KnoWhy #397 | Junho 23, 2018
Por que Deus escolheria um homem sem instrução para traduzir o Livro de Mórmon?
Postagem contribuída por
Scripture Central
"Acontecerá, portanto, que o Senhor Deus tornará a entregar o livro e as suas palavras ao que não é instruído; e o homem que não é instruído dirá: Não sou instruído." 2 Néfi 27:19
O conhecimento
Em 2 Néfi 27:19, Néfi profetizou: "Acontecerá, portanto, que o Senhor Deus tornará a entregar o livro e as suas palavras ao que não é instruído; e o homem que não é instruído dirá: Não sou instruído".1 Essa profecia refere-se claramente ao Profeta Joseph Smith, que era um pobre fazendeiro de 21 anos quando recebeu as Placas de Ouro do anjo Morôni.
Em 1832, Joseph escreveu de próprio punho que foi "privado dos benefícios [sic] de uma educação suficiente para dizer que eu era meramente [sic] instruído [sic] em leitura, escrita e nas regras básicas da aritmética [sic] que constituíam todos os meus conhecimentos literários".2 Embora esta declaração, juntamente com sua falta de ortografia, enfatize a educação limitada de Joseph Smith, não deve ser vista como uma declaração de que ele era completamente analfabeto.
Embora o registro histórico irregular da educação de Joseph seja difícil de calcular, um estudioso estimou recentemente que Joseph pode ter frequentado quase sete anos de escola.3 A educação extracurricular de Joseph também deve ser considerada. Ele leu aparentemente a Bíblia da família com pelo menos um pouco de diligência,4 frequentou a escola dominical, participou de um clube de discussão e foi instruído até certo ponto por seus pais e irmãos que eram bem-educados.5
Não importa quantos anos (ou temporadas) Joseph frequentou a escola, ou quão útil sua educação adicional poderia ter sido, ou quão rápido ele aprenderia, ou quão afiada sua memória era, ou quão criativa sua imaginação era, isso não muda que ele e aqueles ao seu redor, amigos e inimigos, o descreveram como relativamente ignorante.6
A mãe de Joseph lembra que ele estava "menos inclinado a ler livros do que qualquer um de nossos filhos" e disse que aos "dezoito anos" ele "nunca havia lido toda a Bíblia em sua vida".7 Sua esposa Emma explicou que, na época da tradução, ele "não podia escrever ou ditar uma carta consistentemente, muito menos ditar um livro como o Livro de Mórmon".8 Da mesma forma, Martin Harris afirmou que Joseph era "um escritor pobre e não conseguia nem escrever uma nota à mão, pois sua educação era muito limitada".9 E David Whitmer o descreveu como um "analfabeto",10 "homem de educação limitada" e "ignorante da Bíblia".11
Joseph sabia ler e escrever em um nível básico de proficiência, sem dúvida, mas sua ortografia e estilo indicam que ele não era um escritor talentoso do século XIX. Conforme avaliado pelo estudioso literário Robert Rees:
O registro manuscrito de [Joseph] da primeira visão escrita em 1832 é antigramatical, escrito com pouco senso de pontuação ou estrutura composicional e, embora sincero e autêntico, demonstra pouca evidência de competência ou confiança estilística ou composicional. Certamente há evidências dos princípios de uma voz eloquente, mas a voz é hesitante e imatura.12
Portanto, à luz das próprias declarações de Joseph Smith, das descrições daqueles que o conheciam melhor e dos exemplos de seus primeiros escritos, fica claro que ele carecia realmente de educação formal, como Néfi profetizou. Independentemente dos talentos naturais que Joseph tivesse desenvolvido, eles não eram suficientes para ofuscar sua inexperiência e nível básico de educação na época da tradução do Livro de Mórmon.
