KnoWhy #222 | Agosto 21, 2019
Por que 3 Néfi, algumas vezes, é chamado de "Quinto Evangelho"?
Postagem contribuída por
Scripture Central

"Em verdade, em verdade vos digo que este é o meu evangelho" 3 Néfi 27:21
O Conhecimento
Descrevendo o conteúdo do Livro de Mórmon em uma mensagem da Primeira Presidência de 2004, o Presidente Gordon B. Hinckley disse: "Contém o que tem sido descrito como o quinto evangelho, um testemunho comovente do Novo Mundo concernente à visita do Redentor ressuscitado a esse hemisfério".1
Em abril de 1904, B. H. Roberts mencionou que alguns debateram se "o quinto evangelho" era uma designação apropriada para 3 Néfi, demonstrando que a ideia se originou pelo menos um século antes do Presidente Hinckley usá-la.2
A palavra Evangelho significa literalmente "boas novas" e, portanto, em certo sentido, 3 Néfi é um "evangelho" porque — juntamente com Mateus, Marcos, Lucas e João — declara as boas novas da expiação e ressurreição de Cristo.3 No entanto, como gênero literário, o que é um evangelho é de alguma forma difícil de definir.4 De um modo geral, os evangelhos são textos que se concentram na vida, nos ensinamentos e nos milagres de Jesus.
Além dos quatro evangelhos canônicos, existem outros textos cristãos antigos chamados "evangelhos", como o Evangelho de Maria, o Evangelho da Infância de Tiago, o Evangelho de Nicodemos (Os Atos de Pilatos), o Evangelho dos Ebionitas, o Evangelho dos Hebreus, o Evangelho dos Nazarenos, o Evangelho de Tomé e o Evangelho de Filipe. Alguns deles lidam principalmente com os fatos e ensinamentos após a ressurreição de Cristo, semelhantes a 3 Néfi.5 Hugh Nibley comparou o registro de 3 Néfi a muitas das tradições cristãs pós-ressurreição e sentiu que 3 Néfi se encaixava naturalmente naquele tipo de literatura que, "com o título removido, qualquer estudioso teria dificuldade em detectar sua origem irregular".6
O trabalho de Nibley pode sugerir que 3 Néfi é um "evangelho" dentro do significado e tradição dados nesse gênero pelos primeiros cristãos. No entanto, a designação como quinto evangelho tem grande peso, sugerindo que ele pertence à mesma classe dos quatro evangelhos, que, como observou o estudioso do Novo Testamento Christopher M. Tuckett, são muito diferentes dos evangelhos não canonizados.7
Os quatro evangelhos são, é claro, um pouco diferentes uns dos outros, mas vários pontos sugerem claramente que 3 Néfi tem um lugar ao lado deles. Alguns exemplos incluem:
- Como Mateus e Lucas, 3 Néfi começa com o cumprimento dos sinais profetizados do nascimento do Salvador (3 Néfi 1; cf. Mateus 1–2; Lucas 1–2).8
- Mateus, Marcos, Lucas e João mencionam João Batista, o precursor enviado para preparar o caminho para Cristo no velho mundo (Mateus 3; Marcos 1; Lucas 3; João 1). 3 Néfi também registra o ministério de um precursor que batizou entre os nefitas — o profeta Néfi, filho de Néfi (3 Néfi 7:15–26).9
- Assim como Jesus fez, Néfi expulsou demônios, curou os doentes e até ressuscitou seu irmão dentre os mortos. Como precursor do Salvador no novo mundo, Néfi realizou seus milagres "em nome de Jesus" (3 Néfi 7:19–22). Dessa forma, como observou o estudioso do Novo Testamento Krister Stendahl, "transpõe o ministério de Jesus para o ministério de Néfi, um homem de milagres em nome de Jesus".10
- Mateus, Marcos e Lucas registram o Pai prestando testemunho do Filho,11 assim como 3 Néfi (3 Néfi 11:7).
