KnoWhy #536 | Novembro 15, 2019

Por que Benjamim atribuiu vários nomes a Jesus na coroação de seu filho Mosias?

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Scripture Central

"E ele chamar-se-á Jesus Cristo, o Filho de Deus, o Pai dos céus e da Terra, o Criador de todas as coisas desde o princípio; e sua mãe chamar-se-á Maria" Mosias 3:8

O Conhecimento

Por ocasião da ascensão de seu filho Mosias ao trono nefita (Mosias 1:10-18; 2:30-31), o rei Benjamim dirigiu-se ao seu povo, destacando, entre outras coisas, a vinda do Messias, o ''Rei Celestial'' (Mosias 2:19). Declarando que ''um anjo de Deus'' (Mosias 3:2) esteve diante dele e revelou verdades importantes sobre a vinda do Messias e Sua missão de expiar os pecados do mundo (Mosias 3:2), o rei Benjamim citou o anjo dizendo:

"Pois eis que o tempo se aproxima e não está muito longe, em que, com poder, o Senhor Onipotente que reina, que era e é de toda a eternidade para toda a eternidade, descerá dos céus no meio dos filhos dos homens e habitará num tabernáculo de barro; e fará grandes milagres entre os homens, como curar os enfermos, levantar os mortos, fazer andar os coxos, dar vista aos cegos, fazer ouvir os surdos e curar toda espécie de enfermidades. E expulsará demônios, ou seja, os espíritos malignos que habitam no coração dos filhos dos homens. E eis que sofrerá tentações e dores corporais, fome, sede e cansaço maiores do que o homem pode suportar sem morrer; eis que sairá sangue de cada um de seus poros, tão grande será a sua angústia pelas iniquidades e abominações de seu povo. E ele chamar-se-á Jesus Cristo, o Filho de Deus, o Pai dos céus e da Terra, o Criador de todas as coisas desde o princípio; e sua mãe chamar-se-á Maria." (Mosias 3:5–8)

No centro desta passagem, algo que se destaca são os quatro nomes ou títulos, que o anjo deu ao Messias vindouro: (1) Jesus Cristo, (2) o Filho de Deus, (3) o Pai dos céus e da terra, (4) o Criador de todas as coisas desde o princípio;. Além disso, o anjo acrescentou que o nome da mãe de Jesus seria (5) Maria.

Esta declaração dos nomes ou títulos de Jesus no discurso de coroação do templo de Benjamim é significativa por várias razões. Em geral, ''era comum no mundo antigo que o rei que subia ao trono tomasse um novo nome para si'', explica um trio de estudiosos bíblicos em seu recente comentário do Velho Testamento. O raciocínio por trás de um rei tomar um novo nome ou conjunto de títulos em sua coroação era sinalizar sua ascensão legítima ao poder e proclamar sua nomeação divina. Assumir um novo nome ou títulos, portanto, ''fiava ao rei com várias qualidades e virtudes'' que marcavam seu reinado.1

Isso é visto, notavelmente, no antigo Egito, onde ''uma prática formal e tradicional [era] conceder um título de cinco nomes a um faraó que subisse ao trono como parte da cerimônia de ascensão. Esta era uma expressão das crenças egípcias da divindade do faraó''.2 Assim como explica um egiptólogo:

Escolher um nome específico era um ato especialmente simbólico para um antigo governante egípcio, já que os nomes eram muito importantes na cultura. Afinal, o ato original de criação feito pelo mesmo Deus primordial está intimamente relacionado ao ato de nomear as várias entidades que Ele criou. Como o rei era um ser humano que ocupava um cargo divino, bem como o vínculo entre seus súditos e os deuses, a corte real desejava expressar as características essenciais dessa circunstância única. Uma das maneiras de realizar isso era compondo epítetos especiais assumidos pelo rei em sua ascensão, que serviam como uma breve declaração de suas qualidades ou de seu relacionamento com o mundo divino e terrestre.3

Os títulos de reis egípcios antigos poderiam ''consistir em pequenas frases com um adjetivo simples qualificando um substantivo'' ou poderiam ser ''declarações longas''.4 Por exemplo, os cinco títulos do faraó Tutemés I (que governou por volta de 1506 – 1493 a.C.) foram: ''[1] Touro vitorioso, Amante [da justiça] Maat, [2] Ureus aparece, grande em força [como símbolo da divindade Uadyet], o grande em poder, [3] Quem faz viver nos corações anos agradáveis, [4] Grande é a manifestação do Ka (espírito) de Rá, [5] Gerado por Dyehuty.''5

O título real do faraó Tutemés I. Reproduzido em Leprohon O título real do faraó Tutmés I. Reproduzido em Leprohon

Além dos antigos egípcios, os antigos reis semitas e mesopotâmicos também concediam a si mesmos importantes nomes e títulos de trono. ''O título de Niquemepa, rei de Ugarite (meados do segundo milênio) […] inclui títulos como Senhor da Justiça, Mestre da Casa Real, Rei Protetor e Rei Construtor.''6 O rei mesopotâmico Pul ou Pulu tomou o nome do trono Tiglate-Pileser, que significa '''minha confiança é a herdeira [do templo do deus] Esharra'' (cf. 2 Reis 15:19, 29; 16:7, 10; 1 Crônicas 5:26).7

