KnoWhy #460 | Janeiro 19, 2021

Por que as pessoas ficam exaustas ao ter experiências espirituais poderosas?

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Scripture Central

''[A] luz da vida eterna se lhe havia acendido na alma; sim, sabia que isto havia dominado o corpo natural do rei e que ele fora arrebatado em Deus''

O conhecimento

Ao longo do Livro de Mórmon, há momentos em que as experiências espirituais das pessoas esgotam suas forças, fazendo com que elas fiquem completamente exaustas. O rei Lamôni, por exemplo, caiu no chão como se estivesse morto e Amon explicou à rainha que ''a luz da vida eterna se lhe havia acendido na alma'' e que essa experiência ''havia dominado o corpo natural do rei e que ele fora arrebatado em Deus'' (Alma 19:6). Depois que Leí teve uma visão profunda, do mesmo modo ele ''jogou-se sobre a cama, dominado pelo Espírito e pelas coisas que vira'' (1 Néfi 1:6-7). No Livro de Mórmon, Néfi, Alma, a casa de Lamôni e Amon tiveram experiências semelhantes.1 Outros profetas antigos, como Moisés e Daniel, também experimentaram o mesmo.2 Embora existam muitas explicações possíveis para essas experiências, os encontros de Joseph Smith com seres divinos nos dão informações detalhadas para conhecer a exaustão relacionada às visões que as pessoas experimentam no Livro de Mórmon.3

Abis, por Krista Jones Abis, por Krista Jones
Um momento importante vem de Joseph Smith-História 1:20, onde Joseph Smith descreve o que aconteceu imediatamente após a primeira visão: ''Quando tornei a voltar a mim, estava deitado de costas, olhando para o céu. Quando a luz se retirou, eu estava sem forças; mas tendo logo me recuperado em parte, fui para casa''.4 A visão havia drenado tanto sua força que ele realmente precisava se recuperar antes que pudesse fazer a curta caminhada para casa. Ele estava aparentemente tão exausto que sua mãe percebeu que algo estava errado e perguntou-lhe sobre isso: ''Ao apoiar-me na lareira, minha mãe perguntou-me o que se passava. Respondi: 'Não se preocupe, tudo está bem'". (Joseph Smith—História 1:20).5 Mais tarde, comentou com Alexandre Neibaur que, depois da primeira visão, ''ele tentou levantar-se, mas sentiu-se mais fraco do que o habitual''.6 Joseph teve uma experiência igualmente exaustiva com um mensageiro celestial anos mais tarde, quando Morôni lhe apareceu. Joseph Smith—História 1:47 diz que ''imediatamente após o mensageiro celestial ter ascendido pela terceira vez, o galo cantou e vi que o dia se aproximava, de modo que as entrevistas deviam ter durado toda aquela noite''. Aqui, parece que Joseph ficou surpreso com a longa conversa que Morôni teve, pois quando o galo cantou, ele percebeu quanto tempo passou falando com ele. Joseph levantou-se e tentou fazer suas tarefas habituais. No entanto, ele disse: ''[S]enti-me tão exausto que não consegui''. Seu pai notou e disse-lhe para voltar para casa. Ele lembra: ''Saí com essa intenção, mas ao tentar atravessar a cerca do campo onde estávamos, faltaram-me as forças por completo e caí inerte ao solo, ficando completamente inconsciente durante algum tempo''(Joseph Smith—História 1:48). Neste caso, a exaustão geralmente associada com as experiências espirituais, agravou-se pela noite em claro de Joseph, deixando-o completamente incapaz de trabalhar como de costume. No entanto, Joseph Smith não foi a única pessoa no início da igreja que experimentou esse tipo de esgotamento. Philo Dibble lembrou que no processo de receber a visão que mais tarde seria registrada como Doutrina e Convênios 76, Sidney Rigdon teve uma experiência semelhante. Dibble lembrou: "Joseph sentou-se firme e calmamente em todos os momentos no meio da glória magnífica, mas Sidney sentiu-se fraco e pálido, aparentemente tão flexível quanto um trapo, observando, Joseph disse sorrindo: 'Sidney não está tão acostumado a isso como eu estou'".7
A Primeira Visão, via lds.org A Primeira Visão, via lds.org
Tais reações a essas experiências espirituais não são únicas nem no século XIX, nem na antiguidade. A estudiosa da religião Felicitas D. Goodman, afirmou que ''muitos relatórios modernos e observações de campo por antropólogos'' descobriram que quando as pessoas têm experiências espirituais significativas, como visões, ''certas mudanças físicas ocorrem''.8 No curso dessas experiências, muitas pessoas ''caem no que parece ser um sono profundo ou mesmo desmaiam''.9 Experiências como essas estimulam o sistema nervoso de duas maneiras possíveis e essa ''ação alternada produz relaxamento'' que pode levar a esse efeito.10 Ao mesmo tempo, o corpo gera endorfinas que atuam como analgésicos no corpo.11 A antropóloga médica Barbara W. Lex observou que ''essas endorfinas são consideradas responsáveis pelo nível biológico de alegria, euforia e 'prazer' frequentemente relatados nas visões dos místicos cristãos''.12 Ela conclui que, em última análise, ''de alguma forma misteriosa […] o corpo se torna um órgão que percebe a dimensão sagrada da realidade''.13 Alma 19:13, afirma especificamente que ''transbordou-se-lhe o coração [do rei Lamoni] e outra vez ele caiu por terra, de alegria; e a rainha também caiu por terra, dominada pelo Espírito'', sugerindo que o corpo físico de Lamôni estava respondendo a essa experiência espiritual da maneira que os antropólogos observaram hoje em dia: com intensa alegria e exaustão.

