KnoWhy #594 | Fevereiro 5, 2021
Por que Joseph Smith foi acusado de “conduta desordeira” em 1826?
Postagem contribuída por
Central das Escrituras
"No mês de outubro de 1825, empreguei-me com um senhor idoso chamado Josiah Stoal [Stowell] [...] [que] levou-me com o resto de seus empregados para escavar, em busca da mina de prata, no que continuei a trabalhar por aproximadamente um mês sem alcançar sucesso [...] e finalmente convenci aquele senhor a desistir de procurar a mina. Assim surgiu a história muito divulgada de haver sido eu um cavador de dinheiro." Joseph Smith — História 1:56
O conhecimento
Em 1825, aos 19 anos, Joseph Smith foi contratado por uma pessoa chamada Josiah Stowell, que morava em South Bainbridge, perto da divisa entre os estados de Nova York e Pensilvânia. Stowell acreditava que havia um tesouro enterrado em uma antiga mina de prata espanhola e contratou Joseph e seu pai para ajudá-lo a encontrá-lo. Conforme o relato da mãe de Joseph, Lucy Mack Smith, Stowell tinha ouvido falar que Joseph "possuía certos instrumentos, por meio dos quais podia discernir coisas que não podiam ser vistas com o olho natural".1 Stowell, queria que Joseph tentasse usar os instrumentos (as pedras videntes) para tentar localizar a mina espanhola e o tesouro. Após cerca de um mês trabalhando com sua equipe, Joseph convenceu Stowell a desistir da busca, porém continuou a trabalhar como balconista na fazenda de Stowell (Joseph Smith—História 1:56).2
Em março de 1826, o sobrinho de Stowell, Peter Bridgeman, pensou que Joseph estava enganando a seu tio. Assim, Bridgeman apresentou acusações formais contra Joseph, alegando "conduta desordeira", uma categoria legal difundida na década de 1820 que incluía pessoas que "procuravam [...] localizar onde objetos perdidos poderiam ser encontrados".3 Até recentemente, determinar os detalhes e o resultado desta ação legal era difícil, porque os tribunais locais de Nova York não eram tribunais de registro, portanto, não há nenhuma transcrição original da audiência e as fontes históricas existentes transmitem informações inconsistentes e contraditórias.4 Alguns críticos se aproveitaram dessa falta de fontes claras e afirmaram que Joseph fora, de fato, sentenciado e condenado por ser um "desordeiro".
No entanto, uma análise cuidadosa de fontes descobertas recentemente pelo historiador jurídico Gordon A. Madsen, demonstra que nenhum veredito de culpabilidade foi emitido neste caso.5 De acordo com Madsen, as evidências indicam "que em 1826 Joseph Smith foi certamente acusado e julgado por conduta desordeira" e declarado inocente. Independentemente da essência dessa acusação, não foi considerado culpado de nenhum crime."6 Ao menos quatro peças-chave de evidências factuais e processos judiciais apoiam essa conclusão.
Primeiramente, foram encontradas as notas de pagamento dos serviços prestados pelo juiz Albert Neely, que presidiu o julgamento, e do oficial de justiça Philip De Zeng, que executou o mandado de apreensão de Joseph. Se Joseph Smith tivesse sido considerado culpado, de acordo com Madsen, essas notas incluiriam um pedido do juiz e do oficial de justiça de um pagamento adicional, pela emissão de um mandado de prisão de Joseph e por transportá-lo oficialmente para lá, respectivamente.7 A falta desses elementos nas notas, é a prima facie, uma evidência de que Joseph Smith não foi sentenciado a cumprir uma condenação (de até 60 dias) em "Bridewell, ou casa de correção", como a lei de Nova York claramente requeria de todas as pessoas sentenciadas por perturbação da ordem pública.8
Em segundo, os dois principais relatos do julgamento concordam que Josiah Stowell testemunhou a favor de Joseph. De acordo com uma fonte, Stowell testemunhou "que ele realmente sabia" que Joseph poderia encontrar "tesouros valiosos por meio de [...] [sua] pedra [vidente]".9 Outra fonte diz que o juiz perguntou a Stowell: "Você crê que o prisioneiro pode ver com a ajuda da pedra, quinze metros abaixo da superfície da terra, tão claramente quanto o que está na minha mesa pode ser visto? Stowell respondeu: "Se eu acredito nisso? Não, não é uma questão de acreditar. Eu certamente sei que é verdade."10 Anos depois, o filho de Stowell escreveu uma carta negando que Joseph "fingira qualquer habilidade ou truque", o que é outra maneira de dizer que ele não era um "malabarista" ou uma pessoa de conduta desordeira.11 Na mesma carta, o próprio Stowell confirmou que sabia que Joseph era um vidente.12
A lei de Nova York definia "pessoa desordeira" como alguém que, entre muitas outras coisas, vivia de maneira "ociosa e desempregada", a mendigar, trapacear, enganar ou "fingir" ler palmas, adivinhar a sorte, ou "localizar bens perdidos ".13 Essa definição não descreve a Joseph Smith. O objetivo do estatuto era manter fora da cidade os delinquentes ou vadios, não aqueles que realmente trabalhavam, não eram malfeitores, ou realmente podiam ver e encontrar objetos exercendo o dom de vidente, como muitos faziam naquela época, e como Stowell testemunhou com sensatez, era o caso de Joseph.14
Em terceiro, a mesma lei aplicável exigia que qualquer pessoa condenada fosse "removida pela ordem de dois juízes de paz". No entanto, os registros de pagamento dos juízes mostram apenas um juiz neste caso.