A profecia messiânica de Isaías sobre a vinda de Emanuel (''Deus conosco'') inclui a famosa declaração: ''Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e o seu nome se chamará Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz'' (Isaías 9:6).8 Alguns eruditos têm visto essa profecia teofórica como um reflexo ou imitação especificamente de uma prática egípcia de atribuir nomes, ou títulos importantes ao novo rei, e é ''provável, embora incerto, que os reis de Judá assumiram um novo nome quando chegaram ao trono''.9

O costume de conferir um nome de trono ou títulos reais a reis também é identificado na Mesoamérica pré-colombiana. ''Entre os maias clássicos'', explica um estudioso, ''os governantes recebiam novos nomes e títulos no momento da ascensão, o que estabeleceria suas relações com o reino humano e divino''.10 Uma prática certificada sobre isso era que os reis adotassem ''o nome da divindade do sol, K'inich, identificando-se assim com a autoridade celestial de um poderoso ser sobrenatural''.11 Esses novos ''títulos e nomes fornecem […] evidências de que os governantes maias se consideravam divinos. Os governantes se apropriavam de nomes de divindades em sua ascensão para se associarem a deuses específicos e, assim, enfatizarem sua autoridade divina''.12

O porquê

Esse contexto dá um conhecimento importante sobre por que o anjo revelou esses nomes a Benjamim especificamente no momento da coroação de seu filho Mosias. Para começar, é importante notar a ambivalência pessoal de Benjamim em relação à instituição terrena da realeza (uma ambivalência compartilhada por seu filho Mosias, que mais tarde abdicaria do trono, como seu pai [Mosias 2:29; 29]). Em vez de proclamar a si mesmo ou a seu filho como um rei divino, como seria esperado e habitual no mundo antigo, Benjamim afirmou que ele era meramente mortal, como seus súditos, e só reinou como rei porque Deus o havia concedido (Mosias 2:11). Da mesma forma, Benjamim desviou o foco de si mesmo como rei para o Rei Celestial, tanto de si quanto de seu povo (v. 19).13

Tudo isso explicaria por que o rei Benjamim enfatizou os nomes e títulos do Messias, o Rei Eterno, o Senhor Deus Todo Poderoso, em seu discurso, em vez de nomear o rei ascendente, seu filho Mosias, como seria normalmente esperado neste contexto. Benjamin conhecia a língua egípcia e as tradições hebraicas, que ele havia ensinado a seu filho e herdeiro, Mosias (Mosias 1:4). Assim como os antigos reis assumiam novos nomes e títulos, os nomes e títulos de um rei celestial declarados por Benjamim destacava Suas diferentes funções e atributos, desviando assim a atenção de Seu povo para toda a obra que Ele realizaria quando viesse ''habitar num tabernáculo de barro'' (Mosias 3:5). Isso pode ser visto nos mesmos elementos que compõem os nomes e títulos mencionados pelo anjo:

  • Jesus Cristo - seu nome de nascimento (Jesus) e título (Cristo), enfatizando sua função salvadora que o Messias teria em redimir a humanidade (Yeshua: Josué, literalmente ''Ye ou Jo [Jeová] shua ou sué [é salvação]''; christos [grego] para meshiach [hebraico] ''ungido'')
  • o Filho de Deus: sendo, ao mesmo tempo, Filho e divino, sublinhando a relação única que Jesus partilha com o seu Pai como Filho Unigênito (cf. 2 Néfi 25:12; Jacó 4:5, 11; Alma 5:48; 9:26; 12:33–34; João 3:16, 18)
  • o Pai do céu e da terra: enfatizando a dupla natureza de seu reino, assim como o âmbito universal e o alcance do reinado de Jesus (cf. 3 Néfi 11:14)
  • o Criador de todas as coisas desde o princípio, enfatizando o papel de Jesus na criação do mundo, como também na realização do Plano de Salvação do Pai para Seus filhos (cf. 2 Néfi 9:5; Helamã 14:12)
  • sua mãe chamar-se-á Maria, identificando a linhagem materna de Jesus e enfatizando sua mortalidade e condescendência entre os filhos dos homens (cf. 1 Néfi 11:14–29)14

Antes de seu discurso, Benjamim havia anunciado que um de seus principais propósitos era proclamar seu filho Mosias como o próximo rei (Mosias 1:10; 2:30), mas também dar ''a este povo um nome, para que assim sejam distinguidos de todos os povos que o Senhor Deus trouxe da terra de Jerusalém'' (Mosias 1:11). Esse nome foi o quinto nome que ele revelou em Mosias 3:8.

