KnoWhy #547 | Janeiro 29, 2020
Por que Néfi profetizou sobre Cristóvão Colombo?
Postagem contribuída por
Scripture Central

"E olhei e vi entre os gentios um homem que estava separado da semente de meus irmãos pelas muitas águas; e vi que o Espírito de Deus desceu e inspirou o homem; e indo esse homem pelas muitas águas, chegou até a semente de meus irmãos que estava na terra da promissão." 1 Néfi 13:12
O Conhecimento
Quando Néfi testemunhou os eventos futuros que levariam ao cumprimento de todos os convênios que Deus havia feito com sua posteridade, teve uma visão em que "muitas águas [...] separavam os gentios da semente de meus irmãos". Então, ele viu "entre os gentios um homem" que, inspirado pelo "Espírito de Deus", cruzou "muitas águas, chegou até a semente de meus irmãos que estava na terra da promissão". O improvável sucesso desse gentio abriu caminho para que "outros gentios" cruzassem "as muitas águas". Em pouco tempo, havia "muitas multidões de gentios na terra da promissão" e a descendência dos irmãos de Néfi foi dispersa "pelos gentios e foram feridos." (1 Néfi 13:10–14).
Os Santos dos Últimos Dias identificaram esse "homem" que iniciou a vinda de "muitas multidões de gentios" como Cristóvão Colombo, que atravessou o Atlântico para as ilhas do Caribe (embora pensasse ter chegado à Índia) em 1492.1 De acordo com Laurence Bergreen, "as viagens de Colombo ao Novo Mundo diferem de todos os eventos anteriores no âmbito do drama humano e seu impacto ecológico. Antes dele, o Velho e o Novo Mundo permaneceram continentes, ecossistemas e sociedades separados e distintos; desde então, seus destinos estão ligados, para o bem ou para o mal".2
Colombo fez quatro viagens ao Novo Mundo entre 1492 e 1504, nas quais encontrou os povos nativos das Bahamas e das ilhas do Caribe, incluindo Cuba, Ilha de São Domingos e Jamaica. Somente em sua terceira viagem chegaria à costa da Venezuela e perceberia que não se tratava apenas de ilhas, mas de um continente enorme e até então desconhecido, que ele havia descoberto. Finalmente, em sua quarta viagem, explorou o litoral de Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá, conhecendo e interagindo com nativos em todas essas terras.3
Aqueles que estudam a primeira viagem de Colombo, em particular, ficam impressionados com a maneira como Colombo navegou perfeitamente, apesar de atravessar águas desconhecidas e dispor apenas de meios rudimentares para determinar onde estaria. Samuel Eliot Morison comentou que "nenhum homem que já viveu, limitado pelos instrumentos e meios à disposição de Colombo, poderia ter obtido algo próximo da precisão de seus resultados".4 Embora muitos hoje possam atribuir isso ao brilhantismo ou habilidade de Colombo, ou mesmo à pura sorte, o próprio Colombo atribuiu isso à orientação do Senhor.5 "Quem poderia duvidar", escreveu ele mais tarde, "que esse ímpeto não era apenas meu, mas também do Espírito Santo [...] me incitando a seguir em frente?"6
A motivação de Colombo para realizar sua travessia transatlântica é múltipla e complexa e, nos últimos anos, tornou-se cada vez mais controversa, já que o tratamento violento e severo que ele e seus homens impuseram aos nativos é devidamente criticado.7 No entanto, ao longo de sua vida, Colombo afirmou que sua principal motivação para cruzar o Atlântico era religiosa e acreditava que estaria cumprindo as declarações e profecias bíblicas sobre o fim dos tempos encontradas em Isaías, que mencionam "as ilhas do mar" em João 10:16 sobre as "outras ovelhas".8
Embora os registros que descrevem as convicções religiosas de Colombo sejam conhecidos há muito tempo, só recentemente começaram a ser levados a sério. No século XIX e início do século XX, os estudiosos preferiram retratar Colombo como um cientista e explorador racional.9 À medida que sua figura se tornava controversa, as interpretações de seus motivos se tornaram mais cínicas, com historiadores do final do século XX e início do século XXI tendendo a vê-lo mais como um oportunista ganancioso, cujas pretensões religiosas eram apenas uma fachada usada nos esforços para convencer Fernando e Isabela a apoiarem seus empreendimentos.10
No entanto, outros historiadores desafiaram essa visão, insistindo que, embora a motivação em glória, ouro e ganância, sem dúvida, tenham desempenhado um papel importante na jornada de Colombo, suas convicções religiosas eram reais e sinceras. Pauline Moffitt Watts, Leonard I. Sweet e, mais recentemente, Carol Delaney argumentaram de forma persuasiva que Colombo foi impulsionado por um ponto de vista religioso no qual ele se via desempenhando um papel crucial como instrumento de Deus no desenrolar dos eventos do fim dos tempos.11
O porquê
Se Colombo é, de fato, o "homem" entre os gentios visto por Néfi em sua visão, isso confirmaria que ele realmente teve um papel importante no desenrolar do drama apocalíptico do fim dos tempos, mas não o papel que ele pensava ter.12 De fato, o Espírito Santo "agiu sobre ele", mas não para que descobrisse a passagem para as Índias e realizasse a conquista cristã de Jerusalém. Seria encontrar "a semente de [os irmãos de Néfi] que estava na terra da promissão" (1 Néfi 13:12).
