KnoWhy #149 | Fevereiro 25, 2020
Por que e como Alma explicou o significado da palavra "restauração"?
Postagem contribuída por
Scripture Central

"E agora, meu filho, tenho algo a dizer sobre a restauração da qual se tem falado; pois eis que alguns desvirtuaram as escrituras e se desencaminharam por essa razão". Alma 41:1
O conhecimento
Com fim de ajudar Coriânton a entender a equidade e a justiça inerentes à doutrina da ressurreição,1 Alma apresentou o que chamou de "plano de restauração" (Alma 41:2). O uso desse termo marca uma mudança notável em relação ao capítulo anterior, no qual Alma se referiu, quase exclusivamente à esta doutrina como a "ressurreição".2 A transição na terminologia parece indicar que uma explicação mais matizada e desenvolvida estava em andamento. Em relação ao significado da palavra restauração, Alma explicou que "alguns desvirtuaram as escrituras e se desencaminharam por essa razão" (Alma 41:1). Essa alusão provavelmente se referia àqueles que eram "[da] fé e ordem de Neor" (Alma 14:16). Antes da execução,3 Neor
testificou ao povo que toda a humanidade seria salva no último dia e que não precisariam temer nem tremer, mas que podiam levantar a cabeça e regozijar-se; porque o Senhor havia criado todos os homens e também havia redimido todos os homens; e, no fim, todos os homens teriam vida eterna. (Alma 1:4)
A maneira como o discurso de Alma abordou diretamente essas suposições sobre a salvação universal, indica que Coriânton aderiu aos ensinamentos heréticos de Neor. Por exemplo, Alma advertiu seu filho a não "pens[ar] que por ter sido falado acerca de restauração, serás restituído do pecado para a felicidade" (Alma 41:10). Alma apoiou seu raciocínio definindo e elaborando mais sobre o significado de restauração:
[O] significado da palavra restauração é restituir o mal ao mal ou o carnal ao carnal ou o diabólico ao diabólico — o bom ao que é bom; o reto ao que é reto; o justo ao que é justo; o misericordioso ao que é misericordioso. (v. 13)
Um antigo princípio legal conhecido como justiça taliônica incorpora esse sentimento. John W. Welch explicou: "A justiça taliônica alcançou um senso de justiça poética, a retificação do desequilíbrio, a relação entre a natureza do mal e o funcionamento do remédio e a aptidão para determinar a medida ou o grau de punição".4 Essencialmente, essa era a famosa lei do "olho por olho" e do "dente por dente" que foi divinamente revelada no Velho Testamento e amplamente aplicada em todo o antigo Oriente Próximo (Êxodo 21:24).5 Alma não apenas usou adequadamente esse antigo princípio legal em sua explicação a Coriânton, mas estruturou seu sermão de maneira quiástica6 semelhante aos paralelos legais encontrados na Lei Mosaica. Por exemplo, em Levítico 24:17-21, lemos:
E quem matar alguém certamente morrerá. Mas quem matar um animal, o restituirá, vida por vida. E se um homem causar uma mancha no seu próximo, como ele fez assim lhe será feito: Violação por violação, Olho por olho, Dente por dente; Assim como ele causou uma mancha num homem, assim se lhe será feito. Quem, pois, matar um animal, restituí-lo-á, mas quem matar um homem será morto. 7
O sermão de Alma sobre restauração fornece um paralelo impressionante:8

"A reviravolta aqui é inteligente: depois de listar quatro pares de termos, Alma emparelha duas listas de quatro termos e inverte sua ordem ao mesmo tempo."9 Em particular, esse quiasmo se concentra principalmente nos aspectos positivos da restauração. É verdade que o comportamento maligno, carnal e demoníaco de alguma forma, voltará a afligir o pecador, mas neste caso Alma escolheu enfatizar as bênçãos da bondade, retidão, justiça e misericórdia que serão restauradas aos justos. Embora tenha sido muito explícito e enfático em sua denúncia do pecado, Alma queria que Coriânton deixasse "que a justiça de Deus e sua misericórdia e sua longanimidade governassem plenamente [seu] coração" (Alma 42:30).
