KnoWhy #632 | Junho 24, 2022

Joseph Smith tentou assassinar o governador do Missouri, Lilburn Boggs?

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Central das Escrituras

"Tendo o Senhor me revelado estarem os meus inimigos outra vez à minha procura, tanto em Missouri como neste Estado... achei conveniente e sábio abandonar o lugar por certo tempo [...] Quando eu souber que a tempestade passou completamente, então voltarei para o meio de vós." Doutrina e Convênios 127:1

O conhecimento

Quando um assaltante desconhecido tentou, sem sucesso, assassinar o ex-governador Lilburn Boggs em 1842, muitas suspeitas foram levantadas no estado de Missouri em relação a Joseph Smith e contra os membros da Igreja. Afinal, em 1838 haviam sido vítimas da ordem de extermínio de Boggs. Essa tentativa de assassinato e as acusações subsequentes fizeram com que Joseph Smith se escondesse voluntariamente pelo restante de 1842, até que o caso chegou ao tribunal federal em Springfield, Illinois, em janeiro de 1843. Apesar das alegações de que Joseph Smith estava envolvido na tentativa de assassinato de Boggs, nenhuma evidência envolvendo Joseph Smith ou seus associados no crime jamais foi encontrada.

A tentativa de assassinato de Lilburn Boggs

Em 6 de maio de 1842, o ex-governador Lilburn Boggs estava sentado em sua sala de estar, lendo o jornal vespertino, quando um atirador desconhecido disparou vários tiros pela janela, ferindo Boggs na cabeça e no pescoço. Surpreendentemente, esse incidente não matou Boggs e ele se recuperou totalmente. A pistola descarregada foi deixada no local do crime, assim como algumas impressões digitais na janela, mas os investigadores da polícia não conseguiram identificar o agressor com base nessas evidências limitadas.1

Não demorou muito para que acusações e rumores começassem a circular em torno dos membros da Igreja, a quem Boggs havia expulsado violentamente do estado do Missouri anos antes, com uma Ordem de Extermínio de 1838.2 John C. Bennett, que havia sido recentemente excomungado de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias por seu comportamento desonesto e adúltero, alimentou rumores de que Joseph Smith havia enviado Porter Rockwell para "cumprir a profecia" e assassinar Boggs.3

Os membros da Igreja certamente não gostavam do governador Boggs, pois ele instigou atrocidades contra eles e se tornou um símbolo de perseguição sofrida pela Igreja. Wilford Woodruff registrou em seu diário que Boggs era um "desgraçado ímpio" que havia "caído em meio a suas iniquidades" por uma mão desconhecida.4 Uma submissão anônima ao jornal Nauvoo Wasp dizia: "Sem dúvida, Boggs sofreu [uma tentativa de assassinato], segundo o relatório; mas resta saber quem cometeu o nobre ato" 5.

Mas Joseph Smith e os Santos não eram os únicos suspeitos, pois Boggs acumulou muitos inimigos políticos e ideológicos ao longo dos anos. Na época em que foi atacado, ele concorria ao Senado estadual. Muitos de seus eleitores desaprovavam sua maneira de lidar com um impasse na disputa de divisas com o estado de Iowa, e outros questionavam sua maneira obscura de arrecadar fundos para uma nova sede do governo.6 Um ourives chamado Tompkins foi um dos principais suspeitos por um tempo. No entanto, um comitê civil inocentou Tompkins das acusações.7

Embora os membros da Igreja tivessem motivos para querer Boggs fora de cena, Joseph Smith e os membros negaram veementemente qualquer envolvimento no crime, e nenhuma evidência surgiu para condená-los. Joseph Smith declarou publicamente: "Ele não morreu por minha causa. Minhas mãos estão limpas e meu coração está limpo do sangue de todos os homens".8

Tentativas de extradição de Joseph Smith para o Missouri

No final de julho, três meses depois, Boggs estava convencido de que os membros da Igreja estavam envolvidos em sua tentativa de assassinato, então assinou uma declaração afirmando que Joseph Smith fora cúmplice de sua tentativa de assassinato. Isso levou o novo governador do Missouri, Thomas Reynolds, a emitir um pedido legal ao estado de Illinois para a extradição de Joseph Smith e Porter Rockwell.9

Joseph Smith contestou essa extradição com um habeas corpus no Tribunal Municipal de Nauvoo, não apenas porque acreditava que era inocente do crime, mas também porque acreditava que a extradição era inconstitucional e que Boggs não tinha como provar o contrário. Conforme a lei daquela época, um governador poderia exigir a extradição a outro governador, ao tentar prender um fugitivo que tivesse evadido o Estado. No entanto, independentemente do envolvimento teórico de Joseph Smith no crime, ele não estava no Missouri quando ocorreu e não havia fugido do estado. Ele acreditava que não poderia ser extraditado do estado de Illinois para julgamento no Missouri, já que nunca havia deixado Illinois, portanto, não poderia ter estado no Missouri.10 Este mandado judicial deixou o xerife que efetuou a prisão de Joseph inseguro, e ele saiu da delegacia para consultar seus superiores. Pelo xerife ter levado consigo os mandados de prisão, Joseph Smith e Porter Rockwell foram liberados da custódia. Assim, Joseph Smith fugiu para evitar o que considerava uma prisão ilegal.11