O porquê
Embora muitos americanos notáveis tenham saído da pobreza e da ignorância para realizar grandes coisas, a conquista de Joseph Smith é única e extraordinária. Porque isto é assim? Em parte, é porque sua obra-prima literária e bíblica foi produzida no início, e não na conclusão, de seu desenvolvimento como escritor.13
De acordo com Rees, o desenvolvimento das habilidades literárias de Joseph Smith não foi nada parecido com o dos autores proeminentes do século XIX de sua época. Nos casos de Emerson, Thoreau, Hawthorne, Melville e Whitman, há evidências de oportunidades educacionais excepcionais ou de um extenso período de desenvolvimento como escritor e, na maioria das circunstâncias, ambos.14 Em contraste, Rees observou que, antes de 1830, "não temos praticamente nada da mente ou dos escritos de Joseph Smith que sugira que ele fosse capaz de escrever um livro como o Livro de Mórmon, o qual é muito mais substancial, complexo e variado do que seus críticos puderam ver ou admitir".15
Só porque não temos evidências de algo, não significa que não aconteceu. Mas é mais do que exagerar o registro histórico supor que, durante sua adolescência e início da idade adulta, Joseph Smith estava de alguma forma desenvolvendo secretamente o Livro de Mórmon. Alguém em algum momento teria certamente notado se ele estivesse gastando um tempo considerável lendo ou escrevendo em preparação para sua tradução.16 No entanto, não há nenhum relato confiável de alguém dentro ou fora da família de Joseph.
Também é notável que as circunstâncias destituídas da família Smith exigiam longas horas de "trabalho contínuo" de todos os que podiam trabalhar (Joseph Smith, História 1:55). Como Rees argumentou, a noção de que "Joseph teve tempo para ler extensivamente, conduzir pesquisas, construir vários rascunhos e resolver o enredo, personagens, ambientes, vários pontos de vista e vários estilos retóricos que compõem a narrativa de mais de 500 páginas do Livro de Mórmon é simplesmente incrível (em seu sentido latino original de 'não digno de crença')".17
Com essas circunstâncias em mente, podemos entender mais claramente por que o próprio Senhor, através da voz do profeta Isaías, se referiu ao surgimento do Livro de Mórmon como uma "uma obra maravilhosa e um assombro" (2 Néfi 27:26), e então se empenhou para que essa descrição profética fosse cumprida.
Muito do conteúdo autêntico e histórico do Livro de Mórmon pode ter estado além da habilidade até mesmo de um estudioso experiente e bem-educado de 1830.18 E o texto todo é muito mais complexo e sofisticado para os contemporâneos de Joseph Smith — e provavelmente para o próprio Joseph Smith — do que se imaginava.19 Sendo assim, é altamente improvável que alguém na década de 1820 tenha escrito tal livro, muito menos um indivíduo tão mal preparado quanto Joseph Smith.
A menos que tenha sido trazido por meios divinos, a sofisticação, complexidade, autenticidade histórica e poder espiritual do Livro de Mórmon apresentam ao mundo nada menos que uma anomalia. Como alguém tão jovem, inexperiente e sem instrução ditou um texto assim em cerca de 60 dias úteis, entre 7 de abril e 28 de junho de 1829, sem o auxílio de notas ou materiais de referência, e sem revisões relevantes a mencionar?20
A inexperiência e fraqueza de Joseph Smith como escritor apenas ampliam a natureza milagrosa do livro, que ele trouxe à luz por meios divinos. Sua notável falta de educação também demonstra como o Senhor "confunde os sábios" ao usar as coisas fracas e simples da terra.21
Leitura Complementar