O porquê

Truman G. Madsen, em seu clássico de 1989, Joseph Smith the Prophet, declarou: ''Joseph estava cansado de sua experiência no bosque. A reunião, longa ou curta, exigiu muito dele''.14 Como no Velho Testamento e no Livro de Mórmon, ''Joseph estava cheio do espírito, que o capacitou a suportar a presença do Senhor. Esse espírito é enervante ou energizante? Minha resposta analisada é: 'Sim'. Os dois".15 Para explicar essa dualidade, Madsen refletiu que ''exige de nós uma concentração e entrega que não se compara a nada mais nesta vida. Mas também confere grandes habilidades que transcendem nossos poderes mentais, espirituais e físicos''.16 Embora muitos de nós não tenhamos os tipos de experiências espirituais que Joseph Smith, Leí ou Moisés tiveram, a exaustão que sentiram é um testemunho do foco e da concentração que tais experiências espirituais muitas vezes exigem de nós. Pode ser imprudente assumir que experiências espirituais significativas sempre serão eventos passivos. Nossas próprias experiências espirituais às vezes podem exigir muito de nós, e podemos nos sentir exaustos depois. No entanto, a alegria que acompanha tais experiências espirituais faz com que esse intenso esforço espiritual valha a pena. Os personagens do Livro de Mórmon tiveram experiências espirituais significativas que os deixaram exaustos, lembrando-nos do preço que tiveram que pagar por tais experiências. As semelhanças entre as experiências das pessoas no Livro de Mórmon e nesta dispensação, sugerem que o esgotamento relacionado às experiências espirituais é um elemento comum de tais experiências em vários momentos e lugares. Portanto, não deve ser surpresa descobrir que experiências espirituais significativas podem exigir até mesmo uma quantidade exaustiva de foco e energia, mesmo hoje em dia.

Leitura Complementar

Dean C. Jessee, "The Earliest Accounts of Joseph Smith’s First Vision", em Opening the Heavens: Accounts of Divine Manifestations, 1820–1844, ed. John W. Welch, 2nd edition (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e BYU Press, 2017), pp. 135. Truman G. Madsen, Joseph Smith the Prophet (Salt Lake City, UT: Bookcraft, 1989), pp. 1315.

1. Ver 1 Néfi 19:20; Mosias 27:19; Alma 19:14–16. 2. Ver Moisés 1:9–10; Daniel 8:27. 3. Para outro elemento deste tema, ver o artigo da Central do Livro de Mórmon,''Por que o Senhor fala aos homens 'de acordo com sua língua'? (2 Néfi 31:3)", KnoWhy 258, (28 de novembro de 2017). 4. Para estudos importantes sobre a primeira visão, ver Samuel Alonzo Dodge e Steven C. Harper, Exploring the First Vision (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 2012); Richard L. Bushman, Joseph Smith: Rough Stone Rolling (New York, NY: Vintage Books, 2005), pp. 30–56; Matthew B. Brown, A Pillar of Light: The History and Message of the First Vision (American Fork, UT: Covenant Communications, 2009); Steven C. Harper, "Suspicion or Trust: Reading the Accounts of Joseph Smith's First Vision", em No Weapon Shall Prosper: New Light on Sensitive Issues, ed. Robert L. Millet (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e Religious Studies Center, Brigham Young University, 2011), pp. 63–76; Steven C. Harper, Joseph Smith's First Vision: A Guide to the Historical Accounts (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2012); Matthew B. Christensen, The First Vision: A Harmonization of 10 Accounts from the Sacred Grove (Springville, UT: Cedar Fort, 2014); Steven C. Harper, "Remembering the First Vision," em A Reason for Navigating Faith: LDS Doctrine & Church History, ed. Laura Harris Hales (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e Religious Studies Center, Brigham Young University, 2016), pp. 7–20. 5. Para mais informações sobre este relato, ver Dean C. Jessee, ''The Earliest Accounts of Joseph Smith's First Vision'', em Opening the Heavens: Accounts of Divine Manifestations, 1820–1844, ed. John W. Welch, 2nd edition (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e BYU Press, 2017), 19, nota 27. 6. Jessee, "The Earliest Accounts", p. 30, Documento Principal No. 5. 7. Elder Philo Dibble, "Recollections of the Prophet Joseph Smith", Juvenile Instructor 27, no. 10 (1892): p. 304 8. Felicitas D. Goodman, "Visions", Encyclopedia of Religion, 2ª edição, ed. Lindsay Jones, 15 v. (Farmington Hills, MI: Thomson Gale, 2005), 14: pp. 9611–9612. 9. Goodman, "Visions", 14: p. 9612. 10. Goodman, "Visions", 14: p. 9612. 11. Goodman, "Visions", 14: p. 9612. 12. Goodman, "Visions", 14: p. 9612. 13. Goodman, "Visions", 14: p. 9612. 14. Truman G. Madsen, Joseph Smith the Prophet (Salt Lake City, UT: Bookcraft, 1989), p. 14. 15. Madsen, Joseph Smith the Prophet, p. 14. 16. Madsen, Joseph Smith the Prophet, p. 14.