KnoWhy #21 | Janeiro 25, 2017
Os povos antigos navegavam pelos mares?
Postagem contribuída por
Scripture Central

"E aconteceu que depois de havermos todos entrado no navio com as provisões e as coisas que tínhamos ordem de levar, pusemo-nos ao mar e fomos levados pelo vento rumo à terra da promissão." 1 Néfi 18:8
O conhecimento
Para muitos, pode ser uma surpresa saber que muitos povos antigos eram marinheiros. Os antigos egípcios, babilônios e fenícios, por exemplo, são conhecidos por navegarem rios e mares, enquanto as histórias de Ulisses e Sinbad aparentemente refletem experiências reais em alguma medida.
No que diz respeito à navegação dos antigos judeus, o historiador não membro da Igreja de Jesus Cristo, Raphael Patai, analisou atentamente as evidências do conhecimento e tecnologia marítima judaica e conclui que os judeus antigos "nos tempos monárquicos [os tempos do reino salomônico] estavam familiarizados com grandes embarcações marítimas" e que "valorizavam muito essas embarcações".1 Patai também admite que "embora as referências bíblicas sobre navios e à navegação sejam extremamente escassas, isso não significa que o tráfego marítimo e o comércio desempenhavam um papel correspondentemente menor na vida dos hebreus nos tempos monárquicos". Assim, Patai enfatiza que "temos razão para supor que [...] uma vez que seu controle se estendia à costa do Mediterrâneo, os hebreus se envolviam na navegação e pesca, não menos que outros povos cujas cidades e aldeias faziam fronteira com o grande mar". 2 É importante ressaltar que Patai inclui o Livro de Mórmon como uma "fonte externa inesperada" que pode ser de "interesse" para aqueles que querem saber mais sobre a antiga navegação judaica.3

Na verdade, o Livro de Mórmon registra migrações marítimas de três grupos antigos de pessoas do antigo Oriente Próximo para a antiga América — os jareditas, os leítas e os mulequitas (Éter 6; 1 Néfi 18:8 ; Ômni 1:15-16). Em cada caso, o texto atribui a passagem segura dos grupos à proteção e orientação divina, destacando uma das mensagens centrais do Livro de Mórmon, de confiar em Deus ao enfrentar tempos de grandes provações ou incertezas.
No passado, as alegações de contato transoceânico pré-colombiano com as Américas foram recebidas com ceticismo. Há poucas exceções, como o contato dos Vikings com o litoral do Canadá durante o século XI d.C., ou o possível contato polinésio com a América do Sul, já no século IV a.C.,4 muitos estudiosos norte-americanos rejeitaram tais alegações como absurdas e desprovidas de qualquer evidência histórica ou arqueológica. Embora esse paradigma cético ainda seja dominante em muitos círculos acadêmicos, há um número crescente de estudiosos que argumentam haver um extenso contato transoceânico pré-colombiano.

John L. Sorenson é um desses estudiosos, cujo trabalho de toda uma vida sobre contatos transoceânicos pré-colombianos foi publicado em publicações acadêmicas respeitáveis filiadas ou não à Igreja de Jesus Cristo.5 Além de defender o contato transoceânico, Sorenson e Martin H. Raish também catalogaram uma extensa bibliografia de trabalhos acadêmicos de não-membros da Igreja que argumentam, em graus variados, possíveis evidências do contato transoceânico pré-colombiano.6 "Está claro", argumentam Sorenson e Raish, "que a capacidade tecnológica para viagens transoceânicas estava disponível no passado em diferentes pontos do Velho Mundo. É plausível e provável em termos náuticos que muitos viajantes tenham cruzado os oceanos em vários pontos antes da era da descoberta moderna."7 Sorenson oferece inúmeras evidências biológicas de contatos transoceânicos, bem como paralelos culturais entre os povos do Velho e do Novo Mundo.