E quarto, os precedentes de casos jurídicos disponíveis do século XIX exigiam que as ações indesejáveis da pessoa em questão afetassem ao público em geral.15 Como Madsen aponta, ninguém além de Stowell dispendera dinheiro e "ele negou enfaticamente que fora enganado ou fraudado". Portanto, como as ações de Joseph afetaram apenas Stowell e não o público em geral, "apenas Josiah Stowell tinha base legal para reclamar e ele não estava reclamando''.16 Assim, não havia base legal para acusar Joseph de "conduta desordeira", e o juiz Neely o liberou de forma rápida e justa.
O porquê
Então, por que Joseph foi acusado? Há pelo menos quatro razões:
1. Para preparar Joseph para seguir em frente.
Harmony, Fayette e Nova York não eram os lugares onde Joseph deveria permanecer. Ele seria levado de um lugar para outro. As leis em todos os estados da época permitiam que as comunidades locais excluíssem e expulsassem os indesejáveis, como os vadios e todos os que não trabalhavam em atividades comuns. Essas eram leis das quais as pessoas se aproveitavam. Sem impunidade, os queixosos podiam reclamar de quem não gostassem. A lei poderia ser usada para fazer uma declaração pública, intimidar e constranger. Bastava usar a lei como uma arma, independentemente do resultado. O autor apresentaria seu caso, mesmo que o perdesse. Nesse caso, Peter Bridgeman, que havia entrado com a ação, não apelou ou apresentou outras acusações, como poderia ter feito. Ele apresentou seu caso quando o promotor o chamou em nome do "povo de Nova York".
2. Estabelecer a confiança no sistema de juízes independentes e neutros dos Estados Unidos.
Havia quatro juízes de paz em Bainbridge. Todos pareciam ter simpatia por Joseph. Zachariah Tarbell, realizaria o casamento de Joseph com Emma dez meses depois em South Bainbridge. Ao ser absolvido, Joseph aprendeu a confiar no sistema judiciário dos Estados Unidos. Essa firme atitude o acompanhou por toda a vida.
3. Para fortalecer o testemunho e dar às pessoas a oportunidade de falar em nome de Joseph.
Além disso, o próprio Josiah Stowell, benfeitor de Joseph e suposta "vítima", testemunhou a favor e em defesa dele, tanto naquela ocasião quanto em outro julgamento de 1830.17 Isso fala muito bem do caráter de Joseph. Em março de 1826, Stowell havia trabalhado com Joseph por vários meses, tanto em sua fazenda quanto fora dela, em busca da mina espanhola perdida. Ele teve várias oportunidades de aprender sobre o caráter de Joseph e vê-lo usar seu dom divino. Seu testemunho pessoal teve, com razão, o maior peso no julgamento, e igualmente, ainda o tem atualmente. Stowell, estava confiante de que não seria enganado, que Joseph era sincero e que ele realmente tinha o dom de vidente.
Três anos depois, em outro julgamento, Joseph foi igualmente acusado pela esposa de Martin Harris de tê-lo fraudado alegando possuir as Placas de Ouro. No entanto, como Stowell, Martin testemunhou firme e pessoalmente em nome de Joseph.18 O fato de Joseph ter a confiança desses dois homens mais velhos, maduros e bem-sucedidos que o conheciam, fala muito do caráter íntegro de Joseph.19 Os testemunhos de Martin Harris e Josiah Stowell, ambos apresentados nos tribunais de Nova York, combinados ao testemunho do caráter juvenil de Joseph, estabelecido no julgamento de 181920, fornecem o requisito de "duas ou três testemunhas" (2 Coríntios 13:1) necessários para estabelecer que, precisamente durante os anos de tradução e publicação do Livro de Mórmon, Joseph era um jovem confiável, digno de confiança e talentoso, escolhido por Deus para cumprir seus propósitos.
4. Para cumprir a profecia.
Em 1838, Joseph Smith lembrou que Morôni havia profetizado que seu nome "seria considerado bom e mau entre todas as nações" (Joseph Smith - História 1:33). Entre os exemplos de que Joseph foi "mal" falado, estão as alegações de que ele defraudou pessoas, alegando ser um vidente. Embora rumores e fofocas com tais acusações sejam abundantes, as alegações dos críticos de Joseph nunca resistiram ao escrutínio histórico e jurídico.
