o que Jesus ensinou ao povo naquele dia e o motivo para isso. Além disso, esclarece como o Salvador ensinou, demonstrando métodos de ensino que podemos aplicar hoje em dia, em muitas ocasiões, para melhorar o aprendizado do Evangelho com base nas palavras reveladas por Deus.Leitura Complementar
John W. Welch, “Getting through Isaiah with the Help of the Nephite Prophetic View”, em Isaiah in the Book of Mormon, ed. Donald W. Parry y John W. Welch (Provo, UT: FARMS, 1998), pp. 19–45. Dana Pike, “‘How Beautiful upon the Mountains’: The Imagery of Isaiah 52:7–10 and Its Occurrences in the Book of Mormon”, em Isaiah in the Book of Mormon, ed. Donald W. Parry y John W. Welch (Provo, UT: FARMS, 1998), pp. 266–271. John W. Welch, John W. Welch Notes (Springville, UT: Book of Mormon Central, 2020), pp. 997–998.1. John W. Welch, “Getting through Isaiah with the Help of the Nephite Prophetic View”, em Isaiah in the Book of Mormon, ed. Donald W. Parry y John W. Welch (Provo, UT: FARMS, 1998), pp. 19–45, esp. 22. Veja também o artigo da Central do Livro de Mórmon, “Como Néfi escolheu os capítulos de Isaías? (2 Néfi 11:2)”, KnoWhy 38 (16 de fevereiro de 2017). 2. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, “Como Néfi interpretou que Isaías era uma testemunha da vinda de Cristo? (2 Néfi 17:14)”, KnoWhy 40 (18 de fevereiro de 2017); Central do Livro de Mórmon, "Por que os primeiros profetas nefitas falaram da dispersão dos judeus? (2 Néfi 15:13, 25)”, KnoWhy 42 (22 de fevereiro de 2017); Central do Livro de Mórmon, "Quando será o dia dos gentios? (1 Néfi 21:22)'', KnoWhy 44 (24 de fevereiro de 2017); Central do Livro de Mórmon, "O que Néfi e Isaías disseram sobre o fim dos tempos? (2 Néfi 23:6)'', KnoWhy 46 (27 de fevereiro de 2017). 3. John W. Welch, John W. Welch Notes (Springville, UT: Book of Mormon Central, 2020), p. 997. 4. Ver Dana Pike, “‘How Beautiful upon the Mountains’: The Imagery of Isaiah 52:7–10 and Its Occurrences in the Book of Mormon”, em Isaiah in the Book of Mormon, pp. 266–269 para comentários sobre o uso que o Salvador fez desta passagem. 5. Welch, John W. Welch Notes, p. 998. Veja também Pike, “How Beautiful upon the Mountain”, pp. 269–271 para um comentário deste uso de Isaías 52:8–10. 6. Welch, John W. Welch Notes, p. 998. 7. Welch, John W. Welch Notes, pp. 997–998. 8. Welch, John W. Welch Notes, p. 998. 9. Welch, John W. Welch Notes, p. 998.