O porquê
Alguns leitores podem ver os estatutos legais do Velho Testamento como irrelevantes ou obsoletos, mas a exortação de Alma demonstra que seus princípios fundamentais são eternamente relevantes. Claramente, uma aplicação divina da justiça taliônica será o princípio orientador da restauração no que se refere ao julgamento final e à ressurreição. Por exemplo, as pessoas receberão perdão quando perdoarem (Mateus 6:12); e as pessoas serão julgadas pela maneira como julgaram os outros (Mateus 7:1). Estar atento a esse princípio pode aprofundar a apreciação de como, embora a aplicação da verdade possa variar, "Deus é o mesmo ontem, hoje e para sempre" (Mórmon 9:9). O uso do quiasmo por Alma para ilustrar esse princípio também é instrutivo. Que melhor maneira de demonstrar os princípios inversos da justiça divina do que usando uma forma inversa de paralelismo poético? Como Welch explicou, "[U]ma estrutura quiástica elaborada e elegante incorpora a própria noção de retaliação".10 Assim, tanto a forma quanto o conteúdo do sermão de Alma convergem para um princípio singular e predominante de justiça divina, para "que todas as coisas sejam restauradas em sua própria ordem" (Alma 41:2). Uma verdade tão profunda e elegante deve ter contrastado com o programa desequilibrado e incoerente de salvação promovido por Neor.
Leitura Complementar
John W. Welch, The Legal Cases in the Book of Mormon (Provo, UT: BYU Press and Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2008), pp. 335–381. Donald W. Parry, ed., Poetic Parallelisms in the Book of Mormon: The Complete Text Reformatted (Provo, UT: Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, Brigham Young University, 2007). John W. Welch, "Chiasmus in the Book of Mormon", em Book of Mormon Authorship: New Light on Ancient Origins, ed. Noel B. Reynolds (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1982), pp. 33–52. John W. Welch, "Criteria for Identifying and Evaluating the Presence of Chiasmus", Journal of Book of Mormon Studies 4, no. 2 (1995): pp. 1–14. Richard O. Cowan, "A New Meaning of 'Restoration': The Book of Mormon on Life After Death", em The Book of Mormon: Alma, The Testimony of the Word, ed. Monte S. Nyman e Charles D. Tate Jr. (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1992), pp. 195–210.1. Para saber mais sobre a doutrina da ressurreição no Livro de Mórmon, consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, " Por que Coriânton estava tão preocupado com a ressurreição? (Alma 40:9)", KnoWhy 148. 2. No final do capítulo 40, Alma começou a descrever a ressurreição como a "restauração daquelas coisas que foram anunciadas pela boca dos profetas" (v. 22, ênfase adicionada). Essa mudança continua em Alma 41, onde Alma menciona o conceito de "restaurar", "restituir" ou "restabelecer" dezesseis vezes, enquanto ele mencionou "ressurreição" apenas uma vez. Para ver com que frequência Alma menciona a ressurreição em conexão com outros autores do Livro de Mórmon, ver John Hilton III e Jana Johnson, " Who Uses the Word Resurrection in the Book of Mormon and How Is It Used?" Journal of the Book of Mormon and Other Restoration Scripture p. 21, no. 2 (2012): pp. 32–33. 3.Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, " Por que Neor sofreu uma morte "ignominiosa"? "(Alma 1:15)", KnoWhy 108 (13 de maio de 2017). 4. John W. Welch, The Legal Cases in the Book of Mormon (Provo, UT: BYU Press and Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 2008), pp. 338–339. 5. Welch, Legal Cases, p. 339. 6. Para uma explicação geral dos paralelos quiásticos, ver Donald W. Parry, ed., Poetic Parallelisms in the Book of Mormon: The Complete Text Reformatted (Provo, UT: Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, Brigham Young University, 2007), xvi-xix; John W. Welch, " Chiasmus in the Book of Mormon", in Book of Mormon Authorship: New Light on Ancient Origins, ed. Noel B. Reynolds (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1982), pp. 34–39; John W. Welch, "Criteria for Identifying and Evaluating the Presence of Chiasmus", Journal of Book of Mormon Studies 4, no. 2 (1995): pp. 1–14. 7. O formato segue Welch, Legal Cases, p. 343. 8. O formato segue Welch, Legal Cases, p. 344.Para diferentes formatos, consulte Parry, ed., Poetic Parralisms, pp. 332–333; Welch, "Chiasmus in the Book of Mormon", p. 48. 9. Welch, "Chiasmus in the Book of Mormon", pp. 33–52. 10. Welch, Legal Cases, p. 344.