KnoWhy #613 | Agosto 12, 2021

Por que estudar a antiga literatura apócrifa?

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Central das Escrituras

"Em verdade, assim vos diz o Senhor com referência aos Apócrifos: Há muitas coisas neles que são verdadeiras e estão, na maior parte, traduzidas corretamente. [...] Portanto, aquele que os ler que compreenda, pois o Espírito manifesta a verdade; E aquele que for iluminado pelo Espírito se beneficiará com eles." Doutrina e Convênios 91:1, 4–5

O conhecimento

Atualmente, muitos dos membros da Igreja não estão familiarizados com a coleção de livros comumente conhecida como "Apócrifos" (do grego: "oculto"). Estes textos são obras de literatura judaica, algumas de caráter religioso, escritas principalmente em grego entre o século III a.C. e o século I d.C. (ver o apêndice abaixo para conhecer a lista dos livros que compõem os Apócrifos). Foram inclusos na Septuaginta (a tradução grega da Bíblia hebraica/Velho Testamento) e, como resultado, inclusos ao cânone bíblico de alguns dos primeiros cristãos. Até hoje, compõe os chamados livros "deuterocanônicos" no cristianismo católico e ortodoxo.1

Como essas obras foram escritas principalmente durante o período intertestamentário, ou seja, entre o Velho e o Novo Testamento, seu estudo pode ajudar a preencher a lacuna cultural, religiosa e histórica entre o fim do Velho Testamento e o início do Novo. 2 Assim, como Jared Ludlow explicou: "Os Apócrifos podem ser uma ferramenta valiosa para nos ajudar a entender o contexto político, cultural e religioso de Jesus Cristo e seus contemporâneos." 3

Além da coleção "oficial" de Apócrifos, existem vários escritos judaico-cristãos, aproximadamente do mesmo período, que por vezes são chamados de literatura apócrifa. Isto inclui trabalhos pseudepigráficos: textos escritos em primeira pessoa como se fossem escritos por uma figura bíblica famosa, como Moisés, Enoque, Salomão ou um dos patriarcas.4 Muitos textos dos manuscritos do Mar Morto também são descritos como Apócrifos.5 Há também Apócrifos do Novo Testamento, que consistem em evangelhos não canônicos, pseudoepígrafos cristãos primitivos e outros escritos importantes para os primeiros cristãos, mas excluídos do cânone. 6

Hugh Nibley foi um dos primeiros Santos dos Últimos Dias a estudar formalmente esse vasto acervo de literatura antiga, descobrindo muitas semelhanças entre eles, as escrituras e os ensinamentos da Restauração.7 Desde então, outros Santos dos Últimos Dias usaram o legado de Nibley como base. Por exemplo, Nibley fez um estudo detalhado comparando 3 Néfi aos primeiros escritos cristãos, conhecidos como "literatura de 40 dias", e encontrou muitos paralelos impressionantes.8 Outros usaram seu trabalho e descobriram que 3 Néfi se encaixa amplamente no gênero de Evangelho dos primeiros escritos cristãos.9

Muitos ensinamentos da Restauração são encontrados em livros apócrifos. Por exemplo, algumas passagens do texto "Sabedoria de Salomão", um dos Apócrifos oficiais, ensinam sobre a "existência pré-mortal da alma".10 "Ben Sira", outro livro Apócrifo, "possui vários ditados de sabedoria relacionados à família e à importância de criar os filhos com retidão", semelhante ao "foco à família"11 como dado pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. O maior acervo da literatura apócrifa inclui extensas tradições relacionadas a Enoque, com muitos detalhes semelhantes aos encontrados em Moisés 6–7.12

O porquê

Claramente, há muito em comum entre estes textos antigos e as doutrinas e escrituras da Restauração. Como Robert J. Matthews observou corretamente: "há uma leitura muito interessante e útil na literatura apócrifa... [e] a presença na revelação dos últimos dias de ideias e nomes que não são encontrados na Bíblia, mas estão nos escritos apócrifos, deveria despertar nosso interesse por esses escritos antigos".13 No entanto, Matthews também observou que "muito da literatura apócrifa é obviamente espúria."14 Na verdade, nem tudo nos Apócrifos, e na literatura apócrifa amplamente, concorda com as escrituras e ensinamentos da Restauração.

Como o Senhor revelou a Joseph Smith: "Com referência aos Apócrifos: Há muitas coisas neles que são verdadeiras e estão, na maior parte, traduzidas corretamente. Há muitas coisas neles que não são verdadeiras, que são acréscimos feitos pelas mãos de homens." (Doutrina e Convênios 91:1–2). Além disso, o Senhor assegurou a Joseph que aquele que lê os Apócrifos sob a orientação do Espírito "se beneficiará com eles" (D&C 91:4–5).

Essa mesma orientação e conselho certamente se aplica a outras literaturas apócrifas antigas, a maioria descoberta após a vida de Joseph Smith. Obviamente, o estudo desse material não deve ser priorizado sobre o estudo das Escrituras, assim como o Senhor ordenou que Joseph não incluísse os Apócrifos em sua tradução da Bíblia, contudo, um estudo profundo e espiritualmente respeitoso dessas antigas obras literárias e históricas pode fornecer contexto histórico e cultural às escrituras e, assim, fortalecer a fé e aumentar a compreensão das Escrituras. Ademais, ler os textos Apócrifos tendo o Espírito como guia, possibilita extrair por conta própria mais sabedoria, discernimento e verdades eternas.

