KnoWhy #659 | Fevereiro 27, 2023
Como podemos edificar nosso alicerce sobre a rocha?
Postagem contribuída por
Central das Escrituras
"Qualquer que vem a mim e ouve as minhas palavras, e as observa, eu vos mostrarei a quem é semelhante: É semelhante ao homem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pôs os alicerces sobre a rocha." Lucas 6:47-48; cf. Mateus 7:24-25
O conhecimento
Em certa ocasião, Jesus perguntou energicamente a Seus discípulos: "Pode porventura o cego guiar o cego?" (Lucas 6:39). Para ilustrar este ponto, Jesus usou várias parábolas. Entre elas estava a parábola de um homem prudente que construiu sua casa sobre um alicerce firme.
"Qualquer que vem a mim e ouve as minhas palavras, e as observa", ensinou Jesus, "É semelhante ao homem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pôs os alicerces sobre a rocha" (Lucas 6:47–48; cf. Mateus 7:24–25). É importante notar que a tradução em grego utiliza o artigo definido "a rocha".
Em contraste com o homem prudente da parábola, há aqueles que ouviram as instruções de Jesus, mas nada fizeram a respeito, e se encontraram em terreno instável: "Mas o que ouve e não pratica é semelhante ao homem que edificou uma casa sobre a terra, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a corrente, e logo caiu; e foi grande a queda daquela casa" (Lucas 6:49; cf. Mateus 7:26–27). Mateus dá outra versão desta parábola, na qual o homem prudente não cava até a rocha principal, mas constrói diretamente sobre a rocha, e nesta versão também traça um contraste dramático entre o prudente e o insensato, que simplesmente edifica sobre a areia.
As palavras de Jesus foram registradas por Mateus e Lucas em dois sermões distintos, o primeiro frequentemente chamado de "Sermão da Montanha" e o segundo, "Sermão da Planície". Embora Lucas 6 compartilhe muitas semelhanças com Mateus 5-7, é bem possível que essas parábolas venham de dois sermões diferentes, proferidos por Jesus em ocasiões diferentes, para públicos diferentes, em lugares diferentes e com propósitos diferentes.1
Com relação ao relato de Mateus, John W. Welch e Jeannie S. Welch observaram que "alguns seguidores de Jesus subiram a montanha com Ele (ver Mateus 5:1). Lá, Jesus ensinou as leis do Evangelho e [...] fez sublimes alusões aos Salmos e ao templo." Por outro lado, em Lucas "havia uma multidão na planície", que "provavelmente incluía todo tipo de pessoa: ricos e pobres, crentes e meramente curiosos, judeus de todos os tipos, bem como gregos ou fenícios."2 Para esse público mais diverso e maior, Jesus ofereceu observações mais simples destinadas a edificar um alicerce básico de fé e sabedoria prática.
Como parte de Sua ministração específica a estes dois públicos, Jesus usou termos bem-conhecidos por eles, adaptados a seu ambiente e experiência. "Nas montanhas, tendemos a olhar para cima, e a percepção sobre esses lugares altos é a de refúgio e proteção. Olha-se para cima para encontrar Deus. Já nas planícies, olha-se para todos os lados [...] ali revira-se a terra para encontrar a rocha divina sobre a qual edificar."3
Assim, os que estavam nas montanhas e os que estavam na planície usam caminhos diferentes para escapar ou resistir às chuvas torrenciais e inundações repentinas, comuns na antiga Israel e seus arredores. Simbolicamente falando, algumas pessoas deste público teriam primeiro que cavar para saberem mais, enquanto outras simplesmente teriam que olhar para cima, à proteção da rocha a eles proporcionada.
Na versão desta parábola em Mateus 7, o homem que edifica sua casa sobre a rocha é chamado de prudente e o homem que o faz sobre a areia é chamado de insensato (ver Mateus 7:24-27). Os Welchs apontam que essa representação vem do Salmo 94, que pergunta: "tolos, quando sereis sábios?" (Salmo 94:8). O Salmo também descreve os julgamentos vindouros do Senhor. Aos justos e prudentes são prometidas bênçãos: "Deus é louvado como aquele que recompensa os justos, corrige os pagãos e é a rocha, refúgio e defesa daqueles que fazem o que é certo".4 Esta representação é eficaz em Mateus 7, que também enfoca os julgamentos de Deus, tanto para os prudentes quanto para os insensatos.
No entanto, para o público reunido na planície, essa dicotomia contrastante não existe. Como S. Kent Brown observou: "Ao contrário do que ensinara em Mateus 7:26-27, Jesus não chama de "insensato" aquele que não ouve, mas permite que a parábola transmita sua própria força penetrante aos seus ouvintes."5 Em outras palavras, "Jesus estende um convite aberto a todo o mundo para 'vir a [Ele]' (Lucas 11:28)", ao mesmo tempo em que assegura que as suas "palavras e as consequências resultantes são as mesmas."6 Neste convite, Jesus parece estar menos concentrado no julgamento que se aproxima, pois Ele acolhe a vasta multidão a refletir sobre Sua mensagem.
