KnoWhy #202 | Agosto 21, 2019
Por que a multidão caiu aos pés de Jesus?
Postagem contribuída por
Scripture Central

"E lançaram-se aos pés de Jesus e adoraram-no." 3 Néfi 11:17
O conhecimento
Quando Jesus Cristo declarou Sua verdadeira identidade ao povo de Néfi que estava reunido ao redor do templo na terra de Abundância, "toda a multidão caiu por terra; porque se lembraram de que havia sido profetizado entre eles que Cristo lhes apareceria depois de sua ascensão ao céu" (3 Néfi 11:12). Da mesma forma, depois que todos deram um passo à frente e tocaram as feridas em Suas mãos, pés e lados, eles "lançaram-se aos pés de Jesus e adoraram-no" (v. 17). E quando Jesus ordenou que Néfi se aproximasse, ele "inclinou-se perante o Senhor e beijou-lhe os pés" (v. 19, ênfase adicionada). O ato de cair aos pés de um governante e até beijar o chão ou seus pés, era uma forma de adoração bem conhecida no mundo antigo chamada prosquínese.1 Em uma antiga carta do Oriente Próximo, por exemplo, um vassalo mostrava respeito ao Senhor com frases como: "[Eu sou] seu escravo" e "o pó a seus pés" e "Eu me curvo; caio aos pés de meu rei, meu Senhor".2 Um antigo texto litúrgico egípcio afirma da mesma forma: "Ao beijar o chão, abraço Geb".3 De acordo com Matthew L. Bowen, este texto "prescreve prosquínese, incluindo um abraço ritual de um deus (Geb, a terra), como parte de uma teofania ritualizada em um ambiente de templo".4
A prosquínese também era conhecida pelos antigos israelitas.5 Por exemplo, nos sonhos de José, os feixes de seus irmãos e também o sol, a lua e as estrelas prestavam homenagem a ele. Isso levou seu pai a perguntar: "Porventura viremos eu e tua mãe, e teus irmãos, a inclinar-nos a ti em terra?" (Gênesis 37:10).6 O Salmo 95:6 diz: "Ó vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do Senhor que nos criou". Os textos do Novo Testamento — como Mateus, Marcos, Lucas e Apocalipse — demonstram abundantemente que os primeiros apóstolos e discípulos de Jesus, viam a prosquínese como um modo apropriado de adorar Jesus Cristo antes e depois da Sua ressurreição.7 Além disso, as demonstrações de queda no chão em um ritual de prostração são evidentes em várias situações do Livro de Mórmon (além de 3 Néfi 11).8 No sonho de Leí sobre a árvore da vida, aqueles que se agarravam à barra de ferro "prostraram-se e comeram do fruto da árvore" (1 Néfi 8:30, ênfase adicionada). Bowen comentou: "As pessoas deste terceiro grupo são os verdadeiros adoradores, e a árvore da qual estavam participando é funcionalmente o verdadeiro Deus, Jesus Cristo".9 Quando o rei Benjamim relatou as palavras "que lhe haviam sido transmitidas pelo anjo", ele olhou para o povo e viu que a multidão "haviam caído por terra […] E haviam visto a si mesmos em seu estado carnal, menos ainda que o pó da Terra" (Mosias 4:1-2). Hugh Nibley comentou:
Este era o tipo de prosquínese a que o rei Benjamim estava se referindo! Prosquínese era a queda no chão (literalmente, "beijar o chão") na presença do rei, pela qual toda a raça humana no dia da coroação demonstrava sua submissão à autoridade divina; era uma parte infalível dos ritos do Ano Novo do Velho Mundo, bem como para qualquer audiência real.10
O porquê
Explorar o significado da prosquínese no contexto do Velho Mundo e do Livro de Mórmon pode auxiliar os leitores a entender melhor o que essa demonstração ritual significava para aqueles que adoravam Jesus Cristo no templo, na terra de Abundância. Por exemplo, a frase "[Eu sou] […] o pó a teus pés" da antiga carta egípcia tem uma semelhança com a resposta das pessoas que, após ouvir o discurso do rei Benjamim, caíram no chão e se consideravam "menos ainda que o pó da Terra" (Mosias 4:2).11 Bowen perguntou retoricamente:
Qual é a lição aqui? Uma vez que, como disse o rei Benjamim, não podemos dizer que somos "nem mesmo como o pó da Terra" (Mosias 2:25), devemos "cair e perceber o que [nós] somos", como Nibley aponta. O rei Benjamim revive a lição do registro bíblico da queda e o trocadilho que ele faz com o nome Adão: o homem (ha-adām, "humanidade") foi tirado de ha-'adāmāh ("terra", "chão", "solo", Gênesis 2:7, 3:19).12
