KnoWhy #555 | Abril 7, 2020
A mãe de Joseph Smith realmente acreditava que ele poderia ter escrito o Livro de Mórmon?
Postagem contribuída por
Scripture Central
"Fé não é ter um perfeito conhecimento das coisas; portanto, se tendes fé, tendes esperança nas coisas que se não veem e que são verdadeiras." Alma 32:21
O Conhecimento
Lucy Mack Smith (1775–1856), mãe do Profeta Joseph Smith, era estava crente e comprometida com o chamado divino de seu filho. Perto do fim de sua vida e não muito depois da morte de seus filhos Joseph, Hyrum e Samuel em 1844, Lucy "talvez em parte como um alívio para sua dor", e por insistência do Quórum dos Doze Apóstolos, "começou a registrar a história de sua família".1 Nas palavras de Lucy, um dos propósitos de sua história era fornecer "os detalhes de como Joseph obtivera as placas, vira anjos [...] e muitas outras coisas que Joseph nunca escrevera ou publicara".2 O resultado dessa história provou ser de grande valor para os historiadores e "juntamente com a [própria] história de Joseph Smith, a história de Lucy Mack Smith" é uma das fontes mais amplamente usadas para reconstruir o início da vida do Profeta e os eventos relacionados ao surgimento do Livro de Mórmon.3
Em um ponto da história, Lucy relata como Joseph foi visitado por um anjo que lhe contou sobre "um registro" que "traria de volta aquela luz e inteligência há muito tempo perdidas na Terra". O anjo disse que este registro (descrito como as "placas") estava escondido "na encosta de uma colina no Monte Cumora, a 5 km" da fazenda da família Smith.4 Lucy registra que, após contar a sua família sobre o anjo, Joseph reuniu sua família para "recitar" a eles o que ouvira sobre o anjo. Como Lucy lembrou,
[Joseph] começou a explicar-nos as instruções que tinha recebido. Nos encarregou de não contar a ninguém [que não fosse] da família o que ele nos dissera, pois o mundo era tão perverso que, quando eles soubessem dessas coisas, tentariam tirar nossas vidas e assim que ele pegasse as placas, nossos nomes seriam expostos como maus pelas pessoas.5
"A partir desse momento", continua Lucy, "Joseph continuou a receber instruções de tempos em tempos."6 Nesse contexto, Lucy contou como Joseph instruíra sua família sobre assuntos relacionados ao Livro de Mórmon, que ele evidentemente ouviu do anjo. Conforme registrado em sua história:
Durante nossas conversas noturnas, Joseph ocasionalmente nos dava algumas das narrativas mais fascinantes que se possa imaginar: ele descrevia os antigos habitantes desse continente; suas vestimentas, seu modo de viajar e os animais em que cavalgavam; suas cidades e suas construções, com todas as particularidades; descrevia seu "método" de guerra e também sua adoração religiosa. Aparentemente, o fazia com grande facilidade, como se tivesse passado toda a sua vida com eles.7
Esta imagem de Lucy sobre o "jovem [Joseph fornecendo a sua família] relatos sobre os antigos habitantes das Américas, conforme descrito no Livro de Mórmon",8 durante seus anos de formação, chamou a atenção daqueles que consideram Joseph o autor do livro. Para eles, esse relatório é uma evidência de que, desde muito jovem, Joseph foi abençoado com uma mente criativa e imaginativa.9 Resumindo a conclusão que algumas pessoas tiraram dessa interpretação descrente desse relato de Lucy, B.H. Roberts observou: ''Esses recitais noturnos não poderiam vir de outra fonte senão a imaginação vívida e construtiva de Joseph Smith, um poder notável que acompanhou toda a sua vida''.10
No entanto, esta interpretação da história de Lucy está completamente em desacordo com seu próprio testemunho, bem como com o propósito geral de sua história. Lucy expressa claramente essas "apresentações fascinantes" sob o contexto no qual Joseph estaria recebendo instruções de um anjo sobre a publicação do registro. Em seu relato, esta realidade é dada como certa. Lucy nunca insinuou a sua família que seu filho seria um historiador imaginativo. Em vez disso, a família interpretou as histórias de Joseph como um sinal de que ele foi verdadeiramente inspirado por Deus.
"Agora estávamos confirmados em nossa opinião", escreveu Lucy, "de que Deus estava prestes a trazer à luz algo em que poderíamos fixar nossa mente, ou que nos daria um conhecimento mais perfeito do plano de salvação". Ela indicou que isto "causou grande alegria [à família Smith]".11 Na verdade, a palavra que Lucy usou para descrever esta época foi "peculiar", pois até aquele momento seu filho, embora "se envolvesse em muita reflexão e estudo profundo", "nunca havia lido a Bíblia em sua vida", e ''estava menos inclinado ao estudo dos livros do que qualquer [filho dos Smiths]".12 Para Lucy, todo o episódio com o anjo e as placas foi uma realidade milagrosa.
