KnoWhy #607 | Junho 8, 2021

Por que Martin Harris retornou à Igreja?

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Central das Escrituras

"E eu, o Senhor, ordeno a meu servo Martin Harris que não lhes diga nada mais a respeito destas coisas, exceto: Vi-as e foram-me mostradas pelo poder de Deus." Doutrina e Convênios 5:26

O conhecimento

Apesar de ser um dos primeiros e mais importantes colaboradores da Restauração, no final de 1837, Martin Harris foi "afastado" da Igreja por se associar a um grupo de dissidentes que tentavam prejudicar Joseph Smith e aos líderes da Igreja. No entanto, meses depois, Martin havia se afastado deste grupo porque rejeitavam o Livro de Mórmon, algo que, como uma das três testemunhas, ele simplesmente não poderia fazer porque sabia que o Livro de Mórmon era verdadeiro.1

Nos anos seguintes, o relacionamento de Martin com o grupo principal da Igreja fora um tanto ambíguo. É mencionado que em julho de 1840, Martin "retornou à Igreja ".2 Em 1841, quando uma estaca foi oficialmente estabelecida em Kirtland, o nome de Martin estava entre os que solicitaram inclusão no quórum de sumos sacerdotes, mas ele não foi aceito por um voto contrário.3 Contudo, cerca de um mês depois, um jornal de Painesville relatou: "Martin Harris acredita que a obra [da Restauração] em seu início era uma obra genuína do Senhor, mas que [Joseph] Smith, tornando-se mundano e orgulhoso, foi abandonado pelo Senhor''.4

No outono de 1842, Martin parece ter sido readmitido à Igreja de forma oficial. Os Élderes Lyman Wight, John P. Greene e Alexander Badlam reorganizaram a estaca de Kirtland e muitos foram batizados novamente nessa época, incluindo Martin Harris, de acordo com cartas escritas em Kirtland no início de 1843.5 A condição de Martin na Igreja, desde aquela época até a morte de Joseph Smith, não é clara, mas aparentemente em dezembro de 1844, quando Phineas Young e outros foram enviados pelos Doze Apóstolos para verificar a condição da Igreja em Kirtland, Martin havia entrado para o shakerismo.6 No entanto, a natureza exata do interesse de Martin nos shakers não é clara e, evidentemente, foi breve7; ainda mais surpreendente é que, na mesma época, ele continuara a testificar do Livro de Mórmon.8

Em 1846, Martin seguia a ramificação dissidente dos Santos dos Últimos Dias liderada por James Strang. No outono daquele ano, ele se juntara ao Apóstolo Strangita Lester Brooks, em uma missão na Inglaterra. Durante aquela missão, tudo o que Martin fazia era testemunhar sobre o Livro de Mórmon, então Brooks interrompeu a missão e levou Martin de volta aos Estados Unidos, pois ele se recusara a apoiar abertamente a causa Strangita. Recordações de conversos britânicos, tanto da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos dias de Salt Lake City, quanto da Igreja SUD Reorganizada, afirmam que Martin testemunhara corajosamente do Livro de Mórmon enquanto estivera em Inglaterra, tornando-o a única testemunha do Livro de Mórmon a testemunhar fora da América do Norte.9

Voltando para casa, Martin passaria as próximas décadas sem religião, relutante em se juntar ao grupo principal da Igreja, contudo, sem negar o Livro de Mórmon ou se unir a outra denominação. Os Santos dos Últimos Dias que iam para o leste em trabalho missionário e outros propósitos frequentemente paravam e conversavam com Martin. Seus relatos eram de que Martin continuara a confirmar seu testemunho do Livro de Mórmon, mas que guardava ressentimento contra os irmãos que lideravam a Igreja no Vale do Lago Salgado. Martin se uniu por um tempo a outros grupos de crentes no Livro de Mórmon, mas, em geral, não encontrou satisfação duradoura entre essas pessoas. Seus vizinhos em Kirtland, nessa época, se lembravam dele como um pregador "Santo dos Últimos Dias" independente.10

O porquê

No final da década de 1860, Martin estava sozinho e definhando em Kirtland.11 Sua esposa e filhos haviam se juntado à família extensa em Utah em 1858.12 Apesar de suas circunstâncias, ele continuaria a testemunhar sobre o Livro de Mórmon, e uma fonte menciona que ele "gastara seu patrimônio promulgando as crenças dos Santos dos Últimos Dias".13 Mesmo durante anos e décadas afastado da Igreja, Martin nunca deixara de prestar seu testemunho do Livro de Mórmon. Com o tempo, aquele testemunho, sempre fervoroso, junto ao desejo de ver sua família novamente, o levaria para o oeste, a Utah, para se reunir com a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.14

