KnoWhy #253 | Agosto 21, 2019

Por que Morôni incluiu a condenação de Mórmon ao batismo infantil?

Postagem contribuída por

 

Scripture Central

"As criancinhas, porém, estão vivas em Cristo desde a fundação do mundo" Morôni 8:12

O conhecimento

Pouco depois de Morôni começar seu ministério, ele recebeu uma carta de seu pai que dizia: "se eu soube a verdade, tem havido disputas no meio de vós relativas ao batismo de vossas criancinhas." (Morôni 8:5).1 Mórmon explicou que essa situação "me aflige extremamente; pois aflige-me que surjam disputas no meio de vós." (v. 4). O fato de que Mórmon "imediatamente[...] inquiri[ou] o Senhor a respeito do assunto" sugere que essa perversão teológica era uma situação relativamente recente entre seu povo (Morôni 8:7). Uma consideração importante é que as crianças nefitas durante o ministério de Mórmon corriam o risco de serem capturadas pelos lamanitas e oferecidas como "sacrifício a seus ídolos" (Mórmon 4:14).2 Nesse contexto, é compreensível que os pais tenham ficado ansiosos pelo bem-estar de seus filhos. Também é plausível que o batismo infantil tenha se originado inicialmente fora da cultura nefita. Matthew Roper explicou que, na América pré-colombiana, "as parteiras astecas banhavam ritualmente as crianças recém-nascidas, invocando o poder purificador da deusa Chalchiuhtlicue. Na prática, estava implícito que as crianças poderiam herdar o mal e a impureza ao nascer." 3 Roper concluiu: "Não é difícil imaginar que Mórmon e Morôni estivam resistindo a tradições culturais semelhantes que poderiam penetrar perigosamente entre os nefitas na Igreja de Cristo".4 É interessante notar que a questão sobre o batismo infantil entre os nefitas é um pouco semelhante à situação na Europa e no Oriente Próximo, onde a "prática de batizar crianças surgiu entre os cristãos no século III d.C. e foi controversa por algum tempo." 5 Orígenes, um dos pais da igreja primitiva que defendeu a prática, "argumentou que o batismo remove a contaminação do nascimento".6 Em ambas as situações, o problema não era o fato de a crença no poder das ordenanças do sacerdócio ter cessado completamente, em vez disso, era porque o povo, como Isaías escreveu, "trespassam as leis, mudam os estatutos, e quebram o convênio eterno." (Isaías 24:5). Essa parece ter sido a mesma situação nos dias de Mórmon, que mencionou que as pessoas "pervertem os caminhos do Senhor dessa maneira" (Morôni 8:16).7 Em resposta ao pedido de Mórmon, Jesus Cristo revelou que "os sãos não necessitam de médico, mas sim os que estão doentes; portanto, as criancinhas são sãs, por serem incapazes de cometer pecado" (Morôni 8:8). Essa revelação levou Mórmon a declarar com veemência: "E aquele que diz que as criancinhas necessitam de batismo, nega as misericórdias de Cristo e despreza a sua expiação e o poder de sua redenção" (v. 20; compare isso com Mosias 3:11, 16).

O porquê

Em Mórmon 8:35, Morôni fala diretamente aos futuros leitores, declarando que "Jesus Cristo vos mostrou a mim e conheço as vossas obras" (Mórmon 8).8 Com isso em mente, parece bem possível que Morôni tenha incluído as cartas de Mórmon porque entendeu, seja por visão ou por alguma outra manifestação espiritual, que o batismo infantil seria um tema acalorado para debate entre as muitas denominações cristãs nos últimos dias.9 Se for esse o caso, essa inclusão pode ser vista como o cumprimento de um importante propósito do Livro de Mórmon, unindo-se à Bíblia "confundindo falsas doutrinas e apaziguando contendas e estabelecendo paz" (2 Néfi 3:12).10 A esse respeito, a carta de Mórmon segue o exemplo de Jesus Cristo que, ao visitar o templo na terra de Abundância, ensinou a maneira correta de batizar. "Desta maneira", declarou Ele, "batizareis; e não haverá disputas entre vós" (3 Néfi 11:22).11 A carta também demonstra como o Senhor trabalha por meio de Seus profetas escolhidos para resolver disputas doutrinárias. Aparentemente, Mórmon, embora ausente por conta da guerra, ainda tinha autoridade eclesiástica para declarar a mente e a vontade do Senhor para a Igreja. Ele declarou: "Eis que falo ousadamente, tendo autoridade de Deus; e não temo o que o homem possa fazer" (Morôni 8:16). E, no entanto, Mórmon também deixou claro que sua escolha de seguir o mandamento de Jesus Cristo foi feita com amor. Ele explicou: "amo as criancinhas, portanto, com um perfeito amor; e elas são todas iguais e participantes da salvação." (v. 17). Embora seja provável que houvesse pais que achavam que, sem o batismo, seus filhos estariam em perigo espiritual ou seriam privados de bênçãos, Mórmon manteve com firmeza e com amor, o mandamento que recebera de Jesus Cristo.12 Dessa forma, Mórmon foi um exemplo de "reprova[r] prontamente com firmeza, quando movido pelo Espírito Santo; e depois, mostrando então um amor maior" (D&C 121:43). Assim, ao incluir a carta de seu pai, Morôni nos fornece esclarecimento doutrinário sobre as ordenanças essenciais do sacerdócio, um modelo de profeta que recebe revelação para a Igreja e um exemplo de como cumprir com os mandamentos do Senhor com amor e firmeza. Essa epístola não apenas ofereceu um modelo importante para os primeiros santos dos últimos dias, mas também continua relevante para as muitas disputas morais e controvérsias doutrinárias que surgem nas igrejas e sociedades de hoje. Como Hugh Nibley explicou: "Os santos dos últimos dias sempre sustentaram que a orientação, tanto em questões doutrinárias quanto administrativas, pode chegar à Igreja apenas por revelação" .13