O próprio Profeta testificou em sua história de 1842 que, além do anjo que lhe contou sobre a vinda do Messias, "ele também foi informado [pelo anjo] sobre os habitantes nativos deste país e mostrou-lhe quem eram e de onde vieram; um breve esboço de suas origens, progresso, civilização, leis, governos, de sua justiça e iniquidades, e das bênçãos de Deus sendo finalmente retiradas deles como povo". Como sua mãe, o Profeta atribuiu o recebimento dessa informação a suas experiências visionárias com o anjo ("foi-me dado a conhecer"), e não a qualquer grande imaginação.13
Isso é reforçado por William Smith, irmão mais novo de Joseph, por uma lembrança dada mais tarde em sua vida. "[O] anjo apareceu a [Joseph] novamente" na manhã após seu primeiro encontro na noite de 21/22 de setembro de 1823, William lembrou, "e disse-lhe para reunir os da casa de seu pai e comunicar-lhes as visões que tinha recebido". Como William continuou,
Ele então pediu que fôssemos até a casa, pois tinha algo a nos dizer. Depois que estávamos todos reunidos, se levantou e nos contou como o anjo aparecera a ele; o que ele havia dito como previamente escrito; e que o anjo também lhe dera um breve relato dos habitantes que anteriormente viveram neste continente, uma história completa do que ele contou, foi gravada em algumas placas ocultas que o anjo prometeu mostrar a ele.
Consistente com a lembrança de Lucy, William descreveu como "toda a família começou a chorar e acreditou em tudo o que ele disse". William estava convencido de que, por não ter "desfrutado das vantagens de uma educação comum" e devido a seu verdadeiro "caráter e disposição", Joseph era incapaz de inventar tal história. "Portanto, [toda a família] acreditou nele e esperou ansiosamente o resultado de sua visita ao Monte Cumora, em busca das placas contendo o registro que o anjo lhe havia contado."14
Wandle Mace, que conhecia Lucy e Joseph Sr., lembrou-se de Lucy contando a ele como, em suas reuniões familiares, Joseph "descreveu a aparência dos nefitas, seu modo de vestir e lutar, seus implementos de agricultura, etc., e muitas outras coisas, [o que] aconteceu em sua visão". De acordo com Mace, isso fez a família Smith se regozijar. Ele citou Lucy como exclamando: "Verdadeiramente, nossa família era feliz, embora perseguida por pregadores [...] Joseph teve uma visão.''15 Como a memória de William, a memória de Mace é clara, Lucy entendeu que o conhecimento de Joseph sobre os antigos nefitas veio por revelação, não por sua imaginação.
O porquê
Muitos que desacreditam o testemunho do Profeta Joseph Smith provavelmente continuarão a suspeitar que a imaginação juvenil do profeta foi a origem do Livro de Mórmon. Seja como for, a abordagem descrente não pode adjudicar a Lucy Mack Smith, ou outro membro da família Smith, como seus apoiadores.16 As fontes históricas existentes dos membros da família Smith são precisas em sua fé afirmativa no relato de Joseph sobre seus encontros angelicais. ''A declaração de Lucy no contexto, é a voz de uma testemunha vendo um milagre acontecer por meio do encontro de Joseph com Morôni e o Livro de Mórmon'', comentou um escritor. "[O] toque sincero e inspirador de sua declaração", infelizmente, é muitas vezes mal utilizado por outros que querem transformar Joseph em "um contador de histórias divertido que era habilidoso em criar coisas, explicando assim as origens do Livro de Mórmon como obra da imaginação de Joseph". Esta interpretação, no entanto, não é "exatamente fiel às declarações que Lucy realmente deu".17
Além disso, o testemunho de Lucy sobre o chamado divino de seu filho foi compartilhado pelo restante da família.18 William Smith relembra seu próprio irmão "aos dezessete anos, com a formação moral que recebeu de pais estritamente piedosos e religiosos, não poderia ter concebido em sua mente a ideia de inventar uma história extraordinária, como ver anjos; relacionado à descoberta de placas de ouro". Ele insistiu que "não havia um único membro de sua família com idade suficiente para distinguir o certo do errado que não tivesse confiança implícita nas declarações feitas por [seu] irmão Joseph a respeito de sua visão, portanto, do conhecimento que obteve com respeito as placas". 19
Além disso, mesmo sabendo poucos detalhes sobre a cultura material, isso pouco teria ajudado Joseph a produzir o Livro de Mórmon. Na verdade, muito pouco foi dito nesse livro sobre coisas como roupas, meios de transporte, animais, edificações nas cidades e implementos agrícolas. Tal informação por si só ainda está longe de explicar a presença deste livro de Escrituras.
