KnoWhy #67 | Março 24, 2017
Existe algo conhecido sobre o Profeta Zenos fora do Livro de Mórmon?
Postagem contribuída por
Scripture Central
"Eis que, meus irmãos, não vos lembrais de haverdes lido as palavras do profeta Zenos […]" Jacó 5:1
O conhecimento
Jacó, o profeta-sacerdote do Livro de Mórmon, citou o profeta Zenos como referência à Alegoria das Oliveiras que ele compartilha em Jacó 5. Citações das profecias de Zenos por todo o Livro de Mórmon demonstram que seus escritos eram populares entre os nefitas.1 Suas palavras provavelmente estavam presentes nas Placas de Latão, que a família de Leí possuía, embora não sejam encontradas no Velho Testamento atualmente.
"Como, alguém poderia perguntar, e é que ele existiu, poderia ter simplesmente desaparecido de vista sem deixar um vestígio de si na Bíblia ou em qualquer outro lugar?"2 Essa foi a pergunta do falecido professor da BYU, Hugh Nibley, em 1967, sobre a ausência de uma referência direta a Zenos além do Livro de Mórmon. A resposta de Nibley a esse mistério consistiu na tentativa de associar Zenos a uma figura de nome semelhante encontrada em alguns textos religiosos judaicos antigos.
Nibley começou com um texto chamado Antiguidades Bíblicas (ou Antiguidades dos judeus), atribuído a um autor desconhecido chamado "Pseudo-Filo". Embora a Antiguidade Bíblica tenha sido escrita na época de Cristo, é provável que contenha material consideravelmente antigo. O livro Antiguidades Bíblicas apresenta uma história dos judeus desde a Criação até a destruição de Jerusalém. Inclui as histórias sobre um grande profeta-líder chamado Cenez. Em algumas versões do texto, a grafia do nome Cenez é Zenec ou Zenez (variantes do nome Cenez). Pseudo-Filo faz uma conexão entre essa pessoa e o personagem bíblico Quenaz, que viveu entre a época da conquista de Canaã e dos juízes de Israel (Josué 15:17; Juízes 1:13; 1 Crônicas 4:13). Ele identifica Quenaz como o primeiro juiz sobre Israel e atribui muitas palavras e ações a ele. Nibley determinou que, ao comparar as palavras e ações de Cenez em Antiguidades Bíblicas com Zenos, no Livro de Mórmon, surgiriam alguns paralelos interessantes.
Em 1994, o professor da BYU John W. Welch desenvolveu e destacou essas comparações em seu artigo, "The Last Words of Cenez and the Book of Mormon".3 A tabela a seguir descreve várias das principais semelhanças.
A História de Cenez, de Pseudo-Filo | Jacó 4-6 |
---|---|
Cenez fez um discurso de despedida para uma assembleia quando estava "prestes a morrer". | O discurso de despedida de Jacó foi dirigido a uma assembleia (Jacó 5:1; 6:1, 5-6, 11), evidentemente perto de sua morte (Jacó 6:13). |
Cenez revelou a seu povo o que o Senhor lhe havia mostrado o que Ele efetuaria "nos últimos dias". | Jacó profetizou o que o Senhor faria quando colocasse a mão "pela segunda vez para recuperar seu povo […] sim, a última vez" (Jacó 6:1-2). |
Cenez compartilhou as palavras de seu pai para encorajar Israel a "permanecer nos caminhos do Senhor". | Jacó recontou as palavras de Zenos sobre a Alegoria das Oliveiras para encorajar seu povo a "continua[r] no caminho apertado" (Jacó 6:11). |
A revelação do pai de Cenez incluía noções do Senhor "trabalhando" para o benefício de Israel, plantando uma "grande vinha" e cuidando de uma planta "escolhida". | As palavras do profeta Zenos registradas em Jacó 5 relatam como o Senhor trabalhou em sua vinha, cuidando da boa oliveira. |
O pai de Cenez foi informado de que, apesar da obra do Senhor, Israel se tornaria corrupta. | Na Alegoria das Oliveiras, o Senhor temia pela deterioração da árvore e pela corrupção do fruto (Jacó 5: 3, 39, 42). |
A planta que ele escolhera não daria seu fruto porque não o reconheceria como seu semeador e destruiria seu próprio fruto. | Jacó profetizou que os judeus não reconheceriam os profetas (Jacó 4:14), rejeitariam a Cristo (4:15) e tropeçariam. |
Esses paralelos ajudam a colocar as palavras de Zenos em um possível contexto histórico. No entanto, após uma análise cuidadosa, Welch concluiu que uma identificação direta entre Cenez e Zenos não é provável. O que é provável é que havia uma fonte antiga anterior à história sobrevivente de Cenez, que inspirou as imagens da vinha descrita no Livro de Mórmon.
É interessante notar que David Rolph Seely e John Welch defenderam a existência de uma fonte antiga comum, que respalda o simbolismo da oliveira/videira encontrado em muitas passagens do Velho Testamento.4 Eles observam que é possível encontrar o símbolo da oliveira, ou da vinha, no Velho Testamento (em algumas situações, os dois termos são usados como sinônimos), usados para descrever Israel com conotações positivas ou negativas. Passagens como Êxodo 15:17, 2 Samuel 7:10, Salmos 1:3; 52:8, Oseias 14: 4-8 e Isaías 4:2 enfatizam principalmente os aspectos positivos do Senhor ao plantar, cuidar e abençoar as árvores. Outras passagens, como Salmos 52:5; 80:15-16; Isaías 5:1-7; 17:9-11; e Jeremias 11:14-17 apresentam o desenraizamento, queima, destruição e maldição das árvores. As duas dimensões, evidentemente, são encontradas na alegoria ampliada de Zenos.
