KnoWhy #81 | Abril 12, 2017
Por que as Escrituras comparam o inferno a um fogo inextinguível?
Postagem contribuída por
Scripture Central
"Portanto, se tal homem não se arrepende e permanece e morre inimigo de Deus, as exigências da divina justiça despertam-lhe a alma imortal para um vivo sentimento de sua própria culpa, que o leva a recuar diante da presença do Senhor e enche-lhe o peito de culpa e dor e angústia, como um fogo inextinguível cuja chama se eleva para todo o sempre". Mosias 2:38
O conhecimento
Embora o entendimento preciso da antiga Israel sobre o "inferno" não esteja claro nos textos bíblicos hebraicos, a ideia de um lugar onde os iníquos suportarão a ira ardente de Deus aparece em várias passagens:
- Deuteronômio 32:22 — "Porque um fogo se acendeu na minha ira, e arderá até o mais profundo do inferno, e consumirá a terra com os seus frutos, e abrasará os fundamentos dos montes".
- Isaías 26:13-19 — Embora os iníquos que já faleceram sejam punidos, os justos que morrerem se levantarão e exultarão de alegria.1
- Isaías 30:33 — "Porque já Tofete (Heb: o lugar da queima; sinônimo de Geena)2 está preparada desde ontem, e já está preparada para o rei (da Assíria), já a aprofundou e alargou; a sua pira é de fogo, e tem muita lenha; o sopro do Senhor como a torrente de enxofre a acenderá".
- Isaías 66:24 — "E sairão, e verão os corpos mortos dos homens que transgrediram contra mim; porque o seu bicho nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e serão um horror para toda a carne".
- Jeremias 7:31-32; 19 — Assim como o povo de Jerusalém sacrificava seus filhos e queimava incenso a falsos deuses em Tofete/Geena, o Senhor também a transformaria em um lugar para a punição de seu povo.
Esses exemplos deixam claro que, por volta da época em que Leí deixou Jerusalém, e bem antes, o vale de Hinom (Geena) estava associado ao fogo, à destruição e à ira ardente de Deus na mente dos habitantes de Jerusalém. Esse ainda era claramente o caso nos tempos do Novo Testamento.3
Embora esse simbolismo fosse aparentemente familiar ao rei Benjamim e seja mencionado em seu uso das palavras "fogo inextinguível" e "chama", ele, ou o anjo do Senhor que lhe revelou essas doutrinas, escolheu falar metaforicamente sobre o conceito do castigo eterno. O texto afirma que esse tormento é "como um fogo inextinguível" (Mosias 2:38) e "como um lago de fogo e enxofre" (Mosias 3:27).
O discurso de Benjamim expande esse sentido metafórico enfatizando que esses sentimentos de ira ardente não vêm de um poço de fogo real, ou algo semelhante, mas do despertar do pecador para "uma visão terrível de sua própria culpa e abominações, que os fará recuar da presença do Senhor para um estado de miséria e tormento sem fim" (Mosias 3:25). Esse sentimento de culpa, disse Benjamim, "enche-lhe o peito de culpa e dor e angústia, como um fogo inextinguível cuja chama se eleva para todo o sempre" (Mosias 2:38).
Esse conceito de experimentar o "inferno" através da dor e angústia de uma consciência culpada também pode ser encontrado no Velho Testamento. O salmista, por exemplo, lamentou que as "[t]ristezas do inferno me cingiram" (Salmo 18:5), e que "angústias do inferno se apoderaram de mim; encontrei aperto e tristeza" (Salmo 116:3). Esses sentimentos são semelhantes aos de Alma, o filho, que relatou que foi "atormentado com as penas do inferno" e "perturbado pela lembrança de tantos pecados" quando se lembrou de sua rebelião contra Deus. Ele desejou ser "aniquilado em corpo e alma, para não ser levado à presença de meu Deus a fim de ser julgado pelas minhas obras!" (Alma 36:12-17).
Essa angústia devido ao pecado e o desejo desesperado de receber perdão é expressa novamente em Salmo 51:9-11:
Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo.
