KnoWhy #559 | Abril 30, 2020

O que os leitores podem aprender com as tradições lamanitas?

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Scripture Central

"Eram um povo selvagem, feroz e sanguinário, acreditando na tradição de seus pais, que é esta — Acreditavam que haviam sido expulsos da terra de Jerusalém por causa da iniquidade de seus pais e que haviam sido injustiçados por seus irmãos no deserto; e que também haviam sido injustiçados enquanto atravessavam o mar; E também que haviam sido injustiçados na terra de sua primeira herança, depois de haverem atravessado o mar [...] porque diziam que ele tirara de suas mãos [...] [e] porque partiu para o deserto [...] e levou os registros que estavam gravados nas placas de latão; porque diziam que ele os havia roubado." Mosias 10:12–16

O Conhecimento

À medida que os leitores se deparam com as frequentes batalhas sangrentas entre nefitas e lamanitas, pode ser difícil entender quais fatores levaram estes dois povos a conflitos tão frequentes, culminando no fim da nação nefita. Cada guerra entre esses grupos provavelmente teve suas próprias causas imediatas dentro de seu contexto histórico, cultural, político e econômico.1 Em essência, no entanto, a guerra persistente e contínua foi impulsionada por diferenças ideológicas gerais entre os nefitas e os lamanitas, que remontam às visões conflitantes sobre sua origem compartilhada.

O Livro de Mórmon representa principalmente a visão nefita: Leí foi um profeta inspirado, que conduziu sua família para fora de Jerusalém pouco antes de ela ser destruída e recebeu a garantia de uma terra prometida para sua posteridade. Néfi, como filho fiel e obediente, foi escolhido pelo Senhor para ser o governante e mestre da família e de seu povo após a morte de Leí. Com a ajuda do Senhor, Néfi realizou feitos impressionantes repetida e milagrosamente, como obter as placas de latão, usar a Liahona para obter alimentos e construir e navegar um navio através dos oceanos, provando sua posição como herdeiro legítimo de Leí, apesar de ser o mais jovem dos filhos de Leí nascidos em Jerusalém.2

Infelizmente, Lamã e Lemuel percebiam as coisas de maneira diferente e transmitiram uma tradição que perpetuou sua perspectiva sobre esses eventos. A compreensão total de seus pontos de vista é impossível, pois não há registro lamanita direto disponível hoje, mas a tradição lamanita é resumida, da perspectiva nefita, em pelo menos cinco lugares no Livro de Mórmon (ver 1 Néfi 16:35–38; 17:17–22; Mosias 10:12–17; Alma 20:10, 13; 54:16–17, 20–24). 3

Com base nessas pistas, Lamã e Lemuel evidentemente concordaram com os "judeus de Jerusalém", acreditando que o povo de Jerusalém vivia corretamente a Lei de Moisés, e rejeitaram a veracidade das revelações de Leí e Néfi.4 Em sua opinião, Richard L. Bushman observou: "[E]stavam vivendo uma vida agradável em meio a seus tesouros e objetos de valor na terra de Jerusalém", e Leí, apoiado por Néfi, "os separou desses prazeres e os sujeitou a perigo, tristeza e fome". No deserto, "eles se enfureceram repetidas vezes, cada vez que os eventos revisitavam sua queixa fundamental: que foram forçados a sofrer privações porque Néfi tentou governá-los".5

Portanto, Lamã e Lemuel acreditavam que foram erroneamente "expulsos da terra de Jerusalém por causa da iniquidade" de Leí, e que foram "injustiçados por seus irmãos no deserto", e que foram ''injustiçados enquanto atravessavam o mar", e que Néfi também os "injustiç[ou] na terra de sua primeira herança,'' e que "ele tirara de suas mãos o governo do povo" e "havia roubado" deles os "registros que estavam gravados nas placas de latão" (Mosias 10:12–16).6 ''Do ponto de vista deles'', observou Randal A. Wright, ''sentiam terem muitas evidências para apoiar suas afirmações. Podiam olhar nos olhos de seus filhos e acreditar estarem dizendo a verdade ao falar das iniquidades de Leí e Néfi".7

