KnoWhy #319 | Fevereiro 26, 2018

Por que existem sete tribos de Leí?

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Scripture Central

“Ora, aqueles que não eram lamanitas eram nefitas; não obstante, eram chamados de nefitas, jacobitas, josefitas, zoramitas, lamanitas, lemuelitas e ismaelitas.” Jacó 1:13

O conhecimento

Perto do início de seu registro, Jacó esclareceu que os nefitas e lamanitas foram realmente divididos em sete tribos distintas: "[N]efitas, jacobitas, josefitas, zoramitas, lamanitas, lemuelitas e ismaelitas" (Jacó 1:13).1 Essas mesmas afiliações tribais também são relatadas em 4 Néfi 1:37-38 e novamente em Mórmon 1:8-9, sugerindo que elas funcionavam como uma "ordem social e legal que perdurou […] por quase mil anos".2

Esse sistema de organização tribal provavelmente surgiu da última bênção patriarcal de Leí, na qual ele abençoou e aconselhou especificamente os patriarcas ou a posteridade de cada uma dessas sete tribos (ver 2 Néfi 2-4).3 De diferentes maneiras, as bênçãos das tribos de Leí podem ser significativamente comparadas à bênção patriarcal dada por Abraão, Isaque e Jacó.4

A posteridade de Leí repetidamente falou dele como "nosso pai Leí" da mesma forma que os israelitas se referiram a Abraão como "nosso pai Abraão".5  Leí colocou Néfi como líder sobre Lamã e Lemuel, assim como Isaque dispensou Esaú e deu a bênção da primogenitura a seu filho mais novo, Jacó.6 E como a bênção final de Jacó sobre suas doze tribos, Leí dividiu sua família em grupos e os abençoou com uma terra como herança.7 Essas bênçãos patriarcais tiveram um significado duradouro "religioso, militar, político e legal" para ambas as posteridades.8

É possível que as doze tribos de Israel e os sete de Leí tenham sido contados intencionalmente de tal forma que o total final fosse de números sagrados. No antigo pensamento israelita, o número doze estava provavelmente ligado ao governo e aos julgamentos,9 enquanto sete simbolizava perfeição ou integridade.10 Especialmente no livro de Levítico, o número sete aparece 46 vezes, no contexto do sacerdócio do templo.

Jacó abençoando Efraim e Manassés por Benjamin West. Imagem via Wikimedia Commons Jacó abençoando Efraim e Manassés por Benjamin West. Imagem via Wikimedia Commons
As doze tribos de Jacó aumentaram para treze quando a herança e a bênção de José foram divididas em seus dois filhos, Efraim e Manassés.11 No entanto, a tribo sacerdotal de Levi não herdou nenhuma parte da terra prometida, e eles não foram contados como uma das doze tribos de Israel, então o número total de tribos foi reduzido para doze (ver Números 1:47-50).

Corbin Volluz argumentou: "Parece que o Antigo Testamento modifica a figura das treze tribos para doze a fim de manter esse número importante, e o Livro de Mórmon de forma semelhante modifica a figura das oito tribos para sete, omitindo a tribo de Sam, à qual o Livro de Mórmon faz questão de chamar atenção especial ao apontar que a descendência de Sam está sendo contada junto com a de Néfi" (ver 2 Néfi 4:11).12

Leí chega à terra prometida por Jorge Cocco Leí chega à terra prometida por Jorge Cocco

Assim como os israelitas viam a terra de Israel como uma terra sagrada prometida, Leí também via a terra de sua herança no Novo Mundo como uma terra sagrada de convênio, tornando a divisão de sua posteridade em sete tribos, compreensivelmente apropriada num contexto sagrado do templo. O significado simbólico e sagrado das sete tribos pode ter sido um fator importante na sua preservação e continuidade ao longo de tantos anos.

Também é notável que o número sete tenha significado cósmico entre os povos antigos da Mesoamérica. Michael Coe descreveu o número 7 como o "número místico da superfície da Terra"13  e, de acordo com Diane Wirth, "representava as sete direções do universo — quatro direções cardeais mais o zênite ou céu, centro e nadir [ponto mais baixo] ou submundo".14 Além disso, as lendas e obras de arte mesoamericanas, descrevem distinta e repetidamente seus vários povos como provenientes de sete cavernas ou linhagens.15 Embora não haja evidência direta de um relacionamento de povos, é possível que essas lendas antigas correspondam de alguma forma às sete tribos mencionadas no Livro de Mórmon.

O porquê

A formação dessas sete tribos e sua importância ao longo da narrativa do Livro de Mórmon não é o tipo de tópico que a maioria dos leitores percebe conscientemente. No entanto, uma vez apontada, essa consistência sutil se torna aparente e significativa. Hugh Nibley observou que, embora essas tribos "permaneçam subjugadas" ao longo do texto, "[elas estão] lá e são o verdadeiro fundamento das relações pessoais",16 Ele também viu a "retenção da identidade tribal em todo o Livro de Mórmon [como] uma característica tipicamente desértica e um toque extraordinariamente autêntico".17

Mosias e Zaraenla por James Fullmer Mosias e Zaraenla por James Fullmer

Além de apoiar o Livro de Mórmon como um texto consistente e autenticamente antigo, as sete tribos de Leí têm relevância imediata para os leitores modernos. Em 1829, o próprio Senhor identificou exatamente essas mesmas tribos, declarando que "o conhecimento sobre um Salvador" chegaria aos "nefitas e aos jacobitas e aos josefitas e aos zoramitas, pelo testemunho de seus antepassados — E esse testemunho chegará ao conhecimento dos lamanitas e dos lemuelitas e dos ismaelitas, que degeneraram na incredulidade" (D&C 3:16-18).

