KnoWhy #14 | Janeiro 17, 2017
O que era o “grande e terrível abismo” do Sonho de Leí?
Postagem contribuída por
Scripture Central

"E o grande e espaçoso edifício que teu pai viu são as fantasias vãs e o orgulho dos filhos dos homens. E um grande e terrível abismo separa-os." 1 Néfi 12:18
O conhecimento
O sonho de Leí é famoso. Seu simbolismo influenciou a quase todos os autores do Livro de Mórmon, e continua a ensinar muitas lições vívidas sobre o modo de viver em retidão atualmente.
Em sua visão, Leí viu um rio separando a árvore da vida de um grande e espaçoso edifício (1 Néfi 8:26). Ele também viu que muitas pessoas "se afogaram nas profundezas do rio" ao saírem da névoa das trevas com o objetivo de entrar naquele "estranho edifício" (1 Néfi 8:31–33).
Quando o sonho de seu pai foi revelado a Néfi, ele também viu aquela fonte. Néfi disse que ela era de "água suja" e que suas profundezas "são as profundezas do inferno" (1 Néfi 12:16). Ele o chamou de "um grande e terrível abismo", que compara à "palavra da justiça do Deus Eterno" que separa os justos dos iníquos (1 Néfi 12:18). Quando Néfi explicou isso a seus irmãos, o "horrível abismo" era "uma representação daquele horrível inferno […] preparado para os iníquos" (1 Néfi 15:26–29).
A visão de LeíUma maneira de analisar o sonho de Leí é vê-lo como uma descrição da doutrina dos "dois caminhos": o caminho estreito até a árvore e o caminho espaçoso que leva à destruição. O interessante, porém, é que o sonho de Leí nos dá uma descrição da terra de ninguém que fica entre esses dois caminhos.
Para entender a força dessa visão, é lógico e interessante comparar o que foi visto no sonho com a realidade geográfica encontrada na Arábia, para onde Leí e sua família viajavam quando ele teve seu sonho.
Hugh Nibley foi um dos primeiros a fazer essas comparações em sua série inovadora na revista Improvement Era de 1950 "Lehi in the Desert". Ele comparou o abismo de Leí a formações chamadas "uádis": desfiladeiros profundos com vales estreitos, encontrados nas montanhas da Arábia:
Não é preciso enfrentar um deserto para entender o sentimento de total desamparo e frustração ao encontrar um caminho que repentinamente termina em um íngreme precipício— nada poderia ser mais abrupto, mais absoluto, mais desconcertante para os planos de alguém, e assim será com os iníquos no dia do julgamento.1
Uádi úmidos e secosO professor S. Kent Brown, que viajou muito por essa região, aprofundou essa questão em 2002. Como Brown aponta, geralmente há um rio ou córrego no fundo dos uádis. "Depois das chuvas, os riachos sazonais nos uádis ficam cheios de lama e detritos", que se refere facilmente à "água suja" em 1 Néfi 12:16 e à "imundície" em 1 Néfi 15:26–27.2
Além disso, o vale de Lemuel, onde Leí teve seu sonho, provavelmente era um desses uádis. Esconder-se ali obviamente tinha suas vantagens, mas também seus riscos.
Recentemente, ocorreu a dois exploradores santos dos últimos dias, que estavam em um desses cânions, que as encostas íngremes e o riacho no fundo do desfiladeiro traziam à vida o simbolismo encontrado na visão de Leí: "As altas paredões verticais do golfo seriam um bom exemplo das profundezas do inferno, já que não há como voltar para cima e qualquer um que caísse lá embaixo não sobreviveria."3
O porquê

Esses detalhes nos dizem por que o sonho de Leí foi tão poderoso para ele e sua posteridade. Tempestades repentinas no deserto que causam inundações fatais, são temidas por todos os viajantes sábios, como Leí. Ficar fora do caminho do perigo era primordial.
Essas imagens não eram fictícias, pois refletiam a realidade. Como Hugh Nibley argumentou: "O conteúdo do sonho de Leí é altamente significativo, pois os sonhos dos homens representam necessariamente, mesmo quando inspirados, as coisas que contemplam durante o dia, embora em combinações estranhas e maravilhosas".4 Leí viajava pela Arábia de dia e sonhava com aquele ambiente sinistro à noite.
Assim como o sonho de Leí reflete as realidades da vida na Arábia, parece que Leí conhecia a Arábia pessoalmente: "O sonho de Leí, talvez mais do que qualquer outro segmento da narrativa de Néfi, nos leva ao antigo Oriente Próximo", observa Brown, "porque assim que nos concentramos em certos aspectos do sonho de Leí, nos encontramos olhando para o mundo antigo da Arábia. O sonho de Leí não se encaixa no mundo de Joseph Smith, mas em um mundo preservado tanto pelos vestígios arqueológicos quanto pelos costumes e maneiras dos habitantes da Arábia".5
Na Arábia, abismos profundos estão cheios de água lamacenta, separando os viajantes de seu destino. Este é o abismo de águas sujas, o abismo do pecado e da injustiça, que separa os justos dos iníquos. Essa força avassaladora foi claramente entendida por Leí e Néfi como uma imagem poderosa da justiça natural de Deus, e essa situação ajuda os leitores modernos a entender como e o porquê do sonho de Leí despertar, alertar e guiar poderosamente seus muitos leitores em todo o mundo.
Leitura Complementar
George Potter e Richard Wellington, Lehi in the Wilderness: 81 New, Documented Evidences that the Book of Mormon is a True History (Springville, Utah: Cedar Fort Publishing, 2003), pp. 41–49. S. Kent Brown, "New Light From Arabia on Lehi's Trail", em Echoes and Evidences of the Book of Mormon, ed. Donald W. Parry, Daniel C. Peterson e John W. Welch (Provo, Utah: FARMS, 2002), pp. 64–69. Hugh Nibley, Lehi in the Desert/The World of the Jaredites/There Were Jaredites, The Collected Works of Hugh Nibley: Volume 5 (Salt Lake City, Utah: Deseret Book and FARMS, 1988), pp. 43–46.1. Hugh Nibley, Lehi in the Desert/The World of the Jaredites/There Were Jaredites, The Collected Works of Hugh Nibley: Volume 5 (Salt Lake City and Provo, Utah: Deseret Book and FARMS, 1988), p. 46. 2. S. Kent Brown, "New Light From Arabia on Lehi’s Trail", em Echoes and Evidences of the Book of Mormon, ed. Donald W. Parry, Daniel C. Peterson e John W. Welch (Provo, Utah: FARMS, 2002), p. 65 (itálico adicionado). 3. George Potter and Richard Wellington, Lehi in the Wilderness: 81 New, Documented Evidences that the Book of Mormon is a True History (Springville, Utah: Cedar Fort Publishing, 2003), p. 49. 4. Nibley, Lehi in the Desert, p. 43. 5. Brown, "New Light From Arabia", p. 64.