KnoWhy #589 | Janeiro 7, 2021

Por que era fácil filiar-se a uma igreja na época de Joseph Smith?

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Central das Escrituras

"Pois acontecerá nesse dia que as igrejas que forem estabelecidas, mas não para o Senhor, dirão umas às outras: Eis que eu, eu sou a do Senhor! E as outras dirão: Eu, eu sou a do Senhor! E [...] contenderão umas com as outras; e seus sacerdotes contenderão uns com os outros e ensinarão com o seu saber e negarão o Espírito Santo, o qual inspira o que dizer" 2 Néfi 28:3–4

O conhecimento

Para Joseph Smith, um jovem que vivia no oeste de Nova York no início de 1800, em meio a uma cacofonia de fervor religioso de várias denominações estabelecidas naquela área, a questão importante daqueles dias era: a qual igreja deveria unir-se? Qual era a verdadeira? (Joseph Smith—História 1:10). Para muitos dos jovens americanos de hoje, a longa e forte tradição de liberdade religiosa e a variedade religiosa que ela oferece, a pergunta de Joseph pode soar estranha e antiquada. No entanto, em 1820, era uma questão emocionante e vanguardista para a nova geração da ainda jovem república americana. Até aquele momento na história, filiar-se a uma igreja por sua própria escolha havia sido uma opção tão fácil e acessível. Os comentários históricos sobre a Primeira Visão de Joseph Smith e as primeiras tendências religiosas geralmente se concentram no momento e no contexto imediato (o "Distrito Inflamado" no interior do estado de Nova York durante o Segundo Grande Despertar) da pergunta de Joseph.1No entanto, para entender e apreciar plenamente por que haviam tantas igrejas diferentes a se escolher, e como Joseph respondeu às suas circunstâncias, é necessário um olhar aprofundado sobre o desenvolvimento da liberdade religiosa nas colônias americanas e na herança de independência religiosa da família de Joseph Smith. A parti da década de 1620, os primeiros Peregrinos vieram para a América do Norte em busca de um refúgio religioso. Eles acreditavam que a Igreja Anglicana estava errada e queriam a oportunidade de construir uma sociedade baseada em leis e princípios bíblicos.2 Ao fazê-lo, entretanto, eles (assim como seus perseguidores na Inglaterra) "eram da opinião [...] que as autoridades civis deveriam ajudar a igreja a manter a uniformidade religiosa". Assim, como explicou James H. Hutson, Diretor da Divisão de Manuscritos da Biblioteca do Congresso: “Os puritanos nada tinham contra a política do governo inglês, sob a qual sofreram, de impor ao reino uma religião verdadeira; apenas discordavam sobre qual era a verdadeira religião.3 Foi Roger Williams, um dissidente puritano expulso de Massachusetts, quem primeiro nomeou Rhode Island como um refúgio "onde o governo não interferiria nas crenças e práticas religiosas".4 Na década de 1680, William Penn, um Quaker, escreveu de forma semelhante "liberdade religiosa na lei da terra" ao estabelecer a Pensilvânia.5 Com o tempo, à medida que mais e mais pessoas foram incorporadas às colônias britânicas do Novo Mundo, muitas colônias continuaram a patrocinar igrejas específicas, mas também permitiram maior tolerância às pessoas de diferentes visões religiosas. Após a Guerra de Independência dos Estados Unidos, a liberdade religiosa foi consagrou na lei da recém-criada República por meio da Declaração dos Direitos em 1791, que proibia o governo federal, por meio do Congresso, de fazer qualquer "lei que desrespeitasse o estabelecimento de uma religião ou proibisse seu livre exercício". No entanto, isso não eliminou imediatamente o envolvimento dos governos estadual e federal nos assuntos religiosos. A lei ainda estava sendo desenvolvida a medida que a nova nação e os vários estados tentavam compreender as relações entre igreja-estado. Muitos continuaram a acreditar que apenas uma sociedade profundamente religiosa poderia funcionar e florescer, acreditava-se abertamente que o governo tinha a responsabilidade de agir como um "tutor" para a igreja.6 O governo federal poderia apoiar as igrejas de várias maneiras, inclusive por meios financeiros, desde que não favorecesse exclusivamente uma denominação em detrimento das outras. Além disso, a Declaração dos Direitos limitava apenas os poderes do governo federal. Ao nível estadual e local, algumas igrejas eram abertamente patrocinadas e financiadas por meio de impostos. Esses desenvolvimentos legais tiveram um impacto direto na adoração e nas práticas da família e dos pais de Joseph Smith.7 Por exemplo, em 1813, o tio de Joseph, Jesse Smith, morava em Turnbridge, Vermont, onde a igreja local havia contratado um ministro congregacionalista com quem Jesse teve sérios desentendimentos. A lei de Vermont não apenas permitia que a população local nomeasse seus próprios ministros, mas também permitia que as cidades cobrassem impostos, pela maioria de votos, visando auxiliar os ministros locais. O não cumprimento deste imposto poderia resultar na execução duma hipoteca da propriedade para pagar o salário atrasado de um ministro.8 No entanto, de acordo com certa medida de liberdade religiosa, a lei de Vermont abriu exceções para pessoas que tivessem uma ideologia religiosa diferente daquela apoiada pelo voto da maioria. Para ser isento do imposto, a pessoa tinha que "apresentar sua discordância, por escrito, aos registros da cidade ou da paróquia".9 De acordo com esta lei, Jesse Smith redigiu formalmente um certificado de dissidência, apresentando seu "protesto" contra a escolha do ministro pela Igreja e articulando as convicções teológicas por trás de sua decisão de se retirar.10 Em 1813, quando Jesse protestava contra o novo ministro, o jovem Joseph Smith viajou com ele para Salem, Massachusetts. Joseph estava se recuperando de uma dolorosa cirurgia na perna e acreditava-se que os ares do litoral seriam terapêuticos. John W. Welch observou: "Embora não exista nenhuma evidência do que esses dois viajantes discutiram [...] não é difícil imaginar que assuntos religiosos foram mencionados".
Suas conversas podem ter girado em torno das questões com as quais Jesse estava fortemente preocupado na época e que ele expressara tão claramente em seu protesto de 1814. Pode-se imaginar o impacto que a ação ousada de Jesse poderia ter sobre as opiniões do jovem Joseph em muitas questões relacionadas à liberdade religiosa e necessidade doutrinária.11

