KnoWhy #606 | Junho 3, 2021
Por que Martin Harris foi afastado da Igreja?
Postagem contribuída por
Central das Escrituras
"E agora, porque antevejo emboscadas para te destruírem, sim, antevejo que se meu servo Martin Harris não se humilhar e não receber de minha mão um testemunho, cairá em transgressão." Doutrina e Convênios 5:32
O conhecimento
Martin Harris foi uma das primeiras pessoas a apoiar Joseph Smith. 1 Desde o início, ele ajudou na tradução do Livro de Mórmon e, contra o conselho e pressão social de amigos e vizinhos, contribuiu financeiramente para a impressão do Livro de Mórmon.2 Quando a Igreja foi organizada em 6 de abril de 1830, Martin estava presente, sendo batizado por outra testemunha do Livro de Mórmon, Oliver Cowdery, logo após a reunião.3
Nos anos seguintes, Martin mudou-se para Kirtland e desempenhou um papel importante na Restauração. Ele continuou a contribuir financeiramente para a construção de Sião, marchou até o Missouri e retornou ao Acampamento de Sião, sendo chamado como membro do Sumo Conselho de Kirtland. Martin participou da ordenação do primeiro quórum dos Doze Apóstolos em 1835 e das sessões de investiduras feitas no Templo de Kirtland, em março de 1836. Por meio de todas essas atividades, Martin prestou testemunho do Livro de Mórmon regularmente, como uma das Três Testemunhas. 4
No entanto, no final do tumultuado ano econômico de 1837, Martin se afastou de Joseph Smith e do grupo principal da Igreja. Em uma carta escrita por John Smith, que era conselheiro assistente na Primeira Presidência na época, Martin foi listado juntamente a Joseph Coe, Luke Johnson, John Boynton e Warren Parrish, como um dos líderes de um grupo dissidente. John Smith convocou o sumo conselho para considerar o caso desses e de outros homens e relatou que eles haviam sido "afastados[...] da Igreja".5 Com base nesta carta, parece que Martin foi excomungado ou expulso no final de dezembro de 1837, embora nenhum registro oficial da ação disciplinar exista atualmente, e não esteja claro se ele sequer estaria presente nessa reunião.6
Devido à falta de documentação deste conselho disciplinar, as acusações exatas feitas contra Martin são desconhecidas. No entanto, é evidente que ao longo de 1837 Martin tornou-se cada vez mais alinhado aos dissidentes que procuravam substituir a Joseph Smith e outros como líderes da Igreja em Kirkland.
Em 1837, a Igreja havia acumulado grandes dívidas e a economia de Kirtland estava estagnada. Para resolver esses problemas, Joseph Smith, Sidney Rigdon, Oliver Cowdery e outros fundaram um banco privado chamado "Sociedade de Previdência de Kirtland", em janeiro de 1837.7 Os santos foram convidados a investir no banco e a fazerem suas notas circularem, mas Martin Harris — cujos vastos recursos poderiam ter sido de grande ajuda para o banco — não estava na lista de investidores.8
Em vez de ajudar a Joseph e os outros a edificar a economia de Kirtland, Martin viajou para Palmyra no início de 1837 e lá ficou por um longo período. Martin ainda mantinha boas relações com os líderes da Igreja na época, recebendo Brigham Young e Willard Richard, quando eles passaram pela região de Palmyra para arrecadar fundos para a Sociedade de Previdência de Kirtland, em março de 1837. Também, deu a Joseph e Sidney Rigdon um porto seguro em Nova York, quando eles tiveram que deixar Kirtland para sua própria segurança, em abril. Em nenhuma ocasião, entretanto, Martin usou seus meios financeiros para melhorar a situação em Kirtland, embora provavelmente, tenha sido solicitado a fazê-lo.9
Enquanto o banco de Kirtland passava por dificuldades, Martin comprou terras em Palmyra por U$900, e quando voltou à Kirtland em maio, gastou mais de U$5.000 em uma fazenda de 250 acres.10 A razão pela qual Martin negou seus meios financeiros naquele momento e, em vez disso, fez compras substanciais para si mesmo, não é clara. É possível que Martin nutrisse sentimentos contra o sistema bancário e, supostamente, tivera um desentendimento com Sidney Rigdon sobre a questão. 11 Isso pode tê-lo levado a desconfiar das notas distribuídas pela Sociedade de Previdência de Kirtland e sua recusa a investir. Seja qual for o motivo, Martin claramente agiu em oposição ao conselho dos líderes da Igreja quando se negou a ajudar nas necessidades financeiras da Igreja em Kirtland.
