KnoWhy #550 | Março 2, 2020
Por que Isaías profetiza sobre “as filhas de Sião”?
Postagem contribuída por
Scripture Central
"Porque as filhas de Sião são altivas [...] portanto, o Senhor ferirá com sarna o alto da cabeça das filhas de Sião e o Senhor porá a descoberto as suas partes secretas" 2 Néfi 13:16–17
O Conhecimento
Embora muitas das histórias do Livro de Mórmon sejam contadas e influenciadas por homens, há uma mulher proeminente no Livro de Mórmon ao longo de todo seu texto, mas que é frequentemente ignorada. Esta mulher é uma "filha de Sião", uma representação abstrata e inspiradora da futura glorificação e entronização da Casa de Israel e dos Nefitas.
A filha de Sião é uma personificação poética da cidade de Jerusalém e, consequentemente, uma metáfora da Casa de Israel. Esta frase é usada em Isaías e em outras partes do Velho Testamento para representar a retidão coletiva da Casa de Israel.1 Semelhante à metáfora da "esposa de Cristo" encontrada no Novo Testamento, a filha de Sião é descrita como tendo um relacionamento pessoal e um convênio com o Senhor.2 A iniquidade da filha de Sião é descrita em termos de causar-lhe vergonha e mortificação, enquanto a sua retidão lhe traz glória e entronização real.
No Livro de Mórmon, a filha de Sião aparece nas citações de Isaías.3 Primeiro, Jacó cita Isaías 52:2 em 2 Néfi 8:25. Este poderoso chamado para que a "filha cativa de Sião" se levante e sacuda o pó e as ligaduras da escravidão será citado novamente por Jesus em 3 Néfi 20:36-37 e por Morôni em Morôni 10:31.
E Néfi cita Isaías 10:32 em 2 Néfi 20:32, profetizando que o Senhor "levantará a mão contra o monte da filha de Sião, o outeiro de Jerusalém". Aqui, no bloco de capítulos de Isaías no meio de 2 Néfi, ela ajuda a destacar tanto o desespero de Néfi quanto a esperança pelo trágico destino de seu povo, que ele contemplou em meio a sua visão em 1 Néfi 11-14.4
Aqui, no longo bloco de capítulos de Isaías no meio de 2 Néfi, ela serve para destacar tanto o desespero quanto a esperança de Néfi em relação ao trágico destino de seu povo, que ele contemplou no meio de sua visão em 2 Néfi 13 (cf. Isaías 3). Este capítulo condena as filhas de Sião e descreve o saque e a profanação de Jerusalém e seus habitantes:
Além disso, o Senhor diz: Porque as filhas de Sião são altivas [...] portanto, o Senhor ferirá com sarna o alto da cabeça das filhas de Sião e o Senhor porá a descoberto as suas partes secretas (2 Néfi 13:16–17, cf. Isaías 3:16–17).5
Logo, esta passagem descreve, passo a passo, como as filhas de Sião foram despidas e despojadas de suas roupas extravagantes de forma gradual e sequencial. O Senhor tirou suas joias e acessórios, depois suas túnicas exteriores, mantos, capas, cintos e, finalmente, suas roupas íntimas, toucas e véus ( 2 Néfi 13:18–23, cf. Isaías 3:18–23 NVI).6 O despojamento da filha de Sião lhe deixou "queimadura em lugar de formosura", e "ela se assentará no chão, desolada" (2 Néfi 13:18–26, cf. Isaías 3:18–26).
