KnoWhy #382 | Junho 21, 2018
O que o Livro de Mórmon ensina sobre as famílias?
Postagem contribuída por
Scripture Central

"[E] não quiseram mais levar o nome deles; consequentemente, adotaram o nome de Néfi, para que pudessem ser chamados filhos de Néfi e contados com os que eram chamados nefitas."
O conhecimento
Para muitas pessoas, a família é a coisa mais importante da vida. O mesmo pode ser dito das pessoas no Livro de Mórmon. Apesar de suas origens às vezes complexas, eles se organizaram em vários núcleos de relações familiares, assim como muitas outras sociedades no mundo antigo.1
É quase certo que os jareditas, leítas e mulequitas encontraram outros povos quando chegaram ao novo mundo, e que alguns desses "outros" povos se juntaram aos novos imigrantes.2 E parece que a maioria daqueles que se juntaram a eles, tomou os nomes das tribos de suas novas sociedades.3 Essa prática, em que pessoas que não são intimamente relacionadas entre si e afirmam ter uma conexão familiar, é conhecida como "parentesco fictício" e era comum no mundo antigo.4
Um dos melhores exemplos de parentesco fictício praticado em larga escala vem do antigo Israel. Os israelitas foram divididos em doze tribos. Cada uma dessas tribos recebeu o nome de um dos filhos de Jacó ou José, o grande patriarca do Velho Testamento.5 No entanto, havia mais povos no antigo Israel do que apenas aqueles que descendiam desses primeiros ancestrais.6
Ilustração dos filhos de Israel oferecendo sacrifícios ao Senhor. Imagem de Philip Medhurst via Wikimedia Commons
Quando os israelitas deixaram o Egito, muitos que não eram israelitas partiram com eles, o que levou seu grupo a ser descrito como uma "mistura de gente" (Êxodo 12:38).7 E quando os israelitas chegaram à terra prometida, muitos do povo que já morava lá, chamados cananeus, parecem ter se juntado a eles também.8 Independentemente de suas origens, no entanto, essas novas pessoas parecem ter sido adotadas nas doze tribos de Israel, embora tecnicamente não fizessem parte desse grupo familiar estendido.9
O parentesco fictício do Velho Testamento pode ajudar a dar mais informações sobre o parentesco fictício no Livro de Mórmon, que também era comum na América pré-colombiana.10 Por exemplo, os lamanitas que se converteram ao cristianismo se autodenominavam de ânti-néfi-leítas (Alma 23:17), associando-se diretamente com os ancestrais dos nefitas e, por extensão, também com o povo nefita. Centenas de anos após a vinda de Cristo, houve “uma pequena parte do povo que se revoltara contra a igreja, tendo adotado o nome de lamanitas” (4 Néfi 1:20). Eventos como esse demonstram a importância duradoura das tribos originais da família do Livro de Mórmon.11
Há mais exemplos indiretos disso também. Assim como havia doze tribos que constituíam Israel, parece ter havido sete tribos leítas.12 E assim como os não-israelitas parecem ter sido aceitos nas tribos de Israel, os não-leítas foram aceitos nas tribos nefitas e leítas. Esse parentesco fictício pode ser visto nos primeiros livros do Livro de Mórmon. Néfi, por exemplo, construiu um templo como o de Salomão, um trabalho que provavelmente exigiria muito mais pessoas do que a parte relativamente pequena da família imediata de Néfi que era leal a ele (2 Néfi 5:16).13
Mais tarde, Jacó afirmou que "apareceu entre o povo de Néfi um homem cujo nome era Serém" (Jacó 7:1). Serém "era instruído, de modo que tinha perfeito conhecimento da língua do povo" (Jacó 7:4). Como John Tvedtnes apontou, se Serém fosse um nefita, não faria sentido ele "aparece[r] entre o povo de Néfi", já que ele já estaria vivendo entre eles.
Esboço da família de Leí por Arnold Friberg
Além disso, pode-se perguntar por que o texto observaria especificamente que ele "tinha perfeito conhecimento da língua do povo" se fosse nefita. Pode-se esperar que um nefita tenha um conhecimento prático de sua própria língua.14 Esses exemplos sugerem fortemente que os "outros" povos se integraram aos nefitas e lamanitas e se identificaram de acordo com essas famílias.
