KnoWhy #5 | Dezembro 31, 2016
Leí usou a linguagem da antiga poesia beduína?
Postagem contribuída por
Scripture Central

"Oh! Tu poderias ser como este rio, continuamente correndo para a fonte de toda retidão! Oh! Tu poderias ser como este vale, firme, constante e imutável em guardar os mandamentos do Senhor!" 1 Néfi 2:9–10
O Conhecimento
Após servir na Segunda Guerra Mundial, Hugh Nibley iniciou sua notável carreira como professor de línguas antigas e escrituras na Universidade Brigham Young. Como oficial de inteligência do Exército dos EUA, ele ficou fascinado com culturas de todos os tipos, incluindo a árabe e outras sociedades do Oriente Médio. Em 1950, Nibley publicou uma série de artigos na revista emblemática de A Igreja de Jesus Cristo Santos dos Últimos Dias, The Improvement Era. Nesta série, Hugh comparou muitos pontos da cultura, costumes sociais e linguagem encontrados nas primeiras quarenta páginas do Livro de Mórmon com práticas encontradas entre as tribos beduínas do Oriente Médio.1 Leí e sua família, assim como os beduínos, habitaram no deserto. É preciso muito para sobreviver nos desertos da Arábia, como Nibley e os líderes militares americanos haviam experimentado em suas campanhas, especialmente no Egito e no restante do norte da África.

Como parte de sua série, ''Leí no Deserto'', Nibley sugeriu muitas comparações interessantes entre Leí e os árabes. Ele descobriu que as palavras e imagens do sonho de Leí possuem os mesmos traços e características do estilo dos xeque, líderes do povo que vivia no deserto. A experiência de habitar em tendas e os rigores da jornada, os desafios para transportar cargas e alimentos, esquivar-se de estranhos, a dinâmica familiar, a identificação de lugares e, principalmente, a alegria de encontrar água, faziam parte da experiência desses viajantes do deserto.
Em uma comparação importante, Nibley, o linguista, atingiu seu auge quando detectou e explorou características distintas da poesia árabe primitiva praticada pelos beduínos do deserto da Arábia.2 Seu estudo identificou e descreveu seis, depois divididos em sete, componentes comuns da poesia do deserto, que eram “exigidos do verdadeiro e autêntico poeta do período mais antigo”.3 Estes componentes são descritos da seguinte forma:
- São Brunnen [lieder] ou Quellenlieder, em alemão, que significa canções inspiradas por ver a água jorrando de uma fonte ou a fluir em um vale.
- São dirigidos a um ou (geralmente) dois companheiros de viagem.
- Elogiam a beleza e a excelência da cena, chamando a atenção do ouvinte como uma lição objetiva.
- O ouvinte é exortado a ser como o que contempla.
- Os poemas são recitados extemporaneamente, ou de improviso, e com grande sentimento.
- São muito curtos, cada dístico é um poema completo por si só.
- Cada versículo deve ser seguido por um "irmão", formando um par perfeito. 4
Todos esses sete componentes são primorosamente atendidos pelas exortações poéticas de Leí a seus dois filhos mais velhos, Lamã e Lemuel, em 1 Néfi 2:9-10, onde ele diz:
''E quando meu pai viu que as águas do rio desaguavam na fonte do Mar Vermelho, falou a Lamã, dizendo: "Oh! Tu poderias ser como este rio, continuamente correndo para a fonte de toda retidão!" E também disse a Lemuel: "Oh! Tu poderias ser como este vale, firme, constante e imutável em guardar os mandamentos do Senhor!"5
Aqui, Leí: (1) vê que o rio corre pelo vale e deságua no mar, (2) fala a dois de seus filhos que viajam com ele, (3) torna a majestade da cena uma lição objetiva para eles, (4) os exorta a ser como o rio e o vale, (5) parece dar conselhos poéticos improvisados, (6) cada verso é conciso e pode ser completo por si só, e (7) combina dois dísticos perfeitamente equilibrados, dirigidos aos irmãos, sem dúvida. Assim, a poesia de Leí compartilha todas as sete características da poesia árabe mencionadas por Nibley.
O porquê

