Jacó se referiu aos festivais de outono de Israel?

O conhecimento

Néfi ordenou seu irmão Jacó ao Sacerdócio pouco após se separarem dos seguidores de Lamã, Lemuel e dos filhos de Ismael. Eles se estabeleceram na terra de Néfi. Um templo foi construído e, com certa relutância, Néfi foi proclamado o primeiro rei nefita ( 2 Néfi 6:2).

Nesse contexto, Jacó fez um sermão que começou com a recitação de algumas das palavras encontradas em Isaías 49–52. "E agora, eis que quero falar-vos sobre as coisas presentes e futuras; ler-vos-ei, portanto, as palavras de Isaías". E estas são as palavras que meu irmão desejou que eu vos dissesse. E falo-vos para vosso bem, a fim de que aprendais e glorifiqueis o nome de vosso Deus" (2 Néfi 6:4).

Os tópicos abordados por Jacó neste discurso (começando em 2 Néfi 6 e terminando em 2 Néfi 10) incluem conceitos sobre convênios ou cerimônias de coroação, como a criação, vestimentas sagradas, o nome de Deus, sacrifício, jejum, o julgamento de Deus e a lembrança de Seus convênios.

Embora alguns tenham lido esses capítulos sem se perguntar sobre o possível contexto do discurso, um pesquisador santo dos últimos dias examinou atentamente o sermão de Jacó com o objetivo de fazer exatamente essa análise. John S. Thompson descobriu que o discurso contém elementos com características marcantes que se assemelham às dos antigos festivais de outono de Israel (especialmente a festa dos Tabernáculos ou Sucot).

Thompson começa seu estudo observando que 2 Néfi 6–10 segue o padrão relacionado a convênios/tratados, agora amplamente reconhecido como existente "em boa parte do antigo Oriente Próximo". Este padrão consiste em:

1. Um preâmbulo
2. Uma visão geral da história e o discurso do convênio
3. Definição das estipulações do convênio
4. Prometer bênçãos e maldições por cumprir ou quebrar o convênio
5. A cláusula da testemunha
6. O registro do convênio¹

A presença desses elementos no sermão de Jacó é significativa, insiste Thompson, porque estabelece o discurso de Jacó em um contexto específico. A presença do padrão do convênio no sermão de Jacó levanta a questão: em que circunstâncias Jacó teria feito tal discurso, para citar essas passagens específicas de Isaías?

A resposta: "A presença dessa estrutura no sermão de Jacó" sugere fortemente que ele o proferiu durante a Festa dos Tabernáculos, quando, segundo alguns pesquisadores, esse mesmo padrão poderia ser seguido pelos filhos de Israel na antiguidade para renovarem seus convênios com Jeová, ou para instaurar um novo rei terreno.² Thompson conclui: "A partir da estrutura e dos temas de 2 Néfi 6–10, pode-se concluir que o discurso de Jacó foi proferido em uma celebração para renovar os convênios que foi provavelmente realizada como parte das festas tradicionais de outono de Israel, exigidas pela lei de Moisés".³

Ao falar sobre a celebração da renovação do convênio, Thompson está se referindo ao evento em que os membros da comunidade do convênio renovam seus convênios com Deus e se dedicam novamente a guardar os mandamentos. Um exemplo disso pode ser visto em Josué 24, onde "ajuntou Josué todas as tribos de Israel" para renovar seus convênios antes de reivindicar a terra de Canaã como sua herança (Josué 24:1). Isso incluía jurar lealdade e fé ao Senhor e não adorar a outros deuses.

Agora, pois, temei ao Senhor, e servi-o com sinceridade e com verdade; e deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais além do rio e no Egito, e servi ao Senhor. Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais: se os deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou os deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor (Josué 24:14-15).

Considerando que este sermão foi proferido na época em que os nefitas também estavam se estabelecendo em uma nova terra, fica claro que as palavras de Jacó refletem esse antigo costume da religião israelita de renovar os convênios. Thompson identifica que essas seções do sermão de Jacó contêm elementos da prática de renovar convênios:

1. Preâmbulo = 2 Néfi 6:1–4
2. Resumo histórico = 2 Néfi 6:5–9, 22
3. Estipulações do convênio= 2 Néfi 9:23–26
4. Bênçãos e maldições = 2 Néfi 9:27–43
5. A cláusula da testemunha = 2 Néfi 9:44
6. O registro do convênio = 2 Néfi 9:52⁴

Além disso, as palavras que Jacó tomou de Isaías 49-52 e outras passagens (como Levítico 16, 23; Deuteronômio 31; Isaías 55) fazem sentido à luz do fato de que esses capítulos também "refletem muito [do] cenário tradicional", incluindo a entronização de reis terrestres durante as festas de outono.⁵ Esses elementos incluem:

1. A criação em Isaías 51:13 = 2 Néfi 8:13
2. O nome de Deus em Isaías 51:15 = 2 Néfi 8:15
3. A voz do servo de Deus em Isaías 50:10 = 2 Néfi 7:10
4. A lei em Isaías 51:4 = 2 Néfi 8:4
5. Julgamento em Isaías 51:4–5 = 2 Néfi 8:4–5
6. Libertação em Isaías 50:2 = 2 Néfi 7:2

Isso não quer dizer que todas as cerimônias de renovação do convênio sejam festas de coroação e outono, ou que todas as festas de outono incluam coroações e cerimônias de renovação do convênio. Pelo contrário, isto é, acredita-se que esses fenômenos distintos coincidiram no contexto da antiga Israel e aparentemente, também se sobrepõe no sermão de Jacó.

O porquê

Apreciar a complexidade do entrelaçamento de Jacó desses temas e textos é interessante e útil em vários níveis. Por um lado, esses temas identificáveis obviamente conectam o Livro de Mórmon à cultura da antiga Israel, o que reforça a antiguidade e a consistência do livro com o registro bíblico, o que ajuda esses dois livros a se tornarem um só em nossas mãos hoje.

A importância e a função de um rei justo também é um forte ensinamento mencionado muitas vezes no Livro de Mórmon e, portanto, não é difícil supor que o sermão de Jacó serviu como um precedente teológico e ritualístico para os reis nefitas posteriores seguirem. Por exemplo, muitos dos mesmos pontos encontrados no sermão de Jacó e em cerimônias semelhantes de renovação de convênios seriam incorporados ao discurso do próprio rei Benjamim quatro séculos depois na história nefita (Mosias 2-6).⁶

Por fim, o discurso de Jacó destaca o foco dos nefitas no fortalecimento da fé em Cristo. Thompson conclui: "Como os festivais israelitas faziam parte da lei de Moisés, é provável que os nefitas os praticassem com o pleno entendimento de que todos os elementos do festival tipificam a Cristo e remetem à Sua vinda."⁷

O desenvolvimento da fé em Cristo, tanto para os nefitas antigos quanto para os santos dos últimos dias modernos, inclui fazer, guardar e renovar convênios sagrados. O desenvolvimento da fé em Cristo, tanto para os antigos nefitas quanto para os santos dos últimos dias modernos, inclui fazer, guardar e renovar convênios sagrados. Assim como os feriados religiosos modernos (como a Páscoa e o Natal) incluem temas e práticas culturais específicas, os feriados ou festivais religiosos antigos (como a Festa dos Tabernáculos) incluíam os temas e práticas culturais específicas que figuram no Livro de Mórmon, lembrando-nos de escolher servir ao Senhor e guardar Seu convênio.