KnoWhy #91 | Abril 24, 2017
Por que Abinádi falou do Messias sofredor?
Postagem contribuída por
Scripture Central
“Certamente ele tomou sobre si nossas dores e carregou nossos pesares; no entanto, reputamo-lo por aflito, ferido por Deus e oprimido"
O conhecimento
Isaías 53, conhecido como o "Cântico do Servo Sofredor", tem inspirado poderosamente tanto cristãos quanto judeus e é objeto de intensa pesquisa acadêmica.1 Quando Abinádi compareceu perante a corte de Noé, acusado de falsa profecia, ele recorreu a esse texto imponente e inabalável como sua defesa. Em seguida, ele se baseou nas palavras messiânicas de Isaías, testificando que "o próprio Deus descerá [...] [e] sujeita-se a ser escarnecido e açoitado e expulso e rejeitado por seu povo" (Mosias 15:1, 5).
Embora tudo isso fizesse parte da defesa legal de Abinádi, Isaías 53 e o posterior testemunho de Abinádi sobre Cristo são mais do que apenas uma evidência legal.2 Devido ao ambiente imediato e das circunstâncias que cercavam Abinádi, a ideia de um Messias sofredor provavelmente ressoava com ele.
Entre os pesquisadores, não há consenso sobre a origem e interpretação de Isaías 53.3 As diferentes interpretações do Servo sofredor variam de uma figura real4 a ser inspirada pela "intercessão e sofrimento de certas figuras proféticas".5
A história de Abinádi traz à vida a figura profética como um Servo sofredor. Ele sofreu seu destino nas mãos das mesmas pessoas a quem veio servir. Sua narrativa reflete Isaías 53 de várias maneiras.
Ao que parece, Abinádi teria se identificado pessoalmente com o retrato que Isaías fez do Servo Sofredor. O Servo foi "desprezado e rejeitado pelos homens; homem de dores e experimentado em padecimentos" (Mosias 14:3; Isaías 53:3). Como um estudioso de Isaías disse: "O Servo [teve] que assumir o lugar mais baixo, enfrentar o desprezo e, pior ainda, a rejeição daqueles a quem ele veio servir".6 Da mesma forma, Abinádi foi enviado duas vezes para chamar Noé e seu povo ao arrependimento, pelo qual foi desprezado, rejeitado, preso, acusado, torturado e executado por eles (Mosias 11:26-29; 13:9, 17, 19; 17:5-20).
Abinádi tinha motivos para observar, em especial, que esse Servo sofreu as dores, carregou os fardos e tristezas de seu povo, foi feito prisioneiro e foi levado como um cordeiro para o matadouro (Mosias 14:4, 7-8; Isaías 53:4, 7-8). Ele também pode ter se surpreendido com o grau em que alguns do povo de Noé, como ovelhas "desgarrad[as]", seguiram seu próprio caminho iníquo (Mosias 14:6; Isaías 53:6).
O rei Noé e seus sacerdotes proporcionaram um contraste interessante ao Servo sofredor. O Servo não era "estimado" (Mosias 14:3; Isaías 53:3), o que significa que "o Servo não tem acessório externo de poder, posição e sucesso".7 Por outro lado, Noé desfrutava de riqueza e poder, tendo muitas esposas e concubinas,8 "muitos edifícios elegantes e espaçosos; e ornamentou-os com belos trabalhos" tinha "um espaçoso palácio com um trono", e seus sacerdotes tinham "assentos reservados […] acima de todos os outros assentos […] [e] ornament[ados] com ouro puro" (Mosias 11:3–14).
Enquanto Noé "seguiu os desejos de seu próprio coração", o Servo ou Filho de Deus "sujeit[ou] a carne à vontade do Pai" (Mosias 15:2; 11:2). Noé "levou o seu povo a cometer pecados e a fazer o que era abominável aos olhos do Senhor" (Mosias 11:2), mas o Servo "foi ferido pelas [...] transgressões" de outros, fez "uma oferta pelo pecado" e "tomou sobre si os pecados de muitos e intercedeu pelos transgressores", purificando-os assim (Mosias 14:5, 10, 12; Isaías 53:5, 10, 12).
O porquê
Estudos recentes sugerem que o sofrimento profético, geralmente nas mãos daqueles a quem são chamados a servir, deu origem a Isaías 53. A esse respeito, é notável que essa profecia específica desempenhou um papel importante na história de Abinádi, a única narrativa no Livro de Mórmon sobre um profeta que sofre o grande preço — a morte — por aqueles a quem ele procurou ajudar.
Hoje em dia, muitos continuam a encontrar inspiração e conforto nas palavras poderosas e poéticas de Isaías sobre o Servo Sofredor. Provavelmente, Abinádi não somente as usou como defesa legal, mas também como refúgio e consolo pessoal. Como muitos profetas antes e depois dele, foi consolado com o conhecimento de que, embora tenha sofrido rejeição e perseguição, o Salvador — o verdadeiro Servo Sofredor — desceria abaixo de todas as coisas (D&C 88:6) porque "tomou sobre si nossas dores e carregou nossos pesares […] e pelas suas feridas somos curados" (Mosias 14:5; Isaías 53:5).
Isso também deve ter enviado uma mensagem poderosa a Noé e seus sacerdotes iníquos: enquanto eles equivocadamente se consideravam mensageiros do Senhor, ao aplicar incorretamente Isaías 52:7-10 a si.9 O contraste entre eles e o Servo de Isaías 53 destaca quão distantes eles estavam de serem verdadeiros servos do Senhor.