Para que ninguém pense que Sorenson está exagerando em seu caso, Michael D. Coe, uma eminente autoridade sobre a Mesoamérica, disse em uma entrevista de 2011 em relação ao Livro de Mórmon: "Não sou totalmente contra a ideia de contatos transoceânicos [entre o Velho e o Novo Mundos]. De fato, está começando a haver evidências para isso. O principal estudioso desse tipo de coisa é um mórmon, um amigo meu, John Sorenson, da BYU, que escreveu extensivamente sobre tudo isso — muitas coisas interessantes".8
Em uma carta escrita a Sorenson sobre seu trabalho sobre contato transoceânico, Coe disse: "É um trabalho acadêmico extremamente impressionante" e chegou a dizer que "muitas dessas evidências, acredito, são irrefutáveis".9 Esses comentários mostram grande respeito dentro da comunidade acadêmica pela pesquisa de mudança de paradigma de Sorenson.
O porquê

Pelo pouco que se sabe sobre o passado, parece que os povos da antiguidade se aventuraram no mar por muitas razões. Algumas viagens eram para fins comerciais ou políticos. Outras expedições foram para conquistas militares, como quando os gregos liderados por Agamenon sitiaram Tróia (1100 a.C.), ou quando os persas tentaram conquistar a Grécia, mas foram derrotados em uma batalha naval na Baía de Salamina (480 a.C.). Outros, como o grupo de Leí, foram para novas terras na esperança de fundar colônias ou fugiam de seus inimigos.
Pouco se sabe sobre a construção desses navios antigos. Talvez as Placas Maiores de Néfi expliquem tais detalhes, mas esse registro não foi incluído no Livro de Mórmon. As Placas Menores de Néfi continham informações de interesse espiritual, o que explica a razão do navio que trouxe Néfi e sua família para a Terra da Promissão foi construído da maneira que o Senhor lhe revelou: "E aconteceu que o Senhor me falou, dizendo: Tu construirás um navio da maneira que eu te mostrarei, a fim de que eu leve o teu povo através destas águas" (1 Néfi 17:8). Embora fosse ridicularizado por seus irmãos (1 Néfi 17:17-18), Néfi confiou no Senhor e seguiu Suas instruções na construção do navio.
Néfi ''não trabalh[ou] a madeira pelo método que os homens conheciam nem constru[iu] o navio pelo método dos homens; mas constru[iu] pelo método que o Senhor [lhe] havia mostrado; não foi, portanto, igual ao dos homens" (1 Néfi 18:2). Evidências de contato transoceânico antigo e da navegação marítima por judeus ao menos mostram que a ideia de viagens pré-colombianas entre o Velho e o Novo Mundo não é algo impossível.
Ainda assim, mesmo com os melhores esforços, viagens marítimas na antiguidade devem ter sido muito arriscadas. Isso explica vários detalhes no registro das escrituras. A história de Jonas, que narra um tempo antes do tempo de Leí, reflete a possível catástrofe que ocorria a muitos navios (Jonas 1:4). Acreditava-se que deuses malignos e forças violentas governavam as águas e as profundezas, nos épicos cananeus e nos salmos hebraicos. Com medo, os marinheiros imploravam por proteção divina e procuravam a causa de qualquer mau tempo que surgisse em seu caminho (Jonas 1:7-10).
Em condições semelhantes, Néfi temia muito que a "teimosia" de seus irmãos e o esquecimento de Deus fizessem com que o Senhor "se irasse contra nós e ferisse-nos por causa de nossa iniquidade e fôssemos tragados pelas profundezas do mar" (1 Néfi 18:10).
Olhando para trás em sua terrível jornada, não é de admirar que a única explicação que pudessem dar para sua chegada segura na Terra Prometida fosse que nada menos do que o poder de Deus poderia tê-los guiado (1 Néfi 18:20-21) e que apenas a "misericórdia de Deus" poderia lhes salvar "a vida para que não fossem tragados pelo mar" (2 Néfi 1:2).
Assim, além de podermos nos encorajar com a fé e a determinação de Néfi na construção do navio, também podemos compreender que existem evidências que comprovam que os povos antigos realmente navegaram pelo mar e chegaram a terras distantes.
Leitura Complementar