Ross Christensen explicou: "Não sabemos exatamente onde estão as sete linhagens agora, assim como não sabemos onde estão as tribos perdidas de Israel. Mas as sete linhagens existem em algum lugar porque em 1828 o Senhor prometeu levá-las ao conhecimento do Salvador".18 Embora as sete linhagens de Leí não sejam declaradas nas bênçãos concedidas pelos patriarcas da estaca na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias,19 elas são claramente análogas ao legado duradouro e à importância das doze tribos de Israel. Garantidamente, parece que essas sete tribos forneceriam uma base duradoura para as conexões familiares entre os descendentes de Leí.

Leitura Complementar

Corbin Volluz, "A Study in Seven: Hebrew Numerology in the Book of Mormon", BYU Studies Quarterly 53, no. 2 (2014): pp. 57–83. Diane E. Wirth, "Revisiting the Seven Lineages of the Book of Mormon and the Seven Tribes of Mesoamerica", BYU Studies Quarterly 52, no. 4 (2013): pp. 77–88. John L. Sorenson, John A. Tvedtnes e John W. Welch, "Seven Tribes: An Aspect of Lehi’s Legacy", em Reexploring the Book of Mormon: A Decade of New Research, ed. John W. Welch (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book e FARMS, 1992), pp. 93–95. John W. Welch, "Lehi's Last Will and Testament: A Legal Approach", em Second Nephi, The Doctrinal Structure, Book of Mormon Symposium Series, Volume 3, ed. Monte S. Nyman e Charles D. Tate Jr. (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1989), esp. 68–70, com base em Sorenson, Tvedtnes e Welch, "Seven Tribes", pp. 93–95.

1. Ver John W. Welch e J. Gregory Welch, Charting the Book of Mormon: Visual Aids for Personal Study and Teaching (Provo, UT: FARMS, 1999), chart 116. 2. John L. Sorenson, John A. Tvedtnes e John W. Welch, "Seven Tribes: An Aspect of Lehi’s Legacy", em Reexploring the Book of Mormon: A Decade of New Research, ed. John W. Welch (Provo, UT: FARMS, 1992), p. 93. 3. Ver Sorenson, Tvedtnes e Welch, "Seven Tribes", p. 93. 4. Ver John W. Welch, "Lehi's Last Will and Testament: A Legal Approach", em Second Nephi, The Doctrinal Structure, Book of Mormon Symposium Series, Volume 3, ed. Monte S. Nyman e Charles D. Tate Jr. (Provo, UT: Religious Studies Center, Brigham Young University, 1989), pp. 69, 73–74; Sidney B. Sperry, "Types of Literature in the Book of Mormon: Patriarchal Blessings, Symbolic Prophecy, Prophetic Narrative, Prophetic Dialogue", Journal of Book of Mormon Studies 4, no. 1 (1995): pp. 95–98; Central do Livro de Mórmon "Será que 2 Néfi 1:1 - 4:12 pode ser chamado de 'Testamento de Leí'? (2 Néfi 3:3)", KnoWhy 29 (6 de fevereiro de 2017). 5. Ver Sorenson, Tvedtnes e Welch, "Seven Tribes", p. 94. 6. Para conhecer as antigas implicações legais das bênçãos de Leí sobre Néfi, ver Welch, "Lehi’s Last Will and Testament", pp. 74–79. Ver também, John A. Tvedtnes, "Notes and Communications: ‘My First-Born in the Wilderness’", Journal of Book of Mormon Studies 3, no. 1 (1994): pp. 207–209. 7. Ver Welch, "Lehi’s Last Will and Testament", pp. 68–71. 8. Ver Sorenson, Tvedtnes e Welch, "Seven Tribes", pp. 94–95. 9. Ver John W. Welch, "Number 24", em Reexploring the Book of Mormon, pp. 272–274. 10. Corbin Volluz, "A Study in Seven: Hebrew Numerology in the Book of Mormon", BYU Studies Quarterly 53, no. 2 (2014): pp. 60–64. 11. Ver Gênesis 48 e Josué 17:14–17. 12. Volluz, "A Study in Seven", p. 67. Ver também Sorenson, Tvedtnes e Welch, "Seven Tribes", p. 94: "Assim, há Jacobitas e Josefitas, mas nunca Samitas, no Livro de Mórmon". Welch, "Lehi’s Last Will and Testament", p. 78 sugere que assim como "Jacó no período patriarcal dobrou efetivamente a bênção de José ao conceder bênçãos iguais aos dois filhos de José, Efraim e Manassés (Gênesis 48:22), então Leí efetivamente dobrou posição de Néfi ao conceder uma parte da terra a Sam e depois fundi-la com a de Néfi". 13. Michael D. Coe, The Maya, 6ª ed. (Nova York, NY: Thames e Hudson, 1999), p. 157. 14. Diane E. Wirth, "Revisiting the Seven Lineages of the Book of Mormon and the Seven Tribes of Mesoamerica", BYU Studies Quarterly 52, no. 4 (2013): p. 77. 15. Ver Wirth, "Revising the Seven Lineages", pp. 79–83. 16. Hugh Nibley, Teachings of the Book of Mormon, 4 v.  (Provo, UT: FARMS, 1993), 4: p. 25. 17. Hugh Nibley, An Approach to the Book of Mormon, 2ª ed. (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 1976), 386 n. 7. 18. Ross T. Christenen, "The Seven Lineages of Lehi", New Era, maio de 1975, disponível online em: lds.org. 19. Sobre o profundo significado espiritual e a importância de tais bênçãos, ver Thomas S. Monson, "Your Patriarchal Blessing: A Liahona of Light", Ensign, novembro de 1986, disponível online em: lds.org.

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