KnoWhy #744 | Agosto 6, 2024

Por que as instruções de Alma a seus filhos estão repletas de sabedoria proverbial?

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Scripture Central

"Oh! lembra-te, meu filho, e aprende sabedoria em tua mocidade; sim, aprende em tua mocidade a guardar os mandamentos de Deus!" Alma 37:35

O conhecimento

Depois de sua missão junto aos zoramitas, Alma começou a se entristecer com as iniquidades dos nefitas e, assim, começou a pregar em todas as cidades (ver Alma 35:15). Como parte dessa missão, Alma "fez, portanto, reunir seus filhos para dar a cada um, separadamente, sua incumbência quanto às coisas que diziam respeito à retidão" (Alma 35:16). Alma levou sua responsabilidade de ensinar seus filhos tão a sério quanto sua responsabilidade de ensinar os nefitas.

Alma 36-42 preserva os ensinamentos que Alma deu diretamente a seus filhos adultos, Helamã, Siblon e Coriânton. Cada mensagem que Alma compartilhou com seus filhos foi cuidadosamente construída e registrada. John W. Welch observou: "Quando Alma escreveu essas lições, ele aparentemente pensou muito e tomou muito cuidado com sua redação e conteúdo. Ele certamente trabalhou com o Espírito e também trabalhou com suas habilidades literárias."1 Além de usar formas poéticas como o quiasmo, Alma também se baseou na literatura tradicional de sabedoria israelita para moldar as lições pessoais de cada um desses três filhos.2

Essas conexões são especialmente evidentes ao comparar os ensinamentos de Alma com o livro de Provérbios — o epítome da literatura de sabedoria israelita — cujos "primeiros nove capítulos empregam o tropo de um pai dispensando sabedoria a seu filho, ou ocasionalmente a seus filhos, para formar um discurso sobre sabedoria".3 O livro de Provérbios é tradicionalmente atribuído ao rei Salomão. Embora a forma mais primitiva do livro possa ter sido compilada durante seu tempo, é uma obra bastante eclética reunida a partir de várias fontes. Por exemplo, é geralmente reconhecido que Provérbios22:17 -24:22 é baseado nos escritos egípcios de Amenemope, provavelmente compostos entre 1188 e 945 a.C.4 O livro de Provérbios dá a entender essa natureza eclética com seu acréscimo feito por Ezequias, bem como ditos atribuídos a um homem chamado Agur e à mãe de um rei chamado Lemuel.5

Por causa disso, é difícil de datar o livro de Provérbios como um todo, e é provável que ele só tenha sido colocado em sua forma final depois que Leí deixou Jerusalém. Entretanto, isso não significa que os nefitas não tivessem acesso aos provérbios israelitas em uma forma anterior. Muitos deles teriam sido escritos muito antes do tempo de Leí, inclusive muitos encontrados nos primeiros nove capítulos de Provérbios, de acordo com alguns estudiosos.6 Jane Allis-Pike observou: "É plausível que alguns provérbios tenham sido gravados nas placas de latão. No entanto, se não foram, é provável que os leítas estivessem familiarizados com uma gama mais ampla de literatura de sabedoria de sua época, incluindo os provérbios. É possível que eles tenham levado esse conhecimento para as Américas".7

De fato, assim como o pai de Provérbios instrui seu filho: "Filho meu [...] atento à sabedoria o teu ouvido, e inclinares o teu coração ao entendimento", Alma também diz a seus filhos Helamã e Siblon: "[M]eu filho, e aprende sabedoria em tua mocidade; sim, aprende em tua mocidade a guardar os mandamentos de Deus!".8 As instruções de Alma são muito parecidas com esse provérbio, e o uso repetido da palavra sabedoria em Alma 36-42 coloca essas instruções em um gênero de sabedoria.9 Ao longo de Provérbios 1-9 e Alma 36-42, o pai e Alma oferecem conselhos temporais e espirituais a seus filhos, encaixando-se na definição de literatura de sabedoria como "em um sentido, a infusão do entendimento de Deus na vida vivida".10

Outra conexão entre os ensinamentos de Alma e Provérbios é que ambos tratam de sabedoria geracional. Em Provérbios 4:3-4, o pai relata: "Porque eu era filho de meu pai, tenro e único em estima diante de minha mãe. E ele ensinava-me, e dizia-me: Retenha as minhas palavras o teu coração; guarda os meus mandamentos, e vive" — muito semelhante à instrução de Alma a seu filho Helamã "ouve minhas palavras; pois juro-te que, se guardares os mandamentos de Deus, prosperarás na terra" (Alma 36:1). Essa instrução também reflete tanto Provérbios 2:21-22 quanto o convênio feito a Leí (ver 1 Néfi 2:20). Além disso, lembra a juventude rebelde de Alma, na qual ele acabou tendo que confiar nos ensinamentos de seu pai sobre Jesus Cristo para ser curado de suas enfermidades espirituais e físicas.