O porquê
Visto que o rei Benjamim advertiu enfaticamente seu povo sobre as dores do inferno em seu famoso discurso do convênio, é bom se perguntar por que era tão importante para o rei tratar desse assunto com eles. Que método se descreve para eles evitarem essa "terrível situação" (Mosias 2:40)?
O Livro de Mórmon ensina que Satanás e o inferno são reais. O rei Benjamim queria que seu público entendesse a dor e a angústia da culpa que vem do pecado. Através de seu discurso, ele então dá instruções sobre como esse "fogo inextinguível" pode ser evitado.
Por exemplo, o rei Benjamim estava preocupado em unir seu povo e impedir a rebelião entre eles. Em Mosias 2:32, ele os adverte para que não "surjam contendas entre vós", advertindo-os de que, se o fizessem, escolheriam "obedecer ao espírito maligno". Mais tarde, Jesus advertiria o povo nefita do mesmo mal (3 Néfi 11:29). Benjamim aconselhou seu povo de que qualquer um que decida obedecer ao espírito maligno e a permanecer e morrer em seus pecados "bebe condenação para a própria alma; porque recebe por salário um castigo eterno, havendo transgredido a lei de Deus contra seu próprio conhecimento" (Mosias 2:33).
A natureza dessa "punição", segundo o rei Benjamim, é um tormento mental que infligimos a nós mesmos por estarmos cientes de nossa própria culpa. As palavras usadas para descrever essa angústia são realmente terríveis, mas esse bom rei também explicou a seu povo como eles, por meio da Expiação de Cristo, poderiam escapar dessa terrível situação. Ele explicou ao seu povo a chave para seguir a Cristo para que eles "receb[essem] a remissão de seus pecados" (Mosias 3:13). Em Mosias 3:19, o rei Benjamim explicou:
Porque o homem natural é inimigo de Deus e tem-no sido desde a queda de Adão e sê-lo-á para sempre; a não ser que ceda ao influxo do Santo Espírito e despoje-se do homem natural e torne-se santo pela expiação de Cristo, o Senhor; e torne-se como uma criança, submisso, manso, humilde, paciente, cheio de amor, disposto a submeter-se a tudo quanto o Senhor achar que lhe deva infligir, assim como uma criança se submete a seu pai.
Se não se rebelassem contra Deus, separando-se "do Espírito do Senhor" (Mosias 2:36), poderiam esperar um futuro muito mais brilhante. Benjamim lhes deu essa esperança, encorajando-os a se concentrarem no bem, em Mosias 2:41:
E ainda mais, quisera que considerásseis o estado abençoado e feliz daqueles que guardam os mandamentos de Deus. Pois eis que são abençoados em todas as coisas, tanto materiais como espirituais; e se eles se conservarem fiéis até o fim, serão recebidos no céu, para que assim possam habitar com Deus em um estado de felicidade sem fim. Oh! Lembrai-vos, lembrai-vos de que estas coisas são verdadeiras, porque o Senhor Deus as disse.
Leitura Complementar
Dahl, Larry E., "The Concept of Hell" em A Book of Mormon Treasury: Gospel Insights from General Authorities and Religious Educators (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 2003), pp. 262–79.1. Emile Puech comentou sobre esses versículos: "O julgamento e as punições dos iníquos se opõem à ressurreição dos justos em um contexto de escatologia coletiva, e Deus destruiu a morte para sempre (Isa 25:8)". Emile Puech, "Jesus and Resurrection Faith in Light of Jewish Texts", em Jesus and Archaeology, ed. by James H. Charlesworth (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2006), p. 644. 2. Tofete (ou Topheth, Tophteh) era uma seção do "vale do filho de Hinom" (Heb: Gai Ben-Hinnom; mais tarde "Gehinnom" em hebraico ou "Geena" em traduções ao português) que estava localizado ao sul de Jerusalém. Os israelitas foram acusados de queimar seus filhos para Moloque e outros deuses cananeus naquele lugar, um crime pelo qual aquele lugar era considerado amaldiçoado (Jeremias 7:31; 19:2–6). 3. Ver, por exemplo, Mateus 5:22, 29; 10:28; 18:9; 23:15, 33; Marcos 9:43–47; Lucas 12:5; Tiago 3:6.