KnoWhy #286 | Janeiro 9, 2018

O Vale de Lemuel e o Rio Lamã foram encontrados?

Postagem contribuída por

 

Scripture Central

"E aconteceu que depois de haver viajado três dias pelo deserto, ele armou sua tenda num vale, à margem de um rio de águas." 1 Néfi 2:6

O conhecimento

Após viajarem pela costa do Mar Vermelho, Leí e sua família seguiram por mais três dias antes de estabelecerem seu primeiro acampamento fixo em um vale "firme, constante e imutável" com um rio "continuamente correndo" em direção ao Mar Vermelho (1 Néfi 2:5-10). Poeticamente,1 Leí deu a esse rio o nome de seu filho mais velho, Lamã (1 Néfi 2:8-9, 16:12), e ao vale o nome de seu segundo filho, Lemuel (1 Néfi 2:10; 16:6).

Os rios são raros no noroeste da Arábia. Embora muitos dos leitos fluviais tipicamente secos transbordarem temporariamente durante a estação chuvosa, um estudo geológico abrangente, publicado em 1984, determinou que a Arábia Saudita "pode ser o maior país do mundo sem rios ou córregos perenes".2 Essa escassez de rios perenes levou vários pesquisadores a propor que o rio Lamã, que "corre continuamente", seria um dos muitos córregos sazonais que atravessam os Uádis — cânions profundos e vales estreitos — do noroeste da Arábia. 3 No entanto, em maio de 1995, dois exploradores santos dos últimos dias fizeram uma descoberta inesperada. George Potter e Craig Thorsted se perderam enquanto procuravam um local conhecido pelos árabes locais como "Águas de Moisés". Desviados por um guia local, seguiram para o norte, ao longo da costa do Golfo de Acaba até que, repentinamente, a paisagem rochosa e desértica foi substituída por "um magnífico e estreito cânion" que "terminava em uma enseada com palmeiras. Os tons azuis brilhantes das águas límpidas do golfo e o céu emolduravam a paisagem".4

Mapa da Central do Livro de Mórmon representando uma possível rota de Jerusalém até o Uádi Tayyib al-Ism, a possível localização do Vale de Lemuel. Mapa da Central do Livro de Mórmon representando uma possível rota de Jerusalém até o Uádi Tayyib al-Ism, a possível localização do Vale de Lemuel

Eles encontraram o Uádi Tayyib al-Ism, um vale estreito localizado a 120 quilômetros ao sul de Acaba, ao longo da costa árabe.5 Estima-se que, na antiguidade, o deslocamento diário pelos desertos árabes seriam de 20 a 40 quilômetros por dia.6 O Uádi Tayyib al-Ism está localizado à distância máxima de um deslocamento de 3 dias (60 a 120 quilômetros) do extremo norte do Golfo de Acaba, uma extensão a nordeste do Mar Vermelho.

Frutas e grãos crescem naturalmente no Uádi Tayyib al-Ism (ver 1 Néfi 8:1), e os paredões de granito do uádi, que se elevam a cerca de 610 metros de altura, estão entre os mais impressionantes da região, invocando facilmente a descrição de Leí, "firme, constante e imutável" (1 Néfi 2:10).7 O mais importante é a presença de um pequeno córrego que corria pelo uádi, e repetidas visitas feitas em várias épocas do ano confirmaram que a água flui por este córrego o ano todo.8 Potter e seus colegas haviam descoberto o primeiro - e, até o momento, o único - riacho ou córrego de fluxo perene conhecido em todo o noroeste da Arábia.

Captura de tela do Google Earth com uma possível localização do Vale de Lemuel Captura de tela do Google Earth fixando uma possível localização do Vale de Lemuel

Hoje, poucos chamariam este córrego de rio, mas ele pode ter sido mais parecido a um rio na época de Leí. Alguns registros antigos indicam que o noroeste da Arábia era mais úmido antigamente,9 e o córrego pode ter sido severamente reduzido nos últimos anos, à medida que sua água foi desviada para áreas mais populosas.10 De qualquer forma, o termo hebraico nahar realmente significa "curso perpétuo de água" sendo aplicado tanto a rios quanto córregos.11

A foz do córrego atualmente não chega ao mar por cerca de meio quilômetro.12 Como "as águas do rio [Lamã] desaguavam na fonte do Mar Vermelho" (1 Néfi 2:9), essa inconsistência levou um estudioso a descartar o Uádi Tayyib al-Ism como o Vale de Lemuel.13 No entanto, o egiptólogo James K. Hoffmeier apresentou evidências importantes indicando que, por volta do século VIII a VI a.C., "o Mar Vermelho recuou cerca de quinhentos metros em relação à sua antiga costa".14 Avaliando as evidências de um deslocamento da orla marítima, S. Kent Brown concluiu: "todos os indicadores geológicos apontam para a atual foz do Uádi Tayyib al-Ism, situada sob as águas do Mar Vermelho na antiguidade".15

O porquê

É impossível ter certeza se o Uádi Tayyib al-Ism é o Vale de Lemuel.16 Talvez, como a região era mais úmida na antiguidade, houvesse outros riachos e córregos perenes que já secaram.17 No entanto, a existência do Uádi Tayyib al-Ism, com sua parede de granito "firme, constante e imutável" e seu rio "continuamente correndo", prova seguramente a existência de um vale que se estende ao longo das margens de uma "rio", como descrito em 1 Néfi 2, e que está a uma distância de uma jornada de 3 dias do extremo norte do Golfo de Acaba.

