KnoWhy #505 | Março 21, 2019

O que torna a humanidade inimiga de Deus?

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Scripture Central

"Porque o homem natural é inimigo de Deus e tem-no sido desde a queda de Adão e sê-lo-á para sempre; a não ser que ceda ao influxo do Santo Espírito e despoje-se do homem natural e torne-se santo pela expiação de Cristo, o Senhor" Mosias 3:19

O conhecimento

Ao falar a seu povo, o rei Benjamim declarou que "o homem natural é inimigo de Deus e tem-no sido desde a queda de Adão e sê-lo-á para sempre" (Mosias 3:19). A princípio, pode-se supor, a partir desta afirmação, que o Livro de Mórmon está sugerindo que as pessoas são de alguma forma inata e naturalmente más desde o nascimento. No entanto, quando essa afirmação é interpretada conforme o contexto, fica claro que o rei Benjamim quis dizer exatamente o oposto: que nossa confiança em Cristo nos permite retornar ao nosso estado de inocência, "como uma criancinha".1

Mosias 3:18, o versículo que o precede, ajuda a provar isso. Ele começa afirmando que "a criança que morre ainda na infância não perece; mas os homens bebem condenação para sua própria alma". Essa tragédia autoinfligida acontecerá a menos que as pessoas "se humilhem e tornem-se como criancinhas, e acreditem que a salvação veio, vem e virá do sangue e pelo sangue expiatório de Cristo, o Senhor Onipotente" (ênfase adicionada).

Se a humanidade, em vez disso, fosse vista como sendo de alguma forma má desde o nascimento, que as criancinhas são, portanto, más, não faria sentido o rei Benjamim declarar que todos nós devemos nos tornar como criancinhas. Na verdade, o versículo 19 apoia ainda mais a inocência e a pureza das crianças. Ele declara que a única maneira de pôr de lado o homem natural é "torne-se como uma criança, submisso, manso, humilde, paciente, cheio de amor, disposto a submeter-se a tudo quanto o Senhor achar que lhe deva infligir, assim como uma criança se submete a seu pai". Se o rei Benjamim pensasse que todas as pessoas são naturalmente depravadas desde o nascimento, não faria muito sentido para ele encorajar todos a se tornarem como criancinhas.2 De fato, os versículos 18 e 19 devem ser lidos juntos, por estarem entrelaçados quiasticamente.

Outro versículo que ajuda a explicar esse significado em Mosias 3:19 é Mosias 3:11, que afirma: "Pois eis também que seu sangue expia os pecados dos que caíram pela transgressão de Adão, que morreram sem conhecer a vontade de Deus acerca de si mesmos ou que pecaram por ignorância". A declaração do rei Benjamim (ou do anjo) no v. 19 provavelmente não significa que os mortais se tornam inerentemente pecadores devido à queda de Adão, porque no versículo 11 ele já havia declarado que o sangue de Cristo "expia os pecados dos que caíram pela transgressão de Adão". Portanto, o problema abordado no v. 19 deve envolver alguma outra maneira pela qual os mortais se tornam inimigos de Deus ou se encontram em um estado "natural", conforme mencionado no versículo 19.

Da mesma forma, Mosias 3:16 afirma que "em Adão, ou seja, pela natureza, elas caem, assim também o sangue de Cristo expia os seus pecados". Neste versículo, a frase "pela natureza" significa "por nascimento", a palavra natural vem do latim natus , que significa nascimento.3 Portanto, o sentido do v. 16 torna-se claro: quando os espíritos nascem como pessoas mortais cometem pecados, o sangue de Cristo está pronto para expiar os pecados, permitindo os incentivos do Espírito Santo e assim por diante, como o v. 19 enfatiza.