É importante reconhecer que nem tudo que Colombo fez foi inspirado por Deus. Néfi diz apenas que o Espírito o inspiraria a cruzar as muitas águas. Não diz nada sobre apoiar as ações de Colombo após sua chegada à Terra Prometida. Colombo não foi tão cruel com os nativos como muitos outros, mas também foi um homem de seu tempo que explorou e escravizou os nativos com os quais entrou em contato e abriu as portas da conquista europeia.13 De fato, como Néfi profetizou, a chegada do "homem" entre os gentios levou à trágica dispersão e destruição dos lamanitas em todo o Novo Mundo (1 Néfi 13:14).
No entanto, as viagens de Colombo também desencadearam uma série de eventos que levaram à Restauração do Evangelho de Jesus Cristo — inclusive, o surgimento do Livro de Mórmon e seu uso para restaurar os filhos de Leí ao conhecimento de sua condição privilegiada de povo do convênio do Senhor (1 Néfi 13:33-42; 1 Néfi 15:14).14 Hoje, as promessas do Senhor aos filhos de Leí estão sendo cumpridas (ver D&C 3:18–19).
Reconhecer esse homem como Colombo também tem implicações sobre como entendemos a identidade lamanita e a extensão da terra prometida concedida à posteridade de Leí. Néfi diz, especificamente, que esse homem viria para a terra de promissão e interagiria com a semente dos lamanitas. Embora isso não signifique necessariamente que os eventos do Livro de Mórmon ocorreram nas ilhas do Caribe ou em algum outro lugar que Colombo visitou, sugere que essas ilhas, juntamente à costa norte da América do Sul e o sul da América Central, são parte da terra prometida à posteridade de Leí.15 Além disso, sugere que Leí é um ancestral dos povos nativos daquelas terras e que eles têm direito a todas as bênçãos que o Senhor reservou para aquela linhagem escolhida.16
Leitura Complementar
Clark B. Hinckley, Christopher Columbus: "A Man Among the Gentiles" (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2014). Arnold K. Garr, Christopher Columbus: A Latter-day Saint Perspective (Provo, UT: BYU Religious Studies Center, 1992). Grant R. Hardy, "Columbus: By Faith or Reason?" em Reexploring the Book of Mormon, ed. John W. Welch (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e FARMS, 1992), pp. 32–36.1. Ver, por exemplo, Hugh Nibley, The Prophetic Book of Mormon (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e FARMS, 1989), pp. 49–53; Grant Hardy, "Columbus: By Faith or Reason?" em John W. Welch, ed., Reexploring the Book of Mormon (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book and FARMS, 1992), pp. 32–36; Joseph Fielding McConkie e Robert L. Millett, Doctrinal Commentary on the Book of Mormon, 4 v. (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 1987–1992), 1: pp. 91–92; Arnold K. Garr, Christopher Columbus: A Latter-day Saint Perspective (Provo, UT: BYU Religious Studies Center, 1992), pp. 1–5; De Lamar Jensen, "Columbus and the Hand of God", Ensign, outubro de 1992, disponível em churchofjesuschrist.org; Daniel C. Peterson, "Christ-Bearer", FARMS Review of Books 8, no. 1 (1996): pp. 107–108; Monte S. Nyman, Book of Mormon Commentary, 6 v. (Orem, UT: Granite Publishing, 2003), 1: pp. 172–173; Arnold K. Garr, "Columbus, Christopher", em Book of Mormon Reference Companion, ed. Dennis L. Largey (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2003), pp. 210–211; Brant A. Gardner, Second Witness: Analytical and Contextual Commentary on the Book of Mormon, 6 v. (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2007), 1: pp. 232–233; Clark B. Hinkley, Christopher Columbus: "A Man Among the Gentiles", (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2014), pp. 15–18. Vários profetas e apóstolos afirmaram essa interpretação. Por exemplo, Gordon B. Hinckley, "Building Your Tabernacle", Ensign (November 1992): p. 52. Vários exemplos são citados por McConkie e Millet, Garr e Gardner. Mais exemplos podem ser vistos em citações de 1 Néfi 13:12 Encontrado no Índice de Citação das Escrituras em scriptures.byu.edu. Ver também Vem, e Segue-Me - Estudo Pessoal e Familiar: Livro de Mórmon 2020 (Salt Lake City, UT: A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 2019), p. 15. 