Leí Construindo um Altar de Pedras no Vale de Lemuel, por Kelly Clark Price Leí Construindo um Altar de Pedras no Vale de Lemuel, por Kelly Clark Price

Este não é um fato insignificante. O curso de água que atravessa o Uádi Tayyib al-Ism é atualmente o único riacho ou córrego perene documentado em toda a região noroeste da Arábia, e, por acaso, está a uma distância de 50 quilômetros do Vale de Lemuel, onde o rio "continuamente correndo" estaria localizado.

Nos dias de Joseph Smith, as escassas fontes de informação sobre a Arábia não documentavam nem mesmo a presença de Uádis com rios sazonais nessa região,18 muito menos a localização aproximada do único rio perene da região. Como Daniel C. Peterson perguntou: "Como Joseph Smith saberia sobre o Uádi Tayyib al-Ism? Mesmo em nosso cenário contemporâneo repleto de informações, o que a maioria de nós sabe sobre isso?"19

Compreender quão singular seria um local como o Vale de Lemuel naquela região também ajuda os leitores a apreciarem a maneira pela qual o Senhor guiou Leí e sua família. Leí tirou sua família de Jerusalém porque as pessoas de lá queriam matá-lo (1 Néfi 2:1). Leí precisava sair da cidade rapidamente. O Vale de Lemuel proporcionou um lugar seguro, com acesso viável a comida e água, onde Leí e sua família puderam parar para reagrupar, reunir suprimentos em preparação para sua longa jornada e retornar a Jerusalém conforme necessário (1 Néfi 3:2-4; 1 Néfi 7:2).

Não é de admirar que Leí tenha parado e erguido "um altar de pedras […] e [rendido] graças ao Senhor nosso Deus" ao chegar lá (1 Néfi 2:7), e feito declarações exclamatórias e poéticas exortando seus filhos rebeldes a serem firmes, constantes e imutáveis como esses impressionantes paredões rochosos, e a desfrutarem continuamente da fonte de toda a justiça como esse rio de águas claras (1 Néfi 2:9-10). Após viajar por um "deserto selvagem", onde "dificilmente uma folha de grama quebra a monotonia",20 Leí, sem dúvida, reconheceu a mão do Senhor ao guiar sua família a um vale tão raro, com um rio "continuamente correndo" por ele.

Leitura Complementar

S. Kent Brown, "The Hunt for the Valley of Lemuel", Journal of Book of Mormon Studies 16, no. 1 (2007): pp. 64–73. Jeffrey R. Chadwick, "The Wrong Place for Lehi's Trail and the Valley of Lemuel", FARMS Review 17, no. 2 (2005): pp. 197–215. George Potter e Richard Wellington, Lehi in the Wilderness: 81 New, Documented Evidences That the Book of Mormon is a True History (Springville, UT: Cedar Fort, 2003), pp. 31–51. George D. Potter, "A New Candidate in Arabia for the Valley of Lemuel", Journal of Book of Mormon Studies 8, no. 1 (1999): pp. 54–63.