A absolvição de Joseph das acusações de ser um "encrenqueiro" em março de 1826, fornece apenas um exemplo desse típico padrão. Os céticos que duvidaram da legitimidade dos dons de Joseph falharam em apresentar um caso convincente contra ele no tribunal, mas esse fracasso não impede os críticos de tentar imputar essas antigas acusações contra Joseph novamente. A análise habilidosa de Madsen do julgamento de 1826, esclarece a natureza das evidências e demonstra que Joseph foi de fato considerado inocente das acusações feitas contra ele.
Leitura Complementar
Gordon A. Madsen, "Being Acquitted of a ‘Disorderly Person’ Charge in 1826", em Sustaining the Law: Joseph Smith’s Legal Encounters, ed. Gordon A. Madsen, Jeffrey N. Walker e John W. Welch (Provo, UT: BYU Studies, 2014), pp. 71–90.
Mark Ashurst-McGee, “The Josiah Stowell Jr.—John S. Fullmer Correspondence”, BYU Studies p. 38, no. 3 (1999): pp. 109–117.
1. Lucy Mack Smith, History, 1845, p. 95, disponível em josephsmithpapers.org. Sobre as pedras videntes, magia e caça ao tesouro na época de Joseph Smith, consulte o artigo da Central Livro de Mórmon, "Uma "visão magica do mundo" influenciou o aparecimento do Livro de Mórmon? (2 Néfi 27:26)", KnoWhy 538 (20 de novembro de 2019). 2. Ver Richard Lyman Bushman, Joseph Smith: Rough Stone Rolling (New York, NY: Alfred A. Knopf, 2005), pp. 47–52 para uma visão geral do período em que Joseph Smith trabalhou para Stowell. 3. Revised Laws of New York (1813), 1:114, sec. I, como é apresentado em Gordon A. Madsen, "Being Acquitted of a ‘Disorderly Person’ Charge in 1826", em Sustaining the Law: Joseph Smith’s Legal Encounters, ed. Gordon A. Madsen, Jeffrey N. Walker e John W. Welch (Provo, UT: BYU Studies, 2014), p. 74. 4. Ver Madsen, "Being Acquitted", pp. 71–72, para obter um resumo das principais fontes disponíveis. 5. Ver Madsen, "Being Acquitted", pp. 71-90. 6. Madsen, ''Being Acquitted'', 90, ênfase adicionada. 7. Madsen, "Being Acquitted",p. 89 8. Ver Madsen, "Being Absolute", pp. 76–78. 9. Rev. Daniel Sylvester Tuttle, em Francis W. Kirkham, A New Witness for Christ in America, 2 v. (Independence, MO: Zion’s Printing and Publishing Co., 1959), 2:360. 10. W. D. Purple, em Kirkham, New Witness for Christ, 2:366, ênfase no original. 11. Josiah Stowell Jr. to John S. Fullmer, February 17, 1843, em Mark Ashurst-McGee, "The Josiah Stowell Jr.—John S. Fullmer Correspondence", BYU Studies p. 38, no. 3 (1999): 113. A lei de perturbação da ordem pública, citada por Madsen, ''Being Acquitted'', p. 74, incluía ''todos os malabaristas'' definidos como ''aqueles que defraudam ou enganam por meio de prestidigitação, ou truques de habilidade extraordinária''. 12. Stowell to Fullmer, posdata de Josiah Stowell padre, em Ashurst-McGee, “Stowell Jr.—Fullmer Correspondence”, p. 114. 13. Madsen, "Being Acquitted", p; 74, citado de Revised Laws of New York (1813), 1:114, sec. I, ênfase adicionada. 14. Ver Brant A. Gardner, The Gift and Power: Translates the Book of Mormon (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2011), pp. 83–90 para uma discussão mais detalhada sobre o que distingue videntes legítimos daqueles em "conduta desordeira". Comentando sobre o julgamento de 1826, Gardner menciona: "A definição de uma pessoa com conduta desordeira era que ela "fingia ter astúcia fisionômica, quiromancia ou habilidade científica, ou conseguir prever o futuro, ou de localizar bens perdidos. A defesa de Joseph foi que não se tratava de qualquer pretensão. Tanto ele quanto aqueles que o apoiavam acreditavam que ele possuía, de fato, os talentos que professava.'' p. 89. 15. Ver Madsen, "Being Acquitted", pp. 86–87. 16. Madsen, "Being Acquitted", p. 88. 17. Sobre o julgamento de 1830, Ver Madsen, "Being Absolute", p. 92. 18. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, ''Por que Martin quis ver as placas em março de 1829?(2 Néfi 11:3)'', KnoWhy 592, (25 de janeiro de 2021). 19. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, ''Como podemos saber no que acreditar sobre o caráter pessoal de Joseph Smith?(3 Néfi 8:1)'', KnoWhy 413 (22 de agosto de 2018). 20. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que Joseph Smith pode servir de testemunha num tribunal aos 13 anos de idade?(Testemunho do Profeta Joseph Smith)'', KnoWhy 590 (14 de Janeiro de 2021).