KnoWhy #30 | Fevereiro 7, 2017

O “Salmo de Néfi” é realmente um salmo?

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Scripture Central

Eis que minha alma se deleita nas coisas do Senhor; e meu coração medita continuamente nas coisas que vi e ouvi. Não obstante, apesar da grande bondade do Senhor, mostrando-me suas grandes e maravilhosas obras, meu coração exclama: Oh! Que homem miserável sou! Sim, meu coração se entristece por causa de minha carne; minha alma se angustia por causa de minhas iniquidades. 2 Néfi 4:16–17

O conhecimento

2 Néfi 4:16-35, conhecido por muitos leitores do Livro de Mórmon como o "Salmo de Néfi", 1 expressa esperança, alegria, tristeza e provações. Curiosamente, o Salmo de Néfi compartilha muitas semelhanças, tanto em estilo quanto em linguagem, com os Salmos do Velho Testamento. 2

O estudioso santo dos últimos dias Matthew Nickerson3 estabeleceu que o Salmo de Néfi se encaixa no tipo de salmo bíblico denominado "lamento individual", que apresenta cinco unidades estruturais:4

Os estudiosos santos dos últimos dias Kenneth Alford e D. Bryce Baker destacaram as semelhanças entre a estrutura e a linguagem de 2 Néfi 4 e a linguagem encontrada na sequência de Salmos 25-31.5 Esse grupo de salmos é composto principalmente de lamentações individuais e também de cânticos de louvor e ação de graças ao Senhor. Parte da linguagem compartilhada inclui:

Salmos de Néfi (2 Néfi 4)Semelhanças nos Salmos 25-31
2 Néfi 4:17, 19 "[G]rande bondade do Senhor, mostrando-me suas grandes e maravilhosas obras" [...] "[S]ei em quem confiei".Salmo 31:19 "Oh, quão grande é a tua bondade, que guardaste para os que te temem, a qual reservaste para aqueles que em ti confiam".
2 Néfi 4:17–19 "[M]inha alma se angustia por causa de minhas iniquidades" e "meu coração geme por causa de meus pecados".Salmo 25:17-18 "As angústias do meu coração se multiplicaram [...] Olha para a minha aflição e para a minha dor, e perdoa todos os meus pecados".
2 Néfi 4:23, 35 "Eis que ele ouviu meu clamor durante o dia" [...] "levantarei a minha voz a ti; sim, clamarei a ti, meu Deus".Salmo 30:8 "A ti, Senhor, clamei, e ao Senhor supliquei".
2 Néfi 4:26 “[O] Senhor (…) visitou os homens com tanta misericórdia".Salmo 25:6 "Lembra-te, Senhor, das tuas misericórdias e das tuas benignidades, porque são desde a eternidade"
2 Néfi 4:20 -29 "[M[inhas aflições".Salmo 25:16 "[E]stou solitário e aflito".
2 Néfi 4:22, 27, 29, 31, 33 "[M]eus inimigos" e "meu inimigo".Salmos 27:11–12 "[G]uia-me pela vereda reta, por causa dos meus inimigos. Não me entregues à vontade dos meus adversários".
2 Néfi 4:28 "Regozija-te, ó meu coração".Salmo 28:7 "[N]ele confiou o meu coração, e fui socorrido, pelo que o meu coração salta de prazer".
2 Néfi 4:31 "Ó Senhor, redimirás minha alma?"Salmo 25:20 "Guarda a minha alma, e livra-me".

Um aspecto importante da série de Salmos 25-31 é seu foco sobre temas do templo e convênios.6 De acordo com Peter Craigie, especialista nos Salmos, os Salmos 25 e 28 devem ser lidos no contexto de uma cerimônia de convênios (ver, por exemplo, 25:10, 14; 28:4, 7). Craigie diz:

A atitude de confiança é a chave para a preparação do salmista, porque confiança significa dependência e esperança baseadas no caráter dos convênios de Deus. Ele confia porque Deus é fiel, como um Deus da promessa e do convênio; ele confia porque aqueles que confiaram no passado experimentaram a presença e a ajuda de Deus.7

Como parte do processo de fazer convênios, o salmista normalmente faz cinco coisas:

  1. Reconhece seus pecados.
  2. Pede perdão para que as maldições do convênio não venham sobre ele, mas que caiam sobre seus inimigos, os ímpios.
  3. Ele se dedica a guardar os convênios/mandamentos do Senhor.
  4. Pede ao Senhor que o guie no caminho certo.
  5. Ele se alegra pela ajuda do Senhor e agradece/louva a Deus.

O Salmo de Néfi compartilha todas as características do estabelecimento de convênios.

O texto acima é apenas uma pequena amostra dos muitos paralelos em estrutura, linguagem e temas compartilhados entre o Salmo de Néfi e os Salmos do Velho Testamento. É claro que Néfi tinha conhecimento oral ou escrito da linguagem e do estilo dos salmos bíblicos (especialmente aqueles que podem ter estado nas placas de latão) e que ele usou muito habilmente esse conhecimento literário ao escrever a composição poética de sua alma.

