KnoWhy #657 | Fevereiro 15, 2023

Por que Jesus se comparou à serpente de bronze?

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Central das Escrituras

"E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:14-15

O conhecimento

Quando os filhos de Israel murmuraram durante seu êxodo pelo deserto, "o Senhor mandou entre o povo serpentes ardentes", e muitos israelitas morreram por causa de suas picadas (Números 21:6). Depois que o povo se arrependeu, Jeová instruiu Moisés a fazer "uma serpente de bronze" e colocá-la em uma haste, o que ajudaria aqueles que fossem mordidos a viver se apenas olhassem para ela (Números 21:8-9).

Quando Jesus falava a Nicodemos, Ele se comparou a esta serpente de bronze: ''E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna'' (João 3:14-15). Vários profetas do Livro de Mórmon também usaram a serpente ardente como um símbolo de Jesus Cristo.1

Como Douglas W. Ullmann explicou de diferentes maneiras, essa comparação "captura a ideia principal de Números 21:4-9 e a aplica a Jesus Cristo" de maneira direta: "O Senhor proveria apenas um meio de salvação (da picada da serpente): a serpente de bronze. Caso alguém se recusasse a olhar para a serpente levantada, não seria curado. Da mesma forma [...] Deus proveu em Jesus Cristo o único meio de salvação. Se alguém se recusar a crer em Jesus como o Messias, não será salvo”.2

Contudo, alguns ainda se perguntam por que Jesus é comparado a uma serpente, já que cobras geralmente têm uma conotação negativa e até mesmo usadas simbolizando a Satanás em outras passagens das escrituras (consulte Gênesis 3; 2 Néfi 2:18). No antigo Oriente Próximo, as serpentes simbolizam atributos positivos tanto quanto negativos; várias das associações positivas estão relacionadas diretamente aos atributos de Jesus Cristo.3 Abaixo estão alguns exemplos que ilustram como o antigo simbolismo das serpentes se relaciona às funções e aos atributos de Jesus Cristo.

Serpentes como símbolos de cura

O significado mais comum e universal das serpentes no mundo antigo era como símbolo de cura.4 Esse simbolismo pode ser encontrado no Egito, na Mesopotâmia, em Canaã, na Grécia e em Roma, representado nos tempos modernos pelo uso do Caduceu e do Bastão de Asclépio — ambos símbolos greco-romanos — como símbolos na medicina moderna.5 Este simbolismo obviamente remete à serpente de bronze, a qual Néfi menciona ter sido levantada para "curar as nações" (2 Néfi 25:20).

Durante Seu ministério mortal, Jesus foi o "Grande Médico". Pessoas de toda a Galileia e Judeia vinham a Ele para serem curadas de uma variedade de enfermidades (Mateus 4:23; 9:35). Após a Sua morte, Ele ressuscitou "com poder de cura em suas asas" (2 Néfi 25:13; Malaquias 4:2).6 Até hoje, Seu poder continua curando corações partidos e almas feridas que se arrependem e voltam a Ele.

Serpentes como um símbolo de vida, imortalidade e ressurreição

As serpentes também são comumente associadas à vida, incluindo vida após a morte, imortalidade e ressurreição.7 Segundo o estudioso bíblico Victor Hurowitz, a palavra hebraica mais comum para víbora ou serpente (nḥš) soa semelhante às palavras "viver, vida" em acadiano (nāšu,nīšu), enquanto as palavras hebraicas para "viver" (ḥyh, ḥyy, ḥwh) soam semelhantes à palavra "serpente" na língua aramaica, muito semelhante à (ḥwy).8 Em muitos mitos do antigo Oriente Próximo, "a morte de um dragão ou serpente concederia vida."9 As serpentes que trocam de pele simbolizavam a ressurreição e a vida eterna tanto no Egito quanto em outras culturas.10

Jesus Cristo é "a ressurreição e a vida" (João 11:25). Sua morte sacrificial concede vida eterna para que "todo aquele que nele crê" (João 3:14–15). Néfi, filho de Helamã, explicou: "E assim também todos os que olharem para o Filho de Deus, com fé, tendo espírito contrito, viverão, sim, para a vida eterna" (Helamã 8:15).

Serpentes como símbolos de salvação e libertação

As serpentes também foram associadas à libertação ou salvação providencial.11 Andrew C. Skinner explicou que no antigo Oriente Próximo, as serpentes eram consideradas "portadoras da salvação e doadoras da vida eterna."12 Em números 21, a serpente de bronze é usada para livrar os filhos de Israel das serpentes ardentes, e um texto apócrifo judeu se refere a ela como "um sinal de salvação" (Sabedoria de Salomão 16:5-6).