Na verdade, Mosias 3:19 expande a ideia de que o homem natural é inimigo de Deus para aplicar a ambas as condições, tanto durante a mortalidade quanto na eternidade. Mosias 3:19 diz que esta condição de ser um "homem natural" tem existido "desde a queda de Adão [quando o homem se torna temporal e pecaminoso] e [também existirá infinitamente] sê-lo-á para sempre" se não fosse pela expiação de Cristo. A frase "desde a queda de Adão" pode estar mais relacionada ao tempo (referindo-se ao tempo em que os mortais se tornam inimigos de Deus), do que à acusação (o que fez do homem natural um inimigo de Deus, ou seja, seus próprios pecados e não a transgressão de Adão). Como nos é dito quando e como essa condição terminará (ou seja, que a Expiação de Cristo pode encerrar esse estado decaído somente quando nos despojarmos do homem natural), podemos entender melhor a importância de sabermos como esse estado decaído surgiu em primeiro lugar (ou seja, como resultado de nossos pecados).Embora complicado e sutil, o uso de Paulo da frase "homem natural" pode ser no mesmo sentido que a frase do rei Benjamim. Em 1 Coríntios 2:14, Paulo declara: "Mas o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porquanto se discernem espiritualmente" (ênfase adicionada). É plausível que o uso de Paulo e do rei Benjamim da expressão homem natural remontem a uma antiga compreensão judaica da mortalidade.De acordo com Eduard Schweizer, a palavra traduzida como "natural" enfatiza que os elementos "terrenos, humanos e não espirituais" da vida são comparados às partes "celestiais, divinas ou espirituais" da vida.4 Da mesma forma, para o antigo filósofo judeu Filo, esse "homem natural" é o que Deus amaldiçoou em Gênesis 3:17, quando disse que "maldita é a terra por causa de ti".5 Filo pensava que a Terra era uma representação do homem terreno ou "natural", de modo que, quando Deus amaldiçoou a terra, ele estava realmente amaldiçoando apenas o lado humano "natural", pecaminoso e não espiritual.6 Portanto, o "homem natural" fora inimigo de Deus, pela maldição de Deus, desde a queda, como declarou o rei Benjamim, de um ponto de vista diferente.

Alma 26:21, a única outra passagem do Livro de Mórmon que usa a frase homem natural, também pode ajudar a explicar esse significado. Ela declara: "E agora, meus irmãos, que homem natural existe que conheça essas coisas? Digo-vos que não existe quem conheça essas coisas, a não ser o penitente" (ênfase adicionada). Se o homem natural não pode conhecer as coisas de Deus, mas o homem penitente pode saber dessas coisas, então parece razoável supor que o "homem natural" é qualquer pessoa que, em particular, é impenitente ou não se arrependeu, como mencionado acima. Uma pessoa se torna inimiga de Deus quando ela cede às tentações e segue suas inclinações decaídas para transgredir, ignorar as coisas espirituais e, então, continua em um estado pecaminoso.

O porquê

Quando a declaração do rei Benjamim sobre o homem natural é lida em seu contexto, o Livro de Mórmon deixa claro que as pessoas, de forma alguma, nascem más. É importante ressaltar que o Livro de Mórmon assegura a todo ser humano que Deus não colocou ninguém neste mundo e o tornou mau apenas por sua existência. O "homem natural" é qualquer homem ou mulher que não se arrepende ou não está, em outras palavras, "penitente", conforme declarado de maneira poderosa em Alma 26. Nossas tendências ou capacidades de pecar naturalmente nos deixam em um estado pecaminoso e maligno, que é antitético a Deus. Mas, se resistirmos e deixarmos de lado essas inclinações ou consequências ímpias, podemos superar o controle dessas influências e não nos tornarmos inimigos de Deus.

