KnoWhy #573 | Agosto 15, 2020
Como Paorã foi um líder forte em tempos difíceis?
Postagem contribuída por
Scripture Central
"Eu, Paorã, governador deste país, envio estas palavras a Morôni, capitão-chefe do exército. Eis que te digo, Morôni, que não me regozijo com vossas grandes aflições; sim, elas afligem-me a alma" Alma 61:2
O conhecimento
Muitos dos grandes profetas, líderes justos e heróis corajosos se destacam aos leitores que estudam as complexas narrativas do Livro de Mórmon. Aqueles que leem o livro, admiram os feitos de Leí e Néfi, rei Benjamim, Abinádi, Alma, Pai e Filho, e dos filhos de Mosias. Nos capítulos de guerra no livro de Alma, heróis valentes como o capitão Morôni, Teâncum e Helamã, com seus jovens guerreiros, preenchem as páginas com seus grandes feitos.
Além destes personagens queridos e celebrados, há também vários heróis menos reconhecidos no Livro de Mórmon, que muitas vezes são deixados de lado: homens e mulheres justos que passam despercebidos pelos leitores casuais e que, nem sempre, causam uma impressão duradoura, mesmo nos leitores mais estudiosos do Livro de Mórmon. Paorã, por exemplo, foi juiz supremo e governador dos nefitas durante uma das épocas mais tumultuosas de sua história, também pode ser considerado um dos autores do Livro de Mórmon, pois sua epístola a Morôni foi incluída diretamente no Livro de Alma (ver Alma 61). No entanto, sua história é obscurecida sob a grande sombra do capitão Morôni.
Uma análise cuidadosa sobre os feitos de Paorã revela que ele foi um líder justo e de princípios, digno de estudo e de ser considerado um bom exemplo.
Paorã assumiu o lugar de seu pai como juiz supremo e governador no final do vigésimo quarto ano do governo dos juízes (Alma 50:39–40). Inicialmente, pode ter relutado em assumir o cargo de juiz, mas as circunstâncias o forçaram a assumir a liderança.1 Imediatamente no início de seu governo, no vigésimo quinto ano, os realistas se levantaram e tentaram alterar a lei para permitir o estabelecimento de uma monarquia (Alma 51:1–6). Reconhecendo a origem divina das leis nefitas e a ameaça que a monarquia representava para a liberdade do povo, ''Paorã não desejava nem consentiu que se alterasse a lei'' (Alma 51:3).2 Esta decisão foi apoiada pela voz do povo, demonstrando que desde o início de seu governo, Paorã obteve o leal apoio dos cidadãos (Alma 51:7).
Enquanto este assunto estava sendo resolvido, chegou a Zaraenla a notícia de invasão de um exército lamanita. Ao ver esta oportunidade, os realistas "não quiseram pegar em armas para defender seu país" (Alma 51:12–13). Isso criou uma situação perigosa.3 Sem dúvida, ao reconhecer o grave risco que isso representava para o povo nefita, Paorã concedeu ao capitão Morôni os poderes excepcionais necessários para lhe permitir lidar com essa situação urgente em tempo hábil (Alma 51:15–16).
Paorã fica em segundo plano conforme a narrativa muda o foco para os esforços de guerra longe da capital. Quando Paorã retorna a ser o centro de atenção cinco anos depois (no trigésimo ano), fica claro que as coisas em Zaraenla eram tão turbulentas quanto na frente de batalha. Em resposta a dura reprimenda de um Morôni compreensivelmente frustrado (Alma 60), Paorã revelou que a dissensão interna com os realistas não havia acabado. Os realistas conseguiram tomar o poder em Zaraenla, negando deliberadamente apoio aos exércitos de Morôni e conspirando com os lamanitas que os atacavam (Alma 61:3–5, 8).