Da mesma forma, quando Alma exorta seu filho Siblon a exercer autocontrole em sua vida: "Usa de ousadia, mas não de despotismo; faze também com que todas as tuas paixões sejam dominadas, para que te enchas de amor; procura fugir da ociosidade" (Alma 38:12). A necessidade de autocontrole também é discutida pelo pai de Provérbios, que incentiva seu filho a examinar "a vereda de teus pés, e todos os teus caminhos sejam bem ordenados!" antes de tomar uma decisão que poderia potencialmente desviar seu curso na vida (ver Provérbios 4:26-27). Welch observou que depois que Alma "implora a Siblon que 'aprenda sabedoria'" em Alma 38:9-15, "Alma continua a dar a Siblon cerca de uma dúzia de valiosas linhas de sabedoria proverbial e conselhos espirituais para guiá-lo e encorajá-lo em sua vida".11

Com seu filho Coriânton, Alma se concentra especialmente nos ensinamentos relacionados ao orgulho, à necessidade de seguir bons exemplos, de manter prioridades certas, praticar o autocontrole e superar a luxúria carnal, todos os temas também encontrados no livro de Provérbios.12 Um tema fundamental em ambos, entretanto, é a superação da luxúria carnal, pois Coriânton "abandonaste o ministério e foste à terra de Siron, dentro das fronteiras dos lamanitas, atrás da meretriz Isabel" (Alma 39:3). Por fim, Alma chamou isso de "coisas vãs ou insensatas", potencialmente conectando Isabel à personificação da tolice encontrada em Provérbios (Alma 39:11).

Em Provérbios 7, especialmente, a tolice é personificada como uma mulher que "lhe saiu ao encontro, com enfeites de prostituta, e astuta de coração" (v. 10). Esta mulher lisonjeia as pessoas, e elas vão atrás dela "como boi que vai ao matadouro, e como o tolo ao castigo das prisões", e o pai adverte seus filhos que "a muitos feridos derrubou, e são muitíssimos os que por ela foram mortos. A sua casa é caminho do inferno, que desce às câmaras da morte" (Provérbios 7:22, 26-27). O pai também adverte seus filhos: "Não se desvie para os caminhos dela o teu coração, e não andes perdido nas suas veredas", assim como Alma adverte Coriânton: "Não te deixes levar por coisas vãs ou insensatas; não permitas que o diabo desvie novamente teu coração para ires atrás dessas iníquas meretrizes" (Provérbios 7:25; Alma 39:11).

O porquê

Jane Allis-Pike observou apropriadamente: "Quando vistos através das lentes de Provérbios 1-9, os ensinamentos de Alma a seus filhos em Alma 36-39 tornam-se mais profundos e significativos".13 Por que Alma teria se baseado tanto nessa fonte? Por um lado, ele teria encontrado ali um conjunto explícito de sabedoria inspirada, dirigida por um pai a seus filhos. Alma usa a frase "meu filho" mais de vinte vezes ao se dirigir a Helamã, oito vezes ao falar com Siblon e vinte e nove vezes ao instruir Coriânton. A frase ocorre mais de vinte vezes em Provérbios 1-7 e 19-31. Esse conjunto de sabedoria proverbial era o lugar de referência para dar orientação paterna entre os antigos israelitas.

Além disso, tanto o livro de Provérbios quanto Alma 36-42 refletem o terno amor que um pai tem por seus filhos, especialmente por seus filhos rebeldes apanhados em pensamentos e desejos tolos. Essas lições incluem assuntos de grande importância, incluindo "manter um relacionamento de convênio com Deus, a importância da sabedoria geracional, evitar o orgulho, superar desejos lascivos, rejeitar as coisas vãs do mundo e muito mais".14

Também podemos ver uma grande ênfase na necessidade de ouvir diligentemente a sabedoria e renunciar completamente à tolice, tanto nas bênçãos e conselhos que Alma deu a seus filhos quanto nas palavras atribuídas a Salomão ao guiar e orientar seu filho. A sabedoria, também personificada como uma mulher sábia, esposa e mãe, em Provérbios, é representada por sua disposição de ajudar todos aqueles que desejam se aproximar de Deus para melhor estabelecer um relacionamento com Ele.15 Embora a tolice possa colocar armadilhas sutis para enganar a alma errante, os sábios e justos serão capazes de detectar esses estratagemas e permanecer fiéis aos convênios que fizeram com Deus.

À medida que todos os leitores modernos do Livro de Mórmon leem atentamente e aplicam de bom grado os ensinamentos de Alma, eles também se tornam mais bem equipados para detectar e fugir das tolices e armadilhas de Satanás em suas vidas. À medida que os leitores buscam seguir os mandamentos e viver de acordo com o conselho profético contido nesses capítulos doutrinariamente ricos, eles também podem sentir a relevância do sincero apelo de Alma para aprender "em tua mocidade a guardar os mandamentos de Deus!" e evitar a tentação (Alma 37:35).

Leitura complementar

Jane Allis-Pike, "Words from the Wise: Alma 36–39 through the Lens of Proverbs 1–9", em Give Ear to My Words, ed. Kerry Hull, Nicholas J. Frederick e Hank R. Smith (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University; Salt Lake City: Deseret Book, 2019), pp. 255-274

John W. Welch, John W. Welch Notes (Springville, UT: Book of Mormon Central, 2020), pp. 709–750.