2. Laurence Bergreen, Columbus: The Four Voyages, 1492–1504 (New York, NY: Penguin Books, 2012), p. 7. 3. Para mais detalhes dessas quatro viagens, ver JM Cohen, trans., Christopher Columbus: The Four Voyages (New York, NY: Penguin Books, 1969); William Lemos, "Voyages of Columbus", em The Christopher Columbus Encyclopedia, ed. Silvio A. Bedini (Basingstoke, Macmillan Publishers, 1992), pp. 693–728. 4. Samuel Eliot Morison, Admiral of the Ocean Sea: A Life of Christopher Columbus, 2 v. (Boston, MA: Little, Brown & Co., 1942), 1: p.252. Morison fez parte de uma expedição no final da década de 1930 para recapitular as quatro viagens de Colombo, portanto, falou de sua própria experiência de navegação. 5.Christopher Columbus, Letter from the Admiral to the King and Queen, em Book of Prophecies, p. 105: "Com uma mão que pudesse ser sentida", escreveu ele, "o Senhor abriu minha mente para o fato de que seria possível navegar dali para as Índias". 6. Cristóvão Colombo, Letter from the Admiral to the King and Queen, in Book of Prophecies, p. 105. 7. Para obter informações sobre o tratamento severo infligido aos nativos do Caribe por Colombo e pelos epornhóis, consulte William F. Keegan, "Pacification, Conquest, and Genocide", em Columbus Encyclopedia, pp. 532–535; Bergreen, Columbus, pp. 119-219. 8. Ver Delno C. West e August Kling, trans. The Book of Prophecies of Christopher Columbus (Gainesville, FL: University of Florida Press, 1991). 9. Ver, por exemplo, Samuel Eliot Morison, Admiral of the Ocean Sea: A Life of Christopher Columbus, 2 v. (Boston, MA: Little, Brown & Co., 1942). Escritores do século XIX, como Washington Irving e Alexander von Humboldt, também retrataram Colombo como motivado principalmente por razões científicas. Ver a discussão em "Columbus: By Faith or Reason?" em Reexploring the Book of Mormon, ed. John W. Welch (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e FARMS, 1992), pp. 32–35. Para mais informações sobre Colombo na literatura americana, ver Terence Martin, "Columbus in American Literature", em Columbus Encyclopedia, pp. 433–435. 10. Ver, por exemplo, Felipe Fernandez-Armesto 1492: The Year the World Began (New York, NY: HarperOne, 2009), pp. 177–204; Bergreen, Columbus. Suas convicções posteriores são levadas um pouco mais a sério, e acredita-se que sejam sinceras, mas delirantes, por Fernández-Armesto e outros. 11. Pauline Moffitt Watts, "Prophecy and Discovery: On the Spiritual Origins of Christopher Columbus’s 'Enterprise of the Indies'", American Historical Review 90, no. 1 (1985): pp. 73–102; Leonard I. Sweet, "Christopher Columbus and the Millennial Vision of the New World", Catholic Historical Review 72, no. 3 (1986): pp. 369–382; Carol Delaney, "Columbus’s Ultimate Goal: Jerusalem", Society for Comparative Study of Society and History 48, no. 2 (2006): pp. 260–292. Ver também Carol Delaney, Columbus and the Quest for Jerusalem (London: Duckworth Overlook, 2012); Delno C. West e August Kling, "The Piety and Faith of Christopher Columbus", em Book of Prophecies, pp. 41–77. 12. Para a perspectiva dos Santos dos Últimos Dias sobre o envolvimento de Colombo na história providencial, ver Arnold K. Garr, "Christopher Columbus: Man of Destiny", em Window of Faith: Latter-day Saint Perspectives on World History, ed. Roy A. Prete (Provo, UT: BYU Religious Studies Center, 2005), pp. 291–310. 13. Enquanto a visão heroica de Colombo ofusca ou minimiza as falhas e maus-tratos aos nativos, a visão cada vez mais comum de Colombo como o vilão culpado de crimes hediondos é responsável por simplificar demais a história. Ver Carla Rahn Phillips, "Myth of Columbus", em Columbus Encyclopedia, pp. 494–497; Delaney, Columbus and the Quest, p. 238. 14. Ver Élder Larry Echo Hawk, "''Vinde a Mim Ó Vós, Casa de Israel", Liahona, Outubro 2012. 15. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Onde está a terra da promissão? (2 Néfi 1:5)," KnoWhy 497 (6 de fevereiro de 2019). 16. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Quem são os lamanitas? (2 Néfi 5:14)", KnoWhy 486 (14 de janeiro de 2019).