A verdadeira libertação e salvação são obtidas somente por meio de Jesus Cristo (ver 1 Tessalonicenses 5:9), o único "nome dado debaixo do céu [...] mediante o qual o homem possa ser salvo'' (2 Néfi 25:20).

Serpentes como agentes de purificação e expiação

As serpentes também estão relacionadas à purificação e expiação.13 A palavra traduzida como "serpentes ardentes" em Números 21 é serafins (plural de serafim). Como verbo, esta raiz hebraica significa "queimar" e, de acordo com LeGrand Davies, refere-se principalmente a "limpeza, purificação ou refinamento de objetos rituais, pessoas, cidades, etc."14 Da mesma forma, as serpentes ardentes podem ser vistas como agentes purificadores, limpando o corpo de Israel antes de entrar na Terra Prometida.15

Os ardentes seres angelicais de Isaías 6 (ver também 2 Néfi 16) também são chamados de serafins, muitos estudiosos veem uma conexão entre eles e as serpentes ardentes.16 Aqui, Isaías vê Deus em Seu trono, rodeado de serafins celestiais, e se preocupa com sua dignidade ao estar na presença divina (Isaías 6:1-5). Um serafim então traz uma brasa para Isaías e a coloca em seus lábios, declarando: "já se tirou de ti a tua culpa, e já está expiado o teu pecado" (Isaías 6:7). Como observou John N. Oswalt, este carvão "retirado do altar que ficava bem em frente ao Santo dos Santos [...] [tem] um efeito expiatório e purificador."17 Assim, Isaías pôde participar dignamente do conselho divino (Isaías 6:8–13).

Os serafins da visão de Isaías cumpriram a mesma função de Jesus Cristo de expiar nossos pecados, purificando-nos e permitindo-nos entrar dignamente na presença de Deus.18

Serpentes como símbolos da realeza

As serpentes também faziam parte do simbolismo da realeza.19 Isso pode ser visto especialmente no caso do Egito, onde o símbolo de uma cobra ereta, chamada ureu, "era colocado nos palácios da realeza e nas cabeças dos faraós para simbolizar seu poder piedoso e realeza."20 Da mesma forma, alguns selos reais do século VIII d.C. utilizam um serafim alado (serpente ardente) "para simbolizar a realeza da Judeia."21 Como Karen Randolph Joines apontou: "Israel estava familiarizado com o símbolo da serpente alada e, aparentemente, foi incorporado em seu simbolismo de realeza."22 Portanto, Isaías 14:28-32 retrata simbolicamente um futuro rei que libertaria Sião como "uma serpente ardente voadora".23

Jesus Cristo é o verdadeiro Rei dos reis que libertará Sião nos últimos dias (1 Timóteo 6:14-15).

O porquê

Estes são apenas alguns dos muitos significados incrustados no simbolismo das serpentes na antiguidade. Muitos outros poderiam ser discutidos, relacionado as várias funções e atributos de Jesus Cristo.24 Ao conhecermos estes exemplos do simbolismo das serpentes, os leitores poderão entender melhor por que a serpente de bronze era usada como símbolo de Jesus Cristo.

Devido a sua ampla formação cultural, quando os filhos de Israel olharam para a serpente de bronze, provavelmente viram mais do que apenas uma serpente em uma haste. Eles teriam visto um símbolo de cura, um símbolo de vida, um símbolo de salvação e libertação. Quando foram a Moisés, procuravam se arrepender e a reconciliar seu relacionamento com Jeová (Números 21:7), e a serpente de bronze teria sido considerada um símbolo de expiação e reconciliação. Além disso, seria provavelmente reconhecido como um símbolo de realeza e entenderiam que, ao olhar para a serpente, estariam realmente vendo ao Senhor e assentindo Sua realeza.

Para os membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Jesus Cristo é o cumprimento e a personificação de todo o simbolismo da serpente de bronze. Ele veio à Terra para trazer cura e vida. Ele traz salvação e libertação para aqueles que olham para Ele. Sua expiação pode purificar todos os que se arrependem de seus pecados e torná-los dignos de entrar na presença de Deus. Jesus Cristo é o único e verdadeiro Rei dos reis, o Senhor dos senhores. Se apenas olharmos para Ele, poderemos viver para sempre (Alma 37:46).