Leitura complementar

Noel B. Reynolds, "Understanding Christian Baptism through the Book of Mormon", BYU Studies Quarterly 51, no. 2 (2012): pp. 3–37. Tad R. Callister, The Inevitable Apostasy and the Promised Restoration (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2006), pp. 221–230. Matthew Roper, " The Baptism of Little Children in Pre-Columbian Mesoamerica," Inisghts: A Window on the Ancient World 23 (2003): pp. 2–3.

1. O momento desta carta permanece incerto. Depois de desenvolver 13 critérios necessários para avaliar a data de sua composição, Alan C. Miner concluiu que tanto Morôni 8 quanto 9 foram "escritos em algum momento do ano entre 375 e 376". Ver Alan C. Miner, " A Chronological Setting for the Epistles of Mormon to Moroni," Journal of Book of Mormon Studies 3, no. 2 (1994): p. 111. Em um estudo diferente, Joseph M. Spencer propôs que "a primeira carta de Mórmon foi[...] produzida nos anos 345-50, enquanto sua segunda carta foi escrita entre os anos 375-80". Ver Joseph M. Spencer, "On the Dating of Moroni 8–9", Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 22 (2016): p. 144. 2. Ver o artigo na Central do Livro de Mórmon, " Por que os lamanitas sacrificavam mulheres e crianças aos ídolos? (Mórmon 4:14), " KnoWhy 229 (18 de outubro de 2017). 3. Matthew Roper, " The Baptism of Little Children in Pre-Columbian Mesoamerica", Insights: A Window on the Ancient World 23, no. 3 (2003): p. 2. Revendo várias evidências do batismo infantil na América pré-colombiana, Roper concluiu: "Assim, a ideia de que crianças pequenas que morrem sem batismo sofrerão tormento por seu mal ou impureza herdados não era peculiar ao discurso americano no início do século XIX, como alguns detratores do Livro de Mórmon afirmaram" (p. 2). 4. Matthew Roper, " Review of Mormonism: Shadow or Reality?" Review of Books on the Book of Mormon 4, no. 1 (1992): 182–183. 5. Robert E. Parsons, "Infant Baptism, LDS Perspective", Encyclopedia of Mormonism, 4 v., ed. Daniel H. Ludlow (New York, NY: Macmillan, 1992), 2: pp. 682. 6. Keith E. Norman, "Infant Baptism, Early Christian Origins", Encyclopedia of Mormonism, 2: p. 682. 7. Para um estudo de como o Livro de Mórmon esclarece o processo de apostasia, ver John W. Welch, " Modern Revelation: A Guide to Research about the Apostasy", em Early Christians in Disarray: Contemporary LDS Perspectives on the Christian Apostasy, ed. Noel B. Reynolds (Provo, UT: BYU Press and FARMS, 2005), p. 109: "O conhecimento e o benefício dos convênios de Deus poderiam ser perdidos simplesmente negligenciando o cumprimento das ordenanças, ou funções do sacerdócio, ou convênios individuais como o Senhor havia ensinado. Mudar e, finalmente, eliminar o aspecto da aliança do batismo, por exemplo, passar para o batismo infantil em vez do sinal externo acima de arrependimento adulto e admissão da aliança no aprisco de Deus, seria sintomático da perda de uma dessas alianças." 8. Ver o artigo na Central do Livro de Mórmon, " Por que Morôni escreveu tantas despedidas? (Mórmon 8:1)", KnoWhy 233 (24 de outubro de 2017).9. Para uma perspectiva dos santos dos últimos dias das várias visões históricas do batismo infantil, ver Tad R. Callister, The Inevitable Apostasy and the Promised Restoration (Salt Lake City, UT: Deseret Book, 2006), pp. 221–230. 10. Ver o artigo da Central do livro de Mórmon,'' Qual era o propósito de Mórmon ao escrever o Livro de Mórmon? (Mórmon 5:14)", KnoWhy 230 (19 de outubro de 2017). 11. Deve-se notar que a explicação de Cristo sobre o batismo foi dada diretamente a Néfi e aos outros discípulos que o Senhor escolheu como líderes de Sua Igreja, e não à congregação como um todo (ver 3 Néfi 11:19 -22). Esse precedente ajuda a explicar por que o Senhor trabalhou por meio de Mórmon, o líder da Igreja que presidia nessa época, para resolver disputas doutrinárias sobre o batismo infantil. Para um tratamento de como o Livro de Mórmon transmite a mente e a vontade de Jesus Cristo, consulte o artigo na Central do Livro de Mórmon, " Quem é o servo de quem Cristo falou? (3 Néfi 21:10)" , KnoWhy 215 (28 de setembro de 2017). 12. Sobre a importância de amar e cuidar das crianças, ver Neil L. Andersen, "Quem Os Recebe, Recebe a Mim", A Liahona, abril de 2016, pp. 49-52, disponível online em lds.org. 13. Hugh Nibley, The World and the Prophets, The Collected Works of Hugh Nibley, Volume 3 (Salt Lake City and Provo, UT: Deseret Book and FARMS, 1987), p. 97.