Após fugir das autoridades do Missouri por quase oito meses, Joseph Smith se submeteu à prisão quando um novo governador de Illinois assumiu o poder e parecia mais compreensivo ao profeta e à situação dos membros da Igreja. A audiência de Joseph foi realizada em 6 de janeiro de 1843, no Tribunal do Circuito dos Estados Unidos em Springfield, Illinois, em meio a considerável comoção em relação ao "profeta mórmon" e sua comitiva. O juiz Nathaniel Pope decidiu que Lilburn Boggs não apresentou provas suficientes para justificar uma extradição ao estado de Illinois. Pope disse:

Boggs foi baleado em 6 de maio. A declaração foi feita no dia 20 de julho seguinte. Era o momento de investigar, o que confirmaria ou dissiparia suas suspeitas. Ele teve tempo de reunir fatos para apresentar a um grande júri ou incorporar em seu depoimento. O tribunal é obrigado a assumir que este teria sido o procedimento do Sr. Boggs, mas que suas suspeitas eram leves e insatisfatórias.12 Esta audiência não se pronunciou sobre os méritos da ofensa subjacente. Nenhum tribunal determinou se Joseph Smith era culpado de participar da tentativa de assassinato de Boggs. Em vez disso, simplesmente determinou que a declaração juramentada de Boggs não continha evidências suficientes para apoiar a alegação de que Joseph Smith havia fugido da justiça no Missouri.13 Após meses se escondendo e longe de seus amigos e familiares, inclusive quando se entregou voluntariamente, Joseph foi liberado.14

O porquê

Apesar de ter sido perseguido implacavelmente por um crime que não cometera, Joseph Smith permanecera otimista e encorajara os membros da Igreja. Durante esse período escondido, escreveu duas cartas que foram canonizadas como Doutrina e Convênios, seções 127 e 128, detalhando alguns dos aspectos logísticos e práticos da realização de batismos pelos mortos.

É possível que a experiência ao lidar com os detalhes técnicos da lei de extradição constitucional pode ter ajudado Joseph Smith a perceber a importância de solidificar as estruturas e procedimentos para realizar e registrar ordenanças sagradas. Seu sucesso sobre a tentativa de extradição do estado de Missouri certamente destacou a importância de aderir aos detalhes da lei para garantir a execução da justiça. Em Doutrina e Convênios 127 e 128, Joseph Smith descreveu em detalhes a importância e os deveres de um registrador para que os batismos pudessem ser realizados corretamente, consistentemente, em um local adequado e de maneira organizada. A administração e o registro adequados dessas ordenanças garantem que a Casa de Deus seja uma "casa de ordem" e que a obra de salvação possa ser estendida a mais filhos de Deus.

Embora Doutrina e Convênios 127 e 128 tratem de logística, as cartas também contêm conteúdo inspirador sobre o evangelho de Jesus Cristo.15 Nestas cartas, Joseph Smith expôs a doutrina do selamento na Terra e no Céu, o simbolismo do batismo que leva da morte a uma nova vida, a evidência no Novo Testamento do batismo pelos mortos, a necessidade de fazer ordenanças no Templo por nossos ancestrais e registrar essas ordenanças na Terra, para poderem ser igualmente registradas no céu.

A fuga de Joseph Smith em 1842 destaca como a revelação pode ser recebida, apesar e devido à adversidade. Wilford Woodruff fez menção à época da fuga de Joseph: "O Senhor está com ele como estava na Ilha de Patmos com João"16. Assim como João, o Revelador, experimentou manifestações espirituais durante seu aprisionamento, Joseph Smith ainda recebeu revelações inestimáveis do Céu durante seu exílio voluntário. Diante de sua perseguição, ele declarou corajosa e enfaticamente:

Irmãos, não prosseguiremos em tão grande causa? Ide avante e não para trás. Coragem, irmãos; e avante, avante para a vitória! Regozije-se vosso coração e muito se alegre. Prorrompa a Terra em canto. Entoem os mortos hinos de eterno louvor ao Rei Emanuel, que estabeleceu, antes da fundação do mundo, aquilo que nos permitiria redimi-los de sua prisão; pois os prisioneiros serão libertados (Doutrina e Convênios 128:22).

