KnoWhy #4 | Dezembro 28, 2016

Os antigos israelitas escreviam em egípcio?

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Scripture Central

"Sim, faço um registro na língua de meu pai, que consiste no conhecimento dos judeus e na língua dos egípcios." 1 Néfi 1:2

O conhecimento

Em sua introdução, Néfi explica que escreve usando “o conhecimento dos judeus e na língua dos egípcios”, e Morôni descreve o idioma como “egípcio reformado” (Mórmon 9:32-34).

O que poderia ser o "egípcio reformado" ou o "conhecimento dos judeus e a língua dos egípcios" utilizado por Néfi? Há numerosas evidências que sugerem que alguns dos antigos israelitas usavam a escrita egípcia com influência hebraica. Aqui estão sete indícios:

Primeiro, os textos israelitas da época de Leí usavam números e sinais de uma antiga escrita egípcia, chamada hierática.1 Mais de 200 exemplos de escrita hierática foram encontradas nas regiões de Israel e Judá.2

Em segundo lugar, John A. Tvedtnes e Stephen D. Ricks, acadêmicos da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias3 coletaram exemplos de textos escritos em um idioma relacionado ao hebraico, transcrito em egípcio hierático, datado em 600 anos antes de Leí.4Eles também compartilharam um exemplo do Salmo 20:2-6, traduzido em aramaico, usando caracteres egípcios. Este exemplo é datado de aproximadamente 400 anos após a época de Leí.5

Em terceiro lugar, arqueólogos também encontraram escrita egípcia hierática em pedaços quebrados de cerâmica, em uma cidade israelita datada da época de Leí. Como explicam os estudos, “o texto… está escrito em uma combinação de egípcio hierático e caracteres hebraicos, mas pode ser lido inteiramente como egípcio”.6

Comparação do egípcio hierático (acima) com paleo-hebraico (abaixo)

Em quarto lugar, "evidências para a combinação de caracteres da escrita hebraica e egípcia foram descobertas... na Península do Sinai... [datados no] séculos VI e VII d.C"7 Quinto, um estudo do Dr. David Calabro em 2012 sugere que o uso do egípcio hierático na Antiga Israel “indica o desenvolvimento em Judá de uma longa tradição hierática unificada”, uma tradição que “parece ter sido independente daquelas atestadas no Egito durante aquela época.”8 Sexto, Calabro também observa que “o uso de símbolos hieráticos [em algumas inscrições] vai além de simplesmente inseri-los como símbolos para substituir palavras hebraicas”, mas para manter o significado egípcio nelas.9 Isso é verdade, embora a ordem dos símbolos hieráticos seja "contrária a usada no egípcio comum..., contudo, concordam tanto na ordem esperada das palavras em hebraico, quanto com a provável ordem das palavras no egípcio falado".10 Finalmente, e mais importante, Calabro explica que uma inscrição obtida no Sinai é “o primeiro exemplo de símbolos hieráticos unilaterais [dos séculos VII e VIII a.C.] em Judá”.11 Usadas em conjunto, as evidências "indicam uma presença generalizada de escribas treinados em uma vertente judaica da escrita egípcia".12 Talvez este seja "o conhecimento dos judeus e a língua dos egípcios" referido por Néfi, o profeta e escriba.

O porquê

Fac-símile de um ostracon encontrado ao sul de Israel com inscrição hierática, por Jody Livingston

Apesar da desenfreada “mania egípcia” no início do século XIX, a ideia de que havia judeus escrevendo em egípcio era um conceito inimaginável,13e Joseph Smith foi duramente criticado neste ponto pelos primeiros detratores do Livro de Mórmon.14 Nesse sentido, o Livro de Mórmon envelheceu melhor do que seus opositores.