Isso não deve ser interpretado como uma insinuação de que Paorã foi um líder fraco. A maioria dos guerreiros nefitas fisicamente aptos estava no campo de batalha, o que deixava a capital vulnerável. No entanto, Paorã conseguiu escapar para Gideão e lá estabeleceu uma fortaleza. Em Gideão, Paorã reuniu apoio suficiente para sua causa, de modo que "aqueles que se rebelaram [...] nos temem e não ousam vir guerrear-nos" (Alma 61:5–7). A situação se tornou um impasse.4 A partir deste momento, Paorã ''estava um tanto preocupado quanto ao que dev[ia] fazer, se era justo marchar contra [seus] irmãos" (Alma 61:19).5
Foi neste contexto que Paorã recebeu a epístola de Morôni. É de se admirar que ele tenha respondido com tamanha cordialidade, apesar do tom furioso de Morôni.6 Paorã sabia que a severa repreensão de Morôni não importava nesse momento (Alma 61:9), pois haviam questões maiores em jogo. Não era hora de se indignar com as acusações de Morôni. Paorã reconheceu que Morôni estava certo sobre as circunstâncias de Zaraenla (exceto sobre o envolvimento de Paorã).7 Apesar de tudo, Paorã recebeu a epístola de Moroni com alegria, porque o ajudou a enxergar a melhor maneira de sair de sua difícil situação. (Alma 61:19).
Morôni havia dito: ''Eis que o Senhor me disse: Se aqueles a quem escolhestes para governantes não se arrependerem de seus pecados e iniquidades, subireis para batalhar contra eles'' (Alma 60:33).8 Paorã sabia que com mais homens e a experiente liderança militar de Morôni, poderia superar o impasse e fazer a probabilidade mudar a seu favor. Ele citou a revelação de Morôni ao tentar convencê-lo a trazer reforços para Gideão, para que juntos pudessem retomar Zaraenla (Alma 61:14-20).9
E foi exatamente isso o que aconteceu (Alma 62:1–7). Paorã foi restaurado à cadeira de juiz, os realistas traidores foram legalmente processados e a paz foi restaurada (Alma 62:8–11).Com a situação política mais estável em Zaraenla, Paorã decidiu deslocar seus esforços para acabar com a guerra de uma vez por todas. Ele se juntou a Morôni na marcha para Nefia, trazendo suprimentos e reforços, e ajudou a recuperar aquela cidade estrategicamente importante (Alma 62:14–26).10 Paorã liderou ativamente as tropas no campo de batalha até o final da guerra, quando finalmente retornou à cadeira de juiz, no final do trigésimo primeiro ano (Alma 62:44).
O porquê
Paorã seguiria como juiz supremo por mais oito anos, até seu falecimento (Helamã 1:2). Sua morte precipitou uma crise na liderança, ilustrando o quanto ele fora importante para a estabilidade do governo nefita, em um momento crucial de sua história.11 Hoje em dia, a importância de uma boa liderança é amplamente reconhecida, e muitos livros são escritos sobre os melhores princípios de liderança nos negócios e na política.12 Os princípios comumente reconhecidos de boa liderança incluem liderar pelo exemplo, reconhecer que a liderança é sobre pessoas e relacionamentos, estar disposto a admitir erros, entender o valor de ouvir e trabalhar em conjunto para alcançar mais.
Notavelmente, o relato dos feitos de Paorã, disponível aos leitores atuais, destilam a essência da liderança. O exemplo de Paorã ensina doze princípios de liderança que também podem ser aplicados hoje.
- Ele cumpriu o Estado de direito e não alterou a lei, mesmo sob a pressão do egoísmo de seus dissidentes. Se recusou a alterar a lei sem o devido tempo para assegurar que as novas leis seriam adequadas.
- Ele deu ouvidos à voz do povo e ao senso comum.
- Não suspendeu o processo legal, apenas deteve as pessoas e postergou seu julgamento.13
- Ele não se rendeu, mesmo sob extrema angústia ou dificuldade.
- Teve criatividade para trabalhar com os recursos disponíveis.
- Reconheceu a existência de um problema, não deu desculpas nem culpou ninguém.
- Não contra-atacou imprudentemente, mas tornou sua posição forte o suficiente para que os dissidentes “temessem” atacá-lo; uma defesa forte, geralmente, é a melhor ataque.
- Ele se preocupou com a imoralidade da guerra civil. Seus concidadãos não eram seus inimigos.
- Ele deu a Morôni o benefício da dúvida.
- Percebeu que Moroni estava desinformado. Líderes devem dar informações corretas, não fazer propaganda ou propagar boatos.
- Ele permaneceu leal a seu amigo, reconhecendo que ele fazia o melhor que podia.
- Fez uma limonada com um único limão, deu uma boa solução para uma situação difícil.