Leitura Complementar

Neal Rappleye, “Serpents of Fire and Brass: A Contextual Study of the Brazen Serpent Tradition in the Book of Mormon”, Interpreter: A Journal of Latter-day Saint Faith and Scholarship 50 (2022): pp.229–241. Alonzo L. Gaskill, Miracles of the Book of Mormon: A Guide to the Symbolic Messages (Springville, UT: Cedar Fort, 2015), pp.107–114. Andrew C. Skinner, “Serpent Symbols and Salvation in the Ancient Near East and the Book of Mormon”, Journal of Book of Mormon Studies 10, no. 2 (2001): pp.42–55.

1. Ver 2 Néfi 25:20; Alma 33:18–22; Helamã 8:13–15. 2. Douglas W. Ullmann, “Moses’s Bronze Serpent (Numbers 21:4–9) em Early Jewish and Christian Exegesis” (dissertação, Dallas Theological Seminary, 1995), pp.93, 258. 3. Para saber mais sobre o simbolismo positivo e negativo das serpentes, consulte James H. Charlesworth, The Good and Evil Serpent: How a Universal Symbol Became Christianized (New Haven, CT: Yale University Press, 2010), pp.188–268.

4. Charlesworth, Good and Evil Serpent, pp.254–256. 5. Para saber mais sobre a função de cura das serpentes, consulte Neal Rappleye, “Serpents of Fire and Brass: A Contextual Study of the Brazen Serpent Tradition in the Book of Mormon”, Interpreter: A Journal of Latter-day Saint Faith and Scholarship 50 (2022): pp.232–233. Andrew C. Skinner, “Serpent Symbols and Salvation in the Ancient Near East and the Book of Mormon”, Journal of Book of Mormon Studies 10, no. 2 (2001): pp.42–55, também menciona vários exemplos de serpentes curativas na mitologia antiga. 6. Consulte o artigo a Central do Livro de Mórmon,“Por que Malaquias se refere ao Sol da Justiça? (Malaquias 4:2)”, KnoWhy 653 (19 de dezembro de 2022). 7. Charlesworth, Good and Evil Serpent, pp.250–251. 8. Victor Avigdor Hurowitz, “Healing and Hissing Snakes: Listening to Numbers 21:4–9”, Scriptura 87 (2004): pp.278–287. 9. Charlesworth, Good and Evil Serpent, p.250. 10. Skinner, “Serpent Symbols”, 44; Rappleye, “Serpents of Fire”, p.233. 11. Ver Rappleye, “Serpents of Fire”, p.234. 12. Skinner, “Serpent Symbols”, p.48. 13. Charlesworth, Good and Evil Serpent, pp.257–258. 14. LeGrande Davies, “Serpent Imagery in Ancient Israel: The Relationship between the Literature and the Physical Remains” (dissertação, University of Utah, 1986), 83; ver pp. 82–105 para uma revisão completa do uso etimológico desse verbo na Bíblia. 15. Veja Davies, “Serpent Imagery in Ancient Israel,” pp.103–105. 16. John Gee, “Cherubim and Seraphim: Iconography in the First Jerusalem Temple”, em The Temple: Past, Present, and Future, ed. Stephen D. Ricks y Jeffrey M. Bradshaw (Orem, UT: Interpreter Foundation; Salt Lake City, UT: Eborn Books, 2021), pp.97–108. 17. John N. Oswalt, The Book of Isaiah: Chapters 1–39 (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1986), p.184. 18. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, “Por que Isaías se referiu às Hostes Celestiais como “Serafins”? (2 Néfi 16:1–2; Isaías 6:1–2)”, KnoWhy 645 (19 de setembro de 2022). 19. Ver Charlesworth, Good and Evil Serpent, pp.238–239. 20. Charlesworth, Good and Evil Serpent, p.238. 21. J. J. M. Roberts, First Isaiah, a Commentary (Minneapolis, MN: Fortress Press, 2015), p.226. 22. Karen Randolph Joines, “Winged Serpents in Isaiah’s Inaugural Vision”, Journal of Biblical Literature 86, no. 4 (1967): p.414. 23. Ver Rappleye, “Serpents of Fire”, p.236. 24. Para uma análise mais completa deste assunto, ver Skinner, "Serpent Symbols" pp.42–55; Rappleye, “Serpents of Fire”, pp.229–241.

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