Muitos pesquisadores da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos dias, exploraram as implicações que esses textos hieráticos israelitas têm sobre o Livro de Mórmon. Primeiro, John S. Thomson, no livro de 2004 Glimpses of Lehi’s Jerusalem, mostra que muitos escritores e professores egípcios vieram para Canaã durante o auge do poder do Novo Reinado, sugerindo que nos dias de Leí "havia na região escribas que tinham conhecimento do egípcio há muito tempo, e mantinham a tradição de escrever em egípcio."15

Em segundo lugar, como observado acima, a análise de Calabro aponta para uma longa tradição de escribas que ensinavam uma variante da escrita egípcia "de Judá", que se encaixa muito bem com a declaração de Néfi sobre "o conhecimento dos judeus e na língua dos egípcios" (1 Néfi 1:2).

Em terceiro lugar, Neal Rappleye argumentou, com base nas descobertas de Calabro, que tanto a escrita quanto os caracteres de Néfi eram principalmente egípcios, misturados a alguns elementos hebraicos, como a ordem das palavras hebraicas e as práticas de seus escribas. 16

Como Ricks e Tvedtnes concluem:

A implicação é clara: escribas ou estudantes contemporâneos, ou quase contemporâneos a Leí, foram treinados nos sistemas de escrita egípcio e hebraico. O uso da escrita egípcia pelos descendentes de Leí não é somente possível, mas perfeitamente razoável à luz das descobertas arqueológicas feitas mais de um século após Joseph Smith ter traduzido o Livro de Mórmon. 17

Leitura Complementar

Neal Rappleye, “Learning Nephi’s Language: Creating a Context for 1 Nephi 1:2,” Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 16 (2015): pp. 151–159.Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 16 (2015): pp. 151–159. John S. Thompson, “Lehi and Egypt,” in Glimpses of Lehi’s Jerusalem, ed. John W. Welch, David Rolph Seely, and Jo Ann H. Seely (Provo, UT: FARMS, 2004), pp.259–276. John A. Tvedtnes and Stephen D. Ricks, “Jewish and Other Semitic Texts Written in Egyptian Characters,” Journal of Book of Mormon Studies 5/2 (1996): pp. 156–163; reimpresso como: “Semitic Texts Written in Egyptian Characters,” in Pressing Forward with the Book of Mormon, ed. John W. Welch and Melvin J. Thorne (Provo, UT: FARMS, 1999), pp. 237–243.

1. Philip J. King e Lawrence E. Stager, A vida no Israel bíblico (Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 2001), 311: “Documents from the kingdoms of both Israel and Judah … of the eighth and seventh centuries [BC]" contêm símbolos (hieróglifos em itálico) e numerais egípcios hieráticos”; curiosamente, esses símbolos hieráticos “deixaram de ser usados no Egito após o século X [a.C.]” (colchetes adicionados) 2. Stefan Wimmer, Palästiniches Hieratisch: Die Zahl- und Sonderzeichen in der althebräishen Schrift (Wiesbaden: Harraossowitz, 2008), pp. 20. 3. John A. Tvedtnes and Stephen D. Ricks, “Jewish and Other Semitic Texts Written in Egyptian Characters,” Journal of Book of Mormon Studies 5/2 (1996): pp. 156–163; reimpresso como: “Semitic Texts Written in Egyptian Characters,” em Pressing Forward with the Book of Mormon, ed. John W. Welch and Melvin J. Thorne (Provo, UT: FARMS, 1999), pp. 237–243.