O impacto do desejo de Martin de ver sua família fica evidente na conversa que teve com William H. Homer, que tinha laços pessoais com a família de Martin.15 Em dezembro de 1869, Homer estava voltando para o Vale do Lago Salgado após servir como missionário na Inglaterra e parou em Kirtland para visitar o templo abandonado. Nesta ocasião, soube que Martin Harris servia como guardião não-oficial do Templo e oferecia visitadas guiadas pelo prédio.16 Homer mencionou que o filho de Martin Harris, Martin Harris Jr., havia se casado com sua irmã, apelando assim para seu grau de parentesco. No entanto, como outros antes dele, Homer recorda que Martin expressara seu desprezo pelos líderes da Igreja em Utah. Contudo, quando perguntou a Martin sobre o Livro de Mórmon, "o efeito foi eletrizante".17

"Jovem", respondeu Martin, "tão certo quanto o sol brilha sobre nós e nos dá luz, e o sol e as estrelas nos iluminam à noite, tão certo quanto o sopro da vida nos sustenta, [...] tenho certeza que o Livro de Mórmon foi traduzido por intervenção divina. Eu vi as placas; Eu vi o anjo; Eu ouvi a voz de Deus."18

"Foi um momento sublime", lembrou Homer. "Ficamos profundamente comovidos".19 Aquele momento de testemunho e o Espírito que ele trouxe para a conversa abriram as portas para que Martin experimentasse uma mudança no coração. Martin começou a perguntar sobre sua família e expressou o desejo de vê-los novamente. Com alguma insistência de Homer, Martin concordou em permitir que uma mensagem fosse levada a Brigham Young, dizendo que ele "aceitaria a ajuda da Igreja" para levá-lo a Utah e ver sua família.20

A persistência de outros membros generosos da Igreja possibilitou o retorno honroso de Martin. Apenas dois meses depois, Edward Stevenson, outro missionário de Utah, que voltava dos estados do leste para casa, fez uma parada em Kirtland. Ele também visitou "Martin Harris, que prestara testemunho do anjo, registros e tradução" do Livro de Mórmon.21 Depois que Stevenson voltou à Utah, aproveitou a oportunidade. Passou a se comunicar com Martin e em uma de suas respostas, Martin afirmou: "Pela primeira vez, tive um testemunho de que precisaria me encontrar com os santos".22 Tendo obtido o apoio e a aprovação de Brigham Young e Martin Harris Jr., Stevenson pessoalmente passou a coletar fundos para levar Martin para Utah.23

Em meados de julho de 1870, Stevenson viajou novamente para Kirtland, chegando lá no início de agosto. Em 19 de agosto de 1870, Martin Harris embarcara em um trem para o oeste.24 Enquanto Stevenson e Martin se dirigiam à Cidade do Lago Salgado, Martin contou histórias sobre a tradução do Livro de Mórmon e suas experiências testificando a seus vizinhos descrentes em Kirtland.25 Os principais jornais do centro-oeste entrevistaram a testemunha do Livro de Mórmon quando ele passara por suas cidades ao longo do caminho26 e Stevenson comprou um novo traje de vestimentas mais adequadas para Martin.

Finalmente, em 29 de agosto de 1870, Martin Harris chegou à nova estação ferroviária de Ogden, Utah, e embarcou para a Cidade do Lago Salgado no dia seguinte. Até a construção da ferrovia, apenas um ano antes, tal viagem teria sido proibitiva para um idoso de 87 anos. Nos dias seguintes, sua chegada foi anunciada por todos os grandes jornais. Em 4 de setembro de 1870, Martin foi convidado a falar perante uma grande congregação no Tabernáculo da Cidade do Lago Salgado. Para muitos na congregação, provavelmente era a primeira vez que ouviam as histórias da visão do anjo, das placas, de sua descoberta e tradução, por uma testemunha ocular do Livro de Mórmon.27

Nas semanas seguintes, Martin permaneceu na região do Vale do Lago Salgado. Em 17 de setembro, foi novamente batizado por Edward Stevenson e confirmado por Orson Pratt — a quem Martin havia ordenado apóstolo em 1835.28 Após desfrutar de muitas outras ocasiões em que prestara seu testemunho do Livro de Mórmon, tanto em reuniões públicas quanto privadas, Martin foi levado ao Vale Cache para realizar o desejo de reencontrar seu filho e conhecer seus netos pela primeira vez. Nos cinco anos seguintes, Martin continuou a prestar seu testemunho do Livro de Mórmon a todos que quisessem ouvir.29

