KnoWhy #679 | Junho 14, 2023
Por que Estevão recitou a história israelita?
Postagem contribuída por
Scripture Central
"A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que anteriormente anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora fostes traidores e homicidas". Atos 7:52
O conhecimento
À medida que a Igreja crescia rapidamente em Jerusalém, os Doze Apóstolos chamaram sete homens para ajudar com as necessidades temporais dos santos, especialmente cuidando das viúvas gregas (ver Atos 6:1–6). Um desses sete homens, Estevão, estava "cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo" (Atos 6:8). Porém, alguns judeus do Egito e da Turquia começaram a discutir com Estevão e, apesar de Estevão ter resistido aos seus argumentos, secretamente recrutaram alguns homens para jurarem falsamente que tinham ouvido Estevão blasfemar contra Moisés e até contra Deus (Atos 6:11). Com base em suas acusações, Estevão foi preso e acusado de blasfêmia, um crime capital. Ele foi levado perante o conselho, onde proferiria um dos sermões mais conhecidos registrados no livro de Atos.1 Ao longo de seu discurso, Estevão se refere a vários eventos na história israelita. Como Andrew C. Skinner e D. Kelly Ogden apontam, "Estevão revisa a história de Israel para mostrar como os grandes personagens, eventos, doutrinas e práticas foram todos modelos e formas de Cristo, e como todo o passado culmina na vinda do Messias, Jesus".2 Ao fazer isso, Estevão ainda mostra como a história de Israel é um ciclo de apostasia e restauração: Israel tem uma longa história de rebelião contra o Senhor, culminando na rejeição do Messias.
Estevão começa sua defesa referindo-se, em contraste, à obediência de Abraão: "O Deus da glória apareceu a nosso pai Abraão, estando este na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã, E disse-lhe: Sai da tua terra e dentre a tua parentela, e dirige-te à terra que eu te mostrarei" (Atos 7:2–3). Como Abraão obedecia ao Senhor, fez um convênio com ele de que seus descendentes herdariam a terra prometida (ver Atos 7:5–7). A fé e obediência de Abraão estabeleceram um padrão para seus descendentes que, infelizmente, seria amplamente ignorado.
Estevão, então, passa a discorrer sobre como os filhos de Jacó "movidos de inveja, venderam José para o Egito; e Deus era com ele" (Atos 7:9). Vincent K. H. Ooi, estudioso do Novo Testamento, observou que esse incidente mostra como "a inveja e o ódio já dominavam o povo da promessa nesse estágio inicial, ameaçando o cumprimento da promessa de Deus".3 No entanto, Deus usou o infortúnio de José para salvar sua família da fome em Canaã.
"A narrativa de Estevão sobre a trajetória de José é a de Deus providencialmente extraindo o bem da má intenção dos patriarcas e nomeando o rejeitado sobre aqueles que o rejeitaram", observa Ooi. "Os descendentes de Abraão sobreviveram porque Deus os libertou através daquele que eles rejeitaram. José, rejeitado por seus próprios irmãos, pela escolha de Deus tornou-se o sofredor inocente e salvador de seu povo. Esse é um padrão que se reflete nas histórias de Moisés, Jesus e Estevão em Atos 6–7".4 Além disso, José serve como um exemplo de Cristo em sua resposta a seus irmãos, que vieram ao Egito em busca de alimento durante a terrível fome: como Jesus, José respondeu graciosamente àqueles que o rejeitaram, assegurando a sua salvação.5
Moisés, outro modelo profético de Cristo, também foi rejeitado em várias ocasiões pelos israelitas. Isso aconteceu, como mostra Estevão, mesmo antes de Moisés fugir do Egito: "E vendo um deles maltratado, o defendeu, e vingou o ofendido, matando o egípcio. E ele supunha que seus irmãos entenderiam que Deus lhes havia de dar a liberdade pela sua mão; porém eles não entenderam" (Atos 7:24–25). No entanto, quando Moisés tentou reconciliar dois israelitas no dia seguinte, ele foi rejeitado e logo teve que deixar o Egito (ver Atos 7:26–29). Em seguida, depois que Moisés retornou ao Egito e conduziu os filhos de Israel para fora, ele foi novamente rejeitado em uma escala muito maior. Os filhos de Israel "o rejeitaram, e em seu coração voltaram para o Egito, dizendo a Aarão: Faze-nos deuses que vão adiante de nós; porque a esse Moisés, que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu" (Atos 7:39–40). A rejeição de Moisés como profeta e a preferência por falsos deuses e pelo estilo de vida egípcio, tornou-se uma luta recorrente durante a peregrinação dos israelitas no deserto.
