KnoWhy #653 | Dezembro 19, 2022
Por que Malaquias se refere ao “Sol da Justiça”?
Postagem contribuída por
Central das Escrituras
“Mas a vós, que temeis o meu nome, o Sol da justiça nascerá, e trará cura debaixo das suas asas; e saireis, e crescereis como os bezerros do cevadouro”. Malaquias 4:2
O conhecimento
O profeta Malaquias prometeu aos israelitas que, se guardassem os mandamentos de Deus, seriam abençoados. Numa dessas promessas, Malaquias afirmou que "o sol da justiça nascerá, e trará cura debaixo das suas asas" (Malaquias 4:2; ênfase adicionada).
A imagem de um sol com asas era comum no antigo Oriente Próximo. Várias civilizações antigas, como o Egito e a Babilônia, usaram um disco solar alado como símbolo de seres divinos durante séculos. Surpreendentemente, este símbolo também fora usado na antiga Israel durante os séculos VIII e VII a.C.1 Talvez, o exemplo mais notável seja encontrado em um selo real "pertencente a Ezequias [filho de] Acaz, rei de Judá", descoberto recentemente em Jerusalém.2. Outros exemplos de discos solares alados usados como símbolo da monarquia judaica foram encontrados, datando da época de Ezequias, levando o estudioso bíblico J. Glen Taylor a concluir que "a própria Judá deveria ser incluída entre as sugestões como o âmbito cultural contribuiu para a imagem de Javé [Jeová] como um sol alado"3.
Ao longo das escrituras se encontram descrições do Senhor relacionadas ao sol, muitas vezes evocando conexões entre a ideia do sol e da fertilidade, retidão ou justiça. Essas imagens também podem se aplicar ao rei de Israel, ordenado a governar e viver como Deus governou. No 2 Samuel 23:3-4, por exemplo, Jeová afirma que o rei, assim como Ele, deveria [governar] aos homens com justiça, "que domine no temor de Deus; e será como a luz da manhã, quando sai o sol, da manhã sem nuvens, quando pelo seu resplendor e pela chuva a erva brota da terra." Relacionar o governo de Jeová ao de um rei teria sido importante no mundo antigo e poderia, portanto, explicar o uso do disco solar alado pelo rei Ezequias.
Outra menção a Jeová curando Seu povo relacionada ao Sol pode ser encontrada em Isaías 30:26: "E será a luz da lua como a luz do sol, e a luz do sol sete vezes maior, como a luz de sete dias, no dia em que o Senhor soldar a quebradura do seu povo, e curar a chaga da sua ferida". Em outra passagem, Isaías descreve as bênçãos dos justos evocando imagens solares em relação a Jeová: "Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante da tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda." (Isaías 58:8)4. É significativo que muitas dessas passagens se refiram à cura ou à vida, assim como Malaquias se refere à cura nas asas do Sol da Justiça.
Comentando especificamente sobre Malaquias, Taylor apontou que a frase "Sol da Justiça" é usada especificamente para se referir à vinda do Senhor no último dia.5. Néfi utiliza uma declaração semelhante a respeito da primeira vinda de Jesus à mortalidade no Novo Mundo. Ele viu profeticamente o Senhor Jesus Cristo ressurreto aparecer a seus descendentes e descreveu as bênçãos que seu povo receberia ao desfrutar da presença do Senhor: "o Filho da Retidão aparecer-lhes-á e curá-los-á" (2 Néfi 26:9)6. Esse prognóstico divino era familiar a Néfi, tanto pelas passagens do Velho Testamento nas placas de latão, quanto por sua educação, quando jovem em Jerusalém.
Néfi também se refere a essa ideia quando fala do ministério mortal, expiação e ressurreição de Jesus em 2 Néfi 25:13: "Eis que eles o crucificarão; e depois de permanecer numa sepultura pelo espaço de três dias, levantar-se-á dentre os mortos, com poder de cura em suas asas"7. Jesus Cristo ressurreto também usou os dois últimos capítulos de Malaquias ao ensinar aos nefitas sobre Sua futura vinda nos últimos dias (ver 3 Néfi 25:2).
O porquê
Dado que as representações de um disco solar alado eram comuns no antigo Oriente Próximo, Malaquias e Néfi podem ter sido inspirados, independentemente, por uma tradição anterior comum quando usaram esse simbolismo em suas profecias messiânicas. Seja qual for o caminho que essas imagens fizeram para terminarem em seus escritos, o Sol pode ser considerado um símbolo excepcionalmente apropriado para o Senhor.