Um elemento compartilhado em ambos os sermões, pode ser o mais importante. Tanto Mateus quanto Lucas descrevem os justos como quem edifica sobre "a rocha", usando o artigo definido.7 Embora este significado não seja aparente na versão King James, torna-se claro que Jesus tinha em mente uma rocha específica sobre a qual Ele deseja que o povo edifique. No Velho Testamento, tanto Jeová quanto o templo são descritos e representados por uma rocha, conforme visto em vários títulos dados a Jeová em Salmos: "A ti clamarei, ó Senhor, Rocha minha"; "sê a minha firme rocha, uma casa fortíssima que me salve''; ''Só ele é a minha rocha e a minha salvação."8 Essa linguagem também é usada no Livro de Mórmon e no Livro de Moisés. Helamã ensinou a seus filhos que "é sobre a rocha de nosso Redentor, que é Cristo, o Filho de Deus, que deveis construir os vossos alicerces" para evitar as tempestades de Satanás (Helamã 5:12; ênfase adicionada). E para Enoque o Senhor declarou: "Eu sou o Messias, o Rei de Sião, a Rocha do céu, que é extensa como a eternidade; quem entrar pela porta e subir por meu intermédio, jamais cairá" (Moisés 7:53).
Quanto à relação com o templo, o Salmo 27:5 imediatamente associa a rocha ao tabernáculo do Senhor, e em Juízes 13:19, Manoá oferece sacrifícios "sobre uma penha [rocha] ao Senhor" (ênfase adicionada). A antiga tradição judaica também relaciona o Lugar Santíssimo à rocha sobre a qual o templo foi construído. Esta rocha foi associada ao nome inefável do Senhor e "colocada [...] sobre o Abismo para conter suas águas" na criação do mundo, conforme descrito em Gênesis 1.9
Ao dizer ao povo edifiquem sua casa sobre a rocha, Jesus pode ter usado um duplo sentido: para encontrar proteção verdadeira e duradoura na vida, devemos (1) certificar-nos de que nossos alicerces estejam sobre o Senhor Jesus Cristo, tais alicerces (2) são edificados por meio dos convênios feitos no templo santo. 10
O porquê
A maioria das pessoas já passou por tempestades torrenciais ou conhece os efeitos de inundações, ou deslizamentos. Assim, quase todos compreendem a importância de edificar nossas vidas sobre alicerces seguros. Em uma de suas parábolas mais memoráveis, Jesus usa esse pano de fundo para convidar pessoas de todas as esferas da vida a procurá-Lo em busca de força espiritual e estabilidade.
Tanto no Sermão da Montanha quanto no Sermão da Planície, a promessa dessa parábola mostra que "quando o caos e as provações da vida se apresentam, ainda podemos sentir paz e segurança por meio de nosso conhecimento do Plano de Salvação, nossos convênios e nosso relacionamento com Deus."11 Contudo, para garantir essa bênção devemos permitir que o Evangelho nos mude.
Ao se dirigir aos dois grupos, Jesus apresentou os meios para se obter segurança. Aqueles que já estão no caminho do convênio devem olhar para o Monte da Casa do Senhor e permanecer fiéis aos convênios feitos em Seu santo templo. Neste contexto, é olhando para cima que encontraremos a paz e segurança duradouras ao longo de nossas vidas. No entanto, aqueles que são novos neste caminho ou desejam retornar a ele, precisarão cavar mais fundo, trabalhando para estabelecer uma base sólida de conhecimento do Evangelho e dos primeiros convênios centralizados em Cristo. Em ambos os casos, a necessidade de ter fé em Jesus Cristo e fazer tudo o que pudermos para nos arrepender e vir a Ele é essencial para nossa própria salvação.
Devemos sempre lembrar que Jesus Cristo é "um alicerce seguro; e se os homens edificarem sobre esse alicerce, não cairão" (Helamã 5:12). Por meio de Seu sacrifício infinito e eterno, Ele oferece a paz, a felicidade e o alívio definitivo, disponíveis à toda humanidade. Não importa onde se encontrem em seu caminho, se prestarem atenção e seguirem os ensinamentos de Jesus, permanecendo fiéis a seus convênios, receberão paz nesta vida e no mundo vindouro.
Leitura Complementar
John W. Welch e Jeanie S. Welch, The Parables of Jesus: Revealing the Plan of Salvation (American Fork, UT: Covenant Communications, 2019), pp. 82–89. S. Kent Brown, "Luke Chapter 6", em The Testimony of Luke (Provo, UT: BYU Studies, 2014), pp. 305–354.1. Ver John W. Welch e Jeannie S. Welch, The Parables of Jesus: Revealing the Plan of Salvation (American Fork, UT: Covenant Communications, 2019), p. 83; S. Kent Brown, "Luke Chapter 6", em The Testimony of Luke (Provo, UT: BYU Studies, 2014), p. 307. 2. Welch e Welch, Parables of Jesus, p. 83. 3. Welch e Welch, Parables of Jesus, p. 84. 4. Welch e Welch, Parables of Jesus, p. 85. 5. Brown, "Luke Chapter 6", p. 346. 6. Welch e Welch, Parables of Jesus, p. 85. 7. Welch e Welch, Parables of Jesus, pp. 83–86. 8. Salmos 28:1; 31:2; 62:6; ênfase adicionada. 9. Raphael Patai, Man and Temple in Ancient Jewish Myth and Ritual (New York, NY: Thomas Nelson and Sons, 1947), p. 57; ver também Margaret Barker, The Gate of Heaven (London, UK: Society for Promoting Christian Knowledge, 1991), pp. 18–20. 10. Ver Welch e Welch, Parables of Jesus, p. 88. 11. Welch e Welch, Parables of Jesus, p. 83.