O porquê

Por mais sinceros que Lamã e Lemuel possam ter sido sobre esses pontos de vista, Bushman observou que não podemos "reivindicar os lamanitas [...] a história dos lamanitas seria uma história amarga, de um povo assombrado por um sentimento perpétuo de privação, prejudicado a princípio, como eles pensavam, e prejudicado para sempre, vivendo para se vingar, com sangue em suas espadas".8 Wright acrescentou: ''Lamã e seus muitos descendentes passaram a vida inteira focando no que perderam e prestando pouca atenção ao fato de terem sido abençoados com muito mais do que toda a riqueza que deixaram para trás em Jerusalém''.9

No entanto, é valioso entender o ponto de vista lamanita, mesmo que essa perspectiva seja egoísta e sem fundamento histórico.10 Na verdade, quando Wright começou a investigar a visão lamanita sobre o Livro de Mórmon, "acabou sendo uma das coisas mais enriquecedoras" que já havia feito.11 Wright tirou várias lições desse exercício, como:

  • Se as crianças forem ensinadas a odiar os outros, é difícil mudar essa ideia.
  • Um líder justo ou perverso pode iniciar tradições que durarão gerações.
  • Muitas vezes nos concentramos tanto no que os outros têm que nos esquecemos do que temos.12

Bushman também argumentou haver valor em aprender do ponto de vista lamanita. "A maneira como escrevemos a história está intimamente ligada aos valores culturais centrais, ao recapturar a perspectiva lamanita, obtemos uma visão mais clara das duas culturas e, como resultado, uma compreensão mais profunda da religião nefita".13

De acordo com Bushman, a "história dos lamanitas" ensina aos leitores "as terríveis consequências de mal interpretar o passado". Bushman detalhou:

Os lamanitas entenderam mal seu passado nacional, portanto, entenderam mal seu propósito como nação. Sua história lhes ensinou que haviam sido injustiçados e que era seu destino corrigir esse erro por meio de uma guerra implacável contra os nefitas. A tradição errônea de seus pais foi a causa de esforço desperdiçado, sofrimento incalculável e rios de sangue.14

Somado a isso, a saga em curso entre nefitas e lamanitas revela que, embora “possamos realmente ter que nos defender com força” às vezes, “a defesa com armas não acabará com as guerras”.15 Os lamanitas finalmente regressaram com força repetidas vezes, até aniquilarem os nefitas por completo. Em vez disso, Bushman apontou para os filhos de Mosias, que decidiram convencer os lamanitas da falsidade de suas tradições, convertendo-os ao evangelho de Jesus Cristo (Alma 17:9; 24:7; 25:6). Embora reconhecendo que sua missão "não acabou permanentemente com as guerras lamanitas", observou Bushman, "os filhos de Mosias mostraram como alcançar a paz por meio da conversão a Cristo e da história correta da fundação da nação".16

Da mesma forma, nos tempos modernos, é crucial preservar e proteger uma visão correta do passado. Manter e consultar registros contemporâneos dos eventos de fundação sobreviventes são etapas necessárias para transmitir uma compreensão precisa do passado. Além disso, reconhecer e cultivar o Espírito de Deus traz vida à história de qualquer nação ou povo. Como Alma aprendeu por meio de seu devotado serviço, que "a pregação da palavra [...] [poderia ter] um efeito mais poderoso sobre a mente do povo do que a espada" (Alma 31:5). Na verdade, a chave para a paz mundial duradoura é encontrada no Evangelho de Jesus Cristo.

Leitura Complementar

Neal Rappleye, ''The Deuteronomist Reforms and Lehi’s Family Dynamics: A Social Context for the Rebellions of Laman and Lemuel'' Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 16 (2015): pp. 87–99. Randal A. Wright, The Book of Mormon Miracle: 25 Reasons to Believe (Springville, UT: Cedar Fort, 2014), pp. 59–73. Richard L. Bushman, ''The Lamanite View of Book of Mormon History'', em By Study and Also by Faith: Essays in Honor of Hugh W. Nibley on the Occasion of His Eightieth Birthday, 2 v., ed. John M. Lundquist e Stephen D. Ricks (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e FARMS, 1990), 2:52–72. Noel B. Reynolds, ''The Political Dimension in Nephi’s Small Plates'', BYU Studies 27, nº. 4 (1987): pp. 15–20.