Por essas razões, a mãe de Joseph Smith não acreditava que seu filho pudesse ter escrito o Livro de Mórmon. Longe de colocar dúvidas sobre a credibilidade de Joseph, o testemunho consistente de Lucy sobre as "histórias entretidas" de seu filho decorrentes das instruções de Morôni, apoia a fé nas afirmações do Profeta.20
Leitura Complementar
Central do Livro de Mórmon, ''Como podemos saber no que acreditar sobre o caráter pessoal de Joseph Smith?'' KnoWhy 413 (22 de agosto de 2018). Central do Livro de Mórmon, ''Como o testemunho de Lucy Mack Smith sobre o Livro de Mórmon pode nos fortalecer?'' KnoWhy 379 (18 de junho de 2018). Amy Easton-Flake e Rachel Cope, ''A Multiplicity of Witnesses: Women and the Translation Process'', em The Coming Forth of the Book of Mormon: A Marvelous Work and a Wonder, editado por Dennis L. Largey, Andrew H. Hedges, John Hilton III e Kerry Hull (Provo, UT: Religious Studies Center; Salt Lake City: Deseret Book, 2015), pp. 133–153.1. ''Historical Introduction'', Lucy Mack Smith, History, 1844–1845. 2. Lucy Mack Smith para William Smith, 23 de janeiro de 1845, citado em "Historical Introduction", Lucy Mack Smith, História, 1844–1845, gramática padronizada. 3. Sharalyn D. Howcroft, ''A Textual and Archival Reexamination of Lucy Mack Smith’s History'', em Foundational Texts of Mormonism: Examining Major Early Sources, ed. Mark Ashurst-McGee, Robin Jensen e Sharalyn D. Howcroft (New York, NY: Oxford University Press, 2018), p. 289. 4. Lucy Mack Smith, History, 1844–1845, bk. 3, pp. 10-115. Lucy Mack Smith, History, 1844–1845, bk. 3, p. 12, ortografia padronizada. 6. Lucy Mack Smith, History, 1844–1845, bk. 4, p. 1. 7. Lucy Mack Smith, History, 1845, p. 87. 8. Howcroft, ''A Textual and Archival Reexamination of Lucy Mack Smith’s History,'' p. 289. 9. Ver, por exemplo, I. Woodbridge Riley, The Founder of Mormonism (New York, NY: Dodd, Mead & Company, 1903), 120; Robert D. Anderson, Inside the Mind of Joseph Smith: Psychobiography and the Book of Mormon (Salt Lake City, UT: Signature Books, 1999), pp. 73–74; David Persuitte, Joseph Smith and the Origins of The Book of Mormon, 2nd ed. (Jefferson, NC: McFarland, 2000), p. 17; Dan Vogel, Joseph Smith: The Making of a Prophet (Salt Lake City, UT: Signature Books, 2004), p. 51. 10. B. H. Roberts, Studies of the Book of Mormon, ed. Brigham D. Madsen (Urbana and Chicago, IL.: University of Illinois Press, 1985), p. 244. Embora tenha sido argumentado que Roberts perdeu seu testemunho, essa conclusão não é apoiada por evidências históricas. Pelo contrário, seus esforços para identificar e relatar problemas levantados ou mesmo potenciais no Livro de Mórmon, representam uma análise retórica séria que, em última análise, pretendia ajudar a defender o texto das críticas. Ver John W. Welch, ''B. H. Roberts: Seeker after Truth'', Ensign, março de 1986, pp. 56–62; Truman G. Madsen, ''B. H. Roberts after Fifty Years: Still Witnessing for the Book of Mormon'', Ensign, dezembro de 1983, 10–19; Truman G. Madsen, ''B. H. Roberts and the Book of Mormon'', em Book of Mormon Authorship: New Light on Ancient Origins, ed. Noel B. Reynolds (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1982), pp. 7–31. 11. Lucy Mack Smith, History, 1845, p. 87. 12. Lucy Mack Smith, History, 1844–1845, bk. 4, p. 1. 13. ''Church History'', Times and Seasons 3, no. 9 (1º de março de 1842): p. 707. 14. William Smith, William Smith on Mormonism (Lamoni, IA: Herald Steam Book and Job Office, 1883), reimpresso em Dan Vogel, Early Mormon Documents (Salt Lake City, UT: Signature Books, 1996), 1: p. 496, ênfase adicionada. 15. Wandle Mace, autobiografia, cerca de 1890, reproduzida em Vogel, Early Mormon Documents, 1: p. 452, ênfase adicionada. 16. Ver, por exemplo, Lucy Mack Smith, "Este Evangelho de boas novas para todos", Conferência Geral, 8 de outubro de 1845, reimpresso em At the Pulpit: 185 Years of Discourses by Latter-day Saint Women, ed. Jennifer Reeder e Kate Holbrook (Salt Lake City, UT: The Church Historian's Press, 2017), pp. 21–26. 17. Jeff Lindsay, ''Joseph the Amusing Teller of Tall Tales: Lucy Mack Smith’s Puzzling Statement in Perspective'', Mormanity Blog (26 de Abril de 2018). 18. Ver Richard Lloyd Anderson, ''The Early Preparation of the Prophet Joseph Smith'', Ensign, dezembro de 2005, pp. 12–17; Richard Lloyd Anderson, ''The Trustworthiness of Young Joseph Smith'', The Improvement Era, outubro de 1970, pp. 82–89. 19. William Smith, Notes, cerca de 1875, reimpresso em Vogel, Early Mormon Documents, 1: p. 485, ortografia padronizada. 20. Ver também o artigo da Central do Livro de Mórmon, ''Como o testemunho de Lucy Mack Smith sobre o Livro de Mórmon pode nos fortalecer?'' KnoWhy 379 (18 de junho de 2018).