Seely e Welch concluem, portanto, que é razoável postular a existência de um relato mais completo da Alegoria da Oliveira, que antecederia a maioria ou a totalidade dos diversos usos, inclusive os mais parciais.
Embora as evidências não permitam uma conclusão firme no que diz respeito à datação da alegoria de Zenos, as dimensões positiva e negativa da imagem da oliveira no Velho Testamento são difíceis de conciliar nestes textos, sem assumir que um único paradigma (como a alegoria de Zenos) existisse na antiga Israel utilizando ambas as dimensões. Jacó 5 fornece um paradigma completo, unificando as muitas referências às oliveiras, dispersas no Velho Testamento, como uma representação da casa de Israel e esclarece o que esse simbolismo provavelmente significaria para um público israelita antigo.5
O porquê
O antigo profeta Zenos forneceu uma visão grandiosa do futuro da casa de Israel com sua Alegoria das Oliveiras. O fato de o Senhor ter fornecido essas informações a Israel por meio de seu profeta é um testemunho de Seu amor e misericórdia. Deus sabia que Israel rejeitaria Seus ensinamentos e que essas decisões os fariam tropeçar e sofrer. Por meio de revelações, como a Alegoria das Oliveiras, o Senhor deixou claro a Israel o que os aconteceria e, ao mesmo tempo, ofereceu-lhes esperança de como poderiam ser redimidos para que, eventualmente, reivindicassem as bênçãos prometidas por meio do trabalho do servo fiel, que implorou paciência e fez a vontade do Senhor da vinha.
Existiram profetas antigos cujos escritos não aparecem atualmente na Bíblia atual ou em qualquer outra fonte autêntica que tenha sobrevivido. Muitos deles são mencionados nos textos da própria Bíblia, incluindo os livros do profeta Semaías (2 Crônicas 12:15), o profeta Ido (2 Crônicas 13:22), Jeú (2 Crônicas 20:34) e outros. Da mesma forma, existem escritos proféticos antigos, que estão perdidos e podem nunca ser descobertos.
A Alegoria das Oliveiras é uma peça valiosa de escrita profética que foi de grande valor para o povo nefita. Embora não haja evidência direta do profeta Zenos em textos fora do Livro de Mórmon, é possível constatar a influência significativa de seus escritos nos autores do Livro de Mórmon e, potencialmente, também em outros autores bíblicos. A Alegoria das Oliveiras serve como um aviso e um chamado à ação para os membros da Igreja hoje. Ela adverte a todos na família da fé contra os perigos da apostasia. Ela comunica graficamente a doutrina de que o Senhor um dia julgará toda a humanidade e separará os justos dos iníquos. Além disso, informa a todas as pessoas que este é um grande dia de oportunidades em que os servos do Senhor são chamados, pela última vez, para trabalhar com toda a diligência na vinha. Hoje é o dia em que os membros da Israel dispersa, mesmo das partes mais remotas do mundo, se reunirão por meio do servo de Deus e, assim, desfrutarão das bênçãos prometidas nos convênios de Deus com Seus filhos amados.
O fato de os notáveis escritos de Zenos estarem contidos no Livro de Mórmon e de apresentarem ensinamentos tão grandiosos quanto a Alegoria das Oliveiras é uma forte indicação das origens inspiradas do Livro de Mórmon e de que ele realmente restaura ao mundo muitas coisas "claras e preciosas" que há muito se perderam.
Leitura Complementar
John W. Welch, "The Last Words of Cenez and the Book of Mormon", em The Allegory of the Olive Tree: The Olive, the Bible, and Jacob 5, ed. Stephen D. Ricks e John W. Welch (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e FARMS, 1994), pp. 305–321. David Rolph Seely and John W. Welch, "Zenos and the Texts of the Old Testament", em The Allegory of the Olive Tree: The Olive, the Bible, and Jacob 5, ed. Stephen D. Ricks e John W. Welch (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book and FARMS, 1994), pp. 322–346.1. 1 Néfi 19:10, 16; Jacó 5:1; 6:1; Alma 33:3, 13, 15; 34:7; Helamã 8:19; 15:11; 3 Néfi 10:16. 2. Hugh Nibley, Since Cumorah (second edition; Salt Lake City and Provo, Ut.: Deseret Book and FARMS, 1981), p. 286. 3. John W. Welch, "The Last Words of Cenez and the Book of Mormon", em The Allegory of the Olive Tree, pp. 309–312. Welch lista um paralelismo mais completo, entre este texto antigo e Jacó 4–6, do que Nibley havia feito em Since Cumorah. 4. David Rolph Seely and John W. Welch, "Zenos and the Texts of the Old Testament", em The Allegory of the Olive Tree: The Olive, the Bible, and Jacob 5, ed. Stephen D. Ricks e John W. Welch (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book and FARMS, 1994), pp. 322–346. 5. Seely e Welch, "Zenos", p. 343.