No outono de 1837, a Sociedade de Previdência de Kirtland entrou em colapso e a decepção e descontentamento se espalharam por Kirtland. Na conferência realizada no início de setembro, Martin Harris e outros com altos chamados não foram apoiados em unanimidade pela congregação. 12 Os motivos da objeção à permanência de Martin no sumo conselho de Kirtland não foram declarados, entretanto, ele foi desobrigado e passou a se associar a outros que também haviam recebido votos contrários naquela conferência.
Assim, Martin se juntou a um grupo liderado por Warren Parrish, que acreditava que Joseph havia se tornado um profeta decaído e buscava restaurar os "antigos padrões" da Igreja. Quando Joseph deixou Kirtland em novembro de 1837, Parrish e seus seguidores tentaram assumir o controle do Templo e estabelecer uma nova "Igreja de Cristo". 13 O envolvimento de Martin nestes eventos não é claro, mas ele foi considerado por John Smith como um líder entre os dissidentes; sem dúvida, estes eventos levaram diretamente à "vigorosa poda" que resultou em Martin e muitos outros sendo "afastados […] da Igreja." 14
O porquê
Após ter feito grandes sacrifícios, tanto financeiramente quanto de outras maneiras, na década anterior15, Martin, evidentemente, sentiu-se frustrado com as políticas monetárias propagadas em Kirtland. Como membro da Igreja com conhecimento financeiro, Martin pode ter se ressentido por não ter sido consultado sobre como resolver os problemas financeiros de Kirtland. Brigham Young lembrou em retrospecto que Martin "ficou muito desapontado" por não ter sido chamado para cargos de liderança mais elevados. 16 Martin permitiu que essas frustrações e desentendimentos aumentassem e criassem uma barreira entre ele e seu velho amigo, o Profeta Joseph Smith e outros líderes.
Nesse sentido, parece provável que sua atração à causa dos dissidentes foi a oferta de um papel de liderança proeminente nesta nova organização. 17 Contudo, quando Parrish e seus seguidores continuaram a reformular as doutrinas, Martin rapidamente discordou deles sobre questões relacionadas ao Livro de Mórmon. Após reivindicarem o controle do templo de Kirtland, os dissidentes realizaram uma reunião em março de 1838. Alguns deles, além de suas queixas anteriores sobre a liderança de Joseph Smith e Sidney Rigdon, "renunciaram ao Livro de Mórmon". 18
Para Martin, aquilo fora longe demais. Depois que aqueles que renunciaram ao Livro de Mórmon falaram na reunião, "M[artin] Harris levantou-se e disse sentir muito por qualquer homem que rejeitasse o Livro de Mórmon, porque sabia que era verdadeiro". 19 Assim, Martin deixara o "grupo de Parrish" e passara as próximas décadas isolado de seus companheiros crentes do Livro de Mórmon, embora seu testemunho nunca tenha vacilado. Por exemplo, em maio de 1838, Caroline Barnes Crosby lembrou-se de Martin estar "em desacordo com Joseph", mas, "apesar disso, prestou seu testemunho do livro de Mórmon de forma enérgica". 20
Dado o profundo sentimento de frustração de Martin neste momento, sua recusa em abandonar o Livro de Mórmon é particularmente importante. Como Richard Lloyd Anderson concluiu:
Martin Harris também mantinha um forte ressentimento contra os líderes da Igreja, em grande parte devido ao golpe sobre seu ego em nunca lhe ter sido atribuído um cargo importante. Se tal pensamento é notavelmente imaturo, foi real para o homem que sacrificou sua paz, fortuna e a reputação de sua família para imprimir o Livro de Mórmon e estabelecer a Igreja. A rejeição, real ou suposta, gerou hostilidade e, no pior dos casos, represálias. Embora tais sentimentos fossem claramente persistentes, e apesar deles, Martin Harris insistira que a causa da Igreja estava fundamentada sobre uma verdade objetiva, tal como a tinha experimentado em sua visão de 1829. 21
E recentemente, os historiadores Susan Easton Black e Larry C. Porter documentaram minuciosamente como Martin Harris permaneceu uma "testemunha inabalável" do Livro de Mórmon ao longo de sua longa vida. 22
Leitura Complementar
Susan Easton Black e Larry C. Porter, Martin Harris: Uncompromising Witness of the Book of Mormon (Provo, UT: BYU Studies, 2018), pp. 255–300.
Rhett Stephen James, "Harris, Martin", em Encyclopedia of Mormonism, 4 v., ed. Daniel H. Ludlow (Nova York, NY: Macmillan, 1993), 2: pp. 574–576.