Para salientar a importância de conceder esse novo nome e seus títulos, o discurso de Benjamim conclui com seus ouvintes tomando sobre si o nome de Cristo por convênio (Mosias 5:7–14). Como Benjamin declarou: ''[N]ão há qualquer outro nome por meio do qual podeis ser libertados. Não há qualquer outro nome pelo qual seja concedida a salvação; quisera, portanto, que tomásseis sobre vós o nome de Cristo, todos vós que haveis feito convênio com Deus de serdes obedientes até o fim de vossa vida'' (Mosias 5:8).

Surpreendentemente, cerca de 116 anos depois, as primeiras dez palavras substantivas neste nome de coroação do Rei Celestial15 foram recitadas e invocadas precisamente em Helamã 14:12 por Samuel, o lamanita, como ele profetizou mais sobre este mesmo Senhor a quem Benjamim havia dito "vem aos seus" (Mosias 3:9), em pé sobre os muros de Zaraenla, que havia sido a cidade templo do rei Benjamim.

Por estas e muitas outras razões: ''Este sermão é um dos mais importantes nas Escrituras. Ele serve para cumprir um dos principais propósitos do Livro de Mórmon, colocando o foco central e dar maior importância à vida, missão, expiação e reinado eterno do Rei celestial, Jesus Cristo, o Senhor Deus Onipotente.16

Este KnoWhy foi possível graças às generosas contribuições de Dow & Lynne Wilson.

Leitura Complementar

Central do Livro de Mórmon, "Por que o rei Benjamim disse que seu povo seria filhos e filhas à mão direita de Deus?" KnoWhy #307 Stephen D. Ricks, ''Kingship, Coronation, and Covenant in Mosiah 1–6,'' in King Benjamin 's Speech: ''That Ye May Learn Wisdom,''ed. John W. Welch e Stephen D. Ricks (Provo, UT: FARMS, 1998), pp. 233–275. Stephen D. Ricks e John J. Sroka, ''King, Coronation, and Temple: Enthronement Ceremonies in History,'' em Temples of the Ancient World: Ritual and Symbolism, ed. Donald W. Parry (Salt Lake City and Provo, UT: Deseret Book and FARMS, 1994), pp. 236–271.

1. John H. Walton, Victor H. Matthews e Mark W. Chavals, The IVP Bible Background Commentary: Old Testament (Downers Grove, IL.: IVP Academic, 2000), p. 597. 2. Walton, Matthews and Chavals, The IVP Bible Background Commentary, p. 597. 3. Ronald J. Leprohon, The Great Name: Ancient Egyptian Royal Titulary ( Atlanta, GA: Society of Biblical Literature, 2013), pp. 5, 7. 4. Leprohon, The Great Name, pp. 5, 7–19. 5. Leprohon, The Great Name, pp. 10, 96­–97. 6. Walton, Matthews e Chavals, The IVP Bible Background Commentary, p. 597. 7. Douglas B. Miller and Mark Shipp, An Akkadian Handbook: Paradigms, Helps, Glossary, Logograms, and Sign List (Winona Lake, IN: Eisenbrauns, 1996), pp. 68–69. 8. Como indicado na versão King James, a criança messiânica tinha cinco nomes ou títulos. No entanto, os tradutores modernos reconhecem a probabilidade de que as duas primeiras palavras hebraicas nesta cadeia de qualificadores não sejam descrições separadas, então eles interpretam a frase como ''Conselheiro Maravilhoso'' em vez de ''Conselheiro, Maravilhoso'', fazendo quatro títulos em vez de cinco. 9. Roland de Vaux, Ancient Israel: Its Life and Institutions, trans. John McHugh (Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans, 1997), pp. 107–108; cf. J. J. M. Roberts, ''Whose Child Is This? Reflections on the Speaking Voice in Isaiah 9:5'', The Harvard Theological Review p. 90, no. 2 (1997): pp. 115–129; Richard H. Wilkinson, ''The ΣΤΥΛΟΣ of Revelation 3:12 and Ancient Coronation Rites,'' Journal of Biblical Literature p. 107, no. 3 (1988): pp. 498–501. Textos como o Salmo 2, parecem se referir a uma unção e ao novo nome como parte da tradicional cerimônia de coroação israelita. 10. Mark Alan Wright, ''A Study of Classic Maya Rulership'', PhD dissertation (University of California–Riverside, 2011), pp. 53–54. 11. Pierre Robert Colas, ''K’inich and King: Naming Self and Person Among the Classic Maya Rulers'', Ancient Mesoamerica 14 (2003): p. 269. 12. Mark Alan Wright, Wright, ''A Study of Classic Maya Rulership'', p. 54. 13. Ver, por exemplo, referências em John W. Welch e Stephen D. Ricks, eds., King Benjamin’s Speech: ''That Ye May Learn Wisdom'' (Provo, UT: FARMS, 1998), pp. 32, 64, 73, 234-237, 472. 14. Esses pontos convidam a uma maior reflexão e comparação, ainda a ser explorada e desenvolvida. 15. A saber: Jesus, Cristo, Filho, Deus, Pai, Céu, Terra, Criador, Tudo, Princípio. 16. Stephen D. Ricks, ''Kingship, Coronation, and Covenant in Mosiah 1–6'', in King Benjamin 's Speech, p. 265.

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