KnoWhy #552 | Março 11, 2020
Como a Doutrina de Cristo se relaciona ao Templo antigo?
Postagem contribuída por
Scripture Central
"Portanto, agora que vos disse estas palavras, se não as puderdes compreender será porque não pedis nem bateis; de modo que não sereis levados para a luz, mas perecereis na escuridão. Pois eis que vos digo novamente que, se entrardes pelo caminho e receberdes o Espírito Santo, ele vos mostrará todas as coisas que deveis fazer. Eis que esta é a doutrina de Cristo e nenhuma doutrina mais será dada até depois de ele se manifestar a vós na carne" 2 Néfi 32:4–6
O Conhecimento
Quando Néfi estava prestes a terminar seu registro, enfaticamente ensinou o que chamou de "a doutrina de Cristo" (2 Néfi 31:21; 32:6), definida basicamente como: fé, arrependimento, batismo, receber o dom do Espírito Santo e perseverar até o fim para receber a vida eterna (2 Néfi 31:13–15).1 Néfi ensinou o evangelho com "clareza" explícita (2 Néfi 31:2; 32:7, no entanto, pelo menos alguns de seus seguidores tiveram dificuldades para entender o que ele ensinava (2 Néfi 32:1–4).
Um método que os profetas nefitas usaram repetidamente para ensinar sobre Cristo com clareza ao povo, foi recorrer aos rituais de adoração e ao simbolismo dos israelitas. Um exemplo claro disso é o discurso do rei Benjamim, no qual ele reuniu o povo no Templo e os ensinou sobre o sangue expiatório de Cristo, provavelmente em relação aos rituais do Dia da Expiação e outras festas de outono israelitas (Mosias 2–5).2 O irmão mais novo de Néfi, Jacó, também ensinou sobre o Plano de Salvação no novo templo durante o que provavelmente foi uma das festas de outono (2 Néfi 6-10). 3
De acordo com Shon D. Hopkin, professor de escrituras antigas da BYU, Néfi fez o mesmo em 2 Néfi 31–32. "Ao ensinar esses conceitos sobre a doutrina de Cristo que podem ter sido novos para os nefitas [...] ele forneceu um contexto familiar ao descrevê-los em termos fornecidos pelo templo de Salomão". 4 Como outro estudioso observou: "Os últimos três capítulos de Segundo Néfi estão saturados com o tema do véu [do Templo]". 5
Na antiga Israel, o sumo sacerdote era o único que podia passar pelo véu e entrar no Santo dos Santos, e isso só podia ser feito em um dia específico: o Dia da Expiação. No processo de realização de vários rituais, o sumo sacerdote passava pelo altar do sacrifício e pelo mar de fundição e passava pela entrada do templo. Lá, no "Lugar Santo", estava a menorá (um candelabro de sete braços), a mesa dos pães da proposição e o altar do incenso. O sumo sacerdote passava por cada um desses emblemas enquanto cumpria seus deveres e se aproximava do véu do Lugar Santíssimo. Hopkin explica que no Dia da Expiação, "o sumo sacerdote tinha permissão para cruzar os querubins, que eram bordados no véu, para entrar na presença simbólica de Deus exibida por seu trono [...] no Lugar Santíssimo". 6
Hopkin argumentou que a apresentação de Néfi da doutrina de Cristo estava relacionada a "representações da ascensão divina do sumo sacerdote" realizada no Dia da Expiação, quando o sumo sacerdote ia "da extremidade leste do templo (no altar do o sacrifício) para o extremo oeste (no Lugar Santíssimo)".7 Na doutrina de Cristo, Hopkin compara o arrependimento e o batismo a passar simbolicamente pelo altar do sacrifício (arrependimento) e pelo mar de fundição (batismo) enquanto entra pelo "portão" ou porta do templo no "Lugar Santo".8