O porquê

Os leitores podem extrair profunda força espiritual do Salmo de Néfi ao se relacionarem com as cinco fases tipicamente presentes na linguagem de convênio dos Salmos. As pessoas são incentivadas a reconhecer honestamente seus pecados, deficiências e falhas, assim como Néfi enfrentou com confiança seus próprios desafios e ira. Os fiéis, então, encontram em Néfi um modelo de súplica sincera ao Senhor por Seu perdão. Então, veem Néfi rededicar-se a seus convênios com Deus e a comprometer-se em seguir o caminho certo. Por fim, os fiéis expressam abertamente sua alegria com gratidão pela bondade e redenção do Senhor.

Neste salmo, Néfi demonstra que ele era um autor experiente e um estudante brilhante das escrituras. Todos o seu registro demonstra constantemente sua capacidade de integrar palavras e frases das escrituras. O fato do "Salmo de Néfi" recorrer tão extensivamente a diversos salmos bíblicos é uma evidência de que Néfi conhecia e apreciava profundamente essas passagens, as quais usava com alegria em seu cotidiano e em seus escritos. As palavras inspiradas das Escrituras, inclusive os Salmos, eram muito queridas e reconfortantes para Néfi.

Por fim, o fato de Néfi estruturar seu salmo segundo o padrão de alguns salmos bíblicos que tratam do templo e dos convênios, deve demonstrar que o templo realmente é um lugar de refúgio contra as tempestades de nossa vida e que há segurança e orientação no cumprimento dos convênios que fazemos ali.

Leitura Complementar

Kenneth L. Alford and D. Bryce Baker, "Parallels between Psalms 25–31 and the Psalm of Nephi", in Ascending the Mountain of the Lord: Temple, Praise, and Worship in the Old Testament (2013 Sperry Symposium), ed. Jeffrey R. Chadwick, Matthew J. Grey, and David Rolph Seely (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University; Salt Lake City: Deseret Book, 2013), pp. 312–28. John Hilton III, "Old Testament Psalms in the Book of Mormon", in Ascending the Mountain of the Lord: Temple, Praise, and Worship in the Old Testament (2013 Sperry Symposium), ed. Jeffrey R. Chadwick, Matthew J. Grey, and David Rolph Seely (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University; Salt Lake City: Deseret Book, 2013), pp. 291–311. S. Kent Brown, "Nephi's Psalm", in The Book of Mormon Reference Companion, ed. Dennis Largey. Salt Lake City: Deseret Book, 2003. John W. Welch, "The Psalm of Nephi as a Post-Lehi Document." Insights: A Window on the Ancient World. June 1999. David Bokovoy, "From Distance to Proximity: A Poetic Function of Enallage in the Hebrew Bible and the Book of Mormon", Journal of Book of Mormon Studies 9, no. 1 (2000): pp. 60–63.

1. A denominação "Salmo de Néfi" parece ter sido cunhada por Sidney Sperry em Sidney B. Sperry, Our Book of Mormon (Salt Lake City: Stevens & Wallis, 1947), pp. 110–11. 2. Steven Sondrup realizou um estudo sobre esses versos para avaliar seu valor poético. Ele indicou que as passagens contêm estrutura, ritmo, paralelismo, quiasmas, pares verbais, dísticos, terços e outras características de estruturação poética intencional. Além disso, Sondrup concluiu que "unidades lógicas, formais ou conceituais são colocadas paralelas umas às outras", como na poesia hebraica do Velho Testamento. Ver Steven P. Sondrup, "The Psalm of Nephi: A Lyric Reading", BYU Studies 21, no. 3 (1981): pp. 357-372. Formato adicionado. 3. Matthew Nickerson,"Nephi's Psalm: 2 Nephi 4: pp. 16–35 in Light of Form-Critical Analysis", Journal of Book of Mormon Studies 6, no. 2 (1997): pp. 26–42, especificamente na página 30. 4. Para exemplos entre os Salmos de "lamentações individuais" com esta estrutura básica, ver Salmos 3, 5-7, 9, 12-14, 17, 22, 25, 28, 31, 35, 38, 39, 51, 53-58, 61, 64, 69-71, 77, 83, 86, 88, 102, 109, 130, 139-44. 5. Kenneth L. Alford e D. Bryce Baker, "Parallels between Psalms 25–31 and the Psalm of Nephi", em Ascending the Mountain of the Lord, pp. 312–28. Ver também John Hilton III, "Old Testament Psalms in the Book of Mormon", in Ascending the Mountain of the Lord: Temple, Praise, and Worship in the Old Testament (2013 Sperry Symposium), ed. Jeffrey R. Chadwick, Matthew J. Grey e David Rolph Seely (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University; Salt Lake City: Deseret Book, 2013), pp. 291–311.

6. Embora não tanto no Salmo 31, esses temas são claros em todos os outros Salmos desta série. 7. Peter C. Craigie and Marvin E. Tate, Psalms 1-50, World Biblical Commentary, vol. 19, Bruce M. Metzger, gen. ed. (Second Edition; Nashville: Thomas Nelson, 2004), p. 218.

Expiação
Evidência
Arrependimento
Livro de Mórmon

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