Na antiguidade, sentar-se nu na poeira do chão era o epítome da desgraça e da vergonha.7 É interessante notar que encontramos ecos desse tema em um antigo mito acadiano sobre uma deusa chamada Ishtar, que desce ao submundo. À medida que a deusa Ishtar desce ao mundo inferior, ela remove progressivamente suas peças de roupa até ficar completamente despojada de todas as suas vestimentas, poder e glória. Embora esse retrato de vergonha e nudez seja deprimente e pouco lisonjeiro, o final da história resplandece em esperança. Ishtar finalmente ascende novamente do submundo por meio da intervenção dos deuses. Ao subir pelos níveis do submundo, é progressivamente investida com novas peças de vestimenta até que a plenitude de sua glória seja restaurada.8
O porquê
A restauração da filha de Sião também é um símbolo de poder para a glorificação e entronização suprema da Casa de Israel e dos nefitas. Quando Néfi teve a visão de que sua posteridade estava destinada à destruição, reconheceu a necessidade do Senhor expiar a iniquidade e lavar "a imundície das filhas de Sião" por meio da destruição. Quando a destruição do ramo de Néfi da Casa de Israel produzir um remanescente purificado, o Senhor habitará novamente em Seu tabernáculo e restaurará a glória de Israel (2 Néfi 14:4–6, cf. Isaías 4:4–6).9
É importante observar que a futura glorificação e entronização da filha de Sião é possibilitada pelo Livro de Mórmon. Apesar da dor de Néfi pela destruição de seu povo, ele mantém a esperança na redenção de sua posteridade por meio das palavras do Livro de Mórmon que "clama do pó" (2 Néfi 33:13). 10 Devido às palavras de Néfi que foram escritas, preservadas, traduzidas e entregues aos remanescentes de sua posteridade, eles podem obter a glória e a salvação que o evangelho oferece e um dia ''falar na língua de anjos'' (2 Néfi 31:13).11
Em um poderoso e inspirador tributo à filha de Sião, Morôni conclui todo o registro do Livro de Mórmon, ecoando as profecias de Néfi. Como Néfi e Jacó, que sabiam do flagelo vindouro da injustiça, Morôni contemplou a destruição real de seu povo, mas sua mensagem final expressa a esperança de que um dia a filha de Sião seria entronizada e investida como a deusa Ishtar, pelo poder salvador do Livro de Mórmon:
E desperta e levanta-te do pó, ó Jerusalém; sim, e veste-te com teus vestidos formosos, ó filha de Sião; e fortalece tuas estacas e alarga tuas fronteiras para sempre, a fim de que já não sejas confundida, para que se cumpram os convênios que o Pai Eterno fez contigo, ó casa de Israel! (Morôni 10:31, cf. Isaías 52:2).
Dotada das belas vestes de poder e glória, a filha de Sião é a manifestação divina e feminina dos filhos e filhas justos de Deus que atravessam o véu da mortalidade e entram na alegria, no descanso e na santidade do Senhor. 12
Leitura Complementar
Jeff Lindsay, '''Arise from the Dust': Insights from Dust-Related Themes in the Book of Mormon (Part 2: Enthronement, Resurrection, and Other Ancient Motifs from the ''Voice from the Dust'')'', Interpreter: A Journal of Latter-day Saint Faith and Scholarship 22 (2016): pp. 233–277. Central do Livro de Mórmon, ''Como Néfi escolheu os capítulos de Isaías? (2 Nefi 11:2),'' KnoWhy 38 (16 de fevereiro de 2017). Neal Rappleye, '''With the Tongue of Angels': Angelic Speech as a Form of Deification'', Interpreter: A Journal of Latter-day Saint Faith and Scholarship 21 (2016): pp. 303–323.1. Ver Elaine R. Follis, '''Zion, Daughter of'', em The Anchor Bible Dictionary, 6 v., ed. David Noel Freedman, Gary A. Herion, David F. Graf, John David Pleins e Astrid B. Beck (New York, NY: Doubleday, 1992), 6:1103. Para exemplos da "filha de Sião" no Velho e no Novo Testamento, ver 2 Reis 19:21; Salmos 9:14; 48:11; 97:8; Isaías 1:8; 3:16-17; 4:4; 10:32; 16:1; 37:22; 52:2; 62:11; Jeremias 4:31; 6:2, 23; Lamentações 1:6;2; 4:22; Miqueias 1:3; 4:8-13; Sofonias 3:14; Zacarias 2:10; 9:9; Mateus 21:5; João 12:15. 2. O conceito de "noiva de Cristo" encontra sua manifestação mais desenvolvida no Novo Testamento. Essa relação de convênio é mencionada no livro de Oséias, quando o profeta Oséias se casa com Gomer para propósitos metafóricos. Para discussões do Novo Testamento sobre Cristo como o esposo de Israel, ver Mateus 9:15; 25:1–13; Marcos 2:19; Lucas 5:34; João 3:29; Apocalipse 21:2,9; Efésios 5:22–33. 