Leitura Complementar

Jeffrey N. Walker, “Invoking Habeas Corpus in Missouri and Illinois”. Em Sustaining the Law: Joseph Smith’s Legal Encounters, ed. Gordon A. Madsen, Jeffrey N. Walker e John W. Welch (Provo, UT: BYU Studies, 2014), pp.357–399. Andrew H. Hedges y Alex D. Smith, “Joseph Smith, John C. Bennett, and the Extradition Attempt”, em Joseph Smith, the Prophet and Seer, ed. Richard Neitzel Holzapfel e Kent P. Jackson (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University; Salt Lake City: Deseret Book, 2010), pp. 437–466. Morris A. Thurston, “The Boggs Shooting and Attempted Extradition: Joseph Smith's Most Famous Case”, BYU Studies Quarterly48, nº. 1 (2009): pp.4–56. Andrew H. Hedges, “They Pursue Me without Cause: Joseph Smith in Hiding and D&C 127, 128”, Religious Educator 16, no. 1 (2015): pp.43–59. “Tentativas de extradição para o Missouri”, Tópicos da História da Igreja. “Um traidor ou um homem verdadeiro", cap. 38 de Santos: A História da Igreja de Jesus Cristo nos Últimos Dias, vol. 1, O Padrão da Verdade, 456–467 (Salt Lake City, UT: The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 2020), pp.456–467.

1.Um traidor ou um homem verdadeiro”, capítulo 38 em Santos: A História da Igreja de Jesus Cristo nos Últimos Dias, vol. 2, Nenhuma Mão Ímpia, 456–467 (Salt Lake City, UT: The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 2020), pp.456–457.2. David W. Kilbourne, agente dos correios em Montrose, Iowa, escreveu ao governador do Missouri, Thomas Reynolds, acusando Joseph Smith de incitar o crime. Ver D. W. Kilbourne to Thomas Reynolds, May 14, 1842, “Thomas Reynolds Letters,” citado em Morris A. Thurston, “The Boggs Shooting and Attempted Extradition: Joseph Smith’s Most Famous Case”, BYU Studies Quarterly 48, no. 1 (2009): pp.9–10. Um jornal do estado de Illinois argumentou que os membros da Igreja estavam por trás do ataque, já que Joseph havia supostamente profetizado a morte violenta de Boggs. Ver “Assassination of Ex-Governor Boggs of Missouri”, Quincy Whig, May 21, 1842, [3]. 3. Ver “Nauvoo,” Warsaw Signal, July 9, 1842, 2. 4. Wilford Woodruff Journal, May 15, 1842.5. Vortex, letter to the editor, The Wasp, May 28, 1842, 2. 6.Um traidor ou um homem verdadeiro”, p.456. 7. Thurston, “Boggs Shooting and Attempted Extradition”, 9. 8. “Assassination of Ex-Governor Boggs of Missouri”, Quincy Whig, June 4, 1842. 9. Thurston, “Boggs Shooting and Attempted Extradition”, 13. O depoimento de Boggs foi copiado do diário de Joseph Smith; Ver "Journal, December 1841–December 1842, p. 213, The Joseph Smith Papers, acessado em 11 de maio de 2022. 10. Andrew H. Hedges y Alex D. Smith, “Joseph Smith, John C. Bennett, and the Extradition Attempt”, em Joseph Smith, the Prophet and Seer, ed. Richard Neitzel Holzapfel e Kent P. Jackson (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University; Salt Lake City: Deseret Book, 2010), pp. 449–450.

11. Sobre a legalidade e precedência do tribunal municipal de Nauvoo concedendo um mandado de habeas corpus, consulte Jeffrey N. Walker, “Invoking Habeas Corpus in Missouri and Illinois", em Sustaining the Law: Joseph Smith’s Legal Encounters, ed. Gordon A. Madsen, Jeffrey N. Walker e John W. Welch (Provo, UT: BYU Studies, 2014), pp.357–399.

12. Citado em Thurston, “Boggs Shooting and Attempted Extradition”, pp.37–44. 13. Thurston, “Boggs Shooting and Attempted Extradition”, p.47. 14. Após a decisão do tribunal a favor de Joseph, Porter Rockwell, que havia se escondido na Pensilvânia e em Nova Jersey, decidiu retornar à Nauvoo. Ele foi localizado e preso por um caçador de recompensas em sua viagem de volta e definhou na prisão por nove meses antes de ser levado perante um júri, que concluiu que não haver provas suficientes para acusar ou condenar Rockwell de qualquer crime contra Lilburn Boggs. Ver Thurston, “Boggs Shooting and Attempted Extradition”, pp.52–54. 15. Andrew H. Hedges, “They Pursue Me without Cause”: Joseph Smith in Hiding and D&C 127, 128”, Religious Educator 16, no. 1 (2015): pp.43–59.

16. Wilford Woodruff Journal, September 19, 1842. Ver Matthew McBride, "Cartas Sobre o Batismo pelos Mortos", em Revelações em contexto As Histórias por trás das Revelações de Doutrina e Convênios, ed. Matthew McBride e James Goldberg (Salt Lake City, UT: The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, 2016).

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