Assim, ao cair no chão, aqueles que adoravam a Cristo, em Abundância, significavam ritualmente que seus corpos foram criados do pó da terra, que eram mortais e caídos, e que estavam se humilhando voluntariamente na presença de seu Criador.13 A partir de uma história do Novo Testamento, os leitores aprendem sobre uma mulher que lavou os pés de Jesus com suas lágrimas e "beijava-lhe os pés, e ungia-lhos com o unguento" (Lucas 7:38). Bowen explicou: "Sua prosquínese física de beijar os pés de Jesus foi uma profunda demonstração do amor de Deus e cumpriu literalmente o mandamento do Salmo 2 de 'Beijai o Filho' ou mesmo (em uma leitura emendada) 'beijar os pés dele [Jeová]'".14
Da mesma forma, quando Néfi (que estaria bem familiarizado com essa linguagem encontrada em muitos Salmos) "inclinou-se perante o Senhor e beijou-lhe os pés" no templo da Terra de Abundância (3 Néfi 11:19), pode ser visto como um ato prescrito de devoção àquele cujos pés "pis[aram] sozinho o lagar",15 e cujos pés carregavam "as marcas dos cravos" da crucificação,16 e cujos belos pés "trazem boas novas".17 No que pode ser visto como um ato de prosquínese a Seu Pai, o próprio Jesus Cristo submissamente "prostrou-se sobre o seu rosto, orando" enquanto sofria as agonias da expiação no Getsêmani (Mateus 26:39). Ele também lavou os pés de seus apóstolos em um ato de humildade e serviço (ver João 13:4-16). Aqueles que caíram aos pés daquele que "desceu abaixo de todas as coisas"18 e "beijaram-lhe os pés, […] [e] os banharam com suas lágrimas",19 mostraram sua disposição de seguir Seu exemplo de serviço, humildade e obediência. A prostração de adoração é um símbolo duradouro de amor e devoção à divindade. Néfi ensinou que o "o caminho reto é acreditar em Cristo [...] portanto, inclinar-vos diante dele e adorá-lo com todo o vosso poder, mente e força" (2 Néfi 25:29). Em 3 Néfi 19, Jesus novamente se afastou da grande assembleia que se reunira em Seu segundo dia no Templo de Abundância, "inclinando-se até a terra", expressando profunda gratidão ao Pai (3 Néfi 19:19). Joseph Smith e Sidney Rigdon aprenderam que diante do trono de Deus "todas as coisas curvam-se em humilde reverência e dão-lhe glória para todo o sempre" (D&C 76:93).
Assim, a partir dos exemplos daqueles que adoraram Jesus Cristo no templo da terra de Abundância, os leitores podem aprender como devem mostrar reverência ao Senhor quando, no futuro, O encontrarem pessoalmente e contemplarem Seu corpo ressuscitado. Sobre a importância eterna de nos curvarmos diante de nosso Senhor e Mestre, Élder Neil L. Anderson testificou inequivocamente: "Testifico que Jesus Cristo é o Salvador do mundo. Ele sofreu e morreu por nossos pecados e ressuscitou no terceiro dia. Ele ressuscitou. Em um dia futuro, todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Ele é o Cristo".20 Élder Neal A. Maxwell ensinou lindamente que, embora Cristo se alegre com nossa genuína bondade e realizações, "qualquer avaliação de onde estamos em relação a Ele, nos indica que, diante de Sua grandeza, só somos dignos de estar de joelhos. Nos ajoelhamos. e logo "toda a carne o verá. Todo joelho se dobrará em Sua presença, e todas as línguas confessarão Seu nome. Joelhos que nunca antes assumiram essa postura para esse fim irão então — e prontamente".21
Leitura Complementar