Assim que entrassem pela porta Templo, "o sacerdote poderia receber o batismo de fogo e ver através da luz do Espírito Santo, simbolizada pela menorá, ou candelabro, resplandecente". 9 A partir daí, eles deveriam "prosseguir" "[banqueteando-se] com as palavras de Cristo" (2 Néfi 31:20; 32:3), invocando o simbolismo do pão da proposição. 10
Neste ponto, Néfi "não po[de] dizer mais" (2 Néfi 32:7). "O sacerdote permanecia no véu, procurando falar a língua dos anjos, confiando na palavra de Deus e no dom do Espírito Santo".11 Para ir além, Néfi nos convida a orar (2 Néfi 32:8-9) — a função simbólica do altar do incenso (ver Salmo 141:2; Apocalipse 8:3-4)— mas ele mesmo já não poderia divulgá-lo. 12 De pé junto ao véu, o sacerdote deveria pedir e chamar por si mesmo, para "falar a língua de anjos" (2 Néfi 32:2) com o propósito de passar pelos querubins que guardavam o caminho para o Santo dos Santos, onde o Senhor vai "se manifestar a vós na carne" (2 Néfi 32:6).13
O porquê
O Élder Jeffrey R. Holland, tomando o exemplo de 2 Néfi 11:1-3, disse que o testemunho de Jacó (2 Néfi 6–10), Isaías (2 Néfi 12–24) e o próprio Néfi (2 Néfi 31–33) eram "como sentinelas à porta do livro" sempre prontos para nos admitir "na presença do Senhor nas Escrituras". 14 Na verdade, estar à beira da presença do Senhor é exatamente onde o ponto culminante de seus testemunhos, no final de 2 Néfi, deixa os leitores. Deixando uma série de evidências literárias reunidas em 2 Néfi 33, Néfi demonstra que ele mesmo, de fato, atravessou o véu e estará lá quando estivermos diante do Senhor (2 Néfi 33:11–15).15
Por que Néfi utilizou o modelo mental do templo para encerrar seu livro de profecias e ensinamentos sagrados? Néfi e Jacó amavam o templo que haviam sacrificado para construir como prioridade em sua nova cidade na terra de Néfi. Tendo guiado magistralmente a construção daquele templo à maneira do Templo de Salomão, Néfi evidentemente usou a distribuição representativa e os implementos sagrados para enquadrar literalmente sua bênção sagrada final.
No antigo templo israelita, "a procissão do sumo sacerdote reflete a jornada de Israel passando pelos querubins colocados ao leste do Éden e de volta à presença de Deus, revertendo os efeitos da queda de Adão e Eva". 16 Uma das consequências da queda é a morte (Gênesis 2:17; 2 Néfi 2:18-27; Alma 42:9) e foi prometido que o Messias viria na plenitude dos tempos para "redimir da queda os filhos dos homens" (2 Néfi 2:26). Porém, a fim de receber, o homem deve apropriadamente "escolher a liberdade e a vida eterna" ou enfrentará "o cativeiro e a morte" (2 Néfi 2:27). Da mesma forma, se os procedimentos apropriados não fossem seguidos pelo sumo sacerdote ao se aproximar do Lugar Santíssimo, "a entrada na presença de Deus acarretaria o risco de morte".17
Usando essa ascensão do sumo sacerdote como modelo para explicar a doutrina de Cristo, Néfi queria que toda a humanidade entendesse que, graças a Jesus Cristo, todos, e não apenas o sumo sacerdote, poderiam optar por seguir a Cristo e o caminho sagrado que leva de volta à presença de Deus. Cristo é o Grande Sumo Sacerdote, que venceu a morte e a queda de uma vez por todas (Romanos 5:14-15; 1 Coríntios 15:21-26; Hebreus 10:10,21). Portanto, aqueles que seguem a doutrina de Cristo reverterão os efeitos da queda em suas próprias vidas e, após avançarem com firmeza em Cristo, entrarão na presença de Deus, não com risco de morte, mas com a promessa da vida eterna (2 Néfi 31:18,20).
