KnoWhy #6 | Janeiro 4, 2017
Por que Néfi sempre “descia ao deserto” e “subia à Jerusalém”?
Postagem contribuída por
Scripture Central

"E eu, Néfi, e meus irmãos empreendemos a viagem pelo deserto com nossas tendas, para subirmos à terra de Jerusalém." 1 Néfi 3:9
O Conhecimento
Enquanto Néfi descreve as viagens entre Jerusalém e o deserto, ele sempre diz que sobe a Jerusalém e desce quando se afasta de Jerusalém.
Hugh Nibley foi um dos primeiros a notar esse detalhe imperceptível. "O Livro de Mórmon emprega os verbos 'descer' e 'subir' exatamente como os hebreus e egípcios faziam em relação à localização de Jerusalém".1
O arqueólogo Jeffrey R. Chadwick explica esse ponto em detalhes:
É importante lembrar que, conforme o modo de falar de Néfi, sempre se subia à região de Jerusalém e sempre se descia ao sair da região de Jerusalém. Esse também é o termo hebraico empregado na Bíblia, em que se diz que as pessoas, tanto no Velho quanto no Novo Testamento, desciam para deixar Jerusalém (ver, por exemplo, 2 Samuel 5:17, Lucas 10:30 e Atos 8:15 [em grego]) e subiam para ir a Jerusalém (ver, por exemplo: 2 Crônicas 2:16 e Mateus 20:18). 2
Esta expressão é o produto do ambiente físico da região de Jerusalém.

D. Kelly Ogden, que estudou a geografia histórica da Bíblia, explica: "Aproximar-se de Jerusalém de qualquer deserto requer subir em altitude. Todos os advérbios locativos nas páginas seguintes das escrituras representam com precisão a topografia de Judá e os desertos ao sul''. 3
Essa realidade torna-se dramaticamente evidente no contraste da altitude de Jerusalém, que está a aproximadamente 754 m acima do nível do mar, e do Mar Morto, a qual está cerca de 429 m abaixo do nível do mar, um declínio de cerca de 1.200 m de elevação.
A altitude no extremo do Golfo de Ácaba, o ponto do Mar Morto próximo de onde Leí provavelmente acampou (ver 1 Néfi 2:5-6) é de 6 m acima do nível do mar. Quando os filhos de Leí viajaram de um lado para o outro, entre seu acampamento e Jerusalém, eles estavam literalmente subindo a Jerusalém e, depois, descendo ao deserto.
O porquê

De modo geral, este é um mero detalhe, sutil e fácil de passar despercebido. Também seria algo muito fácil de errar. É o tipo de detalhe que muitas vezes trai até mesmo as melhores falsificações.
A consistência entre o "subir" e "descer" no Livro de Mórmon nos mostra que o uso destes termos era algo natural para o autor (Néfi) e é uma indicação sutil de sua familiaridade com a topografia de Jerusalém e região ao redor.
Há também um grande significado neste simples detalhe. Para os antigos israelitas, a altitude de Jerusalém simbolizava subir ao céu. Como tal, representava a santidade e era análogo ao Monte Sinai, onde Moisés subiu para encontrar o Senhor.
O estudioso bíblico santo dos últimos dias, David J. Larsen, explica: "A diretriz de peregrinação trienal ordenava que os israelitas 'subissem' (ālâ)" a Jerusalém. Como Larsen explica:
A palavra hebraica ālâ parece ser usada com frequência como um […] termo da Bíblia Hebraica [o Velho Testamento] para ascender em procissão a lugares sagrados, incluindo à terra prometida de Israel (por exemplo, tirando-os do Egito: Êxodo 3:8, 17) e subindo a montanha sagrada [Sinai] (ver Êxodo 19:20). 4
Com essa perspectiva, as várias subidas de Néfi a Jerusalém e descidas na volta ao deserto assumem um novo significado. Cada ascensão a Jerusalém pode ter servido como um lembrete sombrio de que a cidade, da qual eles haviam fugido, era uma cidade santa.

O uso dos termos 'subir' e 'descer' relação à elevação do mundo real tem implicações para a geografia do Livro de Mórmon no Novo Mundo. Por exemplo, agora sabemos que a terra de Zaraenla estava em menor altitude do que a terra de Néfi (ver Ômni 1:13, 27-28; Palavras de Mórmon 1:13; Mosias 7:1, [em inglês] 4, 13). Além disso, também é importante para compreender a história da colônia de Zênife.
Depois que o primeiro Mosias conduziu seu povo a descer à terra de Zaraenla (Ômni 1:13), um grupo retornou subindo à terra de Néfi porque ''desejavam possuir a terra de sua herança'' (Ômni 1:27). Para os nefitas, a terra de Néfi, por estar em um lugar mais alto, seria como uma nova terra santa, e o povo de Zênife desejava reivindicá-la.
Essa atitude reflete o comportamento dos sacerdotes do rei Noé, que citaram Isaías 52:7-10 (Mosias 12:21-24), onde louvam os pés daquele que ''sobre os montes […] faz ouvir a paz''. É possível terem considerado estarem cumprindo essa profecia edificando Sião nas montanhas.Detalhes são importantes, mesmo os que aparentam ser simples e insignificantes. Essas características reforçam que o Livro de Mórmon é o que Joseph afirmou ser, um texto antigo originário de Jerusalém.
Leitura Complementar
David J. Larsen, ''Ascending into the Hill of the Lord: What the Psalms Can Tell Us About the Rituals of the First Temple", em Ancient Temple Worship: Proceedings of the Expound Symposium 14 May 2011, ed. Matthew B. Brown, Jeffrey M. Bradshaw, Stephen D. Ricks e John S. Thompson (Orem, UT e Salt Lake City, UT: Interpreter Foundation e Eborn Books, 2014), pp. 171–188. Jeffrey R. Chadwick, "Lehi's House at Jerusalem and the Land of His Inheritance", em Glimpses of Lehi's Jerusalem, ed. John W. Welch, David Rolph Seely, e Jo Ann H. Seely (Provo, UT: FARMS, 2004), pp. 81–130.1. Hugh Nibley, Lehi in the Desert/The World of the Jaredites/There Were Jaredites, The Collected Works of Hugh Nibley: Volume 5 (Salt Lake City/ Provo, UT: Deseret Book and FARMS, 1988), p. 7. 2. Jeffrey R. Chadwick, "Lehi's House at Jerusalem and the Land of His Inheritance", em Glimpses of Lehi's Jerusalem, ed. John W. Welch, David Rolph Seely, e Jo Ann H. Seely (Provo, UT: FARMS, 2004), pp. 84–85. 3. D. Kelly Ogden, "Answering the Lord’s Call (1 Nephi 1-7)'', em The Book of Mormon: Part 1–1 Nephi–Alma 29, Studies in Scripture: Volume 7, ed. Kent P. Jackson (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 1987), p. 27. 4. David J. Larsen, "Ascending into the Hill of the Lord: What the Psalms Can Tell Us About the Rituals of the First Temple", em Ancient Temple Worship: Proceedings of the Expound Symposium 14 May 2011, ed. Matthew B. Brown, Jeffrey M. Bradshaw, Stephen D. Ricks, e John S. Thompson (Orem, UT e Salt Lake City, UT: Interpreter Foundation and Eborn Books, 2014), pp. 174–175.