Uma vez em Utah, Martin foi abençoado com um vislumbre do impacto real que o Livro de Mórmon estava causando no mundo, e isso o deixou maravilhado. Em certa ocasião, enquanto estava na Cidade do Lago Salgado, fez um passeio de carruagem com alguns dos líderes da Igreja. Ao chegaram no topo da colina, com uma belíssima vista, as cortinas das janelas foram levantadas "dando um panorama magnífico da cidade abaixo". Martin estava "repleto de admiração" e comentou: "Quem teria pensado que o Livro de Mórmon faria isso?".30

Por fim, seu retorno permitiu que ele visse com seus próprios olhos o que as palavras de seu fiel testemunho, impressas na edição do Livro de Mórmon, realmente fizeram pelo mundo ao "convenceram milhares e dezenas de milhares", assim como o Senhor havia prometido em sua bênção patriarcal 35 anos antes.31

Em seus últimos dias, mesmo quando estava doente e à beira da morte, ele constantemente prestava seu testemunho, sempre que tinha forças para fazê-lo. Mais de uma dúzia de pessoas o ouviram testificar do Livro de Mórmon nos dias que antecederam sua morte, em 10 de julho de 1875.32 Momentos antes, ele assegurou aos que o acompanhavam em sua cama: "Sim, vi as placas nas quais o Livro de Mórmon foi escrito; vi o anjo; ouvi a voz de Deus; e sei que Joseph Smith é um profeta de Deus".33

Leitura Complementar

Susan Easton Black e Larry C. Porter, Martin Harris: Uncompromising Witness of the Book of Mormon (Provo, UT: BYU Studies, 2018). Susan Easton Black e Larry C. Porter. “‘Rest Assured, Martin Harris Will Be Here in Time’”. Journal of the Book of Mormon and Other Restoration Scripture 20, no. 1 (2011): pp. 5–27. Robin Scott Jensen, “A Witness in England: Martin Harris and the Strangite Mission”, BYU Studies 44, no. 3 (2005): pp. 79–98.

1. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, “Por que Martin Harris foi afastado da Igreja?(Doutrina e Convênios 5:32)”, KnoWhy 606 (3 de junho de 2021). 2. Laura Pitkin, pós-escrito de uma carta de Vilate Kimball para Heber C. Kimball, 18 de julho de 1840, citado em Susan Easton Black e Larry C. Porter, Martin Harris: Uncompromising Witness of the Book of Mormon (Provo, UT: BYU Studies, 2018), p. 315. Não há evidências de que Martin tenha sido rebatizado nessa época, indicando que talvez sua "separação" em 1837 não tenha sido considerada uma excomunhão. 3. Ver Black and Porter, Martin Harris, p. 316. O motivo do voto contrário não é mencionado. 4. “The Mormons.—Arrest of Jo. Smith”, Painesville Telegraph 7, no. 26, June 30, 1841. Este artigo corrige um relatório equivocado de que Martin foi morto por opositores da Igreja em Illinois, cita conversas diretas com o próprio Martin e seu irmão "na última semana" (provavelmente Preserved Harris, que também saíra da Igreja nessa época e morava nos arredores de Kirtland). 5. Ver Black and Porter, Martin Harris, pp. 320–321. Assumindo que sua "separação" em 1837 foi uma excomunhão, esse rebatismo em 1842 pode ser o motivo pelo qual Martin não se considerou formalmente excomungado ou em processo disciplinar décadas depois, quando voltou à Igreja em 1870. 6. Ver Phineas H. Young et al. to Brigham Young, December 31, 1844, em Journal History of the Church, December 31, 1844. 7. Ver a análise em Black and Porter, Martin Harris, pp. 322–327. Ver também Richard Lloyd Anderson, Investigating the Book of Mormon Witnesses (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 1981), pp. 164–166. Thomas Colburn to Lorenzo Snow, May 2, 1855, em St. Louis Luminary, May 5, 1855, 94, afirmou que Martin "tentou com os shakers, mas não funcionou". O pouco tempo de sua afiliação aos shakers fica evidente, pois em 1846, ele era seguidor de James Strang. 8. Sua crença no Livro de Mórmon ainda naquela época fica evidente em uma carta de Jeremiah Cooper ao jornal Messenger and Advocate (uma publicação da Igreja Strangita), em 3 de setembro de 1845, afirmando que em julho "viram o Sr. Martin Harris, compartilhar seu testemunho do Livro de Mórmon, afirmando ter escrito uma parte [do livro] enquanto o Sr. Joseph Smith traduzia das placas de ouro." Ver Messenger and Advocate of the Church of Christ 1, no. 20, September 1, 1845 (Pittsburgh, PA), pp. 319–320. 9. Para saber mais sobre a missão na Inglaterra, consulte Black and Porter, Martin Harris, pp. 328–345; Robin Scott Jensen, "A Witness in England: Martin Harris and the Strangite Mission," BYU Studies 44, no. 3 (2005): pp. 79–98.