- Assim como os quatro Evangelhos documentam a morte e crucificação de Jesus,12 3 Néfi registra o cumprimento dos sinais profetizados que confirmam a morte do Salvador e os três dias no túmulo (3 Néfi 8–10).13 O registro de 3 Néfi pode até ajudar a esclarecer a cronologia do sepultamento de Cristo, uma vez que o registro de destruição acrescenta informações sobre o tempo e a duração da morte de Cristo.14
Enquanto os evangelhos do Novo Testamento registram os ensinamentos do Salvador durante seu ministério terrestre, 3 Néfi registra os ensinamentos do Senhor ressuscitado.15 Isso inclui o Sermão do Templo (3 Néfi 12–14),16 que é semelhante ao Sermão da Montanha (Mateus 5–7) e ao Sermão da Planície (Lucas 6:17–49), o esclarecimento dos ensinamentos registrados em João sobre suas "outras ovelhas",17 e a instituição do sacramento.18
- O registro nefita se apresenta como uma quinta testemunha da ressurreição corporal de Cristo (3 Néfi 11), de uma forma que excede os outros evangelhos, canônicos19 e não canônicos.20
Mais pontos de comparação poderiam ser feitos.21 No entanto, assim como os evangelhos do Novo Testamento têm diferenças fundamentais que devem ser observadas, 3 Néfi é diferente dos outros quatro evangelhos em aspectos importantes. Como observou o estudioso do evangelho santo dos últimos dias Andrew C. Skinner, o Salvador "disse e fez coisas das quais os quatro evangelhos não têm registro e das quais 3 Néfi é nossa fonte preciosa".22 Entre essas coisas estão a natureza do ministério do Salvador após sua ressurreição e a ênfase do templo nos ensinamentos de Cristo.23
O Porquê
Muitos tentaram imitar os evangelhos e falharam miseravelmente.24 No entanto, 3 Néfi oferece um quinto evangelho autêntico que "complementa e suplementa os quatro evangelhos bíblicos".25 Como Skinner apontou, é único entre os evangelhos porque possui material "revisado e editado pelo próprio Salvador".26
Na conferência geral de outubro de 2016, o irmão Brian K. Ashton também ensinou: "A visita de Jesus aos nefitas após Sua Ressurreição foi organizada cuidadosamente para ensinar-nos as coisas de maior importância".27 Assim, os discípulos de Cristo podem ter certeza de que "3 Néfi contém os assuntos que o próprio Salvador sentiu que eram e são mais importantes".28
Em julho de 1838, o Profeta Joseph Smith ensinou: "Os princípios fundamentais de nossa religião são o testemunho dos Apóstolos e Profetas a respeito de Jesus Cristo, que Ele morreu, foi sepultado, ressuscitou no terceiro dia e ascendeu ao céu".29
O Presidente Ezra Taft Benson ensinou que o Livro de Mórmon "é a pedra fundamental de nosso testemunho de Cristo",30 um ponto que o Élder Gary E. Stevenson reiterou recentemente.31 Embora todo o Livro de Mórmon esteja repleto de muitos testemunhos de Cristo, o evangelho de 3 Néfi é a principal razão pela qual o Livro de Mórmon continua sendo um testemunho fundamental da divindade de Cristo.
Ao detalhar a aparição e o ministério de Jesus Cristo após sua ressurreição nas Américas, "3 Néfi permanece como uma testemunha-chave, independente da doutrina de toda a fé cristã — a ressurreição corporal de Jesus Cristo".32 É um evangelho, não do Jesus mortal, mas do Senhor ressuscitado.33 Em uma época de crescente ceticismo sobre quem Jesus era e quem ele afirmava ser, o Livro de Mórmon, como observou o autor santo dos últimos dias Michael R. Ash, "é a segunda testemunha singular da divindade de Cristo e da realidade da Ressurreição".34
"Verdadeiramente, 3 Néfi é digno da designação do Quinto Evangelho — a pedra Angular de todos os Evangelhos", concluiu Skinner.35 É um evangelho de que o mundo agora precisa desesperadamente, um evangelho que tem o potencial de abrandar corações, mudar mentes e converter pessoas ao Senhor. Skinner resolveu: "Por este Quinto Evangelho, seremos eternamente gratos e talvez muito mais ativos em encher a terra com seu conteúdo".36
Leitura Complementar
Andrew C. Skinner, Third Nephi: The Fifth Gospel (Springville, UT: Cedar Fort, 2012).
Monte S. Nyman, Book of Mormon Commentary, 6 v. (Orem, UT: Granito, 2003), volume 5.
John W. Welch, Illuminating the Sermon at the Temple and Sermon on the Mount (Provo, UT: FARMS, 1999).
Hugh Nibley, The Prophetic Book of Mormon, The Collected Works Hugh Nibley, Volume 8 (Salt Lake City and Provo, UT: Deseret Book and FARMS, 1989), pp. 407–434.