O porquê

No ano de 1820, a liberdade religiosa havia se espalhado e se desenvolvido na América do Norte por quase duzentos anos. Esses séculos de desenvolvimento permitiram que cada vez mais pessoas seguissem sua própria consciência religiosa, como Jesse, tio de Joseph. Sem restrições do governo à liberdade religiosa, novas igrejas e denominações surgiram em um ritmo sem precedentes, facilitando mais do que nunca encontrar e ingressar em uma igreja. Da mesma forma, abriu uma nova fronteira de desenvolvimento religioso. As igrejas competiam entre si por apoio popular e financeiro. Os ministros debatiam aspectos da doutrina baseado-se na tradição, lógica e interpretação; e as várias denominações adotavam ou estavam subscritas a credos particulares, que muitas vezes traçavam linhas de batalha religiosas, ao invés de oferecerem expressões de fé.12 Se foi exatamente isso que deixou o Joseph confuso e perplexo, foi também o que lhe deu liberdade para considerar e ponderar, sem medo de repercussões legais: “Quem, dentre todos esses grupos está acerto, ou estão todos igualmente errados? Se algum deles é correto, qual é, e como poderei sabê-lo? (Joseph Smith—História 1:10). Ele não apenas estava livre para fazer essas perguntas, mas também para buscar respostas e segui-las aonde quer que elas o levassem. Essas liberdades religiosas legalmente concedidas tornaram a Restauração possível. Isso também possibilitou que muitas outras pessoas prestassem atenção e ouvissem a mensagem da Restauração e seguissem sua própria consciência e inspiração espiritual para filiar-se à Igreja restaurada de Jesus Cristo.

