KnoWhy #343 | Abril 11, 2018

Os quiasmos podem sobreviver à tradução?

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Scripture Central

"[E]sse é o nome que eu disse que vos daria e que nunca seria apagado, a menos que o fosse devido a transgressão; portanto, tomai cuidado para não transgredirdes, a fim de que o nome não seja apagado de vosso coração. Digo-vos: Quisera que vos lembrásseis de conservar sempre o nome escrito em vosso coração, para que não vos encontreis à mão esquerda de Deus" Mosias 5:11–12

Nota do Editor: 2017 marcou o 50º aniversário da descoberta de quiasmos no Livro de Mórmon em 16 de agosto de 1967. Para comemorar este 50º aniversário, entre os meses de julho e agosto deste ano, a Central do Livro de Mórmon publicou um KnoWhy por semana discutindo sobre os quiasmos, seu significado e valor na compreensão da Bíblia, do Livro de Mórmon e de outras literaturas antigas. Não deixe de conferir nossos outros artigos sobre quaismos e o site Chiasmus Resources para obter mais informações.

O conhecimento

Graças ao trabalho de estudiosos como John W. Welch, muitas pessoas estão cientes de que os quiasmos aparecem no Livro de Mórmon.1 No entanto, se alguém assumir que o Livro de Mórmon foi escrito em outro idioma e traduzido para o inglês, pode-se esperar que a estrutura do quiasmo sobreviva à tradução?2

Os padrões quiásticos sobrevivem à tradução, mas não o tempo todo. Na verdade, é improvável que Joseph Smith soubesse sobre quiasmos porque o padrão às vezes era menos óbvio na tradução King James do que no original hebraico ou grego.3 Da mesma forma, Allen J. Christenson, um estudioso da literatura maia, achou difícil preservar a estrutura literária quiástica e nativa em sua tradução básica do Popol Vuh, levando-o a realizar uma segunda tradução que segue servilmente a sintaxe nativa visando preservar a qualidade literária do texto.4

Mesmo assim, quiasmos e outras formas de paralelismo podem sobreviver à tradução para outras línguas. Quiasmos como o encontrado em Marcos 2:27, por exemplo, são evidentes mesmo na tradução. Na verdade, ao contrário de muitas apresentações poéticas, como rimas ou métricas, os quiasmos e outras formas de paralelos podem ser os mais propensos a sobreviver à tradução. Na tradução grega do Velho Testamento, chamada Septuaginta, os paralelos são quase tão óbvios na tradução grega quanto no hebraico original. Na verdade, às vezes eram ainda mais evidentes em grego do que em hebraico.5 Muitos tradutores qualificados agora se esforçam para preservar os quiasmos e outras características estruturais dos textos quando os convertem em línguas modernas.6

É até possível que a "preservação de estruturas literárias" na tradução "seja possivelmente mais precisa do que o vocabulário",7 porque a mente humana pode facilmente processar padrões e comunicar estruturas de uma maneira que não está diretamente conectada à linguagem. "A tradução dessas estruturas para o inglês veste [as][…] em um vocabulário moderno, mas […] o significado [é] preservado".8

No entanto, a tradução afeta as questões do quiasmo de mais de uma maneira. Assim como alguns padrões podem ser perdidos na tradução, é possível que outros sejam realmente o produto da tradução. A distribuição do quiasmo e outros padrões paralelos ao longo do texto, no entanto, não parece ser aleatória — como seria de esperar se o quiasmo fosse o produto acidental dos esforços de tradução de Joseph. Por exemplo, Welch observou que de Helamã a Morôni há menos quiasmos do que no restante do Livro de Mórmon.9

Carl Cranny documentou mais recentemente como a presença e ausência de quiasmo e outras formas de paralelismo seguem os padrões esperados de um documento genuinamente antigo.10 Se o quiasmo fosse apenas o resultado do processo de tradução, esse não seria o caso, pois Joseph Smith traduziu o livro inteiro. Portanto, é improvável que os quiasmos no Livro de Mórmon fossem o resultado da tradução, mas, na verdade, algo presente nas próprias placas que sobreviveu ao processo de tradução.11