Ao longo de sua história, os israelitas continuariam a rejeitar o Senhor em favor de ídolos, o que os levou a serem punidos e exilados em várias ocasiões (ver Atos 7:42–43). No entanto, o Senhor não rejeitou completamente Seu povo e continuaria a abençoá-los e reuni-los à medida que se arrependessem.
Por fim, a maior rejeição aconteceria: assim como José foi rejeitado por seus irmãos, assim como Moisés foi repetidamente rejeitado pelos filhos de Israel, Jesus Cristo foi rejeitado e morto por aquela geração da casa de Israel. Isso levou Estevão a fazer uma dura repreensão: "Vós sempre resistis ao Espírito Santo; também vós sois como vossos pais. A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que anteriormente anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora fostes traidores e homicidas" (Atos 7:51–52).
Estevão afirma corajosamente que a morte de Jesus foi, afinal, causada pelo maior ato de traição cometido em toda a tumultuada história de Israel, mostrando como as pessoas responsáveis, e não Estevão, eram as que estavam falando contra a lei, Moisés e o templo, sendo que cada um deles remete a Jesus Cristo. Como observou Ooi, a acusação de Estevão "parece sugerir que o assassinato de Jesus está relacionado à rejeição da lei pelo povo, se não o ápice dessa rejeição".6
Estevão logo se tornaria o próximo a ser rejeitado por Israel, sendo apedrejado por seu testemunho, ao dizer que vê "os céus abertos, e o Filho do Homem, que está em pé à mão direita de Deus" (Atos 7:56).
O porquê
Como Estevão, o primeiro mártir cristão, demonstra em seu sermão de súplica, Deus chamou e continua a chamar profetas que testificam de Jesus Cristo. Muitos desses profetas remetem a Jesus Cristo muito além de sua mensagem, por vezes emulando Sua vida e, ocasionalmente, retratando Sua rejeição e morte. Apesar das rejeições que enfrentaram, mensageiros proféticos como Estevão permaneceram firmes em suas crenças e testemunharam ao mundo o que sabem ser verdade. E Deus, o Pai, e Seu Filho ressuscitado foram duas testemunhas em sua defesa, embora, infelizmente, Sua afirmação divina não tenha sido aceita.
Adicionalmente, podemos reconhecer como Estevão descreveu a obra de Deus em seu poderoso sermão. Embora os filhos de Deus nem sempre sejam fiéis a Seus convênios e ao Evangelho, o Senhor está sempre trabalhando para a salvação de todos. Ele continua a trabalhar em Sua vinha, buscando a "imortalidade e vida eterna" de todos os Seus filhos (Moisés 1:39). Isso nos é concedido sob a condição de aceitarmos a vontade do Senhor em nossa vida e a Seus mensageiros. Devemos seguir o profeta e outros líderes chamados na Igreja se quisermos obter paz duradoura nesta vida ou na futura, aprendendo assim com os erros que outros cometeram ao longo da história e optando por seguir o Senhor.
Leitura Complementar
D. Kelly Ogden y Andrew C. Skinner, Verse by Verse: The New Testament, 2 v. (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 1998), 2: pp. 45–47.
Richard Neitzel Holzapfel e Thomas A. Wayment, Making Sense of the New Testament: Timely Insights and Timeless Messages (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2010), pp. 283–284.
1. As notas de que Estevão foi preso após realizar milagres e que as pessoas "não podiam resistir à sabedoria, e ao espírito com que falava" (Atos 6:10) lembram o julgamento do Salvador, que semelhantemente, foi preso por falsas acusações semelhantes feitas contra Ele. Ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, "Por que Jesus foi julgado e crucificado? (Marcos 15:1)", KnoWhy 676 (23 de junho de 2023).
2. D. Kelly Ogden e Andrew C. Skinner, Verse by Verse: The New Testament, 2 v. (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 1998), 2: p. 45. 3. Vincent K. H. Ooi, Scripture and Its Readers: Readings of Israel's Story in Nehemiah 9, Ezekiel 20, and Acts 7 (University Park, PA: Pennsylvania State University Press, 2015), p. 154. 4. Ooi, Scripture and Its Readers, p. 155. 5. Ver Ooi, Scripture and Its Readers, pp. 155–156. 6. Ooi, Scripture and Its Readers, p. 176.