Leitura Complementar

John W. Welch, “The Smiths and Religious Freedom: Jesse Smith’s 1814 Church Tax Protest”, em Sustaining the Law: Joseph Smith’s Legal Encounters, ed. Gordon A. Madsen, Jeffrey N. Walker y John W. Welch (Provo, UT: BYU Studies, 2014), pp. 39–50. John W. Welch, “‘All Their Creeds Were an Abomination’: A Brief Look at Creeds as Part of the Apostasy”, en Prelude to the Restoration: From Apostasy to the Restored Church (Salt Lake City y Provo: Deseret Book y the BYU Religious Studies Center, 2004), pp. 228–249. James H. Hutson, “‘Nursing Fathers’: The Model for Church-State Relations in America from James I to Jefferson”, em Lectures on Religion and the Founding of the American Republic, ed. John W. Welch (Provo, UT: BYU Press, 2003), pp. 7–23. Richard Lloyd Anderson, Joseph Smith’s New England Heritage: Influence of Grandfathers Solomon Mack and Asael Smith, 2a. ed. (Salt Lake City y Provo, UT: Deseret Book y BYU Press, 2003).

1. Ver, por exemplo, Milton V. Backman,  Joseph Smith’s First Vision: Confirming Evidences and Contemporary Accounts, ed. rev. e ampliado (Salt Lake City, UT: Bookcraft, 1980). 2. Para saber mais sobre a influência da lei bíblica na América, consulte John W. Welch, "Biblical Law in America: Historical Perspective and Potentials for Reform", em Lectures on Religion and the Founding of the American Republic, ed. John W. Welch (Provo, UT: BYU Press, 2003), pp. 49–66. 3. James H. Hutson, Religion and the Founding of the American Republic (Washington, D.C.: Library of Congress, 1998), p. 7. 4. Hutson, Religion and the Founding, p. 8. Ver também Jeffrey R. Holland, “Profetas, Videntes e Reveladores”, Conferência Geral, Novembro de 2004: “Nos anos turbulentos do início da colonização desta nação, Roger Williams, meu volátil e determinado décimo bisavô fugiu—não unicamente por vontade própria—da Colônia da Baia de Massachusetts e estabeleceu-se onde agora fica o Estado de Rhode Island. Ele chamava seu quartel-general de Providência, sendo que o próprio nome em si, revelava a busca de toda sua vida, para encontrar intervenções divinas e manifestações celestiais. Mas ele nunca encontrou a que sentia ser a única igreja verdadeira do princípio do Novo Testamento. O lendário Cotton Mather disse o seguinte, a respeito desse religioso decepcionado: “O Sr. Williams (…) [finalmente] contou a [seus seguidores], que porque ele próprio fora desencaminhado, [os] desencaminhara também e estava convencido de que não existia nenhuma igreja sobre a Terra que pudesse administrar o batismo [ou quaisquer ordenanças do evangelho] (…) aconselhando, então, que renunciassem a todas elas (…) e esperassem pela vinda de novos apóstolos”. Roger Williams não viveu para ver o chamado tão ansiado de novos Apóstolos, mas no futuro, espero poder contar-lhe pessoalmente que sua posteridade viveu para vê-los. 5. Hutson, Religion and the Founding, p. 11. 6. Ver James H. Hutson, “‘Nursing Fathers’: The Model for Church-State Relations in America from James I to Jefferson”, em Lectures on Religion and the Founding of the American Republic, ed. John W. Welch (Provo, UT: BYU Press, 2003), pp. 7–23. 7. Ver Richard Lloyd Anderson, Joseph Smith’s New England Heritage: Influence of Grandfathers Solomon Mack and Asael Smith, 2a. ed. (Salt Lake City y Provo, UT: Deseret Book y BYU Press, 2003). 8. John W. Welch, “The Smiths and Religious Freedom: Jesse Smith’s 1814 Church Tax Protest”, en Sustaining the Law: Joseph Smith’s Legal Encounters, ed. Gordon A. Madsen, Jeffrey N. Walker y John W. Welch (Provo, UT: BYU Studies, 2014), pp. 41–42. 9. 1801 Vermont Laws, November 3, 1801, Section 3, Proviso 2, como citado em Welch, “Smiths and Religious Freedom”, p. 43. 10.É possível ver o certificado de dissidência de Jesse Smith em Welch, "Smiths and Religious Freedom”, pp. 45–50. 11. Welch, “Smiths and Religious Freedom”, 44. 12. John W. Welch, “‘All Their Creeds Were an Abomination’: A Brief Look at Creeds as Part of the Apostasy”, em Prelude to the Restoration: From Apostasy to the Restored Church (Salt Lake City e Provo: Deseret Book y the BYU Religious Studies Center, 2004), pp. 228–249.

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