O porquê

Compreender como os quiasmos e outras características literárias podem sobreviver às traduções, oferece algumas informações sobre o processo de tradução.12 Como John W. Welch observou:

Obviamente, sua tradução era consistente. Cada vez que uma palavra aparecia numa estrutura específica, ela parece ter sido traduzida pela mesma palavra em inglês. Caso contrário, estruturas como Mosias 5:10-12, Alma 41:13-15 e outras não teriam sobrevivido durante o processo de tradução. […] [Em] muitos casos, é possível ver que um resultado internamente consistente foi produzido no texto em inglês, supostamente em virtude de um método de tradução relativamente literal e consistente com o registro antigo.13

Entender que o quiasmo nem sempre sobrevive à tradução, no entanto, também é importante. Welch lamentou: "É claro que é impossível saber quantos paralelos ou outras características literárias podem ter sido perdidos no processo de tradução".14 Esse entendimento deve nos tornar profundamente conscientes das limitações que enfrentamos ao estudar um texto traduzido, como o Livro de Mórmon, de uma perspectiva literária. Muitos elementos de textos antigos não sobrevivem muito bem à tradução, o que significa que não podemos apreciar plenamente parte da habilidade sutil do texto.15

Embora lamentemos a possível perda de alguma estrutura literária e beleza do Livro de Mórmon devido à tradução, isso não deve prejudicar nossa apreciação das centenas de quiasmos e outros paralelos poéticos que sobreviveram e estão disponíveis para estudarmos.16 Na verdade, pelo contrário: deve aprofundar nossa apreciação. A sobrevivência do quiasmo na tradução inglesa do Livro de Mórmon nos dá uma janela para o passado e permite que os leitores modernos experimentem a arte literária dos antigos, quase como se estivessem lendo esses textos ao lado desses escritores antigos e em suas línguas originais.17

Conseguir ver como esses autores usaram padrões criativos para expressar suas ideias permite que os leitores se relacionem melhor com eles, mesmo que às vezes pareçam estar longe de nosso próprio tempo e cultura. Momentos como esses permitem que o leitor se conecte com esses autores antigos de maneiras novas e significativas.18 Além disso, a preservação dos quiasmos na tradução nos permite entender o texto de maneira semelhante à maneira como os autores antigos o teriam entendido.19 Isso permite que a mensagem do Livro de Mórmon seja mais clara e tenha um impacto sobre nós centenas de anos depois que o texto foi escrito pela primeira vez.20

Leitura Complementar

Brant A. Gardner, The Gift and Power: Translating the Book of Mormon (Salt Lake City, UT: Greg Kofford, 2011), pp. 197–204, 239–240, 309–310. John W. Welch, "What Does Chiasmus in the Book of Mormon Prove?" em Book of Mormon Authorship Revisited: The Evidence for Ancient Origins, ed. Noel B. Reynolds (Provo, UT: FARMS, 1997), pp. 199–224. John W. Welch, "Chiasmus in the Book of Mormon", em Chiasmus in Antiquity: Structures, Analyses, Exegesis, ed. John W. Welch (Hildesheim, GER: Gerstenberg Verlag, 1981; reimpresso em Provo, UT: Research Press, 1999), pp. 198–210.