O porquê
A forte tendência dos povos do Livro de Mórmon de se organizarem conforme as unidades familiares, sejam elas originalmente parte dessas famílias ou não, demonstra como as relações familiares eram fundamentais em sua sociedade. Mesmo quando o governo falhou em 3 Néfi, a estrutura familiar não falhou (3 Néfi 7:2). Este é um lembrete da importância que a família pode ter para nós hoje em dia.15
Contudo, o Livro de Mórmon também mostra que a adoção de relacionamentos familiares justos às vezes exige sacrifício. É muito provável que algumas dessas pessoas que decidiram se identificar como parte da família nefita tenham deixado parentes de sangue quando o fizeram. Neil L. Andersen explicou as dificuldades enfrentadas pelas pessoas nesta situação hoje em dia:
[M]eu apelo hoje é pelas centenas de milhares de crianças, jovens e jovens adultos que não vêm dessas famílias ideais. Falo não apenas do jovem que sofreu pela morte, pelo divórcio ou pelo enfraquecimento da fé de seus pais, mas também das dezenas de milhares de rapazes e moças em todo o mundo que aceitam o evangelho sem que sua mãe ou seu pai os acompanhe na conversão à Igreja. Esses jovens santos dos últimos dias entram para a Igreja com muita fé.16
Por fim, Élder Anderson observou:
Continuaremos a ensinar o padrão do Senhor referente à família, mas agora com milhões de membros, e com a diversidade que temos entre as crianças da Igreja, precisamos ser ainda mais atenciosos e sensíveis. Às vezes, nossa cultura e nosso vocabulário eclesiástico são únicos. As crianças da Primária não vão parar de cantar "As Famílias Poderão Ser Eternas", mas, quando cantarem "quando chega em casa o meu pai, fico tão feliz" ou "os nossos pais nos ensinam a ser obedientes ao Senhor", nem todas as crianças estarão cantando sobre sua própria família.17
Fortalecer a família é absolutamente essencial no mundo de hoje.18 Aqueles cuja situação familiar não é ideal podem confiar que, por meio de convênios sagrados, podem entrar em relacionamentos familiares justos. Como o rei Benjamim prometeu: "E agora, por causa do convênio que fizestes, sereis chamados progênie de Cristo, filhos e filhas dele" (Mosias 5:7). Assim como os povos do Livro de Mórmon se identificaram com a família de Néfi, todos podemos nos identificar como filhos de Cristo por meio de nossos convênios com Ele.19
Leitura Complementar
John L. Sorenson, "When Lehi’s Party Arrived in the Land, Did They Find Others There?" Journal of Book of Mormon Studies 1, no. 1 (1992): pp. 1–34. Matthew Roper, "Nephi’s Neighbors: Book of Mormon Peoples and Pre-Columbian Populations", FARMS Review 15, no. 2 (2003): pp. 89–128; reimpresso em The Book of Mormon and DNA Research: Essays from The FARMS Review and the Journal of Book of Mormon Studies, ed. Daniel C. Peterson (Provo, UT: Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2008), pp. 185–218. The Book of Mormon: It Begins with a Family (Salt Lake City, UT: Bookcraft, 1993).1. Ver Arthur R. Bassett, "It Begins with a Family", em The Book of Mormon: It Begins with a Family (Salt Lake City, UT: Bookcraft, 1993), pp. 7–19. 2. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, ''É possível que a interação com 'outros' povos tenha influenciado Néfi na seleção de certos capítulos de Isaías? (2 Néfi 24:1)", KnoWhy 45 (25 de fevereiro de 2017). Ver também John L. Sorenson, "When Lehi’s Party Arrived in the Land, Did They Find Others There?" Journal of Book of Mormon Studies 1, no. 1 (1992): pp. 1–34; John Gee e Matthew Roper, "'I Did Liken All Scriptures Unto Us': Early Nephite Understandings of Isaiah and Implications for ‘Others’ in the Land", em The Fulness of the Gospel: Foundational Teachings from the Book of Mormon, ed. Camille Fronk, Brain M. Hauglid, Patty A. Smith, Thomas A. Wayment (Salt Lake City and Provo, UT: Deseret Book e Religious Studies Center, Brigham Young University, 2003), pp. 51–65; Brant A. Gardner, "The Other Stuff: Reading the Book of Mormon for Cultural Information", FARMS Review of Books 13, no. 2 (2001): pp. 21–52; Traditions of the Fathers: The Book of Mormon as History (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2015), pp. 154–158. 