1. Ver o gráfico na Central do Livro de Mórmon, ''Por que há tantos capítulos de guerra no Livro de Mórmon?(Alma 49:9)'', KnoWhy157 (11 de julho de 2017) sobre alguns dos detalhes contextuais imediatos das várias guerras nefitas e lamanitas. Ver também John W. Welch, ''Why Study Warfare in the Book of Mormon?'' em Warfare in the Book of Mormon, ed. Stephen D. Ricks e William J. Hamblin (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e FARMS, 1990), pp. 6–15. Brant E Gardner, Traditions of the Fathers: The Book of Mormon as History (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2015), pp. 312–316 fornece algumas informações sobre as prováveis causas contextuais das guerras em Alma e Helamã. 2. Ver Noel B. Reynolds, ''The Political Dimension in Nephi’s Small Plates'', BYU Studies 27, nº. 4 (1987): pp. 15–37. Ver também Noel B. Reynolds, ''Nephi’s Political Testament'', em Rediscovering the Book of Mormon: Insights You May Have Missed Before, ed. John L. Sorenson e Melvin J. Thorne (Provo, UT: FARMS, 1991), pp. 220–229. 3. Ao discutir sobre Mosias 10:12–17, Brant A. Gardner, Second Witness: Analytical and Contextual Commentary on the Book of Mormon, 6 v. (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2007), pp. 247–248 adverte que, embora tenha a intenção de mostrar o ponto de vista lamanita, deve ser manuseado com cuidado, por ser derivado de fontes nefitas e trai claros estereótipos nefitas (embora, em Second Witness 4:314 Gardner reconhece que Mosias 10:12–17 é o melhor resumo da tradição lamanita). Outras precauções semelhantes também devem ser consideradas ao lidar com a maioria das outras passagens (por exemplo, 1 Néfi 16:35–38; 17:17–22 e Alma 20:10, 13). Há uma exceção importante em Alma 54:16–17, 20–24, que é uma fonte primária de Amaron, o rei lamanita. Embora Amaron fosse zoramita de nascimento e politicamente um nefita durante a maior parte de sua vida, ele abraçou totalmente a ideologia lamanita na época em que se tornou o rei lamanita. Amaron confirma os detalhes centrais da tradição lamanita representada nas fontes nefitas. 4. Ver Neal Rappleye, ''The Deuteronomist Reforms and Lehi’s Family Dynamics: A Social Context for the Rebellions of Laman and Lemuel'', Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 16 (2015): pp. 87–99. 5. Richard L. Bushman, ''The Lamanite View of Book of Mormon History'', em By Study and Also by Faith: Essays in Honor of Hugh W. Nibley on the Occasion of His Eightieth Birthday, 2 v, ed. John M. Lundquist e Stephen D. Ricks (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e FARMS, 1990), 2:58. Para obter um resumo dos pontos-chave sobre a opinião lamanita, consulte Reynolds, ''Dimensão política'', pp. 15–20. 6. As placas de latão, com outros emblemas como a espada de Labão e a Liahona, tinham um significado simbólico relacionado à legitimidade da autoridade espiritual e política. Portanto, o fato de Néfi pegar esses itens estaria diretamente relacionado à visão lamanita de que ele lhes roubou "o direito de govern[ar], quando legitimamente lhes pertencia" (Alma 54:17). Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, ''Por que os nefitas mantinham alguns itens como 'tesouros nacionais'? (Mosias 1:6)'', KnoWhy 557 (16 de abril de 2020). 7. Randal A. Wright, The Book of Mormon Miracle: 25 Reasons to Believe (Springville, UT: Cedar Fort, 2014), p. 64. 8. Bushman, ''Lamanite View'', p. 70. 9. Wright, Book of Mormon Miracle, p. 72. 10. Claramente, os lamanitas não tinham os registros de seus primórdios como nação, e sua história oral poderia ser manipulada para servir a agendas políticas atuais. Se fossem mais diligentes, os historiadores poderiam ter evitado parte de sua guerra e má vontade. 11. Wright, Book of Mormon Miracle, p. 60. 12. Wright, Book of Mormon Miracle, p. 73, inclui esses três pontos com vários outros destacando as lições que ele aprendeu ao ler o Livro de Mórmon com o ponto de vista lamanita em mente. 13. Bushman, ''Lamanite View'', p. 52. 14. Bushman, ''Lamanite View'', p. 71. 15. Bushman, ''Lamanite View'', p. 71. 16. Bushman, ''Lamanite View'', pp. 69–70.

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