3. Para obter referências às filhas de Sião no Livro de Mórmon, consulte 2 Néfi 8:25 cf. Isaías 52:2; 2 Néfi 20:30–32 cf. Isaías 10:30–32; 3 Néfi 20:36–37 cf. Isaías 52:2; Morôni 10:31 cf. Isaías 52:2. 4. John W. Welch argumentou que 1 Néfi 11–14 influenciou a seleção de Néfi dos capítulos de Isaías comparando-o aos nefitas. Welch descreve como quatro temas principais (a vinda de Cristo, a dispersão dos judeus, o dia dos gentios e a restauração de Israel com a vitória final do bem sobre o mal) da visão de Néfi podem moldar a seleção dos capítulos em 2 Néfi 12–24. Ver John W. Welch, ''Getting through Isaiah with the Help of the Nephite Prophetic View'', em Isaiah in the Book of Mormon, ed. Donald W. Parry e John W. Welch (Provo, UT: FARMS, 1998), pp. 19–45; Central do Livro de Mórmon, ''Como Néfi escolheu os capítulos de Isaías? (2 Nefi 11: 2)", KnoWhy 38 (16 de fevereiro de 2017). 5. Nesta passagem, Isaías pode estar descrevendo a desgraça e condenação das mulheres que habitam Jerusalém por sua imodéstia e impudência sexual. No entanto, o versículo 26 obscurece a distinção entre o plural e o singular "filhas de Sião", resumindo-se a "ela", de modo que a metáfora pode ser estendida à descrição das filhas em Isaías 3:16-26. Ver J. J. M. Roberts, First Isaiah: A Commentary, ed. Peter Machinist (Minneapolis, MN: Fortress Press, 2015), pp. 60–63; Joseph Spencer, The Vision of All: Twenty-five Lectures on Isaiah in Nephi’s Record (Salt Lake City, UT: Greg Kofford Books, 2016) pp. 159–160. 6. Ver notas de tradução e comentários sobre este vocabulário de roupas exclusivo em J. J. M. Roberts, First Isaiah: A Commentary, ed. Peter Machinist (Minneapolis, MN: Fortress Press, 2015), pp. 61–65. 7. Ver Jeff Lindsay, ''’Arise from the Dust’: Insights from Dust-Related Themes in the Book of Mormon (Part 2: Enthronement, Resurrection, and Other Ancient Motifs from the ‘Voice from the Dust’)'', Interpreter: A Journal of Latter-day Saint Faith and Scholarship 22 (2016): pp. 233–277. 8. Ver Stephanie Dalley, "The Descent of Ishtar", em The Context of Scripture, 3 v., ed. William W. Hallo (Leiden: Brill, 2003), 1: pp. 381–384; E. A. Speiser, ''Descent of Ishtar to the Nether World'', em Ancient Near Eastern Texts Relating to the Old Testament, ed. James B. Pritchard, 3ª ed. (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1969), pp. 106–109; William J. Fulco, ''Ishtar'', em The Anchor Bible Dictionary, 6 v., ed. David Noel Freedman, Gary A. Herion, David F. Graf, John David Pleins e Astrid B. Beck (New York, NY: Doubleday, 1992), 3: pp. 521–522. Tradução disponível (em inglês) para leitura online em https://www.sacred-texts.com/ane/ishtar.htm. 9. Enquanto 2 Néfi 14:4 fala das mulheres de Jerusalém, o paralelo sinônimo iguala as "filhas de Sião" a "Jerusalém", estendendo a metáfora das "filhas de Sião" às mulheres mencionadas neste versículo. Os versículos 5 e 6 continuam a personificar Jerusalém como uma mulher que hospedará a presença do Senhor como uma nuvem e uma coluna de fogo. 10. Ver também a explicação de Néfi de suas palavras "desde o pó" em 2 Néfi 26:13–17. Néfi usar o pó como motivo para descrever suas profecias é um tema recorrente em 1 e 2 Néfi. Enquanto sentar ou deitar sobre o pó é um símbolo de vergonha, ou humilhação, sair do pó torna-se um símbolo de entronização e glorificação. Ver Lindsay, "'Arise from the Dust''', pp. 233–277. 11. Falar na língua dos anjos pode referir-se à investidura final do poder que vem por meio da progressão nas ordenanças e convênios do Evangelho. Ver Neal Rappleye, "'With the Tongue of Angels': Angelic Speech as a Form of Deification'', Interpreter: A Journal of Latter-day Saint Faith and Scholarship 21 (2016): pp. 303–323; consulte o artigo da Central do Livro de Mórmon, ''O que significa falar a língua dos anjos? (2 Néfi 32:2)", KnoWhy 60 (15 de março de 2017). 12. Para comentários sobre a entronização da filha de Sião nos capítulos finais de Isaías, ver Carli J. Anderson, ''Enthroning the Daughter of Zion: The Coronation Motif of Isaiah 60-62'' (Master’s Thesis, Brigham Young University, 2005).