KnoWhy #66 | Março 23, 2017
Por que Jacó compartilhou a Alegoria da Oliveira?
Postagem contribuída por
Scripture Central
"E agora, meus amados, como é possível que eles, depois de haverem rejeitado o fundamento seguro, construam sobre ele para que venha a ser sua pedra de esquina?" Jacó 4:17
O conhecimento
A excepcional Alegoria das Oliveiras encontrada em Jacó 5 é precedida, em Jacó 4, por uma longa explicação de Jacó sobre o que ele e seus colegas "[sabiam] de Cristo" (Jacó 4:4). Em seguida, Jacó deixou de falar sobre a "expiação de Cristo, [o] Filho Unigênito" (Jacó 4:11) para falar sobre a ideia de que os judeus "tropeçariam" e "rejeitar[iam] a pedra sobre a qual poderiam edificar e ter fundamento seguro" (Jacó 4:15). Aparentemente, Jacó extraiu essas ideias de pelo menos três fontes diferentes nas escrituras1 (i.e., as placas de latão ou o Velho Testamento) — Salmo 118:22; Isaías 8:14–15; Isaías 28:16 — da seguinte forma:
E agora eu, Jacó, sou guiado pelo Espírito a profetizar [...] que por causa dos tropeços dos judeus [Isaías 8:14] eles rejeitarão a pedra [Salmo 118:22] sobre a qual poderiam edificar [Salmo 118:22] e ter um fundamento seguro [Isaías 28:16]. Mas eis que, de acordo com as escrituras, essa pedra virá a ser o grande e o último e o único fundamento seguro [Isaías 28:16], sobre o qual os judeus poderão edificar [Salmo 118:22]. E agora, meus amados, como é possível que eles, depois de haverem rejeitado [Salmo 118:22] o fundamento seguro [Isaías 28:16], construam sobre ele para que venha a ser sua pedra de esquina? [Salmo 118:22] (Jacó 4:15–17).
O contexto do Salmo 118 e em ambas as passagens de Isaías, há dois elementos principais em comum: (1) o contexto do templo, o próprio edifício (o fundamento, a pedra de esquina, etc.) e (2) o Messias. À luz desse fato, vemos que Jacó provavelmente estava fazendo um belo e poderoso jogo de palavras. A palavra hebraica usada para "filho" nesta passagem é "ben", enquanto a palavra hebraica para "pedra" é "eben", de som semelhante.
Quando Jacó se refere à pedra de tropeço, ele está se referindo, simultaneamente, ao Filho de Deus, Jesus Cristo. Além disso, Jacó identificou Cristo com o simbolismo da pedra de esquina da fundação do templo. Juntas, as passagens falam de judeus que rejeitam o "fundamento seguro" (Cristo) de seu templo espiritual e tropeçam devido a sua rebelião, mas que aceitarão Cristo como a "pedra de esquina".
Jacó terminou este segmento de seus ensinamentos com a seguinte pergunta para seu povo:
E agora, meus amados, como é possível que eles, depois de haverem rejeitado o fundamento seguro [Cristo], construam sobre ele para que venha a ser sua pedra de esquina? (Jacó 4:17)
Essa pergunta leva diretamente à tentativa de Jacó de "[desvendar] este mistério", ao seu povo (Jacó 4:18), compartilhando a Alegoria da Oliveira do profeta Zenos.
O porquê
Os temas da Alegoria da Oliveira foram revelados a Zenos e a outros profetas da antiguidade para guiar o povo de Israel, revelar a eles o que o Senhor os havia reservado e como Ele os redimiria quando se rebelassem e desviassem. Várias seções do Velho Testamento registram quantas vezes Israel "tropeçou" e os esforços que o Senhor fez, por meio de Seus profetas, para cuidar do fruto de Sua vinha.
Jacó temia que o povo nefita, que fugira de uma cultura de ignorância espiritual em Jerusalém, também não entendessem os planos de Deus para a casa de Israel e não reconhecessem o papel essencial de Seu Filho Unigênito. Por essa razão, Jacó fez um grande esforço para ensinar a seu povo o conhecimento revelado que possuía sobre a missão expiatória de Jesus Cristo.
A edição de 1830 do Livro de Mórmon não tinha divisão entre os capítulos 4 e 5 de Jacó. Sem essa divisão de capítulos, os leitores podem claramente ver como a explicação de Jacó sobre a expiação e rejeição do Filho/pedra (ben/eben) conduz perfeita e apropriadamente à sua recitação da Alegoria da Oliveira. Esta alegoria ilustra como o Senhor da vinha cuidou ternamente de sua "oliveira" cultivada e que estava definhando (representando a casa de Israel). O Senhor da vinha trabalhou com seus servos para remover todos os maus frutos. Portanto, o fruto natural tornou-se bom novamente (um símbolo da restauração ou salvação da casa de Israel).
Jacó, como sacerdote-profeta, deixa claro seu propósito de usar a alegoria de Zenos ao falar, em suas próprias palavras proféticas, em Jacó 6. Ele pergunta ao povo se eles rejeitarão essas "palavras que foram ditas sobre Cristo" (Jacó 6:8). Ele testifica que o Senhor dará à casa de Israel outra, porém a última, oportunidade de aceitar seu Salvador.
E o dia em que o Senhor tornar a estender a mão pela segunda vez para recuperar seu povo, será o dia, sim, a última vez em que os servos do Senhor irão, com o seu poder, cuidar de sua vinha e podá-la; e, depois disso, logo virá o fim (Jacó 6:2).
Jacó sabia que a profecia de Zenos se aplicava ao seu próprio povo e a todos os que pertenciam ou pertenceriam à casa de Israel, seja por nascimento ou adoção. Ele, portanto, clamou por caridade e preocupação sincera:
Portanto, meus amados irmãos, eu vos suplico, com palavras solenes, que vos arrependais e que vos apegueis a Deus de todo o coração, como ele se apega a vós. E enquanto seu braço de misericórdia estiver estendido para vós, à luz do dia, não endureçais o coração (Jacó 6:5).
Este convite continua misericordiosamente disponível para todos.
Leitura Complementar
John Hilton III, "Old Testament Psalms in the Book of Mormon", em Ascending the Mountain of the Lord: Temple, Praise, and Worship in the Old Testament (2013 Sperry Symposium), ed. Jeffrey R. Chadwick, Matthew J. Grey e David Rolph Seely (Salt Lake City e Provo, UT: Deseret Book and Religious Studies Center, Brigham Young University, 2013), pp. 291–311. Brant Gardner, Second Witness: Analytical & Contextual Commentary on the Book of Mormon, 6 v. 6 (Salt Lake City: Greg Kofford Books, 2007), pp. 518–19.1. As técnicas de vincular citações de textos anteriores a uma nova mensagem são conhecidas como "intertextualidade". Essa mesma técnica — usando as mesmas passagens — é evidente no Novo Testamento, em escrituras como 1 Pedro 2:6–7; Efésios 2:20–22; e Romanos 9:32–33. Jacó, no entanto, usa as passagens de uma maneira um pouco diferente do que os autores do Novo Testamento fizeram. Para saber mais sobre esse conceito, ver o artigo da Central do Livro de Mórmon, "A quem Néfi citou em 1 Néfi 22? (1 Néfi 22:1)", KnoWhy 25 (30 de janeiro de 2017).