4. Tvedtnes and Ricks, “Semitic Texts Written in Egyptian Characters,” em Pressing Forward, pp. 238: “… vários textos semíticos do noroeste foram incluídos nos escritos mágicos egípcios, em papiro. Estes são, em sua maioria, encantamentos que, em vez de serem traduzidos de sua língua semítica original para o egípcio, foram meramente transcritos para o egípcio hierático." Os textos em questão foram escritos no que Albright chamou de "ortografia silábica egípcia", usando símbolos egípcios padrão, em combinações destinadas a transliterar palavras semíticas. Em alguns casos, todo o texto semítico foi transcrito em escrita egípcia. Veja Wolfgang Helck, “Asiatische Fremdworte im Ägyptischen,” em Die Beziehungen Ägyptens zu Vorderasien im 3. und 2. Jahrtausend v. Chr., 2nd ed. (Wiesbaden: Harrassowitz, 1971), pp. 528–29. 5. Tvedtnes and Ricks, “Semitic Texts,” pp. 239. Eles comentam: “Durante anos, os egiptólogos tiveram dificuldade com o texto, sem conseguir dar sentido a ele. As letras eram claras, mas não formavam palavras egípcias legíveis. Em 1944, Raymon Bowman, da Universidade de Chicago, percebeu que, embora as letras fossem egípcias, o idioma subjacente era o aramaico... Temos aqui, uma passagem bíblica, com tradução aramaica, escrita em caracteres egípcios do período tardio". Eles fazem referência a Raymon A. Bowman, “An Aramaic Religious Text in Demotic Script,” Journal of Near Eastern Studies 3 (1944): pp. 219–31. 6. Tvedtnes and Ricks, “Semitic Texts,” pp. 239. 7. Tvedtnes and Ricks, “Semitic Texts,” pp. 240–41. Em um ostracon, intercalado com medidas e números egípcios, está o hebraico ʾălāphîm (“milhares”) e o símbolo hebraico para shekel (uma medida de peso). Tvedtnes e Ricks concluem: "Tanto em Arad, quanto em Cades-Barnéia [Israel], havia, além dos 'textos combinados' já discutidos, outros óstracos escritos inteiramente em hebraico ou hierático egípcio." 8. David Calabro, “The Hieratic Scribal Tradition in Preexilic Judah,” em Evolving Egypt: Innovation, Appropriation, and Reinterpretation in Ancient Egypt, BAR International Series 2397, ed. Kerry Muhlestein and John Gee (Oxford, Eng.: Archaeopress, 2012), pp.77. 9. Calabro, “The Hieratic Scribal Tradition,” pp. 79. 10. Calabro, “The Hieratic Scribal Tradition,” pp.78. 11. Calabro, “The Hieratic Scribal Tradition,” pp. 81. 12. Calabro, “The Hieratic Scribal Tradition,” pp.83.13. Uma investigação sobre a obra de Rick Grunder, Mormon Parallels: A Bibliographic Source (LaFayette, NY: Rick Grunder – Books, 2008), revela cinco fontes (pp. 268, 270, 628, 774-775 e 1612) que ele sugere serem a fonte desta ideia. Dois deles (pp. 628, 774-775) falam sobre como Moisés aprendeu egípcio enquanto estava no Egito, e os outros três descrevem um conceito de escrita profética (como o Livro do Apocalipse) como um “hieroglífico”, no sentido de ser altamente “simbólico”. Ainda assim, os escritos do Livro de Mórmon são surpreendentemente desprovidos dos tipos de profecias altamente simbólicas, geralmente associadas a esse conceito. 14. Gimel, “Book of Mormon,” The Christian Watchman (Boston) 12/40 (October 7, 1831): "The plates were inscribed in the language of the Egyptians", pp.5. Como Néfi era descendente de José, Smith provavelmente queria que entendêssemos que a língua egípcia foi mantida na família de José; disso, no entanto, não temos evidências. La Roy Sunderland, “Mormonism,” Zion’s Watchman (New York) 3/7 (17 de fevereiro de 1838): “Na página 16, diz que os 'registros' sobre os quais este livro contém tanto, foram escritos na 'língua de nossos pais'. Agora, a língua de Jacó e de todos os seus descendentes era o hebraico, mas já mostramos anteriormente que a língua na qual este livro professa ter sido escrito é o 'egípcio reformado', uma língua a qual ninguém fala desde que o mundo foi criado." 15. John S. Thompson, “Lehi and Egypt,” em Glimpses of Lehi’s Jerusalem, ed. John W. Welch, David Rolph Seely, and Jo Ann H. Seely (Provo, UT: FARMS, 2004), pp. 266–267; ver também Aaron P. Schade, “The Kingdom of Judah: Politics, Prophets, and Scribes in the Late Preexilic Period,” também em Glimpses of Lehi’s Jerusalem, pp. 315–319. 16. Neal Rappleye, “Learning Nephi’s Language: Creating a Context for 1 Nephi 1:2,” Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 16 (2015): pp. 151–159.Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 16 (2015): pp. 151–159. 17. Tvedtnes and Ricks, “Semitic Texts,” pp. 241.

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