E o mais importante, em seus quase quinze anos como juiz supremo, cumpriu seu juramento de:
''Julgar com justiça e manter a paz e a liberdade do povo e de conceder-lhe o privilégio sagrado de adorar ao Senhor seu Deus, sim, de apoiar e manter a causa de Deus durante todos os seus dias e de fazer justiça aos iníquos, de acordo com seus crimes"(Alma 50:39).14
Leitura Complementar
Marilyn Arnold, “Pahoran1”, em Book of Mormon Reference Companion, ed. Dennis L. Largey (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2003), pp. 626–627. Duance Boyce, ''Captain Moroni’s Revelation'', BYU Studies Quarterly 58, n. 4 (2019): pp. 155–159. Oralyn Moran, ''Moroni and Pahoran'', Religious Educator 15, n. 3 (2014): pp.102–115.1. Ver John W. Welch, John W. Welch Notes (Springville, UT: Book of Mormon Central, 2020), p. 811. 2. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon,''Por que Paorã não permitiu que a lei fosse alterada? (Alma 51:3)'', KnoWhy 159 (13 de julho de 2017). 3. Ver Brant A. Gardner, Second Witness: Analytical and Contextual Commentary on the Book of Mormon, 6 v. (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2008), 4: p. 660. 4. Gardner, Second Witness, 4: p. 751. 5. Como mencionado acima, apenas cinco anos antes, Paorã autorizou voluntariamente Morôni a liderar o exército contra os realistas, levando Oralyn Moran, ''Moroni and Pahoran'', Religious Educator 15, n. 3 (2014): p. 109 a especular por que Paorã agora estava tão hesitante em fazer algo a respeito. Moran propõe que Paorã era um líder mais passivo que não tinha carisma para liderar a posição, mas isso não se encaixa no contexto mais amplo. Afinal, Paorã conseguiu reunir o povo em Gideão e criou uma formidável fortaleza lá (Alma 61:5-7), e estava disposto a "resisti[r] à iniquidade, mesmo com derramamento de sangue" (Alma 61:10). No entanto, como um líder justo e correto, Paorã teria levado muito a sério a perda de vidas em batalha (de ambos os lados). É mais provável que Paorã estivesse considerando cuidadosamente as chances de sucesso se desafiasse os realistas em uma guerra aberta, e não tinha certeza de que as chances de vitória eram fortes o suficiente para justificar o derramamento de sangue que se seguiria (um dos princípios da Teoria da Guerra Justa, é que para justificar a perda de vidas inerente à guerra, deve-se ter não apenas justa causa, mas também uma chance razoavelmente boa de sucesso). 6. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon,''Por que a correspondência entre Morôni e Paorã foi importante? (Alma 59:3)'', KnoWhy 168 (25 de julho de 2017). 7. Ver Gardner, Second Witness, 4: p. 749. 8. Alguns alegam que foi uma revelação errônea, porque Paorã não era culpado de traição, como Morôni presumira. Mas a revelação não diz nada especificamente sobre Paorã, referindo-se a "governantes" no plural. É provável que alguns dos dissidentes estivessem em posições de poder dentro do governo. Ver Duance Boyce, ''Captain Moroni’s Revelation'', BYU Studies Quarterly 58, n. 4 (2019): pp. 155–159. 9. Moran, "Moroni and Pahoran'', p. 109 ele questiona se Paorã havia orado sobre o que fazer, pois parecia confiar na resposta de Morôni. No entanto, Paorã menciona em sua epístola que ele estaria disposto a se submeter à servidão dos realistas e lamanitas, se essa fosse a vontade do Senhor. "Mas eis que ele", disse Paorã, o Senhor "não manda que nos submetamos aos nossos inimigos, mas que tenhamos confiança nele e ele nos livrará" (Alma 61:13). Paorã deve ter procurado a instrução do Senhor através da oração se sabia que não lhes fora ordenado que se submetessem aos seus inimigos. 10. Sobre a importância estratégica de Nefia, veja Gardner, Second Witness, 4: p. 757. 11. Consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon,''Como um vazio na liderança era algo perigoso para os nefitas? (Helamã 1:2)'', KnoWhy 172 (31 de julho de 2017). Ver também Welch, John W. Welch Notes, pp. 812–813. 12. O exemplo por excelência, embora existam muitos outros, é Stephen R. Covey, Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes: Lições poderosas para a transformação pessoal (Imprensa Livre, 1989). 13. Isso teria sido ilegal sob a lei de habeas corpus da Constituição dos EUA, mas na Guerra Civil até mesmo Abraham Lincoln fez exatamente o que Paorã fez a esse respeito. 14. Ver Welch, John W. Welch Notes, p. 785.