Robert A. Rees, "Joseph Smith, the Book of Mormon, and the American Renaissance: An Update", Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 19 (2016): pp. 1–16. Robert A. Rees, "John Milton, Joseph Smith, and the Book of Mormon", BYU Studies Quarterly 54, no. 3 (2015): pp. 6–18. Robert A. Rees, "Joseph Smith, the Book of Mormon, and the American Renaissance", Dialogue: A Journal of Mormon Thought 35, no. 3 (2002): pp. 83–112. Richard Lloyd Anderson, "The Early Preparation of the Prophet Joseph Smith", Ensign, dezembro de 2005, disponível online em: lds.org.1. É possível que Joseph Smith, a princípio, não estivesse completamente certo de que ele seria o único a traduzir o Livro de Mórmon. Aparentemente, fazia parte do plano do Senhor primeiro permitir que os homens instruídos do mundo tentassem decifrar os caracteres nas placas. Inspirado para ver isso acontecer, Martin Harris retornou ao leste dos EUA para consultar estudiosos que tinham conhecimento de línguas antigas e das origens dos indígenas americanos. De acordo com Michael MacKay e Gerrit Dirkmaat, esses estudiosos eram "incapazes de fornecer qualquer informação dos caracteres criptografados ou não estavam dispostos a considerar a noção de que eram escritos proféticos entregues por um anjo". Michael Hubbard MacKay e Gerrit J. Dirkmaat, From Darkness unto Light: Joseph Smith's Translation and Publication of the Book of Mormon (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e Religious Studies Center, Brigham Young University, 2015), p. 62. Portanto, depois que os homens estudados do mundo demonstraram sua incapacidade ou falta de vontade de traduzir os caracteres, o Senhor chamou Joseph Smith para fazer o trabalho. 2. Letterbook 1, p. 1, acessado em 10 de novembro de 2017, disponível em: josephsmithpapers.org. Ênfase adicionada em palavras com erros ortográficos reproduzidos em português. 3. Ver William Davis, "Reassessing Joseph Smith, Jr.'s Formal Education", Dialogue: A Journal of Mormon Thought 49, no. 4 (2016): p. 46. Davis reconheceu que sete anos é apenas uma estimativa e os anos reais de educação formal de Joseph poderiam ser inferiores ou superiores a este número. No mínimo, ele concluiu que "o efeito global combinado das fontes históricas aponta para uma maior quantidade de educação formal de Joseph do que é tradicionalmente reconhecida" (p. 46), que muitas vezes é estimada em cerca de três anos de educação formal. 4. Richard Bushman observou que "um vizinho se lembrou de que os Smith tinham uma escola em casa e estudavam a Bíblia". Richard Lyman Bushman, Joseph Smith: Rough Stone Rolling (Nova York, NY: Vintage, 2005), p. 42. Joseph Smith foi levado ao bosque sagrado para ler os versículos da Bíblia, e o anjo Morôni citou os versículos da Bíblia para ele em seus primeiros encontros. Portanto, há razões para acreditar que ele estava interessado e um pouco familiarizado com o conteúdo bíblico. No entanto, isso não deve levar à conclusão de que Joseph estava profundamente familiarizado com a Bíblia. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Jerusalém tinha muralhas ao seu redor? (1 Néfi 4:4)", KnoWhy 7 (7 de janeiro de 2017); Robert A. Rees, "Joseph Smith, the Book of Mormon, and the American Renaissance", Dialogue: A Journal of Mormon Thought 35, no. 3 (2002): pp. 97–102; Robert A. Rees, "John Milton, Joseph Smith, and the Book of Mormon", BYU Studies Quarterly 54, no. 3 (2015): p. 13. 5. Ver Davis, "Reassessing Joseph Smith", pp. 3–6, 46–47; Richard Lloyd Anderson, "The Early Preparation of the Prophet Joseph Smith", Ensign, dezembro de 2005, disponível em: lds.org. 6. Para exemplos de críticos que fazem um comentário depreciativo que aponta para a inteligência de Joseph Smith e a qualidade do Livro de Mórmon, ver Daniel C. Peterson, "Editor's Introduction: 'In the Hope That Something Will Stick': Changing Explanations for the Book of Mormon", FARMS Review 16, no. 2 (2004): xi–xv. 7. Lucy Mack Smith, History, 1845, p. 86, acessado em 26 de outubro de 2017, disponível em: josephsmithpapers.org. 8. John W. Welch, "The Miraculous Timing of the Translation of the Book of Mormon", em Opening the Heavens: Accounts of Divine Manifestations 1820–1844, 2nd edition, ed. John W. Welch (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e BYU Press, 2017), p. 144, doc. 41. 