3. Para saber mais sobre isso, ver Matthew Roper, "Nephi's Neighbors: Book of Mormon Peoples and Pre-Columbian Populations", FARMS Review 15, no. 2 (2003): pp. 89–128; reimpresso em The Book of Mormon and DNA Research: Essays from The FARMS Review and the Journal of Book of Mormon Studies, ed. Daniel C. Peterson (Provo, UT: Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2008), pp. 185–218. 4. Tracy Maria Lemos, "Kinship, Community, and Society", em The Wiley Blackwell Companion to Ancient Israel, ed. Susan Niditch (Hoboken, NJ: Wiley, 2016), p. 380. 5. Embora Jacó tivesse apenas doze filhos, na verdade, existem treze tribos. Isso ocorre porque os dois filhos de José, Efraim e Manassés, receberam a herança com os filhos de Jacó, conforme observado em Gênesis 48:5. 6. Kenton L. Sparks, Ethnicity and Identity in Ancient Israel: Prolegomena to the Study of Ethnic Sentiments and Their Expression in the Hebrew Bible (Winona Lake, IN: Eisenbrauns, 1998), pp. 328–329. 7. Para saber mais sobre isso, consulte Shaul Bar, "Who Were the 'Mixed Multitude'?" Hebrew Studies 49, (2008): pp. 27–39. 8. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, ''Por que o 'Ciclo do Orgulho' destruiu a nação Nefita? (3 Néfi 6:10)", KnoWhy 195 (31 de agosto de 2017). 9. Joseph A. Callaway e Hershel Shanks, "The Settlement in Canaan: The Period of the Judges" em Ancient Israel: From Abraham to the Roman Destruction of the Temple, 3rd edition, ed. Hershel Shanks (Washington, DC: Biblical Archaeology Society, 2011), pp. 59–83. Ver também Hershel Shanks, William G. Dever, Baruch Halpern e P. Kyle McCarter Jr., The Rise of Ancient Israel (Washington, DC: Biblical Archaeology Society, 1992). 10. Patricia A. McAnany, Living with the Ancestors: Kinship and Kingship in Ancient Maya Society, 2nd edition (Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2013), p. xxviii. 11. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Onde Joseph Smith obteve seus ensinamentos sobre a família? (3 Néfi 18:21)", KnoWhy 285 (8 de janeiro de 2018). 12. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, ''Por que existem sete tribos de Leí? (Jacó 1:13)", KnoWhy 319 (26 de fevereiro de 2018). 13. Ver Brant A. Gardner, Second Witness: Analytical and Contextual Commentary on the Book of Mormon (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2007), pp. 1:351–356; 2:6–13, 102–103. 14. John A. Tvedtnes, "New Approaches to the Book of Mormon: Explorations in Critical Methodology", Review of Books on the Book of Mormon 6, no. 1 (1994): pp. 28–29. 15. Para um estudo mais geral sobre a importância da família na sociedade, ver Reed H. Bradford, "Family: Teachings About the Family", Encyclopedia of Mormonism, 4 v., ed. Daniel H. Ludlow (New York, NY: Macmillan, 1992), 2: pp. 486–488. 16. Neil L. Andersen, "Quem Os Recebe, Recebe a Mim", A Liahona, maio de 2016, pp. 49–50, disponível online em: lds.org. 17. Andersen, "Quem Os Recebe, Recebe a Mim", p. 50, disponível online em: lds.org. 18. Para saber mais sobre como o Livro de Mórmon ensina a fazer isso, ver Kenneth W. Anderson, "What Parents Should Teach Their Children from the Book of Mosiah", em Mosiah, Salvation Only Through Christ, The Book of Mormon Symposium Series, Volume 5, ed. Monte S. Nyman e Charles D. Tate, Jr. (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1991), pp. 23–36. 19. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Como o Livro de Mórmon pode fortalecer o casamento e a família? (Jacó 3:7)", KnoWhy 302 (31 de janeiro de 2018).