Quando publicou seu estudo pela primeira vez em 1950, Nibley ficou maravilhado: "Não pode haver evidência mais surpreendente ou impressionante para a autenticidade do Livro de Mórmon do que esses pequenos versos eloquentes […] que Leí em certa ocasião dirigiu a seus filhos rebeldes".6
Embora essa resposta entusiasmada inicial tenha sido modestamente atenuada em edições posteriores7 Nibley, no entanto, permaneceu justificadamente impressionado: "Temos aqui, sem sombra de dúvida, todos os elementos de uma situação da qual nenhum ocidental em 1830 tinha a mais remota concepção. Leí nos parece uma espécie de poeta, bem como um grande profeta e líder, e é assim que deveria ser".8
Nibley conclui: "Seria tão impossível para o homem mais instruído vivo em 1830 ter escrito o livro quanto foi para Joseph Smith."9
Embora a poesia árabe estudada por Nibley seja de um período posterior e tenha várias outras características que não se encontram no Livro de Mórmon, os atributos compartilhados entre as palavras de Leí e as práticas prevalentes entre os beduínos podem indicar uma origem geográfica comum, ou mesmo uma origem literária relacionada.
Ademais, não devemos deixar de notar que Leí também poderia ter usado seu conhecimento, como profeta, das palavras de Isaías. Em Isaías 48:18, o Redentor de Israel clama: "Ah, se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos! Então seria a tua paz como o rio, e a tua justiça, como as ondas do mar". Leí, ao ver o vale com seus paredões seguros e o pequeno rio que desembocava no Mar Vermelho, onde ele e sua família haviam se abrigado, implorou profética e poeticamente a seus filhos mais velhos que guardassem os mandamentos, firme e continuamente.
O fato de Leí inverter a ordem de Isaías de mandamentos//justiça para justiça// mandamentos pode indicar que Leí conscientemente fazia alusão a essa passagem de Isaías.10 Essa sugestão pode ser apoiada no fato que essa passagem de Isaías é citada por Néfi no final de 1 Néfi, em 1 Néfi 20:18.
A leitura que Nibley faz da poesia de Leí, além de reconhecer a sensibilidade israelita e paternal de Leí, oferece vários motivos para lermos o texto em 1 Néfi 2:9-10 como algo bonito e bem elaborado, o que era perfeitamente adequado à situação pessoal de Leí e sua família, criando uma escrita maravilhosamente inspirada.
Leitura Complementar
Hugh Nibley, Lehi in the Desert/The World of the Jaredites/There Were Jaredites, The Collected Works of Hugh Nibley: Volume 5 (Salt Lake City/Provo, UT: Deseret Book and FARMS, 1988), pp. 84–92. Hugh Nibley, An Approach to the Book of Mormon, The Collected Works of Hugh Nibley: Volume 6 (Salt Lake City/Provo, UT: Deseret Book and FARMS, 1988), pp. 265–277.1. Em Boyd Jay Peterson, Hugh Nibley: A Consagrated Life (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2002), p. 249, Peterson cita uma carta de Nibley enviada a seu amigo Paul Springer, descrevendo seu método: ''Para fazer um experimento, decidi, há um ano, restringir toda a minha atenção a alguns capítulos e simplesmente desmanchá-los. Isso exigiu muita pesquisa […] mas foi muito gratificante.'' (citação de Hugh Nibley, Carta a Paul Springer, sem data, 1950). 2. Ver Hugh Nibley, ''Lehi in the Desert—Part VI'', Improvement Era 53/6 (June 1950): pp. 517–518; Hugh Nibley, ''Lehi in the Desert-Part VII'', Improvement Era 53/7 (July 1950): pp. 566–567, 587–588; reimpresso em Hugh Nibley, Lehi in the Desert/The World of the Jaredites/There Were Jaredites, The Collected Works of Hugh Nibley: Volume 5 (Salt Lake City/Provo, UT: Deseret Book and FARMS, 1988), pp. 84–92. 3. Nibley, Lehi in the Desert, p. 90. 4. Nibley, Lehi in the Desert, p. 90. Os números 6 e 7 estão mesclados no original. Ver Nibley, ''Lehi in the Desert—Part VII'', p. 567. 5. Pontuação e formatação retiradas de Grant Hardy, ed. The Book of Mormon: A Reader 's Edition (Urbana/ Chicago, IL: University of Illinois Press, 2003), p. 8. 6. Nibley, ''Lehi in the Desert—Part VI'', p. 517. 7. Ver a declaração revisada em Nibley, Lehi in the Desert, p. 85. 8. Nibley, Lehi in the Desert, pp. 90–91. 9. Nibley, Lehi in the Desert, p. 123. 10. Diz-se que tais inversões nas citações seguem a Lei de Seidel. Ver Dave Bokovoy, ''Inverted Quotations in the Book of Mormon'', Insights: A Window on the Ancient World 20/10 (October 2000): p. 2; David E. Bokovoy e John A. Tvedtnes, Testaments: Links Between the Book of Mormon and the Hebrew Bible (Tooele, UT: Heritage Press, 2003), pp. 56–60.