Jared Ludlow concluiu: "[Doutrina e Convênios 91] é um convite a explorar por conta própria, através da orientação do Espírito, para ver qual a verdade que encontramos nele. Algumas doutrinas e princípios são os mesmos através do tempo, e podemos aprender das perspectivas [dos autores apócrifos] sobre eles".15

Leitura Complementar

Jared W.Ludlow, Exploring the Apocrypha from a Latter-day Saint Perspective (Springville, UT: Cedar Fort, 2018). S. Kent Brown y Richard Neitzel Holzapfel, Between the Testaments: From Malachi to Matthew (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2002). C. Wilfred Griggs, "Apocrypha and Pseudepigrapha", em Encyclopedia of Mormonism, 4 v. Ed. Daniel H. Ludlow (New York, NY: Macmillan Publishing, 1993), 1:55–56. C. Wilfred Griggs, ed., Apocryphal Writings and the Latter-day Saints (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1986).
Apêndice: Lista de Livros Apócrifos

1. Ver Amy-Jill Levine, "Apocrypha", em Eerdmans Dictionary of the Bible, ed. David Noel Freedman (Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans, 2000), pp. 73–75. Para obter uma introdução útil aos Santos dos Últimos Dias, consulte Jared W. Ludlow, Exploring the Apocrypha from a Latter-day Saint Perspective (Springville, UT: Cedar Fort, 2018). 2. Sobre o período intertestamentário, ver S. Kent Brown y Richard Neitzel Holzapfel, Between the Testaments: From Malachi to Matthew (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2002). 3. Ludlow, Exploring the Apocrypha, p. 5. 4. A edição padrão da maior parte desta literatura é encontrada em James H. Charlesworth, ed., The Old Testament Pseudepigrapha, 2 v. (Peabody, MA: Hendrickson, 1983). 5. Para os Manuscritos do Mar Morto não bíblicos, ver as edições em linguagem fácil de Michael Wise, Martin Abegg Jr. e Edward Cook, trad., The Dead Sea Scrolls: A New Translation (New York, NY: HarperOne, 2005); Geza Vermes, trad., The Complete Dead Sea Scrolls in English, rev. ed. (New York, NY: Penguin, 2004). 6. Ver Ann Graham Brock, "Apocrypha, Early Christian", em Eerdmans Dictionary, pp. 75–77. 7. O grande compromisso de Nibley com a literatura apócrifa pode ser visto em The Collected Works of HughNibley, 19 v. (Salt Lake City, UT: Deseret Book; Provo, UT: FARMS, 1986–2010). 8. Ver Hugh Nibley, Mormonism and Early Christianity (Salt Lake City, UT: Deseret Book; Provo, UT: FARMS, 1987), pp. 10–44; Hugh Nibley, "Two Shorts in the Dark, Part II: Christ Among the Ruins", em Book of Mormon Authorship: New Light on Ancient Origins, ed. Noel B. Reynolds (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1982), pp. 7–31. 9. Para obter um resumo, consulte o artigo na Central do Livro de Mórmon, "Por que 3 Néfi às vezes é chamado de 'Quinto Evangelho'? (3 Néfi 27:21)", KnoWhy 222 (9 de outubro de 2017). Ver também Richard Lloyd Anderson,"Imitation Gospels and Christ’s Book of Mormon Ministry", em Apocryphal Writings and the Latter-day Saints, ed. C. Wilfred Griggs (Religious Studies Center, Brigham Young University, 1986), pp. 53–107. 10. Ludlow, Exploring the Apocrypha, p. 193. 11. Ludlow, Exploring the Apocrypha, p. 220. 12. Ver Hugh Nibley, Enoch the Prophet (Salt Lake City, UT: Deseret Book; Provo, UT: FARMS, 1986); Jeffrey Bradshaw, Jacob A. Rennaker y David J. Larsen, "Revisiting the Forgotten Voices of Weeping in Moses 7: A Comparison with Ancient Texts", Interpreter: A Journal of Latter-day Saint Faith and Scholarship 2 (2012): pp. 41–71; Jeffrey M. Bradshaw y David J. Larsen, "Ancient Affinities within the LDS Book of Enoch Part One", Interpreter 4 (2013): pp. 1–27; Jeffrey M. Bradshaw y David J. Larsen, "Ancient Affinities within the LDS Book of Enoch Part Two", Interpreter 4 (2013): pp. 29–74; Jeffrey M. Bradshaw y Ryan Dahle, "Could Joseph Smith Have Drawn on Ancient Manuscripts When He Translated the Story of Enoch? Recent Updates on a Persistent Question", Interpreter 33 (2019): pp. 305–374. 13. Robert J. Matthews, "Whose Apocrypha? Viewing Ancient Apocrypha from the Vantage of Events in the Present Dispensation", em Apocryphal Writings, p. 17. 14. Matthews, "Whose Apocrypha?" 17. 15. Ludlow, Exploring the Apocrypha, pp. 223–224.

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