9. Welch, "The Miraculous Timing", pp. 149–150, doc. 53. Uma "nota de mão" era provavelmente uma nota promissória, que era uma especificação em que os detalhes de uma transação financeira são acordados. Ver Robert A. Rees, "John Milton, Joseph Smith, and the Book of Mormon", BYU Studies Quarterly 54, no. 3 (2015): p. 14. 10. "The Golden Tables", Chicago Times, 7 de agosto de 1875, p. 1. Ver também Blair, "Letter of W. W. Blair about Mr. Michael Morse", pp. 190–91; conforme citado em Welch, "The Miraculous Timing", p. 92. 11. Welch, "The Miraculous Timing", pp. 174–175, doc. 97. 12. Robert A. Rees, "Joseph Smith, the Book of Mormon, and the American Renaissance: An Update", Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 19 (2016): p. 13. 13. Nos últimos anos, o Livro de Mórmon aumentou seu respeito como um texto norte-americano notável e influente. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que o Livro de Mórmon é um clássico? (Éter 12:25)", KnoWhy 63 (20 de março de 2017). 14. Ver Robert A. Rees, "Joseph Smith, the Book of Mormon, and the American Renaissance", pp. 83–112; Rees, "Joseph Smith, the Book of Mormon, and the American Renaissance: An Update", pp. 1–16. Foi proposto que a composição do Livro de Mórmon é mais análoga ao ditado de John Milton sobre Paraíso Perdido do que a qualquer um dos autores contemporâneos de Joseph Smith. Para obter uma resposta a essa comparação, consulte Rees, "John Milton, Joseph Smith, and the Book of Mormon", pp. 6–18. 15. Rees, "Joseph Smith, the Book of Mormon, and the American Renaissance: An Update", p. 12. 16. Por exemplo, Abraham Lincoln, que também carecia de educação formal, foi repetidamente acusado de ser preguiçoso por aqueles que o conheciam. Ao contrário de Joseph Smith, que muitas vezes era rotulado como um buscador de dinheiro ocioso, Lincoln foi criticado por ler e escrever continuamente quando os outros sentiam que ele deveria estar trabalhando. Um de seus empregadores comentou: "Abe era terrivelmente preguiçoso: ele trabalhava para mim, ele estava sempre lendo e pensando, eu costumava ficar bravo com ele". Seu primo de segundo grau Dennis Hanks relatou: "Lincoln era preguiçoso, um homem muito preguiçoso. Ele sempre estava lendo, rabiscando, escrevendo, fazendo cálculos, escrevendo poesia, e assim por diante". Supostamente por razões semelhantes, outro associado se lembrou de Lincoln como "uma espécie de preguiçoso". Kenneth J. Winkle, "Abraham Lincoln: Self-Made Man", Journal of the Abraham Lincoln Association 21, no. 2 (2000): p. 13. 17. Rees, "Joseph Smith, the Book of Mormon, and the American Renaissance: An Update", p. 11. 18. Para um amplo conhecimento dessas evidências, consulte John L. Sorenson e Melvin J. Thorne, eds., Rediscovering the Book of Mormon: Insights You May Have Missed Before (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book and FARMS, 1991); John W. Welch, Reexploring the Book of Mormon: A Decade of New Research (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e FARMS, 1992); John W. Welch e Melvin J. Thorne, eds., Pressing Forward with the Book of Mormon: The FARMS Updates of the 1990s (Provo, UT: FARMS, 1999); Donald W. Parry, Daniel C. Peterson e John W. Welch, eds., Echoes and Evidences of the Book of Mormon (Provo, UT: FARMS, 2002); John W. Welch, Neal Rappleye e Stephen O. Smoot, David J. Larsen e Taylor Halverson, eds., Knowing Why: 137 Evidences That the Book of Mormon Is True (American Fork, UT: Covenant Communications, 2017). 19. Ver Melvin J. Thorne, "Complexity, Consistency, Ignorance, and Probabilities", em Book of Mormon Authorship Revisited: The Evidence for Ancient Origins (Provo, UT: FARMS, 1997), pp. 179–193. Para conhecer a complexidade do Livro de Mórmon, consulte Grant Hardy, Understanding the Book of Mormon: A Reader's Guide (Nova York, NY: Oxford University Press, 2010). 20. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que o Livro de Mórmon surgiu como um milagre? (2 Néfi 27:23)", KnoWhy 273 (19 de dezembro de 2017). 21. Alma 37:6–7; 1 Coríntios 1:27.