Richard Lloyd Anderson, Investigating the Book of Mormon Witnesses (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 1981), pp. 95–120.
1. Ronald W. Walker, "Martin Harris: Mormonism’s Early Convert", Dialogue: A Journal of Mormon Thought 19, no. 4 (Winter 1986): pp. 29–43. 2. Central do Livro de Mórmon, "Por que Martin Harris precisou pagar pela impressão do Livro de Mórmon? (D&C 19:26)", KnoWhy 597 (26 de fevereiro de 2021). 3. Susan Easton Black y Larry C. Porter, Martin Harris: Uncompromising Witness of the Book of Mormon (Provo, UT: BYU Studies, 2018), pp. 184–188. 4. Black and Porter, Martin Harris, pp. 219–277. 5. John and Clarissa Smith to George A. Smith, January 1, 1838, em Journal History of the Church, 1838, 2, Church History Library. 6. Devido a isso, é ambíguo se ele foi realmente excomungado ou não. Para saber mais sobre as diferentes opiniões e evidências, ver Black and Porter, Martin Harris, pp. 298, 298–299 n.112. 7. Central do Livro de Mórmon, "Por que a Sociedade de Previdência de Kirtland falhou? (D&C 64:21)", KnoWhy 604 (26 de maio de 2021). 8. Black and Porter, Martin Harris, p. 288. 9. Black and Porter, Martin Harris, pp. 289–291. 10. Black and Porter, Martin Harris, pp. 289–291. 11. Ver Rhett S. James e David H. James, "Martin Harris: The Witness", Mormon Heritage 2 (July/August 1995): 33; Rhett Stephens James, The Man Who Knew: Dramatic Biography on Martin Harris (Cache Valley, UT: Martin Harris Pageant Committee, 1983), 167 , pp. 309–311. 12. Black and Porter, Martin Harris, pp. 294–295. 13. Black and Porter, Martin Harris, p. 295. 14. John and Clarissa Smith to George A. Smith, January 1, 1838. 15. Martin começou a apoiar Joseph Smith no final de 1827. 16. William Harrison Homer, "The Passing of Martin Harris", Improvement Era 29, no. 5 (March 1926): p. 471. 17. A posição de Martin no grupo dissidente fica evidente em sua nomeação como um dos "administradores" da nova Igreja. Ver Black and Porter, Martin Harris, pp. 302–303. 18. Stephen Burnett to Lyman E. Johnson, 15 April 1838. A justificativa de Burnett para renunciar ao Livro de Mórmon foi que Martin Harris alegou não ter visto as placas, exceto "em uma visão ou em sua imaginação". Os detratores de hoje frequentemente se apegam à afirmação de Burnett sem criticá-lo, falhando em reconhecer que o verdadeiro significado desses eventos é visto no fato de que Martin se sentiu compelido a romper com essa facção assim que começaram a renunciar ao Livro de Mórmon, descartando qualquer alegação de que o fizeram com base em seu testemunho. Portanto, está claro que Burnett e outros interpretaram mal as palavras de Martin. Ver Black and Porter, Martin Harris, pp. 308–310. Ver também Richard Lloyd Anderson, Investigating the Book of Mormon Witnesses (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 1981), pp. 155–157; Steven C. Harper, "The Eleven Witnesses", em The Coming Forth of the Book of Mormon (Salt Lake City y Provo, UT: Deseret Book y BYU Religious Studies Center, 2015), pp. 124–126. 19. Burnett to Johnson. Ver também George A. Smith para Josiah Flemming, 30 de março de 1838, "No último sábado, uma divisão surgiu entre o grupo de Parrish sobre o Livro de Mórmon, John F. Boyington, Warren Parrish, Luke S. Johnson e outros disseram que isso era um absurdo. Martin Harris então, compartilhou o testemunho de sua veracidade e disse que todos seriam condenados se o rejeitassem". 20. Caroline Barnes Crosby, Journal, 1807–1857, em Edward Leo Lyman, Susan Ward Payne e S. George Ellsworth, eds., No Place to Call Home: The 1807–1857 Life Writings of Caroline Barnes Crosby (Logan, UT: Utah State University, 2005), p. 50. 21. Richard Lloyd Anderson, Investigating the Book of Mormon Witnesses (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 1981), p. 111. 22. Ver Black and Porter, Martin Harris. Para conhecer uma coleção de 25 depoimentos de Martin Harris, consulte John W. Welch, ed., Opening the Heavens: Accounts of Divine Manifestations, 1820 to 1844, 2nd ed. (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e BYU Studies, 2017), pp. 132–141.