Leitura Complementar
Shon D. Hopkin, "Representing the Divine Ascent: The Day of Atonement in Christian and Nephite Scripture and Practice", em The Temple: Ancient and Restored, ed. Stephen D. Ricks e Donald W. Parry (Salt Lake e Orem, UT: Eborn Books and Interpreter Foundation, 2016), pp. 337–360. Neal Rappleye, "'With the Tongue of Angels': Angelic Speech as a Form of Deification", Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 21 (2016): pp. 303–323.1. Central do Livro de Mórmon, "Qual é a Doutrina de Cristo? (2 Néfi 31:21)", KnoWhy 58 (13 de março de 2017). Isso foi apresentado mais extensivamente nos escritos de Noel Reynolds. Ver Noel B. Reynolds, "The Gospel of Jesus Christ as Taught by the Nephite Prophets", BYU Studies 31, nº. 3 (1991): pp. 31–50; Noel B. Reynolds, "The True Points of My Doctrine", Journal of Book of Mormon Studies 5, nº. 2 (1996): pp. 36–56; Noel B. Reynolds, "This Is the Way", Religious Educator 14, nº. 3 (2013): pp. 79–91; Noel B. Reynolds, "The Gospel According to Nephi: An Essay on 2 Nephi 31", Religious Educator 16, nº. 2 (2015): pp. 51–75. 2. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que os nefitas permaneceram em suas tendas durante o discurso do rei Benjamim? (Mosias 2:6)", KnoWhy 80 (11 de abril de 2017); Central do Livro de Mórmon, "Por que o rei Benjamim se concentrou tanto no Sangue de Cristo? (Mosias 4:2)", KnoWhy 82 (13 de abril de 2017). Para uma discussão mais detalhada desses pontos, consulte Terrence L. Szink e John W. Welch, "King Benjamin’s Speech in the Context of Ancient Israelite Festivals", em King Benjamin’s Speech: "That Ye May Learn Wisdom", ed. John W. Welch e Stephen D. Ricks (Provo, UT: FARMS, 1998), pp. 147–223; John A. Tvedtnes, "King Benjamin and the Feast of Tabernacles", em By Study and Also by Faith: Essays in Honor of Hugh W. Nibley, 2 v., ed. John M. Lundquist e Stephen D. Ricks (Salt Lake City e Prove, UT: Deseret Book e FARMS, 1990), 2: pp. 197–237. 3. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Jacó se referiu aos festivais de outono de Israel? (2 Néfi 6:4)", KnoWhy 32 (9 de fevereiro de 2017). Para obter mais informações, consulte John S. Thompson, "Isaiah 50–51, the Israelite Autumn Festivals, and the Covenant Speech of Jacob in 2 Nephi 6–10", em Isaiah in the Book of Mormon, ed. Donald W. Parry e John W. Welch (Provo, UT: FARMS, 1998), pp. 123–150. 4. Shon D. Hopkin, "Representing the Divine Ascent: The Day of Atonement in Christian and Nephite Scripture and Practice", em The Temple: Ancient and Restored, ed. Stephen D. Ricks e Donald W. Parry (Salt Lake e Orem, UT: Eborn Books e Interpreter Foundation, 2016), p. 347. 5. Joseph M. Spencer, An Other Testament: On Typology, 2ª ed. (Provo, UT: Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2016), p. 46. Ver pp. 46–49 para os comentários completos de Spencer sobre 2 Néfi 31–33 à luz do véu do templo/Santo dos Santos. 6. Hopkin, "Representing the Divine Ascent", p. 341. Ver pp. 339–341 para o resumo completo de Hopkin sobre o Dia da Expiação. 7. Hopkin, "Representing the Divine Ascent", p. 348. 8. Hopkin, "Representing the Divine Ascent", p. 349. 9. Hopkin, "Representing the Divine Ascent", p. 349. 10. Hopkin, "Representing the Divine Ascent", p. 350–351. 11. Hopkin, "Representing the Divine Ascent", p. 351. 12. No altar do incenso, os sacerdotes israelitas ofereciam uma oração enquanto queimavam o incenso, cuja fumaça ascendia simbolicamente ao céu levando as orações a Deus. Ver Hopkin, "Representing the Divine Ascent", p. 351. 13. Hopkin, "Representing the Divine Ascent", pp. 351–352. 14. Jeffrey R. Holland, Cristo e o Novo Convênio. A Mensagem Messiânica do Livro de Mórmon (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 1997), p. 94. 15. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, "O que significa falar a língua dos anjos? (2 Néfi 32:2)", KnoWhy 60 (15 de março de 2017). Para mais informações, consulte Neal Rappleye, "'With the Tongue of Angels': Angelic Speech as a Form of Deification", Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 21 (2016): pp. 303–323.
16. Hopkin, "Representing the Divine Ascent", p. 341. Para obter mais informações sobre a relação entre o Jardim do Éden e a adoração no templo israelita, consulte Donald W. Parry, "Garden of Eden: Prototype Sanctuary", em Temples of the Ancient World, ed. Donald W. Parry (Salt Lake City e Provo, UT: FARMS, 1994), pp. 126–151. Ver também John H. Walton, The Lost World of Adam and Eve: Genesis 2–3 and the Human Origins Debate (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2015), pp. 116–127. 17. Hopkin, "Representing the Divine Ascent", p. 341.