O Sol fornece o calor necessário para a vida na Terra e a luz com a qual vemos e compreendemos o mundo. Como o amor de Deus, a luz do Sol emana em todas as direções a partir de um ponto central e pode ser vista e sentida por milhões de pessoas simultaneamente, mesmo que estejam amplamente espalhadas pela terra. Conforme descrito em Doutrina e Convênios 88:6–7, Jesus Cristo é a "luz da verdade" que "está no sol e é a luz do sol e o poder pelo qual foi feito". A revelação continua, dizendo: “Luz essa que procede da presença de Deus para encher a imensidade do espaço, A luz que está em todas as coisas, que dá vida a todas as coisas, que é a lei pela qual todas as coisas são governadas, sim, o poder de Deus, que se assenta em seu trono, que está no seio da eternidade, que está no meio de todas as coisas." (Doutrina e Convênios 88:12–13).
Em outras palavras, a luz física emitida pelo Sol é uma metáfora apropriada para a luz espiritual que emana de Jesus Cristo. O próprio Jesus proclamou: "Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida." (João 8:12). As conexões entre a luz, a vida, o Sol e Jesus podem ter significados metafísicos ainda mais profundos que atualmente estão além da capacidade da ciência ou das escrituras para descrevê-los completamente.
Independentemente das relações textuais ou culturais, é compreensível que nos textos antigos, o Sol seja descrito como tendo uma qualidade curativa. A cada primavera, quando a luz e o calor do Sol aumentam nas áreas afetadas pela mudança sazonal, a Terra parece se renovar. As plantas florescem novamente. Os animais ficam mais ativos. É como se o Sol fornecesse o ingrediente ativo que ressuscita toda a vida adormecida, curando e rejuvenescendo o mundo.
Como o Élder Jeffrey R. Holland ensinou: “no final das contas, essa reparação espiritual pode vir apenas por meio de nosso Redentor divino, que corre para nos socorrer com 'cura debaixo das suas asas'. Somos gratos a Ele e a nosso Pai Celestial, que O enviou, pela renovação e o renascimento. Um futuro livre de pesares e de erros do passado, não são apenas possíveis, mas já foram pagos com um preço excruciante, cujo símbolo é o sangue derramado pelo Cordeiro."8.
Leitura Complementar
Richard D. Draper, "The Book of Malachi", em Studies in Scripture: 1 Kings to Malachi, vol. 4 of 8, ed. Kent P. Jackson (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 1993), 365–372. John W. Welch, John W. Welch Notes (Springville, UT: Book of Mormon Central, 2020), 1006–1008. Brant E Gardner, Second Witness: Analytical and Contextual Commentary on the Book of Mormon, vol. 5 of 6 (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2007), 564–565.1. Para uma análise mais completa de como a imagem divina do Sol foi usada no antigo Israel, veja Othmar Keel e Christoph Uehlinger, Gods, Goddesses, and Images of God in Ancient Israel, trans. Thomas H. Trapp (Minneapolis, MI: Fortress Press, 1998), 68, 78, 88, 111, 137, 164n36, 249, 256 e 387. 2. Nir Hasson, "Seal Impression with King Hezekiah's Name Discovered in Jerusalem", Archaeology, HaAretz, December 2, 2015. 3. J. Glen Taylor, Yahweh and the Sun: Biblical and Archeological Evidence for Sun Worship in Ancient Israel (Sheffield, UK: Sheffield Academic Press, 1993), 212. 4. Uma análise mais detalhada do contexto do antigo sobre o Oriente Próximo da linguagem solar relativa ao Senhor, pode ser encontrada em Mark S. Smith, "The Near Eastern Background for Solar Language for Yahweh", Journal of Biblical Literature 109, nº. 1 ((Spring 1990): 29–39; e Leland Ryken, James C. Wilhoit e Tremper Longman III, eds., Dictionary of Biblical Imagery (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1998), 827.
5. Veja Taylor, Yahweh and the Sun, 212–216. 6. A ortografia segue a Royal Skousen, ed., The Book of Mormon: The Earliest Text, 2º. ed. (New Haven, CT: Yale University Press, 2022), 134. Provavelmente, Oliver Cowdery confundiu "Sol" com "filho" ("sun" e "son" respectivamente em inglês) quando estava transcrevendo o Livro de Mórmon enquanto Joseph Smith o traduzia. 7. Neal Rappleye apontou que esta frase, embora compartilhe conexões temáticas com Malaquias 4:2, precede a discussão de Néfi sobre a serpente de bronze de Moisés (2 Néfi 25:20). Alguns estudiosos apontam que a imagem das serpentes de fogo aladas podem ter sido relacionadas à imagem de um disco solar alado na Antigo Israel; portanto, Néfi pode ter se baseado em ambas as tradições. Ver Neal Rappleye, "Serpents of Fire and Brass: A Contextual Study of the Brazen Serpent Tradition in the Book of Mormon", Interpreter: A Journal of Latter-day Saint Faith and Scholarship 50 (2022): 280–281n119. Ver também Trevor D. Cochell, "An Interpretation of Isaiah 6:1–5 in Response to the Art and Ideology of the Achaemenid Empire" (PhD diss., Baylor University, 2008), 115–173. 8. Jeffrey R. Holland, "O ministério da reconciliação", Conferência Geral, outubro de 2018.