Embora Abinádi possa ter pensado que sua pregação fora infrutífera, ao menos um dos sacerdotes de Noé foi comovido (Mosias 17:2-4). Quando Alma, o pai, estabeleceu sua jovem comunidade, fundamentou seus ensinamentos nas palavras de Abinádi e Isaías. Alma logo estabeleceu seu povo sob o convênio de "carregar os fardos uns dos outros" como o Servo os carregaria e de "chorar com os que choram" ou se sofrer, ao permanecer com os que "necessitam de consolo", e de "servi[r][ao Senhor] e guardar Seus mandamentos", "entrar no rebanho de Deus e ser[em] chamados seu povo" e "cada um se desviou por seu próprio caminho" (Mosias 18:9, 10; 14:6; Isaías 53:6).
Leitura Complementar
John W. Welch, "Isaiah 53, Mosiah 14, and the Book of Mormon", in Isaiah in the Book of Mormon, ed. Donald W. Parry and John W. Welch (Provo, UT: FARMS, 1998), pp. 293–312. Ver, por exemplo, Monte S. Nyman,"Abinadi's Commentary on Isaiah", in Mosiah, Salvation Only Through Christ, ed. Monte S. Nyman e Charles D. Tate Jr. (Provo, UT: Brigham Young University, Religious Studies Center, 1991), pp. 161–186.1. Para vários exemplos, ver os artigos em William H. Bellinger e William R. Farmer, eds., Jesus and the Suffering Servant: Isaiah 53 and Christian Origins (Eugene, OR: Wipf and Stock, 1998); Bernd Janowski and Peter Stuhlmacher, eds., The Suffering Servant: Isaiah 53 in Jewish and Christian Sources, trad. Daniel P. Bailey (Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 2004); Darrell L. Bock and Mitch Glaser, eds., The Gospel According to Isaiah 53: Encountering the Suffering Servant in Jewish and Christian Theology (Grand Rapids, MI: Kregel Academic, 2012). 2. Para um ponto de vista legal, consultar o artigo da Central do Livro de Mórmon, Por que os sacerdotes de Noé teriam perguntado sobre Isaías a Abinádi? (Mosias 12:20-21),; KnoWhy 89 (21 de abril de 2017). 3. Para um resumo das diferentes interpretações de quem é o "servo", ver R. E. Clements, "Isaiah 53 and the Restoration of Israel", in Jesus and the Suffering Servant, pp. 42–54; Walter C. Kaiser Jr., "The Identity and Mission of the 'Servant of the Lord'", em The Gospel According to Isaiah 53, pp. 92–94. 4. Por exemplo, uma sugestão é que o sofrimento de Ezequias, quase morto, antes que o Senhor o curasse milagrosamente e poupasse a cidade dos invasores assírios, serviu de inspiração para Isaías (2 Reis 20:1–7, ca. 701 a.C. Margaret Barker, "Hezekiah's Boil", Journal for the Study of the Old Testament 26, no. 1 (2001): pp. 31–42. Essa interpretação é intrigante, dado que muitos estudiosos argumentam que Isaías 40-55 foi realmente escrito por outro profeta posterior, por volta de 540 a.C. durante o exílio babilônico, e por isso seria tarde demais para estar acessível a Leí, antes de deixar Jerusalém. No entanto, se Ezequiel é o tipo messiânico em que o cântico foi inspirada, então Isaías 53 seria de aproximadamente 700 a.C., o Isaías original e, portanto, disponível nas Placas de Latão. Para saber mais sobre o assunto e o relacionamento do Livro de Mórmon, ver John W. Welch, "Authorship of the Book of Isaiah in Light of the Book of Mormon", em Isaiah in the Book of Mormon, ed. Donald W. Parry e John W. Welch (Provo, UT: FARMS, 1998), pp. 423–437; Kent P. Jackson, "Isaiah in the Book of Mormon", in A Reason for Faith: Navigating LDS Doctrine and Church History, ed. Laura Harris Hales (Salt Lake City and Provo, UT: Deseret Book and Religious Studies Center, Brigham Young University, 2016), pp. 69–78. Para uma abordagem evangélica recente a este tema de coesão e autoria de Isaías, ver Richard L. Schultz, "Isaiah, Isaiahs, and Current Scholarship", em Do Historical Matters Matter to Faith? A Critical Appraisal of Modern and Postmodern Approaches to Scripture, ed. James K. Hoffmeier e Dennis R. Magary (Wheaton, IL: Crossway, 2012), pp. 243–261. 5. Ver Hermann Spieckermann, "The Conception and Prehistory of the Idea of Vicarious Suffering in the Old Testament", in The Suffering Servant, pp. 1–15, citado na p. 8. 6. John N. Oswalt, The Holy One of Israel: Studies in the Book of Isaiah (Eugene, OR: Cascade Books, 2014), p. 147. 7. Oswalt, The Holy One of Israel, p. 148. 8. Para saber mais sobre a poligamia como símbolo de prestígio, consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon,"O que o Livro de Mórmon diz sobre a poligamia? (Jacó 2:30)", KnoWhy 64 (21 de março de 2017). 9. Ver a Central do Livro de Mórmon, "Por que os sacerdotes de Noé teriam perguntado sobre Isaías a Abinádi? (Mosias 12:20-21)," KnoWhy 89 (21 de abril de 2017) .