10. Sobre esse período da vida de Martin e os diferentes grupos aos quais ele se afiliou, ver Black and Porter, Martin Harris, pp. 347–414. Ver também Michael H. Marquardt, "Martin Harris: The Kirtland Years, 1831–1870." Dialogue: A Journal of Mormon Thought 35, no. 3 (2002): pp. 1–40; Ronald E Romig, Kirtland de Martin Harris (Independência, MO: John Whitmer Books, 2007). 11. De acordo com Rev. S. F. Whitney, tio de Orson Whitney e que morava perto de Kirtland, "nos últimos anos em que [Martin] esteve em Kirtland, sofreu de extrema pobreza e teria ficado melhor em um asilo". Rev. S. F. Whitney to Authur B. Deming, March 6, 1885, em Naked Truths about Mormonism (Oakland, CA) 1, no. 1, January 1888, 3 col. 2–712. Black and Porter, Martin Harris, pp. 377–388. 13. Whitney to Deming. 14. Para um relato mais completo do retorno de Martin, veja Susan Easton Black e Larry C. Porter. “‘Rest Assured, Martin Harris Will Be Here in Time’”. Journal of the Book of Mormon and Other Restoration Scripture 20, no. 1 (2011): pp. 5–27; Black and Porter, Martin Harris, pp. 415–444. 15. Martin Harris Jr. casou-se com a irmã de Homer em Utah, e o pai de Homer filiou-se à Igreja depois que Martin Harris lhe dera um exemplar do Livro de Mórmon, na década de 1830. 16. William Harrison Homer, “The Passing of Martin Harris”, Improvement Era 29, no. 5 (March 1926): p. 468. 17. Homer, “The Passing of Martin Harris”, p. 469. 18. Homer, “The Passing of Martin Harris”, p. 470. 19. Homer, “The Passing of Martin Harris”, p. 470. 20. Homer, “The Passing of Martin Harris”, p. 470. Uma carta de Martin Harris Jr. para Brigham Young, em 11 de janeiro de 1870, relata como Homer voltou e entregou a mensagem de Martin a seu filho, que, por sua vez, notificou a Brigham Young. No entanto, nenhuma resposta ou ação da parte de Brigham foi documentada. Ver Black and Porter, Martin Harris, pp. 411–413. 21. Edward Stevenson Collection, 1849–1922, Diaries and Reminiscences, 1869 February–1870 March, LDS Church History Archives, MS 4806, box 1, vol. 7, p. 98, na data de 11 de fevereiro de 1870; modificações e padronização da ortografia foram feitas. O registro original dizia: "Mertin harris Who Bore testamoney of the angle Records & the Trnsltn" — que traduzido significa: "Mertin (sic) Harris que prestou testemunho do anjo, registro e tradução", transcrito pela equipe da BMC em inglês. 22. Conforme citado em Black and Porter, Martin Harris, p. 418. 23. Black and Porter, Martin Harris, p. 418. 24. Black and Porter, Martin Harris, p. 419, p. 424. 25. Black and Porter, Martin Harris, pp. 424–428. 26. Ver, por exemplo, “A witness to the Book of Mormon”. Daily Iowa State Register, August 28, 1870. 27. Black and Porter, Martin Harris, pp. 429–444. 28. Seu certificado de batismo pode ser visto em Black and Porter, Martin Harris, p. 438. 29. Black and Porter, Martin Harris, pp. 445–522. 30. Edward Stevenson, “The Three Witnesses to the Book of Mormon. No. 3”, Millennial Star 48, no. 25, June 21, 1886, pp. 389–390. 31. Joseph Smith Sr., Patriarchal Blessing of Martin Harris, August 27, 1835, em Early Patriarchal Blessings of the Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, comp. H. Michael Marquardt (Salt Lake City, UT: Smith-Pettit Foundation, 2007), pp. 37–38. 32. As seguintes pessoas forneceram registros de terem escutado Martin testemunhar em julho de 1875, nos últimos 10 dias de sua vida: Martin Harris Jr., Simon Smith, Ole A. Jenson, William Homer, William Pilkington, Thomas Godfrey, Alma Jensen, John Buttars, John Godfrey, Charles Shumway e Mary Penelope Thompson. Alguns deles mencionaram outras pessoas presentes. 33. Homer, “The Passing of Martin Harris” p. 472.

Batismo
Objetivo do Livro de Mórmon
Excomunhão
Harris, Martin
Três testemunhas
Testemunhas
Doutrina e Convênios

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