Dean M. Davies, "As Bênçãos da Adoração", A Liahona, novembro de 2016, disponível online em: lds.org. Matthew L. Bowen, "'They Came and Held Him by the Feet and Worshiped Him': Proskynesis before Jesus in Its Biblical and Ancient Near Eastern Context", Studies in the Bible and Antiquity 5 (2013): pp. 63–68. Matthew L. Bowen, "'They Came Forth and Fell Down and Partook of the Fruit of the Tree': Proskynesis in 3 Nephi 11:12–19 and 17:9–10 and Its Significance", em Third Nephi: An Incomparable Scripture (Salt Lake City and Provo, UT: Deseret Book and Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2012), pp. 107–130. Matthew L. Bowen, "And Behold, They Had Fallen to the Earth": An Examination of Proskynesis in the Book of Mormon", Studia Antiqua 4, no. 1 (2005): pp. 91–110. Hugh Nibley, An Approach to the Book of Mormon (Salt Lake City and Provo, UT: Deseret Book and FARMS, 1988) pp. 295–310.1. Ver Hugh Nibley, An Approach to the Book of Mormon, The Collected Works of Hugh Nibley, Volume 6 (Salt Lake City and Provo, UT: Deseret Book and FARMS, 1988), p. 304 n. 22; Matthew L. Bowen, "'They Came and Held Him by the Feet and Worshipped Him': Proskynesis before Jesus in Its Biblical and Ancient Near Eastern Context", Studies in the Bible and Antiquity 5 (2013): pp. 63–68; Matthew L. Bowen, "'They Came Forth and Fell Down and Partook of the Fruit of the Tree': Proskynesis in 3 Nephi 11:12–19 and 17:9–10 and Its Significance", em Third Nephi: An Incomparable Scripture (Salt Lake City and Provo, UT: Deseret Book and Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2012), pp. 107–108: "Prosquínese, literalmente 'um beijo na presença de', é um termo que o historiador grego Heródoto (Histórias 1.134) originalmente aplicava ao antigo costume persa de 'prostrar-se diante de pessoas e beijar seus pés ou a borda de sua vestimenta [ou] o chão'. A palavra denota em um sentido amplo a "prostração hierárquica de baixo para cima", mas em um sentido cultural mais restrito significa "submissão formal na presença de um ser de um reino divino". Portanto, a prosquínese é sabiamente usada pelos estudiosos como um termo genérico para ritos semelhantes conhecidos do Egito ao Extremo Oriente, onde divindades, reis e outras pessoas deificavam ou pensavam pertencer ao reino divino, onde eram reconhecidas e reverenciadas. 2. Bowen, "They Came and Holded Him", p. 68. 3. Bowen, "They Came and Holded Him", p. 66 4. Bowen, "They Came and Holded Him", p. 66. Para um estudo sobre teofanias do trono, ver Blake T. Ostler, "The Throne-Theophany and Prophetic Commission in 1 Nephi: A Form-Critical Analysis", BYU Studies 26, no. 4 (1986): pp. 67–95. 5. Ver Bowen, "They Came and Holded Him", pp. 69–73. Para uma análise do ritual de oração (incluindo a prostração) no Islã e sua relação com a oração judaica, ver Khaleel Mohammed, "The Foundation of Muslim Prayer", Medieval Encounters 5, no. 1 (1999): pp. 17–28. 6. Ver Brent D. Shaw, Bringing in the Sheaves: Economy and Metaphor in the Roman World (Toronto, ON: University of Toronto Press, 2013), p. 398 n. 44. Para um estudo de José, filho de Jacó, como um modelo de Cristo, ver Andrew C. Skinner, "Finding Jesus Christ in the Old Testament", Ensign, junho de 2002, disponível online em: lds.org. 7. Bowen, "They Came and Held Him", pp. 73–88; Stuart Bevan, "Proskynesis in the Synoptics: A Textual Analysis of προσκυνέω and Jesus", Studia Antiqua 14, no. 1 (2015): pp. 30–43. 8. Além dos exemplos da árvore da vida e do discurso do rei Benjamim, vários exemplos de prosquínese podem ser encontrados no Livro de Mórmon. Ver Matthew L. Bowen, "And Behold, They Had Fallen to the Earth": An Examination of Proskynesis in the Book of Mormon", Studia Antiqua 4, no. 1 (2005): pp. 91–110. 9. Bowen, "And Behold, They Had Fallen", p. 96. 10. Nibley, An Approach to the Book of Mormon, p. 304. 11. Para revisar a carta egípcia, ver a nota de rodapé 2. 12. Bowen, "They Came Forth and Fell Down", p. 118. 13. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que Mórmon disse que os filhos dos homens são 'menos que o pó da terra'? (Helamã 12:7)", KnoWhy 183 (15 de agosto de 2017). 14. Bowen, "They Came and Holded Him", p. 82. 15. Isaías 63:3, cf. D&C 76:107; 88:106; 133:50. 16. 3 Néfi 11:14, cf. D&C 6:37. 17. Isaías 52:7, cf. Mosias 15:15-18; Romanos 10:15; 3 Néfi 20:40. 18. D&C 88:6 19. 3 Néfi 17:10 20. Neil L. Anderson, "O Que Cristo Pensa de Mim?" A Liahona, abril de 2012, p. 114, disponível online em: lds.org 21. Neal A. Maxwell, "'O, Divine Redeemer'", Conferência Geral, outubro de 1981.