- 1. Presidente Gordon B. Hinckley, "As Quatro Pedras Angulares Da Fé", A Liahona, fevereiro de 2004, disponível em: lds.org. Ver também Presidente Gordon B. Hinckley, " The Cornerstones of Our Faith", Ensign, outubro de 1984, disponível em lds.org.
- 2. Ver B. H. Roberts, Conference Report, April 1904, p.16.
- 3. Gaye Strathern e Andrew C. Skinner, " Introduction", in Third Nephi: An Incomparable Scripture (Salt Lake City Provo, UT: Deseret Book and Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2012), p. viii: "Todos os cinco evangelhos testificam que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo. Eles são Evangelhos porque todos declaram as 'boas novas' que a Expiação de Jesus Cristo torna possível a todos os que vêm a Ele por meio da fé, do arrependimento, do batismo, do poder santificador do Espírito Santo e da perseverança até o fim (3 Néfi 27:13-21)." Curiosamente, de acordo com Christopher M. Tuckett, "[N]o cristianismo do primeiro século, o termo 'evangelho' foi usado para se referir ao querigma cristão (proclamação) centrado na morte e ressurreição de Jesus". Ver Christorpher M. Tuckett, "Introduction to the Gospels", in Eerdmans Commentary on the Bible, ed. James D. G. Dunn e John W. Rogerson (Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 2003), p. 989. Em 3 Néfi 27:13-15, Jesus também descreveu o evangelho como centrado em Sua morte e ressurreição, tornando sua aplicação ao Livro de Mórmon autêntica para o primeiro século d.C. Ver também Andrew C. Skinner, "Jesus's Gospel-Defining Discourse in 3 Nephi 27:13–21: Doctrinal Apex of His New World Visit", em Incomparable Scripture, pp. 281–307.
- 4. Ver Tuckett, "Introduction to the Gospels", pp. 990–993. Ver também Christopher Tuckett, "Gospel, Gospels", em Eerdmans Dictionary of the Bible, ed. David Noel Freedman (Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 2000), pp. 522-524; Mark Allan Powell, "The Gospels", in HarperCollins Bible Dictionary, revised and updated, ed. Mark Allan Powell (San Francisco, CA: HarperOne, 2011), pp. 338–340.
- 5. Tuckett, "Introduction to the Gospels", pp. 989–990 menciona alguns deles. A literatura sobre o ministério pós-ressurreição de Cristo no mundo antigo é frequentemente considerada como um gênero por si só, conhecido como literatura de 40 dias, dado que o ministério pós-ressurreição de Cristo foi de 40 dias. Ver Hugh Nibley, Mormonism and Early Christianity, The Collected Works of Hugh Nibley, Volume 4 (Salt Lake City and Provo, UT: Deseret Book and FARMS, 1987), pp. 10–44. Uma lista com informações sobre cada um desses documentos está disponível em fortydayministry.com.
- 6. Hugh W. Nibley, "Two Shots in the Dark", em Book of Mormon Authorship: New Light on Ancient Origins, ed. Noel B. Reynolds (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1982; reimpresso novamente por FARMS, 1996), p. 123; impresso em Hugh Nibley, The Prophetic Book of Mormon, The Collected Works Hugh Nibley, Volume 8 (Salt Lake City and Provo, UT: Deseret Book and FARMS, 1989), p. 409.
- 7. Tuckett, "Introduction to the Gospels", p. 990: "Assim, os evangelhos que foram finalmente colocados no cânone [do Novo Testamento] são bastante diferentes em estilo daqueles que não são".
- 8. Andrew C. Skinner, Third Nephi: The Fifth Gospel (Springville, UT: Cedar Fort, 2012), pp. 5–9. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Como é possível haver uma noite sem escuridão? (3 Néfi 1:15)", KnoWhy 188 (22 de Agosto 2017).
- 9. Central do Livro de Mórmon, "Como Néfi, filho de Néfi, era semelhante a João Batista? (3 Néfi 7:23–24)", KnoWhy 196 (1 de Setembro de 2017).
- 10. Krister Stendahl, "The Sermon on the Mount and Third Nephi", in Reflections on Mormonism: Judaeo-Christian Parallels (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1978), p. 141.
- 11. Ver Mateus 3:17; 17:5; Marcos 1:11; 9:7; Lucas 3:22; 9:35.