John L. Sorenson, Mormon's Codex: An Ancient American Book (Provo: Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2013), pp. 150–172. George Potter, Frank Linehan, and Conrad Dickson, Voyages of the Book of Mormon (Springville: Cedar Fort, 2011). John L. Sorenson, "Ancient Voyages Across the Ocean to America: From 'Impossible' to 'Certain'," Journal of Book of Mormon Studies 14, no. 1 (2005): pp. 4–17, 124–25. John L. Sorenson e Martin H. Raish, Pre-Columbian Contact with the Americas Across the Oceans: An Annotated Bibliography, 2 volumes (Provo: FARMS, 1996).1. Raphael Patai, The Children of Noah: Jewish Seafaring in Ancient Times (Princeton: Princeton University Press, 1998), p. 21. 2. Patai, The Children of Noah, p. 19. 3. Patai, The Children of Noah, p. 21. Patai remete os leitores ao apêndice do pesquisadora santos dos últimos dias, John M. Lundquist, "A navegação bíblica e o Livro de Mórmon", pp. 171–176, para um tratado mais completo da descrição do Livro de Mórmon sobre a antiga navegação marítima judaica. 4. Ver, por exemplo, Marissa Fessenden, "Ancient Easter Islanders Likely Sailed Back And Forth to South America", disponível em https://www.smithsonianmag.com/smart-news/ancient-easter-islanders-likely-sailed-back-and-forth-south-america-180953178/?no-ist (Acessado em 5 de outubro de 2015). Andrew Lawler, "Beyond Kon-Tiki: Os polinésios navegaram para a América do Sul?", Science p. 328, no. 5984 (June 11, 2010): 1344–1347; Andrew Lawler, "Changing Time in the South Pacific", Science p. 328, no. 5984 (June 11, 2010): 1346; Andrew Lawler, "Northern Exposure in Doubt," Science p. 328, no. 5984 (June 11, 2010): 1347; Andrew Lawler, "Epic pre-Columbian voyage suggested by genes: South American DNA found in Easter Islanders", Science p. 346, no. 6208 (October 24, 2014): pp. 406–406. 5. Ver John L. Sorenson, "Some Mesoamerican Traditions of Immigration by Sea", Ancient Mexico 8 (1955): pp. 425-38; "The Significance of an Apparent Relationship between the Ancient Near East and Mesoamerica", in Man Across the Sea: Problems of Pre-Columbian Contacts, ed. Carroll L. Riley et al. (Austin: University of Texas Press, 1971), pp. 219–41; "Scientific Evidence for Pre-Columbian Transoceanic Voyages to and from the Americas", Sino-Platonic Papers 133 (Philadelphia: Department of East Asian Languages and Civilizations, University of Pennsylvania, 2004); "Ancient Voyages Across the Ocean to America: From 'Impossible' to 'Certain'", Journal of Book of Mormon Studies 14, no. 1 (2005): pp. 4–17, 124–25; John L. Sorenson e Carl L. Johannessen, "Biological Evidence for Pre-Columbian Transoceanic Voyages", in Contact and Exchange in the Ancient World, ed. Victor H. Mair (Honolulu: University of Hawaii'i Press, 2006), pp. 238-97; John L. Sorenson, World Trade and Biological Exchanges before 1492 (New York and Bloomington, IN: iUniverse, 2009); Mormon's Codex: An Ancient American Book (Provo: Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2013), pp. 150–172. 6. John L. Sorenson e Martin H. Raish, Pre-Columbian Contact with the Americas Across the Oceans: An Annotated Bibliography, 2 volumes (Provo: FARMS, 1996). 7. Sorenson e Raish, Pre-Columbian Contact with the Americas Across the Oceans, 1:xii. 8. John Dehlin, "Dr. Michael Coe — An Outsider's View of Book of Mormon Archaeology", entrevista com Michael Coe, Mormon Stories, 12 ago. 2011. Podcast disponível em https://mormonstories.org/?p=1880 (acessado em 31 de janeiro de 2012). O podcast está dividido em três partes, a parte citada está na segunda parte. A citação é baseada na transcrição da entrevista preparada por voluntários da FairMormon, colchetes e sinais de pontuação foram adicionados. Coe continua dizendo que Sorenson é um "verdadeiro estudioso", mas também expressa sua opinião de que ele está "olhando na direção errada" e que as evidências apoiam o contato entre o Leste Asiático, mas não o Oriente Médio. Embora seja verdade que a grande maioria das evidências apoia os laços com o Leste Asiático, há evidências que também conectam as Américas e o Oriente Médio. Ver os artigos de Sorenson citados acima para mais detalhes. 9. "'Ask the Scholar'", John L. Sorenson edition (part 3 of 3)", Maxwell Institute Blog, 21 fev. 2014, em https://maxwellinstitute.byu.edu/ask-the-scholar-sorenson-3/ (acesso em 21 fev. 2014).