1. Central do Livro de Mórmon, "Leí usou a linguagem da antiga poesia beduína? (1 Néfi 2:9-10)", KnoWhy 5 (31 de dezembro de 2016). 2. O Ministério da Agricultura e Águas do Reino da Arábia Saudita, com a cooperação da Comissão Conjunta de Cooperação Econômica dos Estados Unidos da Arábia Saudita, do Centro Gráfico Nacional dos EUA e do Serviço Geológico dos EUA, Water Atlas of Saudi Arabia (Riyhad: Saudi Publishing, 1984), xv; citado em George D. Potter, "A New Candidate in Arabia for the Valley of Lemuel", Journal of Book of Mormon Studies 8, no. 1 (1999): p. 56. 3. Ver Hugh Nibley, Lehi in the Desert/The World of the Jaredites/There Were Jaredites, The Collected Works of Hugh Nibley: Volume 5 (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e FARMS, 1988), pp. 79–80; Lynn M. Hilton e Hope A. Hilton, Discovering Lehi: New Evidence of Lehi and Nephi in Arabia (Springville, UT: Cedar Fort, 1996), pp. 51–53; Jeffrey R. Chadwick, "The Wrong Place for Lehi's Trail and the Valley of Lemuel", FARMS Review 17, no. 2 (2005): p. 211. Para uma crítica deste ponto de vista, ver S. Kent Brown, "The Hunt for the Valley of Lemuel", Journal of Book of Mormon Studies 16, no. 1 (2007): pp. 66–67. 4. Potter, "A New Candidate", pp. 55–56. 5. Potter, "A New Candidate", pp. 59–60. Os 120 quilômetros [74 milhas] são medidos via deslocamento por terra, e não por uma linha reta. 6. S. Kent Brown, "New Light From Arabia on Lehi’s Trail", em Echoes and Evidences for the Book of Mormon, ed. Donald W. Parry, Daniel C. Peterson e John W. Welch (Provo, UT: FARMS, 2002), p. 60. John W. Welch e Robert D. Hunt, "Culturegram: Jerusalem 600 BC", em Glimpses of Lehi’s Jerusalem, ed. John W. Welch, David Rolph Seely e Jo Ann H. Seely (Provo, Utah: FARMS, 2004), p. 4, dão uma faixa ligeiramente mais estreita de 27 a 37 quilômetros por dia. 7. George Potter e Richard Wellington, Lehi in the Wilderness: 81 New, Documented Evidences That the Book of Mormon is a True History (Springville, UT: Cedar Fort, 2003), pp. 33–36; Brown, "The Hunt for the Valley of Lemuel", p. 73. 8. Potter, "A New Candidate", p. 61. Ver também David A. Edwards, "Was Lehi Here?" New Era, janeiro de 2008, p. 11. 9. John A. Tvedtnes, "More on the River Laman", Insights: A Window on the Ancient World 25, no. 3 (2005): pp. 2–3. 10. Potter, "A New Candidate", p. 61. 11. Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, The Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament, 2 v., trad. M.E.J. Richardson (Boston, MA: Brill, 2001), 1: p. 676. Ver também Jeff Lindsay, "Joseph and the Amazing Technicolor Dream Map: Part 1 of 2", Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 19 (2016): p. 184. 12. Potter, "A New Candidate", p. 62. 13. Chadwick, "The Wrong Place", pp. 212–213. 14. James K. Hoffmeier, Israel in Egypt: The Evidence for the Authenticity of the Exodus Tradition (New York, NY: Oxford University Press, 1997), p. 208. 15. Brown, "The Hunt for the Valley of Lemuel", p. 71. Ver também Potter e Wellington, Lehi in the Wilderness, p. 39. Alternativamente, Lindsay, "Joseph and the Amazing Technicolor Dream Map: Part 1", pp. 184-185, 207-210, argumentou que a maneira como o rio submerge abaixo da superfície e alimenta o Mar Vermelho por canais subterrâneos se reflete na descrição cuidadosa de Néfi de que as águas do rio "desaguavam na fonte do Mar Vermelho" (1 Néfi 2:9, ênfase adicionada). 16. Ver Chadwick, "The Wrong Place", pp. 209-215 para uma posição contra essa possibilidade. Brown, "The Hunt for the Valley of Lemuel", pp. 64-73, responde às objeções de Chadwick e conclui, após avaliar outras propostas também, que o Uádi Tayyib al-Ism é o melhor candidato. 17. Tvedtnes, "More on the River Laman", pp. 2–3. 18. Eugene England, "Through the Arabian Desert to a Bountiful Land: Could Joseph Smith Have Known the Way?" em Book of Mormon Authorship: New Light on Ancient Origins, ed. Noel B. Reynolds (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1982; reprint FARMS, 1996), p. 145; "Book of Mormon Geography: The river of Laman and the valley of Lemuel", Evidences of the Book of Mormon, disponível em evidencesofmormon.org. Ver também Jeff Lindsay, "Joseph and the Amazing Technicolor Dream Map: Part 2 of 2", Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 19 (2016): pp. 254–270, que analisa vários mapas da época de Joseph Smith para mostrar o tipo de informação disponível. Embora se concentre principalmente em saber se esses mapas ajudam a identificar Naom (o que não acontece), Lindsay também menciona ocasionalmente o Vale de Lemuel, observando a ausência de qualquer indício de tal vale nesses mapas. 19. Daniel C. Peterson, "Not So Easily Dismissed: Some Facts For Which Counter-explanations of the Book of Mormon Will Need to Account", FARMS Review 17, no. 2 (2005): xxv–xxvi. 20. Potter e Wellington, Lehi in the Wilderness, pp. 22, 41.

Antigo Oriente
Evidência
Jornada para a terra prometida
Mar Vermelho
Rio Lamã
Lemuel (Vale de)
Wadi
Livro de Mórmon

© Copyright 2024 Central das Escrituras: Uma organização sem fins lucrativos. Todos os direitos reservados.. Registrado 501(c)(3). EIN: 20-5294264