Nada disso significa que toda a humanidade é necessariamente ou de alguma forma oposta a Deus, ou contrária a Ele. É enobrecedor saber que todas as pessoas, que estão tentando fazer o seu melhor e se arrependem quando cometem erros, não são inimigas de Deus, são simplesmente filhos de Deus, tentando sobreviver a uma vida em um mundo, por vezes, implacável. Rejeitar as tendências pecaminosas que temos, como o Livro de Mórmon nos encoraja a fazer, nos permitirá "deixar de lado o homem natural e nos tornar santos" por meio da Expiação de Jesus Cristo.7

Se então nos submetermos "ao influxo do Santo Espírito", poderemos tornar-nos como "uma criança: submisso, manso, humilde, paciente, cheio de amor, disposto a submeter-se a tudo quanto o Senhor achar que lhe deva infligir, assim como uma criança se submete a seu pai". Ao fazer isso, podemos deixar de lado o "homem natural" que todos experimentamos em nós mesmos como consequência de nossos erros. Assim, como o rei Benjamim conclui: "Cristo, o Senhor Deus Onipotente, possa selar-vos como seus, a fim de que sejais levados ao céu e tenhais salvação sem fim e vida eterna por meio da sabedoria e poder e justiça e misericórdia daquele que criou todas as coisas no céu e na Terra" tornando-se assim mais semelhantes a nosso Pai celestial, que "é Deus acima de tudo" (Mosias 5:15).8

Este KnoWhy foi possível graças ao generoso apoio do Welch Family Trust.

Leitura Complementar

John W. Welch, "Parallelism and Chiasmus in Benjamin’s Speech", em King Benjamin’s Speech: "That Ye May Learn Wisdom", ed. John W. Welch e Stephen D. Ricks (Provo, UT: FARMS, 1998), p. 352. Neal A. Maxwell, "King Benjamin’s Manual of Discipleship", Ensign (Jan 1992). Robert L. Millet, "The Natural Man: An Enemy to God", em Mosiah, Salvation Only Through Christ, ed. Monte S. Nyman e Charles D. Tate Jr. The Book of Mormon Symposium Series, Volume 5 (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1991), pp. 139–159.

1. Para várias perspectivas sobre este assunto, confira Robert L. Millet, "The Natural Man: An Enemy to God", em Mosiah, Salvation Only Through Christ, ed. Monte S. Nyman e Charles D. Tate Jr., The Book of Mormon Symposium Series, Volume 5 (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1991), pp. 139–159; Rodney Turner, "The Great Conversion", em The Book of Mormon, Part 1:1 Néfi to Alma 29, ed. Kent P. Jackson, Studies in Scripture, Volume 7 (Salt Lake City, UT: Desert Book, 1987), pp. 217–218. 2. A estrutura quiástica desta passagem também suporta esta interpretação, ligando sentenças no v. 18 com as sentenças correspondentes no v. 19. Ver John W. Welch, "Parallelism and Chiasmus in Benjamin’s Speech", em King Benjamin’s Speech: "That Ye May Learn Wisdom", ed. John W. Welch e Stephen D. Ricks (Provo, UT: FARMS, 1998), p. 352. Ver também John W. Welch, "Chiasmus in the Book of Mormon", em Chiasmus in Antiquity: Structures, Analyses, Exegesis, ed. John W. Welch (Hildesheim, GER: Gerstenberg Verlag, 1981; reimpresso em Provo, UT: Research Press, 1999), p. 208. 3. Ver Noah Webster, American Dictionary of the English Language (1828), s.v., "Nature". Disponível em webstersdictionary1828.com. Ver também Oxford English Dictionary (1971), s.v., "Nature", pp. 41–42. 4. Theological Dictionary of the New Testament, ed. Gerhard Friedrich (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1971), 9: p. 661. 5. Theological Dictionary, 9: p. 661. 6. Theological Dictionary, 9: p. 661. 7. Para saber mais sobre isso, confira Neal A. Maxwell, "King Benjamin 's Manual of Discipleship", Ensign, janeiro de 1992, disponível em lds.org. 8. Confira o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Como o homem natural pode ser derrotado? (Mosias 3:19)", KnoWhy 311, (13 de fevereiro de 2018).

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