1. Ver Robert F. Smith, "Assessing the Broad Impact of Jack Welch's Discovery of Chiasmus in the Book of Mormon", Journal of Book of Mormon Studies, p. 16, no. 2 (2007): pp. 68–73. 2. Para obter uma lista mais completa dos quiasmos propostos no Livro de Mórmon, consulte "Chiasmus Index", em Chiasmus Resources, disponível online em: chiasmusresources.org. 3. John W. Welch, "Chiasmus in the Book of Mormon", em Book of Mormon Authorship: New Light on Ancient Origins, ed. Noel B. Reynolds (Provo, UT: Religious Studies Center, 1982), p. 42, 51 n. 3. 4. Para as duas traduções de Christenson, ver Allen J. Christenson, trad., Popol Vuh: The Sacred Book of the Maya (Norman, OK: University of Oklahoma Press, 2007); traduzido por Allen J. Christenson, Popol Vuh: Literal Poetic Version (Norman, OK: University of Oklahoma Press, 2007). Nem todos os exemplos de quiasmo e outras estruturas poéticas se perdem na tradução livre. De fato, muitos sobrevivem, embora passem por algumas modificações e sejam um tanto óbvios na tradução poética literal. 5. Gerhard Tauberschmidt, Secondary Parallelism: A Study of Translation Technique in LXX Proverbs (Atlanta, GA: Society of Biblical Literature, 2004), p. 12. 6. Edward F. Campbell Jr., Ruth: A New Translation with Introduction and Commentary, Anchor Bible Commentary, Volume 7 (New York, NY: Doubleday, 1975), p. 62. 7. Brant A. Gardner, The Gift and Power: Translating the Book of Mormon (Salt Lake City, UT: Greg Kofford, 2011), p. 309. 8. Gardner, Gift and Power, p. 309. 9. John W. Welch, "Chiasmus in the Book of Mormon", em Chiasmus in Antiquity: Structures, Analyses, Exegesis, ed. John W. Welch (Hildesheim, GER: Gerstenberg Verlag, 1981; reimpresso em Provo, UT: Research Press, 1999), p. 208. Por que o rei Benjamim usou tantos paralelos poéticos? Para o uso extensivo de quiasmos em Mosias 2-5, consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que o rei Benjamim usou tantos paralelos poéticos? (Mosias 5:11)", KnoWhy 83 (14 de abril de 2017). 10. Ver Carl J. Cranney, "The Deliberate Use of Hebrew Parallelisms in the Book of Mormon", Journal of Book of Mormon Studies 23 (2014): pp. 140–165. 11. Gardner, Gift and Power, p. 204, concluiu da mesma forma: "Esses elementos estruturais não são aleatórios, nem faziam parte do repertório comum disponível para um escritor no estado de Nova York na década de 1830". Eles representam as características das placas que sobreviveram ao processo de tradução. 12. Ver Gardner, Gift and Power, pp. 197–204, 239–240. 13. John W. Welch, "What Does Chiasmus in the Book of Mormon Prove?" em Book of Mormon Authorship Revisited: The Evidence for Ancient Origins, ed. Noel B. Reynolds (Provo, UT: FARMS, 1997), pp. 220–221. 14. Welch, "What Does Chiasmus in the Book of Mormon Prove?" p. 220. 15. Para saber mais sobre como os quiasmos mostram a habilidade sutil do Livro de Mórmon, consulte a Central do Livro de Mórmon, "Por que Alma foi convertido? (Alma 36:21)", KnoWhy 144 (24 de junho de 2017). 16. Para um exemplo disso, ver Donald W. Parry, Poetic Parallelisms in the Book of Mormon: The Complete Text Reformatted (Provo, UT: Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2007). Ao todo, Parry mostra 1.600 exemplos de 23 formas diferentes de paralelismo no Livro de Mórmon. 17. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que os registros nefitas usaram quiasmos em seu texto? (Helamã 6:10)", KnoWhy 177 (7 de agosto de 2017). 18. Central do Livro de Mórmon, "Por que o Livro de Éter começa com uma genealogia tão longa? (Éter 1:16)", KnoWhy 235 (26 de outubro de 2017). 19. Central do Livro de Mórmon, "Por que a presença de quiasmos no Livro de Mórmon é algo significativo? (Mosias 5:10–12)", KnoWhy 166 (21 de julho de 2017). 20. Isso também ajuda a mostrar como Cristo é central para a mensagem principal do Livro de Mórmon. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que Néfi utilizou quiasmos para testificar de Cristo? (2 Néfi 11:3)", KnoWhy 271 (15 de dezembro de 2017).

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