- 12. Mateus 27; Marcos 15; Lucas 23; João 19.
- 13. Ver Skinner, Fifth Gospel, p. 9–19; Central do Livro de Mórmon, "O que causou a escuridão e a destruição no 34º ano? (3 Néfi 8:20)",KnoWhy 197 (4 de setembro de 2017).
- 14. David B. Cummings, " Three Days and Three Nights: Reassessing Jesus’s Entombment", Journal of Book of Mormon Studies 16, no. 1 (2007): pp. 56–63, 86; Jeffrey R. Chadwick, "Dating the Death of Jesus", BYU Studies Quarterly 54, no. 4 (2015): pp. 135–191, esp. 183-188.
- 15. Stendahl, "The Sermon on the Mount and Third Nephi", p. 141.
- 16. Ver o artigo da Central do Livro de mórmon, "Por que Jesus proferiu uma versão do Sermão da Montanha no Templo de Abundância?(3 Néfi 12:6)", KnoWhy 203 (12 de setembro de 2017).
- 17. Ver João 10:16; cf. 3 Néfi 15:17–24. Ver também Skinner, Fifth Gospel, pp. 74–77;Central do Livro de Mórmon, " Por que Jesus disse que havia 'outras ovelhas' que ouviriam sua voz? (3 Néfi 15:21; cf. John 10:16)", KnoWhy 207 (18 de setembro de 2017).
- 18. Ver 3 Néfi 18:1–10; 20:3–8; cf. Mateus 26:26–28; Marcos 14:22–24; Lucas 22:19–20. Ver Skinner, Fifth Gospel, pp. 108–110; Centra do Livro de Mórmon, "Por que o Salvador enfatizou Seu corpo ressuscitado durante a administração do sacramento entre os nefitas? (3 Néfi 18:7)", KnoWhy 211 (22 de setembro de 2017).
- 19. Ver Mateus 28; Marcos 16; Lucas 24; João 20–21.
- 20. Ver Skinner, Fifth Gospel, pp. 21–27; Central do Livro de Mórmon, "Por que o Salvador enfatizou Seu corpo ressuscitado durante a administração do sacramento entre os nefitas? (3 Néfi 18:7)", KnoWhy 211 (22 de Setembro 2017).
- 21. Para um estudo mais detalhado de 3 Néfi como evangelho, ver Skinner, Fifth Gospel. Ver também Monte S. Nyman, Book of Mormon Commentary, 6 v. (Orem, UT: Granito, 2003), volume 5.
- 22. Skinner, Fifth Gospel, p. 20.
- 23. Ver Skinner, Fifth Gospel, p. 37–47; John W. Welch, Illuminating the Sermon at the Temple and Sermon on the Mount (Provo, UT: FARMS, 1999).
- 24. Para um estudo de falsos evangelhos recentes em comparação com 3 Néfi, ver Richard Lloyd Anderson, " Imitation Gospels and Christ's Book of Mormon Ministry", em Apocryphal Writings and the Latter-day Saints, ed. C. Wilfred Griggs (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1986), pp. 53–107.
- 25. Skinner, Fifth Gospel, p. 2.
- 26. Skinner, Fifth Gospel, p. 3. Para apoiar sua conclusão, Skinner citou 3 Néfi 23:7-8.
- 27. Brain K. Ashton, "A Doutrina de Cristo", A Liahona, outubro de 2016.
- 28. Skinner, Fifth Gospel, 3.
- 29. Elder's Journal, July 1838, p. 44, disponível em josephsmithpapers.org, gramática padronizada.
- 30. Ezra Taft Benson, "O Livro de Mórmon — A Pedra Angular de Nossa Religião", A Liahona, outubro de 2011, p. 53.
- 31. Gary E. Stevenson, "Olhe para o Livro, Veja o Senhor", A Liahona, outubro de 2016.
- 32. Skinner, Fifth Gospel, 3.
- 33. Strathern e Skinner, " Introduction", viii: "Não é o registro do Cristo mortal, mas o registro do Cristo ressuscitado e glorificado".
- 34. Michael R. Ash, Shaken Faith Syndrome: Strengthening One’s Testimony in the Face of Criticism and Doubt, 2nd edition (Redding, CA: FairMormon, 2013), p. 125.
- 35. Skinner, Fifth Gospel, 3.
- 36. Skinner, Fifth Gospel, 20.